Turismo em Foz do Iguaçu (PR): Cataratas do Iguaçu no Parque Nacional e o Marco das Três Fronteiras

A sexta-feira amanheceu com um céu azul intenso em Foz do Iguaçu (PR), um dos destinos turísticos mais impressionantes do Brasil, onde natureza, cultura e história se encontram em perfeita harmonia. No nono dia da Moto Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu, aproveitamos para visitar o Parque Nacional do Iguaçu, onde estão localizadas as famosas Cataratas do Iguaçu, reconhecidas como uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo, e o Marco das Três Fronteiras, ponto que simboliza a união entre Brasil, Argentina e Paraguai em um cenário de rara beleza. Entre trilhas deslumbrantes, lendas ancestrais, curiosidades históricas e experiências autênticas, compreendemos por que Foz é um destino imperdível para quem busca aventura, conhecimento e uma conexão verdadeira com a essência da América do Sul.

Bom dia, Foz do Iguaçu (PR)! Hoje despertamos cedo e, logo nas primeiras horas, o sol surgiu sobre o extremo oeste do Paraná, anunciando um dia perfeito para o nosso roteiro turístico. O principal destino do dia é o Parque Nacional do Iguaçu, lar de uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo, as impressionantes Cataratas do Iguaçu.

A região de Foz do Iguaçu era originalmente habitada pelos povos caingangues, muito antes da chegada dos colonizadores. Os pioneiros Pedro Martins da Silva, brasileiro, e Manuel Gonzáles, espanhol, fixaram-se aqui em 1881, dando início à ocupação permanente da área.

Em 1888, o povoado já contava com 324 habitantes de diferentes nacionalidades (paraguaios, brasileiros, argentinos, franceses, uruguaios e ingleses) além de uma significativa presença indígena. O crescimento se intensificou nas décadas seguintes, impulsionado pela extração de erva-mate e madeira nativa, produtos de grande valor econômico na época.

A localidade foi elevada à categoria de vila em 1910, com o nome Vila Iguassu, tornando-se distrito de Guarapuava (PR). Em 1914, conquistou sua emancipação e, quatro anos depois, passou a se chamar oficialmente Foz do Iguaçu.

O desenvolvimento urbano ganhou novo impulso a partir de 1965, com a inauguração da Ponte Internacional da Amizade, que conecta o Brasil ao Paraguai, e da BR-277, concluída em 1969, ligando a cidade a Curitiba. Entretanto, a maior transformação veio com o início da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, em 1970: a população saltou de 34 mil para cerca de 140 mil habitantes até a conclusão da obra, em 1984.

Atualmente, Foz do Iguaçu abriga cerca de 285 mil moradores e se destaca pela diversidade cultural e pela posição entre os principais destinos turísticos do Brasil, especialmente para estrangeiros. O município reúne mais de 80 nacionalidades e tem uma economia sustentada pelo turismo, geração de energia, comércio internacional e ensino superior, fatores que colocam a cidade entre as de maior PIB per capita do interior paranaense.

O grande destaque da cidade, compartilhado com Puerto Iguazú, na Argentina, são as Cataratas do Iguaçu, o maior conjunto de quedas d’água do planeta. É justamente esse espetáculo natural que exploramos no nono dia da MotoExpedição 2021: Guartelá – Iguaçu.

A ideia de criar um parque para proteger essa região remonta ao fim do século XIX. Inspirado pelo Parque Nacional de Yellowstone (EUA), o engenheiro e abolicionista André Rebouças propôs a criação de uma área de conservação no local. Seu projeto, porém, foi interrompido após o exílio decorrente da Proclamação da República.

Décadas depois, em 1916, Santos Dumont visitou as cataratas e ficou indignado ao descobrir que o terreno era de propriedade privada. Sensibilizado, reuniu-se com o então presidente do estado, Afonso Camargo, defendendo que a área fosse transformada em patrimônio público. Pouco tempo depois, o governo declarou a região de utilidade pública e, em 1939, foi criado oficialmente o Parque Nacional do Iguaçu.

Segundo mais antigo parque nacional do Brasil, o Parque Nacional do Iguaçu possui 185.262 hectares e foi reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 1986. Em 2012, as Cataratas do Iguaçu foram eleitas uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo, consolidando o local como um ícone do ecoturismo mundial.

Além das famosas quedas, o parque preserva um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do país, abrigando espécies emblemáticas da fauna brasileira, como onça-pintada, tamanduá-bandeira e tucano. Foram registradas mais de 138 espécies de aves, sendo 107 consideradas raras, reforçando o papel científico e conservacionista da unidade.

Deixamos a Formosa no estacionamento e seguimos até o Centro de Visitantes, de onde partem os ônibus híbridos (elétrico e diesel) que transportam os visitantes de forma sustentável pelo parque. O silêncio do veículo chamou atenção e rendeu risadas quando uma criança acreditou que o ônibus se movia “sozinho”, antes que o pai explicasse que o motorista estava no andar inferior.

Pouco depois, chegamos ao início da Trilha das Cataratas, uma caminhada de 1.200 metros com vistas panorâmicas do conjunto de quedas do Rio Iguaçu. Já nos primeiros metros é possível ouvir o som das águas e sentir a umidade do ar, uma prévia da grandiosidade que se revela a cada passo.

O Rio Iguaçu nasce em Curitiba, nas proximidades da Serra do Mar, e percorre 1.320 km até desaguar no Rio Paraná, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.

O nome “Iguaçu” vem do tupi-guarani Yguasu, que significa “água grande”, sendo y “água” e guassu “grande”.

A cerca de 18 km da foz, o rio despenca de um desnível natural, formando as Cataratas do Iguaçu, com quedas que atingem 82 metros de altura e se estendem por 2.780 metros de largura. São 275 quedas d’água formadas por processos geológicos iniciados há cerca de 150 milhões de anos.

O conjunto das Cataratas do Iguaçu é mais extenso e imponente que as Niagara Falls (Canadá/EUA) e as Victoria Falls (Zimbábue/Zâmbia), reforçando seu destaque internacional.

O espetáculo das quedas é complementado pela rica biodiversidade. Durante a caminhada, é comum observar caxinguelês (esquilos brasileiros), quatis e diversas espécies de aves.

O lado brasileiro do Parque Nacional do Iguaçu oferece cerca de 800 metros de passarelas e trilhas ecológicas, enquanto o argentino possui cerca de 1.900 metros, proporcionando uma visão frontal mais ampla do conjunto.

Por isso, para uma experiência completa, é recomendável visitar ambos os lados: brasileiro e argentino. Tivemos essa oportunidade durante a Moto Expedição 2016: Missões – Cataratas, e as perspectivas realmente se complementam.

A vazão média do Rio Iguaçu, que corta a região e abriga seis usinas hidrelétricas ao longo de seu curso, gira em torno de 1.500 m³/s. Essa vazão pode variar muito: em estiagens cair para cerca de 500 m³/s e, em cheias, atingir picos de até 8.500 m³/s.

O pico de vazão costuma ocorrer em outubro, enquanto abril registra valores médios mais baixos. Apesar de estarmos no mês de menor vazão, a imponência das quedas continua evidente e impressiona todos os visitantes.

Em um dos trechos da trilha ecológica do Parque Nacional do Iguaçu, tivemos a sorte de ver um veado-mateiro, que se aproximou calmamente até poucos metros de distância, um momento raro e inesquecível, símbolo da vida selvagem protegida no parque.

É imensamente gratificante testemunhar animais vivendo livremente em seu habitat natural.

Mais adiante, encontramos um banco em um dos mirantes ao longo da Trilha das Cataratas, um ponto perfeito para uma pausa. Enquanto preparávamos um refrescante tereré, fomos surpreendidos por um ágil macaco-prego saltando entre as árvores.

Após o grande macaco desaparecer entre a vegetação densa do Parque Nacional do Iguaçu, outros membros do bando começaram a surgir. Em poucos instantes, estávamos cercados por, pelo menos, trinta primatas, todos atentos e agitados, observando cada gesto nosso.

Certos momentos são simplesmente únicos e permanecem gravados na memória. Este foi, sem dúvida, um deles: desfrutávamos de frutas frescas acompanhadas por tereré, tendo como cenário de fundo o som constante das Cataratas do Iguaçu e a presença amistosa desses curiosos macacos-prego, símbolo da vitalidade e da inteligência da fauna da Mata Atlântica.

Após o lanche, retomamos a trilha e logo encontramos outro grupo de mamíferos igualmente carismáticos: os quatis. Aos poucos, surgiam entre as árvores, e em pouco tempo uma considerável quantidade desses animais se movimentava agilmente ao nosso redor.

Com impressionante destreza, os quatis escalavam troncos, colhiam frutas e as consumiam com entusiasmo. Essa interação demonstra como essas espécies se adaptaram à presença humana, embora os visitantes sejam orientados a não alimentá-las, para preservar seus hábitos naturais.

A frequência com que os quatis aparecem ao longo das trilhas do Parque Nacional do Iguaçu acabou transformando-os em verdadeiros emblemas de Foz do Iguaçu (PR), representando a biodiversidade e o equilíbrio ecológico da região. Esses mamíferos, parentes dos guaxinins, têm papel fundamental na dispersão de sementes, contribuindo para a regeneração da floresta.

Seguimos nossa caminhada, deixando para trás os quatis e suas travessuras, enquanto o som da mata ganhava novos protagonistas. À medida que avançávamos, um canto insistente e melodioso ecoava entre as copas, guiando nossos passos. Paramos, atentos à origem daquele som vibrante.

Logo avistamos um bando de gralhas-picaças, conhecidas na região como uracas. Suas penas negras, azuis e brancas cintilavam sob o sol, e sua presença era marcante. Assim como os quatis, essas aves se mostraram curiosas e sociáveis, acompanhando-nos por um bom trecho da trilha.

Um detalhe fascinante sobre as gralhas-picaças é sua habilidade de imitar o canto de outras aves, o que demonstra sua inteligência e capacidade de adaptação. Elas desempenham papel essencial no ecossistema da Mata Atlântica, ajudando na dispersão de frutos e sementes, além de servirem como importantes indicadores ambientais pela sensibilidade a alterações no habitat.

A grandiosidade das Cataratas do Iguaçu atraiu também o cinema. O local já serviu de cenário para filmes como Tarzan (1966), 007 Contra o Foguete da Morte (1979), A Missão (1986) e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008).

Entre as histórias da região, destaca-se a Lenda de Naipi e Tarobá (Lenda das Cataratas), contada pelos povos originários, os caingangues. Segundo a tradição, o deus-serpente M’Boy, filho de Tupã, era o governante supremo do mundo. Para esses povos, a natureza não é apenas o ambiente ao redor, mas uma extensão do próprio espírito, onde cada rio, árvore e animal possui um significado sagrado.

Igobi, líder da tribo, era pai de Naipi, uma jovem de beleza tão rara que até as águas dos rios pareciam aquietar-se quando ela se aproximava. Seu nome, de origem guarani, significa “água que corre”, simbolizando a harmonia entre os elementos naturais e o espírito humano.

Tamanha era sua formosura que decidiram dedicá-la ao culto de M’Boy, tornando-a sacerdotisa do deus-serpente. Sua vida seria inteiramente devotada às celebrações sagradas.

Contudo, Tarobá, um jovem guerreiro conhecido por sua coragem e lealdade, apaixonou-se por Naipi. Esse amor proibido despertou não apenas o conflito humano, mas também a fúria divina.

Durante a cerimônia de consagração, enquanto os pajés e anciãos dançavam e bebiam cauim (bebida fermentada de milho), Tarobá fugiu com Naipi em uma canoa pelo Rio Iguaçu.

Ao descobrir a fuga, M’Boy, tomado pela ira, mergulhou nas profundezas da terra e abriu uma imensa fenda no solo, assim nasceram as Cataratas do Iguaçu, como castigo que separaria os amantes para sempre.

Submersos pela força das águas, a embarcação e o casal foram tragados pelas quedas, desaparecendo nas profundezas. Naipi foi transformada em uma das rochas centrais das cataratas, eternamente açoitada pelas correntezas, enquanto Tarobá foi convertido em uma palmeira que se curva sobre o abismo, tentando, em vão, alcançar sua amada.

Sob essa palmeira, diz o mito, existe uma caverna guardada pelo espírito vingativo de M’Boy (a Garganta do Diabo), vigilante eterno dos amantes condenados.

A lenda é uma das mais antigas do sul do Brasil e aparece em versões semelhantes entre guaranis e tupis, reforçando a profundidade cultural e espiritual que envolve o Parque Nacional do Iguaçu. Para muitos descendentes indígenas, o mito simboliza o equilíbrio entre o amor humano e a força indomável da natureza, uma lembrança de que as águas, belas e poderosas, merecem respeito e reverência.

Atualmente, a Lenda de Naipi e Tarobá é contada a visitantes do mundo inteiro e inspirou esculturas, murais e obras literárias. Em Foz do Iguaçu, referências ao casal mantêm viva essa herança que une mitologia, história e natureza.

Ao contemplar essa imensidão de águas, é impossível não lembrar da lenda e imaginar o cenário em que os povos originários viviam, cercados por uma natureza exuberante e misteriosa.

Séculos depois, outro personagem histórico seria marcado por esse mesmo cenário: o explorador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca, o primeiro europeu a avistar as Cataratas do Iguaçu, em 1542.

Cabeza de Vaca é uma das figuras mais fascinantes da era das grandes navegações. Suas expedições, marcadas por desafios extremos, naufrágios e descobertas, fizeram dele um símbolo de resistência e curiosidade científica no período da colonização das Américas.

Descendente de Pedro de Vera, conquistador da Ilha de Gran Canaria, o jovem Álvar Núñez embarcou rumo ao Novo Mundo em 1527, como tesoureiro na expedição de Pánfilo de Narváez, destinada a conquistar e colonizar territórios no atual sudeste dos Estados Unidos.

A viagem foi marcada por tempestades, deserções e doenças que dizimaram a frota, inicialmente composta por cerca de 600 homens. Em 1528, após inúmeras perdas, os sobreviventes chegaram à Baía de Tampa, na atual Flórida, iniciando uma das jornadas mais extraordinárias da história das explorações.

Separados dos navios, Cabeza de Vaca e um pequeno grupo seguiram a pé pela costa, enfrentando pântanos, fome e florestas inóspitas. Construíram balsas rudimentares para tentar alcançar o México pelo Golfo, mas uma violenta tempestade dispersou os sobreviventes.

Milagrosamente, a embarcação que transportava Cabeza de Vaca resistiu, chegando à região da atual Ilha de Galveston, no Texas, tornando-o, involuntariamente, um dos primeiros europeus a pisar nesse território.

O rigoroso inverno de 1529 reduziu o grupo a apenas 15 homens. Doente e exausto, Cabeza de Vaca foi deixado para trás, dado como morto. No entanto, sobreviveu e acabou vivendo entre comunidades indígenas, aprendendo seus costumes, línguas e técnicas de sobrevivência.

Durante anos, ele adaptou-se à vida nativa, passando de escravo a comerciante e, mais tarde, tornando-se um curandeiro respeitado, utilizando ervas e métodos aprendidos com os povos locais. Em 1533, reencontrou outros três sobreviventes espanhóis e, juntos, caminharam cerca de 8.000 quilômetros até alcançar a Cidade do México, em 1536.

Essa travessia épica levou o grupo a cruzar regiões hoje pertencentes ao Novo México e Arizona, sendo creditados por alguns estudiosos como os primeiros europeus a observar o Grand Canyon, fato que antecipa em anos a expedição de García López de Cárdenas, oficialmente reconhecido como o descobridor do cânion em 1540.

O relato de toda essa jornada foi publicado em 1542 sob o título “La Relación”, também conhecido como “Naufrágios”. A obra é considerada o primeiro registro etnográfico sobre a América do Norte, descrevendo com sensibilidade rara as culturas indígenas e a natureza encontrada. Por seu valor histórico e humano, Cabeza de Vaca foi recompensado com o título de governador da província do Rio da Prata, que abrangia parte do território atual do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil.

Em 1540, voltou ao continente sul-americano, desembarcando na Ilha de Santa Catarina (atual Florianópolis) com uma comitiva de 250 homens e 26 cavalos. Ficou impressionado com a hospitalidade dos povos indígenas locais e a exuberância do litoral.

Guiado por nativos guaranis, Cabeza de Vaca seguiu pelo lendário Caminho do Peabiru (uma antiga trilha indígena que ligava o Atlântico ao interior do continente e avançava até o Pacífico). Em 31 de janeiro de 1542, durante essa travessia, avistou pela primeira vez o espetáculo das Cataratas do Iguaçu, tornando-se o primeiro europeu a registrá-las.

Cabeza de Vaca descreveu as Cataratas do Iguaçu como “uma visão de espumas e trovões”, tamanha era a força e o volume das águas. A grandiosidade do local o levou a crer que estava diante de uma das “bocas do inferno”, tamanha a potência sonora e visual das quedas.

Seguindo viagem, chegou a Assunção, capital da província do Rio da Prata, onde governou até 1545. Entretanto, sua administração foi marcada por conflitos com colonos espanhóis, que rejeitavam sua postura conciliadora em relação aos povos indígenas.

Acusado de abusos administrativos (que nunca foram comprovados), foi destituído e enviado de volta à Espanha. Mesmo assim, sua reputação como explorador e cronista permaneceu. Cabeza de Vaca defendeu até o fim da vida que os povos originários mereciam respeito e dignidade, posicionando-se contra a escravidão e a violência colonial.

Hoje, sua passagem pelo Brasil é lembrada em marcos históricos, especialmente em Foz do Iguaçu (PR). Cabeza de Vaca é reconhecido como um dos primeiros cronistas da América do Sul e uma figura essencial para compreender os primórdios da relação entre europeus e indígenas.

Ao final da Trilha das Cataratas do Iguaçu, chegamos à Garganta do Diabo, a maior e mais impressionante das quedas, com 80 metros de altura, 150 metros de largura e 700 metros de comprimento.

O nome “Garganta do Diabo” está ligado à Lenda de Naipi e Tarobá. Segundo a tradição guarani, é neste ponto que o deus-serpente M’Boy vigia eternamente os amantes condenados.

Os arcos-íris que se formam quase constantemente sobre a Garganta do Diabo resultam da refração da luz solar nas gotículas suspensas no ar. Para muitos, esse fenômeno simboliza o amor eterno de Naipi e Tarobá, unindo lenda e natureza num mesmo cenário.

A imponência das Cataratas do Iguaçu é indescritível. O som estrondoso das quedas, a névoa densa e o verde intenso da floresta criam uma atmosfera hipnótica.

Mas nem toda a história do Rio Iguaçu é de encanto. O rio, essencial para a existência das cataratas, sofre com poluição urbana e agrícola, sendo atualmente o segundo mais poluído do Brasil, um alerta sobre a urgência da conservação ambiental.

Outros cenários naturais brasileiros também foram transformados pela ação humana. Um exemplo marcante é o desaparecimento do Salto das Sete Quedas (Saltos del Guairá), no Rio Paraná, submerso em 1982 pelo lago da Usina de Itaipu. Antes disso, era considerado o maior conjunto de quedas do planeta em volume d’água, com cerca de 13.300 m³/s.

Outro caso emblemático é o do Salto do Yucumã (Saltos del Moconá), no Rio Uruguai, a maior queda longitudinal do mundo, com cerca de 1.800 metros de extensão. Esse salto também sofre os efeitos da intervenção humana e das variações no nível do rio causadas por barragens, que por vezes o submergem por completo durante o período de cheias.

Em meio à força e beleza das Cataratas do Iguaçu, é inevitável refletir sobre a importância da preservação ambiental. A natureza é fonte de equilíbrio, fornecendo ar puro, água, alimentos e recursos que sustentam a vida. Proteger esse patrimônio é garantir que futuras gerações possam viver experiências tão transformadoras quanto esta.

Além da Trilha das Cataratas, o Parque Nacional do Iguaçu oferece outras rotas, como a Trilha da Bananeira e a Trilha do Poço Preto, ideais para contato direto com a fauna e flora da Mata Atlântica. Durante nossa visita, estavam temporariamente fechadas por motivos de segurança sanitária.

O parque também oferece experiências únicas, como o sobrevoo de helicóptero sobre as quedas e atividades de aventura como rafting e cachoeirismo, que proporcionam uma conexão intensa com a natureza.

Entre os passeios mais procurados está o Macuco Safari, que leva os visitantes em barcos até próximo à Garganta do Diabo. A experiência é comparável à Aventura Náutica do Parque Nacional Iguazú, no lado argentino, que realizamos em 2016.

Após percorrer as passarelas que se estendem sobre o rio e conduzem até a Garganta do Diabo, chegamos ao Espaço Naipi, uma estrutura moderna e acolhedora que conta com banheiros, loja de souvenirs, opções de lanches e um elevador panorâmico que garante vistas espetaculares das Cataratas do Iguaçu.

A subida pelo elevador proporciona uma das vistas mais grandiosas do parque, revelando a dimensão colossal das quedas e justificando sua fama mundial.

Encerramos nosso passeio pelo Parque Nacional do Iguaçu na Estação Espaço Porto Canoas, um ambiente convidativo com restaurante, lanchonetes e áreas de descanso. É o ponto ideal para relaxar, saborear uma refeição com vista para o Rio Iguaçu e refletir sobre tudo o que este lugar representa, não apenas como um espetáculo natural, mas como um lembrete poderoso da necessidade de preservar a vida em equilíbrio com a natureza.

Aguardamos a chegada do ônibus que, pontualmente, nos levou de volta ao estacionamento. Lá, nossa fiel companheira de viagem, a Formosa, nos esperava, pronta para seguir rumo à próxima aventura.

Depois de uma visita inesquecível pelo Parque Nacional do Iguaçu, retornamos ao confortável ar-condicionado do hotel. Aproveitamos para nos refrescar com um bom banho e relaxar um pouco. Ao final do dia, repletos de energia renovada, seguimos até o emblemático Marco das Três Fronteiras, um ponto turístico repleto de significado histórico e beleza singular, que simboliza a harmonia entre três nações irmãs: Brasil, Argentina e Paraguai.

O Marco das Três Fronteiras, localizado na confluência dos rios Iguaçu e Paraná, é um ponto emblemático de relevância geopolítica, histórica e cultural. Do alto de seu mirante, é possível contemplar os territórios de Brasil, Argentina e Paraguai, compreendendo a importância estratégica dessa região, que desde o período colonial foi palco de expedições, trocas comerciais e do encontro de diferentes povos e tradições sul-americanas.

O local é especialmente famoso por oferecer um dos pôr do sol mais deslumbrantes de Foz do Iguaçu, quando o céu se colore em tons de laranja, rosa e violeta, refletindo-se nas águas calmas dos rios. Por um pequeno atraso (culpa deste que vos escreve), chegamos instantes após o sol desaparecer, mas ainda assim fomos recompensados com o espetáculo do crepúsculo fronteiriço, quando o horizonte se transforma em uma tela multicolorida.

Logo após a junção do Rio Iguaçu com o Rio Paraná, há outra confluência natural: o Rio Monday, que nasce no Paraguai e deságua nas vigorosas correntezas do Paraná. Essa fusão de águas simboliza, de forma quase poética, a integração natural e cultural das fronteiras sul-americanas, onde rios e povos se entrelaçam em um mesmo território.

O nome Monday tem origem no idioma guarani: Mondá significa “ladrão” e Y quer dizer “água”, resultando na expressão “água que rouba”. A denominação faz alusão às diversas cachoeiras do rio, que “roubam” as águas da vista, fazendo-as desaparecer em quedas abruptas, uma metáfora perfeita para o impacto visual de suas espetaculares quedas d’água.

Os Saltos del Monday, conhecidos como as Cataratas do Paraguai, estão localizados no município de Presidente Franco, próximo a Ciudad del Este e a poucos quilômetros de Foz do Iguaçu. Essas impressionantes cachoeiras compartilham a mesma origem geológica e idade das Cataratas do Iguaçu, formadas há cerca de 120 milhões de anos, durante o período de intensa atividade vulcânica que moldou a Bacia do Paraná. Cercadas por vegetação exuberante e trilhas ecológicas bem estruturadas, representam uma das joias naturais menos exploradas da Tríplice Fronteira.

Tivemos o privilégio de visitar os Saltos del Monday em duas ocasiões distintas: a primeira durante a Moto Expedição 2018: Asunción – Monday, e a segunda em uma viagem dedicada às cidades de Presidente Franco e Ciudad del Este, em 2020. Ambas as experiências foram marcantes, permitindo-nos contemplar de perto a força e a beleza dessas quedas.

Retomando nossa visita ao Marco das Três Fronteiras, o complexo turístico brasileiro impressiona pelo design temático inspirado nas Missões Jesuíticas Guaranis, que floresceram entre os séculos XVII e XVIII. A arquitetura, as cores e os detalhes decorativos homenageiam esse importante capítulo da história sul-americana, em que fé, arte e cultura indígena se entrelaçaram sob a influência dos jesuítas.

O complexo do Marco das Três Fronteiras oferece uma infraestrutura moderna e acolhedora, com lojas de souvenires, restaurantes e lanchonetes, um parque infantil e o mirante panorâmico com vistas privilegiadas da confluência dos rios e dos três países

O principal atrativo turístico do Marco das Três Fronteiras é o obelisco brasileiro, pintado nas cores verde, amarelo e azul. Erguido em 1903 sob a liderança do Marechal Cândido Rondon e de Dionísio Cerqueira, o monumento representa o espírito de integração pacífica e soberania nacional, celebrando a amizade entre as nações vizinhas.

Na margem oposta do Rio Iguaçu, o obelisco argentino se ergue em formato idêntico, adornado pelas cores celeste e branca da bandeira da Argentina. Já no lado paraguaio, às margens do Rio Paraná, o marco apresenta um design diferenciado, com formas mais angulares e simbologia própria.

Essa distinção no marco paraguaio reflete uma expressão de memória e resistência relacionada à Guerra do Paraguai, também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança (1864–1870). O conflito (o maior da história sul-americana) envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, resultando em consequências devastadoras para o país. O design singular do monumento paraguaio pode ser interpretado como uma homenagem à resiliência de seu povo e à memória das inúmeras vítimas desse trágico episódio histórico.

O obelisco brasileiro é cercado por um belíssimo chafariz, palco de um espetáculo noturno de luzes e águas dançantes que encantam visitantes de todas as idades. As cores vibrantes se refletem nas fontes e criam um ambiente envolvente, especialmente quando o show é acompanhado por música e projeções temáticas.

Com o cair da noite, o Marco das Três Fronteiras no lado brasileiro se transforma em um verdadeiro palco a céu aberto. É nesse cenário que ocorrem as apresentações culturais que celebram a diversidade e a história da região. Uma das mais aguardadas é a encenação da “Lenda das Cataratas”, que retrata a comovente história de amor entre Naipi e Tarobá, personagens fundamentais da mitologia local. A performance, rica em elementos visuais e coreográficos, transporta o público às origens das majestosas quedas do Iguaçu.

Após a “Lenda das Cataratas”, o espetáculo segue com o minueto histórico, conduzido por um narrador que interpreta o explorador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca. Essa encenação conecta o visitante a um dos momentos mais marcantes da história da região, destacando o encontro entre as culturas europeia e indígena.

Para encerrar a noite em grande estilo, ocorre um vibrante espetáculo musical que celebra a identidade cultural dos três países da tríplice fronteira. A apresentação valoriza os ritmos, trajes e danças típicas de cada nação, promovendo uma experiência artística de integração e harmonia.

O Paraguai é o primeiro a ser homenageado, com dançarinos vestidos com trajes tradicionais que se apresentam ao som da polca paraguaia. O ponto alto é a dança das garrafas, na qual as bailarinas equilibram várias garrafas sobre a cabeça com elegância e precisão, arrancando aplausos entusiasmados do público.

Em seguida, a Argentina toma o palco com uma envolvente performance de tango, marcada por movimentos elegantes e cheios de emoção. A dança, símbolo da cultura portenha, representa a paixão e a expressividade do povo argentino.

Por fim, o Brasil encerra a celebração com o ritmo contagiante do samba, destacando o talento e a alegria de seus bailarinos. A energia do espetáculo transmite a essência vibrante e acolhedora do país, deixando o público em clima de festa e união.

Assim concluímos um dia extraordinário em Foz do Iguaçu (PR), repleto de descobertas e momentos memoráveis. Hora de descansar e recarregar as energias, pois o amanhecer trará o início da viagem de volta para casa, com a alma renovada e o coração cheio de boas lembranças.