Brasil • Expedição 2021: Guartelá - Iguaçu
Foz do Iguaçu – PR a Erechim – RS: Uma Incrível Viagem de Moto
10 de Abril, 2021
Suba na garupa da Formosa nesta viagem de moto de Foz do Iguaçu a Erechim, conheça a bicicleta e a inspiradora história de Manoelito Silva, o "Pedal de Prata".
No último dia da Moto Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu, fomos agraciados com um nascer do sol radiante, anunciando as condições ideais para nossa viagem de moto de Foz do Iguaçu a Erechim.

Ao raiar do dia, saboreamos o café da manhã, arrumamos nossas bagagens na Formosa, trajamos os equipamentos de viagem e partimos da pitoresca cidade fronteiriça de Foz do Iguaçu, seguindo pela rodovia BR-277 em direção ao leste.

Sob um sol radiante, com temperaturas amenas, uma estrada duplicada e um tráfego surpreendentemente tranquilo, nossa jornada pela rodovia federal progrediu de forma ágil e prazerosa.

Após arcar com a elevada tarifa de pedágio em Santa Terezinha do Itaipu, rapidamente alcançamos Matelândia, ponto em que a rodovia se transforma em pista de mão dupla.

Ao passar por Céu Azul, contribuímos novamente com a manutenção da via ao pagar outro pedágio à concessionária responsável. Logo após, nos desviamos da BR-277, adentrando a BR-163.


A BR-163 se destaca como uma crucial artéria do território nacional, estendendo-se por mais de 3.500 quilômetros e conectando Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, até Santarém, no Pará, atravessando o coração do Brasil.


O trecho da BR-163, desde o cruzamento com a BR-277 até a cidade de Lindoeste, no Paraná, apresenta-se totalmente duplicado, proporcionando uma viagem mais segura e visualmente agradável.



Ao adentrarmos Lindoeste, a BR-163 volta a ser uma via de mão dupla, atravessando a acolhedora cidade, cuja beleza é realçada por árvores floridas e coloridas que adornam o canteiro central, criando um cenário pitoresco.



Mas, como nem tudo são flores, a viagem toma um rumo desafiador ao deixarmos Lindoeste, pois a BR-163 se transforma numa verdadeiro prova de resistência. Não somente o tráfego intenso de veículos complica a jornada, mas a presença de buracos significativos, desníveis e ondulações no asfalto exigem atenção redobrada e habilidade na condução.



Embora esse cenário não seja exclusivo desta rodovia, o trecho da BR-163 traz um elemento surpreendentemente frustrante: paralelamente à via deteriorada, há uma pista nova, impecável e aparentemente pronta para ser utilizada, que permanece inacessível ao trânsito por razões não divulgadas. Essa contradição adiciona um toque de perplexidade à experiência na estrada.




É intrigante observar que essa situação persiste desde, pelo menos, fevereiro de 2020. Naquela época, durante uma viagem a Presidente Franco e Ciudad del Este, no Paraguai, já havíamos enfrentado essa mesma peculiaridade. A repetição desse cenário ao longo dos anos evidencia uma questão não resolvida na gestão da infraestrutura rodoviária na região.




Diante dessa realidade, adotamos uma velocidade mais cautelosa, mantivemos a atenção em alerta máximo e, superando os obstáculos um a um, prosseguimos com nossa jornada.




Depois de percorrer vários quilômetros enfrentando solavancos e até mesmo raspando as partes baixas da Formosa em alguns obstáculos, a visão da ponte sobre o Rio Iguaçu emergiu no horizonte, acolhendo-nos como um oásis no deserto, trazendo alívio e a promessa de caminhos mais tranquilos.




Essa sensação de alívio se deve ao conhecimento de que, ao cruzarmos o Rio Iguaçu, entramos no município de Realeza. Apenas 5 quilômetros adiante, encontramos um trevo que marca nossa despedida da BR-163, dando lugar à PR-182. Esta última se apresenta em condições significativamente melhores à estrada federal, uma melhoria bem-vinda, mesmo que o padrão exigido para tal seja modesto.




Com a Formosa claramente aliviada pela mudança de terreno, prosseguimos pela rodovia estadual até alcançar Ampére. Lá, fizemos uma pausa no Posto São Cristóvão, aproveitando para abastecer o tanque e nos reidratar, um momento essencial para retomar a viagem com energia renovada.


Durante nossa parada, um detalhe curioso capturou nossa atenção: uma bicicleta estava pendurada acima da porta de entrada da loja de conveniências, acompanhada por uma placa revelando que pertencia a Manoel Machado da Silva, ou Manoelito Silva, mais conhecido como “Pedal de Prata”.


Manoelito Silva nasceu em um circo itinerante no interior do Rio Grande do Sul. Sua mãe, de origem portuguesa, veio a falecer durante o parto. Sem outros familiares para cuidar dele, Manoel foi acolhido e criado pelos membros da trupe circense, uma família única formada por artistas e performers.


Dentro desse ambiente circense, Manoelito descobriu e desenvolveu seu talento para o ciclismo, uma paixão que rapidamente se tornou o centro de sua vida. Ao atingir 20 anos, ele tomou a decisiva escolha de explorar as estradas do Brasil e da América Latina sobre duas rodas. Sua notável habilidade e resistência o levaram a conquistar uma competição extrema, na qual pedalou por 62 horas sem interrupção. Essa façanha extraordinária lhe rendeu o merecido apelido de “Pedal de Prata”, um título que reflete sua tenacidade e destreza no esporte.


No ano de 1980, Manoelito Silva teve a inspiradora ideia de começar a documentar a distância total percorrida em suas jornadas ciclísticas. Vinte e cinco anos depois, em 2005, ele alcançou um marco histórico justamente neste posto em Ampére, onde registrou a impressionante marca de 201.000 quilômetros pedalados. Esse feito notável não apenas simbolizou uma conquista pessoal extraordinária, mas também lhe garantiu um lugar no Guinness Book como detentor de um recorde mundial, celebrando sua dedicação incomparável ao ciclismo.



Após nossa partida de Ampére, continuamos nossa viagem pelas serenas estradas do Paraná. O percurso nos levou por Francisco Beltrão e Marmeleiro. Ao atravessarmos Renascença, um detalhe pitoresco capturou nossa atenção: um mercadinho à beira da estrada exibia uma placa promissora, anunciando “pinhão cozido”! A simplicidade e o charme dessa oferta refletiam a autenticidade e as delícias culinárias locais, convidando-nos a fazer uma parada tentadora.

Sem hesitar, fizemos o retorno e nos dirigimos ao mercadinho para saborear os primeiros pinhões do ano. Esse momento se tornou uma pausa deliciosa em nossa viagem, permitindo-nos apreciar um dos prazeres simples e autênticos da culinária regional.

O pinhão, semente da majestosa araucária, constitui a parte comestível da pinha e é amplamente reconhecido como um alimento de alto valor nutricional. Rico em calorias, fibras, minerais, além de ácidos graxos essenciais como o linoleico (ômega 6) e o oleico (ômega 9), o pinhão se destaca por seus benefícios à saúde, consolidando-se como uma iguaria apreciada não apenas por seu sabor único, mas também por suas propriedades nutricionais.

A temporada do pinhão se estende principalmente durante o outono e o inverno, épocas em que esse fruto se torna um protagonista na culinária regional. Ele pode ser apreciado de diversas formas: cozido, assado, ou mesmo sapecado – uma técnica tradicional que envolve o uso de ramos secos da araucária, conhecidos localmente como sape ou sapeque. Nesse método, os pinhões são colocados diretamente sobre a fogueira feita com esses ramos, criando uma experiência culinária única. Além disso, o pinhão é versátil, podendo ser utilizado como ingrediente chave em uma ampla gama de receitas. Seu sabor é verdadeiramente inigualável, marcando presença na mesa como uma verdadeira delícia que encanta todos os paladares.



Com o estômago satisfeito pelos deliciosos pinhões, retomamos nossa viagem, voltando à estrada com renovada energia para continuar a aventura.



Ao chegarmos em Vitorino, adentramos na PR-158, e após percorrer apenas alguns quilômetros, cruzamos a fronteira entre o Paraná e Santa Catarina.


Uma vez em Santa Catarina, seguimos pela sinuosa SC-157. Nessa etapa da viagem, deixamos para trás uma série de municípios, incluindo São Lourenço do Oeste, Novo Horizonte, Formosa do Sul, Quilombo e Coronel Freitas. Ao cair da tarde, atravessamos o centro de Chapecó.


Ao adentrarmos a “Capital do Oeste Catarinense”, Chapecó, o azul límpido do céu deu lugar a densas nuvens cinzentas. Com a mudança do clima, prosseguimos nossa jornada pela BR-480, acompanhados pelo novo cenário que se formava, prenunciando as variáveis condições que ainda encontraríamos pela frente.


Ao alcançarmos o distrito de Goio-Ên, localizado na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, fizemos uma pausa merecida para desfrutar de algumas bergamotas.


E assim, partimos para o trecho final da Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu, repletos de expectativa e com a sensação de realização por todo o caminho percorrido.


No Rio Grande do Sul, iniciamos uma espécie de corrida de gato e rato, na qual nós desempenhávamos o papel do rato, enquanto a chuva, implacável e iminente, assumia o papel do gato. Essa dinâmica adicionou um elemento de urgência e aventura à última fase de nossa expedição, transformando cada quilômetro percorrido em uma tentativa de nos mantermos à frente do tempo que se fechava rapidamente ao nosso redor.


Perseguidos incansavelmente pelas águas que despencavam do céu, avançamos com determinação, renunciando até mesmo às pausas habituais para esticar as pernas ou capturar a foto perfeita para a capa da postagem. A urgência da situação nos manteve em movimento constante, e, ao início da noite, após uma jornada épica de 2.316 km ao longo dos últimos 10 dias, conseguimos, com um misto de alívio e conquista, estacionar a moto, ainda seca, na segurança da garagem de nosso lar em Erechim.


Mal havíamos adentrado o apartamento quando a campainha soou, um aviso pontual de quem chegava: a chuva. Dessa vez, porém, ela nos encontrou já seguros dentro de casa, sem nos alcançar como ocorrera na Expedição 2020: Belas Rotas. Esse momento marcou não apenas o fim de nossa jornada, mas também a doce vitória de ter escapado, por pouco, do abraço frio das águas que nos perseguiam, encerrando com um suspiro de alívio e a sensação de missão cumprida.

Abaixo o mapa com o trajeto percorrido na viagem de Foz do Iguaçu a Erechim:



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