Brasil • Expedição 2021: Guartelá - Iguaçu
Viagem de Moto pelo Sul do Brasil: Roteiro de Erechim (RS) a Ponta Grossa (PR) com Café na Colônia Witmarsum
1 de Abril, 2021
Viva a aventura de uma viagem de moto pelo Sul do Brasil, saindo de Erechim (RS) rumo a Ponta Grossa (PR). No caminho, aproveite um piquenique à beira da BR-277 e descubra os sabores do tradicional Café Colonial da Colônia Witmarsum em Palmeira (PR).
No primeiro dia da Moto Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu, percorremos estradas do Sul do Brasil, cruzando os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Saímos de Erechim (RS) e seguimos até Ponta Grossa (PR), encerrando a viagem de moto com um espetacular pôr do sol sobre o Segundo Planalto Paranaense. Pelo caminho, desfrutamos de momentos únicos, como um piquenique às margens da BR-277 e a experiência gastronômica do Café Colonial da Colônia Witmarsum em Palmeira (PR), que revela a riqueza da herança cultural alemã e menonita.

A quinta-feira começou cedo, com a empolgação típica do início de uma nova viagem sobre duas rodas. Era o ponto de partida da Moto Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu, a primeira grande viagem de moto do ano.

Após um café da manhã reforçado, vestimos os equipamentos de moto viagem, ajustamos a bagagem na Formosa e partimos de Erechim (RS), cidade carinhosamente conhecida como a “Capital da Amizade”. O céu permanecia encoberto, o ar fresco e úmido de outono trazia o clima ideal para pegar estrada, e a expectativa pelo que estava por vir era contagiante.

Com pouco movimento nas ruas, deixamos rapidamente o centro de Erechim e acessamos a BR-153, a lendária Rodovia Transbrasiliana, seguindo rumo ao norte.

O objetivo da moto expedição deste ano é percorrer as estradas do Paraná em busca de suas belezas naturais e culturais, explorando desde o monumental Cânion Guartelá, em Tibagi, até as majestosas Cataratas do Iguaçu, um dos patrimônios naturais mais impressionantes do planeta.

Como o período ainda é de incertezas para o turismo, optamos por um planejamento flexível, sem reservas antecipadas ou rotas rigidamente definidas. A ideia é justamente permitir que a estrada dite o ritmo da viagem, adaptando-se às circunstâncias e oportunidades de cada dia.


Logo nos primeiros quilômetros, a BR-153 mostrava seu melhor lado: tráfego leve, asfalto em boas condições e o simples prazer de rodar por uma das mais importantes ligações do país.

Em pouco tempo, cruzamos a ponte sobre o Rio Uruguai, um marco natural e simbólico que divide o Rio Grande do Sul de Santa Catarina.


Já em território catarinense, seguimos pela mesma rodovia, cuja extensão e história sempre me impressionaram. Oficialmente chamada de Rodovia Presidente João Goulart, a BR-153 tem mais de 3.250 km de comprimento, conectando Aceguá (RS) a Marabá (PA) e atravessando oito estados brasileiros.


Em seu trecho norte, é conhecida como Rodovia Belém – Brasília, um dos eixos rodoviários mais emblemáticos da integração nacional.

Essa estrada, além de sua importância logística, carrega lembranças pessoais de infância e muitas memórias de outras viagens de moto. Durante a Moto Expedição 2018: Tapajós – Amazonas, por exemplo, percorremos longos trechos da Transbrasiliana, o que tornou esse reencontro ainda mais especial.



Ao passar pelo Trevo do Irani, ponto em que a BR-153 cruza a BR-282, percebemos um aumento considerável no tráfego, principalmente de carretas.


A pista exigia mais atenção: o asfalto irregular e as ondulações típicas de rodovia antiga exigiam pilotagem técnica e constante vigilância.


Mesmo assim, o cenário ao redor compensava. Campos abertos, riachos cristalinos, pequenas lagoas e rebanhos pastando compunham um retrato rural autêntico, daqueles que só quem viaja devagar pela estrada consegue apreciar.


Entre o Trevo do Irani e as Cidades Gêmeas do Iguaçu, Porto União (SC) e União da Vitória (PR), a Transbrasiliana revela uma das suas faces mais bonitas. É um percurso que combina natureza exuberante, relevo variado e um toque nostálgico, talvez por isso seja um dos meus trechos preferidos em todo o Brasil.


O tempo parecia nos acompanhar: o sol começou a vencer as nuvens densas, deixando o céu gradualmente mais azul e renovando a energia da viagem.



Pouco antes da divisa entre Santa Catarina e Paraná, uma longa fila de veículos no sentido contrário nos alertou sobre o provável esquema de “pare e siga”, típico de rodovias em manutenção.


E, de fato, não deu outra. À frente, uma fila de carros e caminhões aguardava liberação da pista. Curiosamente, isso já se tornara um clássico: todo primeiro dia em nossas moto expedições parece incluir um “pare e siga”.


Desta vez, tivemos sorte. Chegamos justamente no momento da liberação e passamos direto.


No entanto, o alívio durou pouco, ao atravessar o trecho em obras, uma espessa nuvem de fumaça e cheiro forte de piche recém-aplicado tomou conta do ar.




Mais tarde, descobriríamos que pequenos respingos de piche haviam atingido a Formosa e vários de nossos equipamentos durante a travessia.



Poucos quilômetros depois, já em território paranaense, descemos a Serra do Leão, um trecho curto, mas de visual marcante. O traçado sinuoso e a vegetação densa ao redor fazem desse pequeno trecho da BR-153 um dos mais agradáveis de pilotar.


Ao contornar União da Vitória (PR), a estrada voltou a exigir atenção: o asfalto esburacado lembrava um verdadeiro campo minado. Ainda assim, a paisagem compensava o esforço.




Atravessamos a ponte sobre o Rio Iguaçu e seguimos cerca de 40 km pela BR-153, no trecho que coincide com a BR-476, até o trevo onde ambas se separam. Mantivemos a rota pela esquerda, permanecendo na Transbrasiliana.



A partir daí, a rodovia federal se torna mais estreita e sem acostamento, o que exige cuidado redobrado.


Em contrapartida, o fluxo de veículos diminuiu, permitindo uma viagem mais tranquila, cercada por cenários rurais típicos do interior paranaense.


Cruzamos as pequenas e acolhedoras cidades de Paulo Frontin, Dorizon e Mallet, marcadas pela forte presença da imigração polonesa e ucraniana, que influenciou a arquitetura, as festas locais e a culinária regional. Essas comunidades mantêm tradições centenárias e transformam a região em um verdadeiro mosaico cultural do sul do Brasil.



Além do aspecto histórico, o relevo acidentado, os vales verdes e a vegetação nativa tornam o trecho ideal para quem aprecia viagens de moto por rotas secundárias, com belas paisagens e pouca pressa.


Outro destaque do caminho é a intensa produção de erva-mate, símbolo cultural do Sul do país e base do chimarrão, do tereré e de chás tradicionais. O Paraná lidera a produção mundial da planta, e justamente nessa região estão concentrados os principais municípios produtores.


Muitos ervais ainda são nativos, garantindo folhas de alta qualidade, também utilizadas nas indústrias de cosméticos e farmacêutica.


Seguimos viagem passando por Rio Azul e Rebouças até que, por volta das 13h30, ao nos aproximarmos de Irati, fomos surpreendidos por um congestionamento inusitado. Nada de trânsito urbano: a causa era uma enorme carreta carregada de toras de madeira, avançando lentamente pela rodovia.


Com o tráfego reduzido a menos de 20 km/h e poucas oportunidades seguras de ultrapassagem, o jeito foi manter a paciência e aproveitar o ritmo da estrada. Irati (PR), aliás, ocupa uma posição estratégica no entroncamento das rodovias BR-153, BR-277, PR-364 e PR-438, funcionando como importante eixo de ligação entre o norte e o sul do estado, além de se destacar na produção agrícola e no turismo religioso.



Já próximos ao trevo com a BR-277, um carro que vinha atrás começou a buzinar e dar sinais de luz insistentemente. Interpretamos aquilo como um possível aviso e paramos na primeira oportunidade segura. A motorista se aproximou, baixou o vidro e perguntou se não havíamos perdido algo pelo caminho, ela acreditava ter visto um objeto cair da moto.


Fizemos uma checagem rápida: carteira no bolso, pochete no lugar, tudo em ordem. Eu, a Sayo e o FredLee estávamos intactos. Concluímos que ela provavelmente se confundira com algo na pista ou, quem sabe, tenha se aproximado por curiosidade para ver a Formosa de perto.

De qualquer forma, a parada acabou sendo providencial: quando retomamos a viagem, a carreta já havia desaparecido no horizonte e o tráfego estava completamente livre.

Voltamos à estrada, agora pela BR-277, rodovia pedagiada que conecta o litoral paranaense à região oeste do estado.

Rodamos pouco mais de cinco quilômetros pela BR-277 até encontrarmos um lugar perfeito para uma pausa: o Complexo Anila.


O espaço é uma verdadeira base para viajantes. Conta com restaurante, lanchonete, posto de combustível, banheiros bem cuidados e até um hotel fazenda. Mas o que mais nos encantou foi o amplo gramado sombreado por árvores, equipado com bancos que convidavam ao descanso, o cenário ideal para um piquenique em meio à estrada.

Aproveitamos o sossego do local para preparar um tereré bem gelado, que acompanhou perfeitamente as frutas cítricas que havíamos trazido nos alforjes da Formosa: laranjas e bergamotas (ou mexericas, como são conhecidas em outras regiões do Brasil). A combinação de sabores simples e refrescantes harmonizava com o clima ameno da viagem.

Entre uma conversa e outra, saboreamos também carapinhas (ou “cri-cris”), tradicionais amendoins cobertos com chocolate, canela e especiarias. Embora típicos da época da Páscoa, são irresistíveis em qualquer momento.

Para completar, havia pães caseiros preparados pela Sayo na véspera, com aroma e textura que remetiam ao conforto do lar. Os próprios cri-cris também eram obra dela, feitos com o mesmo cuidado artesanal. Estavam deliciosos!


Essa pausa acabou se tornando um dos momentos mais agradáveis do dia. Cercados de natureza, bem alimentados e hidratados, recarregamos as energias antes de continuar pela BR-277, conhecida como “Grande Estrada”, um dos eixos rodoviários mais importantes do Paraná.


Poucos minutos depois, a paisagem começou a mudar. No horizonte, surgia o Segundo Planalto Paranaense, com seus campos suavemente ondulados e vegetação de araucárias, marcando nossa chegada à região de Palmeira (PR).


Seguimos até o trevo de acesso à charmosa Colônia Witmarsum, e não houve dúvida: entramos sem pensar duas vezes.

Durante a Moto Expedição 2020: Belas Rotas, havíamos conhecido o famoso café colonial da Colônia Witmarsum em Palmeira (PR) e guardávamos com carinho a lembrança daquele café com leite fumegante acompanhado de bolos, pães e quitutes orgânicos produzidos localmente. Reviver essa experiência era quase obrigatório.

A Colônia Witmarsum, localizada a cerca de 60 km de Curitiba, é uma comunidade de cerca de 2 mil habitantes, fundada em 1951 por imigrantes menonitas alemães vindos da cidade catarinense de mesmo nome. Eles adquiriram a antiga Fazenda Cancela e iniciaram ali uma nova fase de sua história, baseada no cooperativismo, na agricultura e na fé.

Desde então, a Colônia Witmarsum se tornou um referência em produção artesanal e turismo rural. A colônia mantém viva a herança europeia em sua arquitetura, na culinária e na organização comunitária. Entre os produtos mais renomados estão queijos finos, leite de alta qualidade, cervejas artesanais, hidromel, embutidos e cogumelos frescos.


A produção leiteira é um destaque à parte. O segredo está na proximidade entre os produtores e a cooperativa de beneficiamento, o que garante frescor e controle de qualidade. A altitude de aproximadamente 1.000 metros, o clima temperado e as pastagens ricas favorecem o bem-estar do rebanho, formado principalmente pelas raças holandesa e pardo-suíça.



Além da gastronomia, a Colônia Witmarsum oferece diversas opções de turismo cultural e ecológico, como museus, trilhas, cavalgadas, visitas a cachoeiras e fazendas históricas. É um dos principais destinos de turismo rural no Paraná, especialmente para quem busca experiências autênticas e sustentáveis.

Chegado o momento mais aguardado, nos entregamos ao café colonial da Colônia Witmarsum. Foi impossível resistir à variedade: pães artesanais, tortas doces, frios defumados, geleias, queijos e bolos preparados com ingredientes locais. A refeição se transformou em uma verdadeira celebração da culinária alemã e holandesa, em meio ao cenário bucólico da colônia.

De alma leve e barriga cheia, ostentando um sorriso que se estendia de orelha a orelha e com o nível de glicose certamente além do que qualquer endocrinologista consideraria prudente, nos despedimos da acolhedora Colônia Witmarsum.


De volta à estrada, seguimos pela BR-376, também conhecida como Rodovia do Café, agora em trecho duplicado e de tráfego intenso. No fim da tarde, fomos presenteados com um espetáculo natural: o pôr do sol sobre o planalto paranaense. O céu se tingia de tons dourados e alaranjados, refletindo nos campos, um daqueles momentos em que a estrada parece se estender até o infinito.


Ao passarmos pela entrada do Parque Estadual de Vila Velha, vieram à mente as lembranças da visita que fizemos em 2017, quando exploramos de perto suas formações rochosas milenares, moldadas pela ação da água e do vento. O parque, criado em 1953, abriga arenitos, furnas e lagoas de rara beleza, sendo um dos principais cartões-postais de Ponta Grossa (PR).



Essas lembranças tornaram o restante da viagem ainda mais especial. A cada quilômetro percorrido na Rodovia do Café, era impossível não refletir sobre a riqueza natural, histórica e cultural do Paraná, um estado que combina natureza exuberante com tradições profundas.



Chegamos a Ponta Grossa por volta das 18h00, bem no auge do horário de pico. O trânsito intenso contrastava com a tranquilidade da estrada, mas fazia parte da rotina de quem chega a uma cidade que hoje supera 350 mil habitantes e é um dos principais polos industriais do interior paranaense.



Fizemos uma parada estratégica para abastecer a Formosa, respeitando uma das regras de ouro do motociclismo: sempre encerrar o dia com o tanque cheio, garantindo tranquilidade para a próxima etapa da viagem.



Com a Formosa devidamente abastecida e pronta para o segundo dia de estrada, bastou encontrar um hotel, tarefa facilmente resolvida com a ajuda da tecnologia.


Em poucos minutos, já estávamos acomodados, revendo mentalmente os momentos vividos e ansiosos pelas próximas aventuras da Moto Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia, entre Erechim – RS e Ponta Grossa – PR.
Oba! Já são 6 comentários nesta postagem!
Venham comemorar conosco o centenário da mais antiga viagem de mototurismo da América do Sul, de 25 a 27 de Agosto!
Olá Daniel, tudo bem?
Obrigado pelo convite! Desejamos um ótimo evento para vocês.
Abraços.
Ôpa…já estou ansioso para curtir as fotos do Pq. Guartelá.
2007 e 2018, foram minhas passagens por lá, lugar magnífico. Muito bom também para testar o fôlego e a força nas pernas! hehehe…
É isso, vamos acompanhar a Bela Rota.
Abraço pra vocês.
Maravilha Fernando!
Nós conhecemos parte do Cânion Guartelá em 2006, na ocasião percorremos algumas trilhas nas proximidades de Castro, mas ainda não tivemos a oportunidade de visitar o Parque Estadual do Guartelá, que fica em Tibagi.
O lugar é mesmo magnífico, e por sua extensão e enorme desnível as caminhadas pelo cânion são bem puxadas, mas o esforço é compensado pelo cenário fabuloso.
Abraços…
Sempre é legal iniciar uma viagem, principalmente sem compromisso com horas pra chegar…valeu
Exatamente. A sensação de liberdade de não ter um local definido onde pernoitar, o fato de dispor de alguns dias para aproveitar e ter a sensibilidade para perceber e interpretar os sinais que surgem a cada dia é indescritível!
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
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