Brasil • Expedição 2021: Guartelá - Iguaçu
Viagem pelo Sul do Brasil: de Erechim – RS a Ponta Grossa – PR
1 de Abril, 2021Embarque no primeiro dia da Moto Expedição 2021: Guartelá - Iguaçu. De Erechim - RS a Ponta Grossa - PR, saboreando um autêntico Café Colonial na Colônia Witmarsum.
Foi dada a largada para mais uma Moto Expedição do FredLee Na Estrada, e o tema escolhido para este ano é Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu. Com o amanhecer do primeiro dia, iniciamos nossa jornada cheios de entusiasmo, determinados a percorrer o Sul do Brasil. O plano? Iniciar em Erechim, no Rio Grande do Sul, atravessar as belas paisagens de Santa Catarina e chegar ao Paraná a tempo de saborear um autêntico café colonial na Colônia Witmarsum, localizada no município de Palmeira.
Com a Formosa devidamente carregada, trajamos nossos equipamentos de viagem de moto e partimos de Erechim, conhecida como a “Capital da Amizade”, nas primeiras luzes da manhã. O céu, um manto cinzento coberto por densas nuvens, prometia uma jornada de clima desafiador, adicionando um toque de aventura à partida de nossa expedição.
Sem demora, cruzamos o coração de Erechim e em breve nos encontramos no trevo que nos dá acesso à Rodovia BR-153, o ponto de partida oficial de nossa jornada.
Assim que nos integramos à rodovia federal, tomamos a direção norte.
Com o trânsito surpreendentemente tranquilo e a adrenalina elevando nossos espíritos ao máximo (como é prazeroso iniciar uma longa viagem de moto), progredimos velozmente pela Rodovia Transbrasiliana. Logo após, cruzamos a ponte sobre o majestoso Rio Uruguai, marcando nossa despedida do Rio Grande do Sul.
Assim que passamos o imponente Trevo do Irani, ponto de interseção entre a BR-153 e a BR-282, notamos um aumento significativo no fluxo de carretas. Paralelamente, as condições da pista começaram a exigir mais de nossa atenção e habilidade, apresentando uma série de irregularidades, ondulações e buracos que desafiaram a nossa navegação pela estrada.
Com a atenção redobrada avançamos pela Rodovia BR-153, que neste trecho é rodeada por uma paisagem maravilhosa. A estrada se desenrola entre extensos campos, vários lagos e uma tapeçaria de criações de gado.
Apesar dos desafios impostos pela condição da estrada, o trecho que se estende desde o Trevo do Irani, passando pelo Trevo do Horizonte (onde a BR-153 encontra a PR-280), até alcançar as cidades Gêmeas do Iguaçu (Porto União – SC e União da Vitória – PR), se destaca como um dos meus trechos favoritos da Rodovia Transbrasiliana. A combinação única de desafios na condução e a beleza cênica ao longo deste percurso faz dele uma parte memorável e gratificante de nossa aventura.
Essa preferência pelo trajeto não se deve apenas à presença de cenários verdadeiramente encantadores ao longo do caminho, mas também às lembranças gloriosas e inesquecíveis de minha infância que ele evoca. A paisagem se torna ainda mais encantadora sob o brilho do Astro Rei, que, decidindo marcar sua presença, veio iluminar nosso dia e dissipar o frio que nos acompanhava desde o início da viagem.
Nesse momento da viagem, nossos ânimos já haviam encontrado seu equilíbrio, deixando para trás toda e qualquer preocupação ou compromisso do cotidiano. O que restava era nos entregarmos completamente ao prazer e às sensações únicas que apenas uma viagem de moto pode oferecer. O vento, a estrada e a paisagem colaboravam para criar um estado de deleite puro, onde cada quilômetro percorrido alimentava nossa alma com a liberdade e a alegria características dessa aventura sobre duas rodas.
A apenas alguns quilômetros antes de alcançarmos a divisa entre Santa Catarina e o Paraná, nos deparamos com uma extensa fila de veículos vindo em direção contrária, passando por nós. Esse encontro nos levou a antecipar que, possivelmente, iríamos enfrentar um esquema de “pare e siga” mais adiante na estrada, preparando-nos mentalmente para a possibilidade de uma breve interrupção em nosso ritmo de viagem.
Como previsto, não demorou muito até que encontrássemos a gigantesca fila de veículos, agora seguindo na mesma direção que a nossa, parados sobre o asfalto à espera da liberação da pista.
Parece que se tornou uma tradição: todo primeiro dia de nossa Moto Expedição é marcado por um “pare e siga”. Curiosamente, desta vez, a sorte estava ao nosso lado, pois chegamos ao final da fila exatamente no momento em que o trânsito começou a ser liberado. Esse timing perfeito permitiu que continuássemos a aventura com um sorriso no rosto e a estrada aberta à nossa frente.
Tivemos realmente muita sorte, não foi necessário nem mesmo parar a moto. Seguimos a viagem sem interrupções e, em poucos minutos, já havíamos passado pelo local das obras de recuperação da rodovia, que prosseguiam a todo vapor.
Apesar da jornada majoritariamente positiva, nem tudo são flores. Em um dado momento, fomos abruptamente envolvidos por uma densa nuvem negra, resultado do derramamento de piche na área em recuperação, exatamente no instante em que passávamos ao lado da máquina responsável pela obra. Esse inesperado encontro com a nuvem de piche adicionou um elemento surpresa à nossa viagem, lembrando-nos das imprevisibilidades que a estrada reserva.
Continuamos nossa viagem, inicialmente sem perceber a extensão do piche que havia sido lançado sobre nós. Já em território paranaense, contornamos a cidade de União da Vitória por um trecho que se assemelhava a um campo minado, repleto de buracos.
Superamos com sucesso os desafios impostos pelos buracos e, em seguida, acessamos a Rodovia BR-476. Por essa via, percorremos apenas alguns quilômetros antes de retornarmos à BR-153.
À medida que seguimos pela rodovia federal, notamos que ela se tornou mais estreita, o acostamento desapareceu, e o fluxo de veículos reduziu drasticamente.
Neste ritmo adaptado às novas condições da rodovia, atravessamos uma sequência de localidades pitorescas: Paulo Frontin, Dorizon, Mallet, Rio Azul e Rebouças. Cada uma dessas passagens nos ofereceu vislumbres da diversidade e da riqueza cultural do interior, enriquecendo nossa viagem com paisagens variadas e a sensação de estar verdadeiramente imerso na essência da região.
À medida que os ponteiros do relógio se aproximavam das 13h30, alcançamos as proximidades de Irati, onde nos deparamos com um cenário inesperado: um belo congestionamento. A causa da lentidão era uma carreta carregada com toras de madeira, movendo-se a passos lentos pela estrada.
Com a velocidade média reduzida para menos de 20 km/h, conseguimos contornar a cidade paranaense de Irati, um ponto estratégico situado exatamente no cruzamento entre importantes rodovias: BR-153, BR-277, PR-364 e PR-438.
Assim que nos aproximamos do trevo com a BR-277, um carro que vinha atrás começou a buzinar e a piscar os faróis freneticamente. Decidimos encostar para averiguar a situação. A motorista do veículo se aproximou e perguntou se não havíamos perdido algo pelo caminho, pois ela teve a nítida impressão de que alguma coisa caiu da moto.
Após uma breve inspeção, confirmamos que tudo estava em seu devido lugar: eu, Sayo e FredLee. Nada havia se perdido pelo caminho. Começamos a suspeitar que, talvez, o verdadeiro motivo daquela abordagem tenha sido uma curiosidade por parte da motorista em ver a Formosa mais de perto.
A breve pausa, além de proporcionar um momento de interação e verificação, teve um efeito inesperado, mas bem-vindo: ao voltarmos para a estrada, o congestionamento havia se dissipado. Com a via agora livre e desimpedida, rapidamente alcançamos a praça de pedágio na BR-277.
Após percorrer alguns quilômetros pela BR-277, conhecida carinhosamente como “Grande Estrada”, nos demos conta de que ainda não havíamos almoçado. A fome fez-se presente, e decidimos parar no Complexo Anila, que oferece uma ótima estrutura com restaurante, lanchonete, posto de combustível e hotel fazenda. Este local se destacava por sua ampla área verde, repleta de árvores e um gramado impecavelmente cuidado, oferecendo um cenário ideal para uma pausa relaxante e um agradável piquenique.
Envolvidos pela tranquilidade daquele belo refúgio, dedicamo-nos a preparar um tereré com esmero, complementando a pausa com um lanche repleto de sabores naturais e caseiros. Nos deleitamos com laranjas e bergamotas — frutas cítricas conhecidas por uma variedade de nomes como ponkan, mexerica, mimosa e fedidinha, evidenciando a rica diversidade cultural do Brasil até mesmo na nomenclatura de seus alimentos. Acompanhando as frutas, saboreamos carapinhas (ou cri-cri), aquele amendoim coberto com chocolate que é uma delícia típica da época de Páscoa, mas que agrada em qualquer momento do ano. Para tornar a experiência ainda mais especial, desfrutamos de saborosos pães caseiros preparados pela Sayo no dia anterior, cujo aroma e sabor traziam consigo o conforto e o carinho de um alimento feito em casa.
Hidratados, alimentados e revigorados, retomamos nossa jornada pela estrada federal.
Em poucos minutos, a paisagem ao redor começou a mudar, anunciando nossa chegada à cidade de Palmeira. Mantivemo-nos fiéis ao trajeto pela BR-277, percorrendo-a até um marco que nos encheu de expectativa: a passagem ao lado da placa indicativa da Colônia Witmarsum.
No penúltimo dia da Expedição 2020: Belas Rotas, tivemos o prazer de conhecer a pequena e acolhedora comunidade da Colônia Witmarsum, formada por imigrantes alemães menonitas. Essa visita nos permitiu mergulhar em uma rica tradição cultural e saborear as delícias locais. Uma das experiências mais memoráveis foi a oportunidade de experimentar as guloseimas oferecidas pelo famoso Café Colonial de Witmarsum.
Desde aquele momento, o aconchegante café com leite servido quentinho, harmonizado com os quitutes artesanais, despertou em nós uma série de devaneios. Essa experiência gastronômica tão singular nos deixou com um desejo persistente de revivê-la.
E então, o momento tão aguardado finalmente chegou, permitindo-nos “chutar o balde” e nos esbaldar com a rica e saborida (nem sei se esta palavra existe, mas achei bonita e imagino combinar com o momento) culinária alemã.
Com a satisfação de quem tem a pança cheia, ostentando um sorriso que se estendia de orelha a orelha e com o nível de glicose certamente além do que qualquer endocrinologista consideraria prudente, nos despedimos da tranquila e acolhedora Colônia Witmarsum. Tomamos então a Rodovia BR-376, agora uma via duplicada, em direção a Ponta Grossa.
À medida que o fim do dia se aproximava, fomos agraciados com o espetáculo mais majestoso da natureza: o pôr do sol. O Astro Rei, em sua jornada incansável rumo ao oeste, banhava o céu com um esplendor de cores e tonalidades. O horizonte tornou-se um verdadeiro quadro vivo, com pinceladas de azul, laranja, e dourado, criando um momento de pura magia e beleza. Esse cenário deslumbrante serviu como pano de fundo perfeito para nossa viagem, enchendo nossos corações de admiração e nossas mentes de tranquilidade, enquanto a estrada se desenrolava à nossa frente, sob a despedida calorosa do dia.
Dessa forma, ao passarmos ao lado da entrada do Parque Estadual de Vila Velha, relembramos nossa visita em 2017, um momento marcado pela exploração e admiração das formações naturais únicas do local. Com essas memórias aquecendo nossos corações, prosseguimos tranquilamente pelos últimos quilômetros do dia pela Rodovia do Café. Este trecho da viagem, embalado pelo entardecer e pelas lembranças nostálgicas, foi um convite à reflexão sobre as maravilhas naturais e históricas que nosso país abriga.
Chegamos aos arredores de Ponta Grossa exatamente às 18h00, momento em que o movimento intenso se fazia presente, refletindo o horário de pico. Cercados por uma multiplicidade de veículos, mergulhamos no caos urbano enquanto acessávamos o centro desta importante cidade paranaense.
Ao chegarmos no coração do município, lar de mais de 350.000 habitantes, fizemos uma parada estratégica em um posto de combustível para abastecer a Formosa, cumprindo assim a regra de ouro do motociclismo: abastecer a moto para sempre iniciar o dia seguinte com o tanque cheio. Essa prática, embora às vezes tentadoramente negligenciada, nos poupa de momentos de tensão e aventuras inesperadas às vésperas de uma pane seca, como vivenciamos no dia 30 da Expedição 2020: Belas Rotas.
Com a Formosa já abastecida, a próxima missão foi encontrar um hotel para a noite – um desafio facilmente superado graças às conveniências tecnológicas atuais. Em poucos momentos, já havíamos localizado o perfeito refúgio noturno e estávamos acomodados, nos desligando das exigências do dia e antecipando as aventuras que o segundo dia da Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu nos reservava.
Abaixo o mapa com o trajeto percorrido na viagem de Erechim – RS a Ponta Grossa – PR:
Oba! Já são 6 comentários nesta postagem!
Venham comemorar conosco o centenário da mais antiga viagem de mototurismo da América do Sul, de 25 a 27 de Agosto!
Olá Daniel, tudo bem?
Obrigado pelo convite! Desejamos um ótimo evento para vocês.
Abraços.
Ôpa…já estou ansioso para curtir as fotos do Pq. Guartelá.
2007 e 2018, foram minhas passagens por lá, lugar magnífico. Muito bom também para testar o fôlego e a força nas pernas! hehehe…
É isso, vamos acompanhar a Bela Rota.
Abraço pra vocês.
Maravilha Fernando!
Nós conhecemos parte do Cânion Guartelá em 2006, na ocasião percorremos algumas trilhas nas proximidades de Castro, mas ainda não tivemos a oportunidade de visitar o Parque Estadual do Guartelá, que fica em Tibagi.
O lugar é mesmo magnífico, e por sua extensão e enorme desnível as caminhadas pelo cânion são bem puxadas, mas o esforço é compensado pelo cenário fabuloso.
Abraços…
Sempre é legal iniciar uma viagem, principalmente sem compromisso com horas pra chegar…valeu
Exatamente. A sensação de liberdade de não ter um local definido onde pernoitar, o fato de dispor de alguns dias para aproveitar e ter a sensibilidade para perceber e interpretar os sinais que surgem a cada dia é indescritível!
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
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