Cerro Largo • Expedição 2022: Uruguay • Melo • Uruguai
Viagem de Moto de Lago Merín a Melo, Cerro Largo: Roteiro pela Posta del Chuy, o Primeiro Pedágio do Uruguai
31 de Julho, 2022
Embarque em uma viagem de moto de Lago Merín até Melo, capital do departamento de Cerro Largo. Pelo caminho, visite a histórica Posta del Chuy e sua ponte construída totalmente em pedra, considerada o primeiro pedágio oficial do Uruguai.
Nas primeiras horas de um ensolarado domingo no belo balneário de Lago Merín, na fronteira leste do Uruguai, nos despedimos de nossos anfitriões e amigos Gissel e Javier para seguir viagem de moto rumo ao interior do país. Cruzamos áreas alagadas e pequenas propriedades rurais até chegar ao centro de Río Branco, cidade fronteiriça onde aproveitamos para comprar alguns itens em seus inúmeros free shops. Durante a tarde, avançamos pela asfaltada Ruta 26, ladeados por vastos campos e grandes criações de gado, até alcançar um dos principais atrativos turísticos de Cerro Largo: a histórica Posta del Chuy, construção do século XIX erguida em pedra, sem o uso de argamassa. Ali, contemplamos o Arroyo Chuy del Tacuarí e a antiga ponte considerada o primeiro pedágio oficial do Uruguai. No fim do dia, completamos o trajeto chegando a Melo, a capital departamental.

Após quatro dias inesquecíveis explorando as belezas naturais do balneário de Lago Merín, no distrito de Río Branco, departamento de Cerro Largo, na República Oriental do Uruguai, chegou o momento de retomar nossa viagem de moto pelas estradas uruguaias e seguir rumo à capital departamental, Melo. Foram dias intensos, marcados por paisagens tranquilas, muita hospitalidade e a convivência calorosa com moradores que, em pouco tempo, se tornaram verdadeiros amigos, reforçando ainda mais aquele sentimento de conexão que só uma viagem de moto é capaz de proporcionar.

Com a moto devidamente carregada com todos os equipamentos, vestimos nossos trajes de moto-viajantes e fizemos algumas fotos de despedida ao lado de nossos anfitriões, Gissel e Javier, que nos acolheram com uma generosidade rara durante nossa estadia. Para o registro, Gissel fez questão de retirar cuidadosamente da garagem sua Pantera, uma linda Honda CB 650F, demonstrando o orgulho que tem por sua companheira de estrada e tornando a despedida ainda mais especial. A troca de abraços, risadas e votos de boa viagem selou uma amizade que levaremos para sempre.

Agradecemos de coração a Gissel, Javier, Mery, Alvaro e todos os amigos que nos receberam de braços abertos em Lago Merín. A receptividade uruguaia, já famosa entre viajantes, se confirmou mais uma vez em cada gesto e conversa. Esperamos sinceramente ter a oportunidade de retribuir tamanha gentileza no futuro e reencontrá-los em algum ponto desse mapa que seguimos costurando sobre duas rodas.



Quando os ponteiros do relógio se aproximavam das 10h, deixamos Lago Merín e seguimos rumo ao noroeste. Bastaram os primeiros quilômetros para percebermos a extensão das áreas alagadas ao longo da estrada, um reflexo evidente das fortes chuvas que atingiram diversas regiões do Uruguai nos últimos dias.


Desviando de um buraco aqui e outro ali, vencemos com agilidade os 20 quilômetros que conectam o balneário de Lago Merín ao centro de Río Branco. Ao chegar à cidade, aproveitamos para visitar alguns free shops e adquirir itens essenciais para a continuidade da viagem. A curta parada também nos permitiu observar um pouco mais do movimento da fronteira e o vaivém característico de um município que historicamente mantém laços intensos com o Brasil, dado que está praticamente colado ao território gaúcho.



Em seguida, passamos em um mercadinho onde compramos nosso almoço do dia: bananas, iogurte natural, iogurte natural com dulce de leche Conaprole e um delicioso alfajor artesanal de maizena recheado com doce de frutas. Uma refeição simples, prática e típica de estrada, perfeita para recarregar energias sem comprometer o ritmo da viagem.


Com o estômago satisfeito e as energias renovadas, retomamos o percurso pela Ruta 26. Pouco depois, fomos ultrapassados por um policial da Policía Caminera em sua elegante e veloz BMW R 850 RT, um modelo muito usado pelas forças rodoviárias uruguaias devido à robustez e ao conforto. Fora essa ultrapassagem, o tráfego era praticamente inexistente, e a estrada, em excelente estado de conservação, seguia contornando campos vastos, repletos de gado e aves migratórias, compondo aquela paisagem bucólica tão característica do interior do Uruguai.


O departamento de Cerro Largo, localizado no norte uruguaio, é uma das regiões mais singulares do país, tanto pela vasta extensão territorial quanto pelo patrimônio cultural e histórico que conserva. Com 13.648 km², é o quarto maior departamento do Uruguai e combina áreas rurais extensas com cidades que preservam tradições campeiras profundamente enraizadas.



Além da fronteira com o Brasil, limita-se com Durazno, Tacuarembó e Rivera, abrigando cerca de 86.564 habitantes, uma densidade populacional baixa, de aproximadamente 6,34 habitantes por km², o que reforça seu perfil essencialmente agropecuário.


Sua capital, Melo, é um importante centro urbano do norte uruguaio e está situada a 387 km de Montevidéu. A região foi inicialmente ocupada por povos indígenas, como os Charrúas, que se espalhavam pelo leste e norte do território. Esses grupos nômades sobreviviam da caça, pesca e coleta até que, no século XVI, a chegada dos colonizadores europeus mudou radicalmente o cenário. Ao longo dos anos, a economia local consolidou-se na agricultura e, sobretudo, na pecuária bovina, favorecida pelo clima suave e pelos campos amplos, que até hoje atraem viajantes fascinados pelo modo de vida rural uruguaio.


A origem do nome “Cerro Largo” está associada à presença de colinas alongadas próximas à fronteira brasileira. O território também foi palco de conflitos importantes entre colonos e povos originários, além de desempenhar papel estratégico durante as lutas pela independência uruguaia no início do século XIX, quando a região era frequentemente utilizada como rota de passagem entre os distintos grupos que disputavam o controle da Banda Oriental.




Rodamos aproximadamente 75 quilômetros pela rodovia antes de acessar uma estradinha de terra, onde levantamos poeira por cerca de um quilômetro até estacionar a Formosa diante de uma das atrações históricas mais imponentes de Cerro Largo e um verdadeiro ícone do Uruguai: La Posta del Chuy.



Vale lembrar que a Ruta 26 não seguia o traçado atual. No passado, estradas de terra serpenteavam por colinas e campos, conectando Villa Melo a Villa Artigas (hoje Río Branco). Essas rotas eram percorridas por diligências e carroças que dependiam de pontos de parada para descanso, as chamadas postas, onde viajantes podiam se abrigar, alimentar os cavalos e repor suprimentos. Entre essas paradas, uma das mais importantes era a propriedade de Beltrán Echeverry, onde hoje está a Antiga Posta del Chuy.




A construção da Posta do Chuí, erguida com pedras areníticas encaixadas sem argamassa, começou no início da década de 1850 e foi concluída em 1854. Sua arquitetura impressiona pela técnica e pela durabilidade, resultado do trabalho minucioso de pedreiros bascos-franceses da família Etcheverry, tio e sobrinho, que deixaram sua marca na história local. O prédio funcionava simultaneamente como alojamento e centro de operações logísticas. No térreo, uma loja de artigos gerais atendia viajantes e moradores, vendendo desde utensílios básicos até bebidas. No andar superior, vivia a família Etcheverry, protegida por paredes espessas e janelas de madeira maciça que ajudavam a evitar o frio rigoroso da região.


Além de servir como pouso para viajantes, a Posta del Chuy tinha importância estratégica. Pela proximidade com o Brasil, funcionava como ponto de controle da entrada de pessoas vindas do território brasileiro, incluindo pessoas escravizadas que buscavam cruzar a fronteira em direção ao Uruguai, país que avançou precocemente na abolição da escravidão em comparação com seus vizinhos. A Posta del Chuy também funcionava, de certo modo, como um cofre improvisado, já que Melo ainda não possuía serviços bancários no final do século XIX, e edificações sólidas como essa ofereciam alguma segurança para a guarda de bens.



Hoje, a Antiga Posta del Chuy abriga o Museo del Gaucho – Casa Posta del Chuy del Tacuarí, dedicado à vida campeira e ao cotidiano rural dos séculos XIX e início do XX. Infelizmente, durante nossa visita, o museu estava fechado para reformas, impossibilitando a entrada. Ainda assim, a área externa impressiona e ajuda a imaginar como era a rotina naquele importante ponto de apoio da antiga rota.


Museo Posta del Chuy | Museu Posta do Chuí
Explore o Museu Posta del Chuy, um monumento histórico no Uruguai que se destaca não apenas por sua construção centenária e pela diversidade de suas funções ao longo do tempo, mas também pela impressionante ponte ao seu lado. Erguida exclusivamente com pedras, sem o uso de argamassa, a ponte é uma obra arquitetônica singular, que embeleza a paisagem e se torna a única de seu tipo em toda a América do Sul. Curiosamente, foi nesse ponto que foi instalado o primeiro pedágio oficial do Uruguai.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar no Museo Posta del Chuy partindo do centro de Río Branco – Cerro Largo – Uruguai:
Contatos do Museo Posta del Chuy
- Endereço: Ruta 26 | Melo – Cerro Largo – Uruguai
- Telefone: +598 46 429 147
Horários de Funcionamento
- Segunda-feira: das 10h às 15h30
- Terça a domingo: das 9h às 17h
Valores de Ingresso
- Durante nossa visita não foi cobrada taxa de entrada, mas não podemos garantir se isso ocorreu devido às reformas em andamento ou se a entrada é sempre gratuita (não verificamos esse detalhe). De qualquer forma, antes de realizar sua viagem, recomendamos verificar as tarifas do museu para obter informações atualizadas.
Tempo Médio de Visitação
- 1 hora e 30 minutos
Web Story
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O nome “Chuy” ou “Chuí” deriva do arroio que corre ao lado da construção, o Arroyo Chuy del Tacuarí, e tem origem guarani, significando “pequena tartaruga”. Ali também se destaca uma ponte notável de 85 metros, construída em 1855, igualmente sem argamassa e considerada uma obra arquitetônica singular na América do Sul.



Essa ponte, vital para a passagem de gado, carroças e viajantes, foi construída sob um regime de concessão de obras públicas, no qual o contrato obrigava a construção da estrutura e, ao mesmo tempo, conferia o direito de cobrar pedágios. Assim, a ponte da Posta del Chuy tornou-se o primeiro pedágio oficial do Uruguai, com uma corrente controlada a partir do interior da casa, que liberava ou bloqueava a passagem conforme o pagamento da tarifa. Essa prática perdurou até 1917, quando a ponte foi transferida para a propriedade do Estado.


Na segunda década do século XX, enquanto o contrato da família Etcheverry com o Estado ainda estava vigente, o prefeito Juan Martín Aspiroz comprou a ponte por 8.000 pesos, consolidando seu valor histórico. Já nos anos 1940, durante o governo de Alfredo Baldomir, a ponte e a Posta del Chuy passaram por restauro sob liderança de Horacio Arredondo, historiador renomado que desempenhou papel fundamental na preservação do patrimônio uruguaio.


Ao longo dos anos, a Posta del Chuy passou por períodos de deterioração, mas hoje é reconhecida como Monumento Histórico Nacional. É muito mais que uma construção de pedra: representa a herança crioula e a história da fronteira, transportando o visitante a um período em que o ritmo da viagem dependia de cavalos, diligências e das distâncias largas do interior uruguaio.



Após explorarmos o local, retomamos a Ruta 26 e, doze quilômetros adiante, alcançamos Melo, capital do departamento de Cerro Largo. Fundada em 1795, Melo é considerada berço de grandes poetas uruguaios e conserva um forte vínculo com as tradições gaúchas. Com aproximadamente 51.000 habitantes, é um polo comercial, agrícola e pecuário importante na região. O município faz fronteira com Herval e Pedras Altas, no Rio Grande do Sul, o que reforça sua identidade fortemente ligada à cultura da campanha sulina.



Chegamos em Melo ao fim da tarde e estacionamos a Formosa ao lado da Plaza Constitución, que estava repleta de moradores tomando mate, crianças brincando e cães passeando livremente, um retrato fiel da vida tranquila e acolhedora do interior do Uruguai. A praça, coração da cidade, fica em frente à Catedral de Melo, a Parroquia Nuestra Señora del Pilar y San Rafael, um dos edifícios mais emblemáticos da capital departamental. Depois de fotografar a catedral, caminhamos até o Museo Histórico Regional de Melo.




Embora não tenhamos registrado imagens do interior do Museu Histórico Regional de Melo, destacamos que o museu oferece entrada gratuita e abriga um acervo muito interessante sobre a trajetória da região, seus personagens e sua vida cotidiana. É uma visita altamente recomendável para quem deseja conhecer melhor a identidade local.



Aproveitamos a simpatia das atendentes do museu para pedir sugestões de onde acampar. Elas nos indicaram o Parque Rivera (Parque General Fructuoso Rivera), um dos maiores espaços públicos da cidade. No entanto, ao chegarmos, encontramos uma multidão no local e a extensa área de camping totalmente alagada, mais uma consequência das chuvas intensas que atingiram a região. Diante da impossibilidade de armar a barraca, tivemos de buscar outra alternativa para passar a noite.




Foi então que Flaco, um uruguaio simpático que se aproximou atraído pela presença inconfundível da Formosa, veio conversar conosco. Administrador de um clube de carros antigos chamado “El Flaco y Sus Amigos”, ele viaja por todo o Uruguai participando de encontros e já visitou várias cidades brasileiras. Em poucos minutos de conversa, Flaco não apenas compartilhou histórias, como também nos ajudou a encontrar uma hospedagem simples, econômica e bem localizada, a apenas duas quadras da praça principal, um gesto que fez toda a diferença após a longa viagem do dia.



Mais tarde, já instalados e famintos, saímos para procurar algo para comer e encontramos uma pizzaria. Foi ali que vivemos um episódio curioso: podíamos escolher até três ingredientes, mas cada um deles deveria ocupar uma parte distinta da pizza, sempre sobre a base de molho de tomate. Ou seja, misturar os ingredientes era considerado uma espécie de heresia gastronômica.


Confusos e insistindo na mistura (hábito tão comum nas pizzarias brasileiras) acabamos travando uma pequena discussão bem-humorada com o proprietário, que misturava espanhol, português e um portunhol improvisado. Entre risadas e explicações, ele acabou cedendo e preparou nossa pizza “do jeito brasileiro”, com todos os ingredientes distribuídos uniformemente.

Ao final, saboreamos uma deliciosa pizza retangular, acompanhada de uma conversa descontraída com o proprietário e sua família sobre as diferenças culturais entre Brasil e Uruguai, especialmente no quesito comida, onde sempre surgem comparações divertidas. Foi uma noite simples e acolhedora, daquelas que se tornam inesquecíveis justamente pela espontaneidade e pela hospitalidade encontrada pelo caminho.

Acima está o mapa com o trajeto completo percorrido entre o balneário de Lago Merín e a capital Melo, no departamento de Cerro Largo, no Uruguai.

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