Bananal • Brasil • Expedição 2020: Belas Rotas • Rio de Janeiro • São Paulo • Teresópolis
Dia 27: Teresópolis – RJ a Bananal – SP
24 de Novembro, 2020Após tomar o café da manhã notamos que o azul teimava em aparecer entre as inúmeras nuvens no céu de Teresópolis – RJ.
Tratamos de vestir as roupas de viagem e carregar as bagagens na Formosa depressa para seguir até o Mirante do Soberbo, na esperança de conseguir avistar a Serra dos Órgãos em nossa última oportunidade durante a Expedição 2020: Belas Rotas.
Avançamos rapidamente até o belvedere que fica às margens da rodovia BR-116.
Mas a névoa foi mais rápida que nós e assim que chegamos ao local a cadeia montanhosa já estava completamente encoberta pela densa neblina.
Assim partimos pela rodovia federal sentido norte.
Poucos quilômetros adiante quando olhei pelo retrovisor consegui ver parte da Serra dos Órgãos.
Uma paisagem incrível que me fez parar a Formosa no acostamento da rodovia e, finalmente, conseguimos avistar de forma parcial a majestosa Serra dos Órgãos.
Dedo de Deus (1.692m), Cabeça de Peixe (1.680m), Santo Antônio (1.990m), São João (2.100m) e Nariz do Frade (1.920m) se destacavam entre as inúmeras nuvens.
Conseguimos registrar o momento tão esperado por nós e contemplar tamanha maravilha natural por alguns instantes até que a densa neblina passou a envolver rapidamente os imponentes picos da incrível serra.
Ganhamos o dia e, agora sim, podemos nos despedir dignamente de Teresópolis, A Capital Nacional do Montanhismo.
Voltamos a percorrer o asfalto e poucos metros adiante paramos em um pare-e-siga.
No qual aguardamos alguns minutos para, na sequência, dar continuidade na viagem.
Ainda impressionados e eufóricos por ter conseguido avistar a Serra dos Órgãos passamos reto no trevo que nos levaria à BR-495 e só percebemos o erro muitos quilômetros adiante, quando as placas na rodovia começaram a indicar a quilometragem restante até Salvador.
Seria ótimo voltar a visitar a capital baiana, porém, temos data para regressar para casa, então fizemos o retorno e adentramos no caminho correto, ao menos o vacilo nos rendeu a vista de uma bela cachoeira às margens da BR-116.
A BR-495, popularmente conhecida como Estrada Itaipava-Teresópolis, liga os municípios de Teresópolis e Petrópolis através de um percurso de aproximadamente 35 quilômetros.
A rodovia federal é de pista simples, não conta com acostamento e é bastante sinuosa.
É também chamada de Estrada das Hortênsias, ou Estrada das Hortências, devido ao grande número de flores desta espécie que colorem e embelezam ainda mais o trajeto.
A cereja do bolo fica por conta do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o qual completa o cenário no qual a estrada está inserida.
A estrada de curvas fechadas e percurso íngreme chega a atingir uma altitude de 1.500 metros acima do nível do mar.
Em determinado ponto da rodovia federal existe uma área de parada, onde são vendidos cocos (delícia) e é possível ter uma incrível vista do vale.
Ali nos hidratamos e passamos alguns minutos apreciando a paisagem ao redor.
Na sequência voltamos a percorrer a rodovia que está em bom estado de conservação e na ocasião apresentava baixo fluxo de veículos.
Sem dúvidas esta é uma das estradas mais charmosas e belas de nosso querido país.
Logo chegamos em Itaipava, um distrito de Petrópolis.
Ali nos despedimos da cenográfica BR-495 e passamos a percorrer a movimentada BR-040.
Na qual conseguimos se perder pela segunda vez no dia (parabéns ao piloto!).
Como acreditamos que nada acontece por acaso e se algo aconteceu é para nosso próprio bem, quando notamos já estávamos descendo a incrível Serra do Mar entre Petrópolis e a capital fluminense, a qual percorremos na última quarta-feira, na ocasião acompanhados por uma forte chuva.
Aproveitamos a falha de navegação para descer toda a serra e na sequência subir novamente.
Quem viaja de moto sabe o deleite que uma sinuosa serra em meio a uma densa floresta é capaz de proporcionar, sem contar nas deliciosas, por vezes assustadoras, raspadas das pedaleiras, que espalham faíscas para todos os lados.
Pois bem, como desta vez o tempo estava colaborando, fizemos uma breve pausa no Mirante do Cristo.
O local, que proporciona uma linda vista da Baía da Guanabara, abriga um monumento de Cristo Crucificado, inaugurado em 1941.
Após a paradinha rápida voltamos a percorrer a rodovia BR-040.
E desta vez, com a ajuda do Google Maps, achamos o acesso à rodovia RJ-117.
A estrada estadual liga Petrópolis a Paty do Alferes em um percurso de aproximadamente 45 quilômetros.
A rodovia, denominada Estrada Bernardo Coutinho, corta parte da Reserva Biológica Estadual de Araras que abrange cerca de 3.862,33 hectares e foi criada em 1977.
Rodamos poucos quilômetros pela sinuosa rodovia até perceber a presença de nuvens negras nas proximidades, sabiamente paramos e colocamos as capas, que foram de enorme utilidade minutos depois, quando um verdadeiro temporal nos atingiu.
A forte pancada de chuva durou praticamente 30 minutos, quando o tempo voltou a abrir.
E o forte calor voltou a se fazer presente, principalmente para quem estava vestindo capas de chuva.
Nas proximidades de Paty do Alferes enfrentamos uma sequência surreal de curvas fechadas.
E logo acessamos a pacata cidade, onde fomos em busca de almoço.
Devidamente alimentados, e mais confortáveis após retirar as capas, voltamos a percorrer as estradas fluminenses, desta vez a RJ-125.
Logo nos despedimos de Paty do Alferes e acessamos o centro de Miguel Pereira.
Cidade que cruzamos rapidamente para, na sequência, iniciar a descida da Serra de Miguel Pereira.
Hoje não foi apenas o dia de se perder, mas também de percorrer estradas bonitas, fazendo jus ao nome da expedição deste ano.
O trecho de aproximadamente 15 quilômetros da rodovia RJ-125 que corta a serra é impressionante.
Asfalto em bom estado de conservação, ausência de acostamento e curvas perfeitas para bailar com a Formosa.
Embalados com o agradável ronco do motor Twin Cam e cercados por uma linda paisagem logo chegamos ao nível do mar.
Onde passamos por Japeri e cruzamos a ponte sobre o Rio Guandu.
Na sequência avistamos um quiosque vendendo água de coco, não pensamos duas vezes e paramos às margens da rodovia protegidos pela sombra das árvores.
Revigorados com a gelada e saborosa água da fruta rica em nutrientes seguimos adiante e logo chegamos no entroncamento com a BR-116.
A qual mal acessamos e já pagamos uma tarifa de pedágio, para depois iniciar a subida da famosa Serra das Araras.
Acompanhados por diversas carretas, que dominam as duas faixas de rolamento da Via Dutra, rodamos até Piraí, onde passamos a percorrer a RJ-145.
Seguimos pela estrada estadual que costeia o Rio Piraí até chegar no entroncamento com a RJ-139, pela qual cruzamos novamente a divisa entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Já em solo paulista a estrada apresenta melhor estado de conservação e recebe o nome de SP-068, ou Rodovia dos Tropeiros.
Avançamos rapidamente pela estrada até passar por uma placa indicando a possibilidade de visitar uma histórica fazenda, a Fazenda Loanda.
Fizemos o u-turn (estou ficando bom nisso… em fazer retornos, não no inglês) e adentramos na estradinha de chão batido, pela qual percorremos menos de um quilômetro até avistar a imponente sede da fazenda.
Fazenda Loanda
Local: Rodovia SP-068, Km 328 | Rancho Grande | Bananal – SP
Telefone: (12) 3116-3274 | (24) 98816-9916
E-mail: fazenda.loanda@hotmail.com
Site: https://www.fazendaloanda.com/
Funcionamento: Todos os dias das 9h00 às 17h00
Ingresso: R$ 15,00
Tempo médio de visitação: 3 horas
Estacionamos a Formosa em uma sombra e caminhamos em torno do enorme casarão.
A Fazenda Loanda surgiu do desmembramento da sesmaria de número 5, pertencente a Manoel Antônio de Sá Carvalho, como resultado do casamento de uma de suas filhas com Luiz José de Almeida, em 1791.
Nesta época a propriedade produzia cana-de-açúcar, anis, milho e outras culturas de subsistência.
Dessa união, por várias gerações, chegou-se até Pedro Ramos Nogueira, que se casou com a sua prima Placidia Maria de Almeida, em 1844.
Foi nesta época que a fazenda teve seu apogeu, graças ao ciclo do café.
Isso motivou uma grande reforma no casarão durante o ano de 1850, quando elementos da arquitetura neoclássica, que era a moda na Europa, passaram a compor a construção, com destaque para a grande quantidade de janelas e a ostentação dos tradicionais abacaxis, símbolo de nobreza e riqueza.
Pedro Ramos Nogueira recebeu, em 1877, das mãos de Dom Pedro II o título de “Barão da Joatinga”.
Após contemplar o exterior do suntuoso casarão e fazer algumas fotos fomos recebidos pelo simpático Pedro Teixeira, que prontamente abriu as portas da histórica edificação, sua atual residência, e nos convidou a entrar.
Ali fomos introduzidos em uma visita guiada repleta de detalhes e curiosidades, uma verdadeira aula de história não somente sobre a fazenda, mas também da região e do cenário nacional na época de apogeu da propriedade.
Tivemos a oportunidade de conhecer cada um dos cômodos da enorme casa, que é finamente decorada com belíssimos móveis (em sua maioria oriundos da França), quadros, cristais, porcelanas e demais objetos bem conservados.
Ao longo do século XIX e início do século XX o café foi a principal atividade econômica do Brasil, sendo o Vale do Paraíba uma das mais influentes regiões de cultivo, o que explica a grande quantidade de grandiosas fazendas.
Em 1854 Bananal – SP se tornou a maior produtora brasileira do valioso grão, resultando em cerca de 500 mil arrobas do produto, o equivalente a mais de 7 mil toneladas!
Comercializando café para a Europa e Estados Unidos, o município não tardou em se tornar um dos mais importantes e ricos do país.
Chegou a cunhar sua própria moeda, que sob a influência dos barões do café garantiu inclusive um empréstimo ao governo imperial.
Isso explica tamanha magnificência das construções e seus móveis.
O nome da Fazenda Loanda surgiu em consequência da cidade Luanda, capital da Angola, país de origem da maioria dos escravos que chegavam na propriedade.
Após conhecer o pavimento principal do antigo casarão fomos explorar alguns dos seus seis porões.
Onde estão armazenadas peças de época, algumas aguardando para serem restauradas e outras já revitalizadas.
Um dos porões abriga a antiga capela da fazenda, que foi cuidadosamente recuperada e tem suas paredes e teto decorados com cenas religiosas, as quais foram pintadas com o rosto de cada um dos operários que trabalhou na recuperação do imóvel.
A noite já se aproximava quando nos despedimos de nosso guia e partimos da Fazenda Loanda.
Seguimos pela escuridão da noite por aproximadamente 15 quilômetros pela Estrada dos Tropeiros até chegar no centro de Bananal, onde tardamos um pouco para localizar um hotel, uma vez que vários estavam fechados devido à pandemia, mas no fim deu tudo certo.
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Bela rodovia, naturalmente belas imagens. Jóia !
Pela minha ignorância, achava que a cidade do leste paulista tinha esse nome devido à fruta – banana=Bananal. hehehe…..até então nunca havia imaginado que era o café que gerou a opulência, que aliás, encerrando o ciclo do café veio a pecuária leiteira, ou seja, nada de bananas.
Grande abraço!
Pois é Fernando, nós também imaginávamos que o nome do município tivesse alguma relação com a fruta, aliás, é bem provável que a maioria das pessoas pensem desta forma.
Não entramos no assunto nesta postagem, mas o faremos na próxima, durante a exploração do centro histórico de Bananal – SP.
De qualquer forma, adianto que o nome surgiu em razão do rio que corta a localidade, chamado pelos índios puris (que habitavam a região) de Banani, que significa “rio sinuoso”.
Valeu, abraços!
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