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Viagem de Moto pela Rodovia dos Tropeiros com Visita à Fazenda dos Coqueiros e ao Centro Histórico de Bananal SP
25 de Novembro, 2020
Descubra o centro histórico de Bananal, a Estrada Sertão da Bocaina e a Rodovia dos Tropeiros. Visite a Fazenda dos Coqueiros e aprecie o inesquecível pôr do sol no Mirante Vista Chinesa em Campos do Jordão, SP.
Hoje exploramos o charmoso centro histórico de Bananal – SP, cruzamos as curvas da cênica Estrada Sertão da Bocaina até o alto da imponente Serra da Bocaina, nos encantamos com a história da emblemática Fazenda dos Coqueiros, percorremos toda a tradicional Rodovia dos Tropeiros e subimos a magnífica Serra da Mantiqueira, encerrando o dia na encantadora cidade serrana Campos do Jordão com um inesquecível pôr do sol visto do Mirante Vista Chinesa.

A quarta-feira amanheceu nublada em Bananal, SP. Após um café da manhã tranquilo, partimos para uma caminhada pelo charmoso centro histórico da cidade, prontos para explorar seus encantos e admirar as construções antigas que narram a história local.

Pequena, pacata e acolhedora, Bananal fica no pitoresco Vale do Paraíba, oferecendo um cenário perfeito para quem deseja conhecer belas paisagens, apreciar seu rico patrimônio cultural e desfrutar de uma atmosfera verdadeiramente convidativa.

A história de Bananal está intimamente ligada ao Caminho Novo da Piedade, rota construída entre 1725 e 1778 para ligar as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro, impulsionando o crescimento e o desenvolvimento de toda a região.

Com a abertura do Caminho Novo da Piedade, surgiu a necessidade de adotar uma política de doação de terras ao longo de seu trajeto, incentivando a ocupação da área e o surgimento de novas propriedades.


O objetivo ia além de simplesmente povoar os sertões: buscava-se criar uma infraestrutura básica de apoio para os viajantes que percorriam essa importante rota de ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro.


Assim, em 1783, uma sesmaria foi concedida a João Barbosa Camargo e sua esposa, que construíram uma capela de pau-a-pique dedicada ao Senhor Bom Jesus do Livramento, marco inicial do que viria a se tornar o núcleo urbano local.

Curiosamente, o nome Bananal não está relacionado à fruta banana. Sua origem vem do rio que atravessa o município, chamado de “Bananai” pelos índios Puris, os primeiros habitantes da região.


O termo “Bananai”, de origem tupi, significa “rio sinuoso”, em referência ao traçado curvilíneo do curso d’água. Inicialmente, a localidade carregava esse mesmo nome, que, com o tempo, foi adaptado para “Bananá” e, por fim, transformou-se em Bananal.


Com vastas propriedades, terras férteis e clima favorável, Bananal rapidamente se destacou como a maior produtora de café do Brasil na década de 1850.

O uso intensivo de mão de obra escrava impulsionou essa expansão, consolidando Bananal como um dos principais polos da economia cafeeira durante o auge do Ciclo do Café no país.

A riqueza gerada pelo café em Bananal foi tão expressiva que a cidade chegou a cunhar suas próprias moedas, símbolo do poder econômico e da prosperidade vivida naquele período.

Além disso, os barões do café de Bananal chegaram a avalizar e garantir um empréstimo da Inglaterra ao governo imperial, evidenciando a relevância econômica local e contribuindo decisivamente para o fortalecimento da economia paulista e brasileira.


Com o declínio do Ciclo do Café no final da década de 1920, as plantações em Bananal foram gradualmente substituídas por culturas de algodão e, especialmente, pela criação de gado leiteiro, que se consolidou como a principal atividade econômica nos anos seguintes.


Com o passar do tempo, Bananal perdeu gradualmente sua importância no cenário nacional, um processo que se acelerou a partir de 1951, com a inauguração da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), que desviou o fluxo comercial e turístico da cidade.

Essa via, atualmente a principal ligação terrestre entre São Paulo e Rio de Janeiro, passou longe da localidade, deixando-a fora da rota e diminuindo ainda mais sua relevância econômica e estratégica.

Atualmente, Bananal preserva sua beleza natural, a riqueza cultural refletida em seu povo, valores e tradições, além de um impressionante conjunto de casarões coloniais no centro histórico, cuidadosamente conservados e que revelam seu passado glorioso.

Esses elementos continuam a refletir a história e a cultura vibrante de Bananal, conferindo à cidade paulista um charme único e atraente para os visitantes que desejam vivenciar seu legado.

No auge do Ciclo do Café, Bananal era reconhecida por sua riqueza e glamour, evidentes na decoração refinada de seus sobrados históricos.

Muitas fachadas eram adornadas com os tradicionais abacaxis, símbolos de nobreza e prosperidade, além de numerosas janelas e sacadas que realçavam o status elevado dos moradores locais.


Ao percorrer o centro de Bananal, chegamos rapidamente à sua principal praça, a Praça Pedro Ramos, que funciona como ponto de encontro e referência para moradores e turistas.


A Praça Pedro Ramos, também conhecida como Praça da Matriz, é um espaço arborizado que oferece diversos bancos, um charmoso coreto e um elegante chafariz europeu de ferro, criando um ambiente agradável e repleto de história.


O chafariz da praça principal de Bananal, decorado com elementos barrocos, foi instalado no centro da Praça Pedro Ramos em 1879. Com suas quatro torneiras, confere um toque sofisticado ao espaço, enriquecendo ainda mais o ambiente histórico.

Sua função principal era fornecer água potável à população, já que, na época, Bananal ainda não contava com sistema de abastecimento de água encanada.


Nos arredores da praça, diversas construções históricas, como o Solar de Luciano José de Almeida, ampliam o charme e o valor cultural do centro de Bananal, SP.

Erguido em 1847, o sobrado exibe características típicas das imponentes residências urbanas do século XIX.

Com planta em formato de “U”, o Solar de Luciano José de Almeida possui um pátio interno projetado para a manobra de carruagens, evidenciando a opulência e o estilo arquitetônico típicos do período em que foi construído.


Em 1928, o Solar de Luciano José de Almeida foi transformado no Hotel Brasil, estabelecimento que hoje permanece fechado.


Bem próximo à Praça Pedro Ramos, encontra-se a Praça Rubião Júnior.


A Praça Rubião Júnior, também conhecida como Largo do Rosário, está situada em frente ao Solar Aguiar Vallim.


O imponente Solar Aguiar Vallim, construído em 1855, é um marco icônico do período áureo de Bananal, tendo recebido em seus salões nobres importantes autoridades imperiais da época.

O Solar Aguiar Vallim, com suas marcantes características neoclássicas e elegantes sacadas de ferro fundido, abriga atualmente a ABATUR (Associação Bananalense de Turismo), mantendo sua relevância histórica e cultural viva.


Seu interior ostenta um majestoso hall e um amplo salão de bailes, equipado com um coreto para orquestra, refletindo o luxo e o prestígio da época em que foi construído.

Atualmente, o local está aberto para visitação pública, embora durante a pandemia as visitas tenham sido temporariamente suspensas.

Praticamente ao lado do Solar Aguiar Vallim, fica o antigo fórum da cidade.

Inaugurado em 17 de março de 1833 como sede da Câmara Municipal de Bananal, o prédio público simboliza a conquista da emancipação política do município.

Naquele período, Bananal já demonstrava sua vocação para a grandiosidade, com esse edifício marcando a primeira construção pública da localidade.


Bem próximo ao antigo fórum, destaca-se a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.


Construída no século XIX, a igreja servia como local de celebração de missas especialmente dedicadas aos escravos da região.



Em seguida, passamos pela Santa Casa da Misericórdia, construída entre 1851 e 1871. Atualmente, esse edifício histórico abriga a sede da prefeitura municipal de Bananal, SP.


Atualmente, Bananal conta com cerca de 11.000 habitantes e se destaca não apenas pelo turismo, mas também pela produção artesanal de crochê de barbante, cachaça e doces caseiros, preservando suas tradições.


Para escoar a produção de café das fazendas até os portos do Rio de Janeiro durante o Ciclo do Café, os fazendeiros de Bananal construíram um ramal ferroviário que ligava a cidade à Barra Mansa. Com 28 quilômetros de extensão, essa obra foi realizada inteiramente por iniciativa privada, sem qualquer apoio governamental.


Em 1888, a estação ferroviária de Bananal, importada da Bélgica, chegou à cidade e foi instalada na entrada da vila, preservando o traçado urbano e integrando-se harmoniosamente ao ambiente local.


A estação ferroviária pré-moldada foi construída em estrutura metálica, com telhado de chapas galvanizadas almofadadas, compostas por cerca de 2 mil placas unidas por parafusos, um impressionante exemplo da engenharia da época.


Com dois andares, assoalho de pinho de Riga, sala de visitas e área total de 400 m², a estação ferroviária de Bananal é uma notável obra de engenharia que evidencia a relevância da localidade no cenário ferroviário do século XIX.

Arquitetos e historiadores reconhecem a estação ferroviária de Bananal como uma construção única no Brasil e, possivelmente, no mundo, projetada especificamente para esse propósito, ressaltando sua raridade e importância histórica.


A edificação é tombada pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo) e, devido ao seu valor histórico e arquitetônico, chegou a ser requisitada pela Bélgica para ser transformada em museu.

Em frente à estação ferroviária, a Praça Dona Domiciana exibe a locomotiva número 302 em exposição permanente, preservando a rica memória ferroviária de Bananal, SP.


Após visitar a estação, iniciamos a caminhada de volta ao hotel, passando mais uma vez pela Praça Pedro Ramos antes de seguir para conhecer a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Livramento.


Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal
Construída em 1811, a Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal guarda em seu interior pinturas com técnica de ilusão de ótica imitando mármore, estilo inspirado nas tendências europeias na época.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar na Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal partindo do centro de Florianópolis – Santa Catarina – Brasil:
Contatos da Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal
- Endereço: Travessa Dom Epaminondas, 51 – Centro | Bananal – São Paulo – Brasil
- Telefone: (12) 3116-5153
- E-mail: matrizbomjesus@hotmail.com
Para obter informações mais detalhadas, visite a página oficial da Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal no Facebook.
Horários de Funcionamento
- Segunda a sexta: das 8h às 12h e das 13h às 17h
Valores de Ingresso
- Público em geral: Gratuito
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 30 minutos


A discreta Igreja Matriz de Bananal, construída em 1811, exibe uma fachada simples em estilo colonial, característica da arquitetura daquele período.


Suas paredes de taipa, com 130 centímetros de espessura, evidenciam a robustez e a técnica construtiva empregadas no templo religioso.



No interior, a Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento surpreende pela decoração, que inclui pinturas em técnica de ilusão de ótica imitando mármore, estilo inspirado nas tendências europeias do momento.



Próximo ao altar, destacam-se tribunas reservadas aos fazendeiros, evidenciando a relevância social e religiosa da igreja na comunidade local.


Com isso, encerramos nosso passeio pelo centro histórico de Bananal, SP. Carregamos as bagagens na Formosa, vestimos nossos equipamentos de viagem e deixamos o centro pela rodovia SP-247.



A estrada de pista simples, asfaltada, sinuosa e sem acostamento, atravessa um cenário espetacular, uma verdadeira maravilha para quem aprecia viajar em contato com a natureza.



Também conhecida como Estrada Sertão da Bocaina, a rodovia segue em direção ao Parque Nacional da Serra da Bocaina, com 35 km de trecho pavimentado.



Localizado na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Serra da Bocaina ocupa 104.000 hectares e vai do nível do mar até altitudes superiores a 2.000 metros, sendo uma das maiores reservas de proteção da Mata Atlântica no Brasil.



Seu território concentra a maior diversidade biológica entre as unidades de conservação do bioma, com destaque para as encostas elevadas e escarpas litorâneas cobertas por jequitibás, cedros e maçarandubas que chegam a 28 metros de altura.



O Parque Nacional da Serra da Bocaina oferece uma impressionante variedade de atrações naturais, como cachoeiras, piscinas cristalinas, picos e mirantes deslumbrantes.



Criado em 1971 para proteger ecossistemas únicos e sua exuberante biodiversidade, abriga espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada e o preguiça-de-coleira, além de aproximadamente 300 tipos de aves.



À medida que nossas férias chegam ao fim e iniciamos o caminho de volta para casa, aproveitamos para contemplar a beleza natural da Estrada Sertão da Bocaina, que sem dúvida merece figurar entre as rodovias mais bonitas do Brasil.



Em poucos minutos, ganhamos mais de 800 metros de altitude por um trecho íngreme e sinuoso da Estrada Sertão da Bocaina.



Seguimos pela estrada até alcançar uma pequena localidade, onde se espalham restaurantes, pousadas e uma antiga igreja de madeira no topo de um morro.



Curiosos para admirar de perto o charmoso templo religioso em estilo de chalé, mesmo sob o calor intenso, encontramos uma sombra para estacionar a Formosa e começamos a caminhada até a Igreja Sagrado Coração de Jesus.



A encantadora capela de madeira, com seu formato de chalé, transmite uma sensação de antiguidade. Embora tenhamos pesquisado, não encontramos informações disponíveis sobre ela na internet.



Localizada no alto do morro, a igreja proporciona uma vista espetacular da Serra da Bocaina e de toda a paisagem ao redor.



Após a contemplação, aproveitamos para nos hidratar e, como poucos metros à frente a Rodovia Sebastião Diniz de Moraes (SP-247) se transforma em estrada de terra e pedras, optamos por retornar ao centro de Bananal pelo mesmo caminho da ida.



Durante o retorno, decidimos fazer uma parada no Mirante Vale da Bocaina antes de começar a descida pela serra.



A paisagem vista do Mirante Vale da Bocaina é deslumbrante. No alto do morro, em meio às curvas fechadas, o belvedere oferece um cenário onde o céu parece encontrar as montanhas e os vales verdejantes que se estendem até o horizonte.



A energia que paira na Serra da Bocaina é difícil de descrever, transmitindo uma profunda sensação de paz e serenidade, realçada por um cenário realmente paradisíaco.




O nome Bocaina vem do tupi-guarani e significa, possivelmente, “caminho para o alto” ou “depressão em uma serra”.



Com certeza voltaremos com mais tempo para explorar a Serra da Bocaina em maior profundidade assim que surgir uma oportunidade.




Após um “até logo”, retomamos a viagem de moto pela encantadora Estrada Sertão da Bocaina, com a Formosa bailando com garbo e elegância pelas fechadas curvas da sinuosa Serra da Bocaina, embalada pelo ronco inconfundível do motor Twin Cam da Harley-Davidson.




A estrada é realmente incrível para viajar de moto, algumas curvas são bastante fechadas e a pista estreita com forte inclinação nos lembra a serra da Rodovia Oswaldo Cruz (SP-125), que percorremos no décimo terceiro dia da Moto Expedição 2020: Belas Rotas.




No caminho de volta, também fizemos uma parada para fotografar outro templo religioso: a singela Capela de São José do Retiro, localizada às margens da rodovia.



De volta ao centro histórico de Bananal, acessamos a Rodovia dos Tropeiros (SP-068) em direção ao oeste.


Percorremos poucos quilômetros pela Estrada dos Tropeiros até alcançar a histórica Fazenda dos Coqueiros, uma antiga e tradicional produtora de café.


Fazenda dos Coqueiros
A Fazenda dos Coqueiros foi construída em 1855 pelo casal Major Cândido Ribeiro Barbosa e Joaquina Maria de Jesus.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar na Fazenda dos Coqueiros partindo do centro do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil:
Contatos da Fazenda dos Coqueiros
- Endereço: Rodovia SP-068, Km 309 | Bananal – São Paulo – Brasil
- Telefone: (12) 97405-5717
- E-mail: fazendadoscoqueiros@gmail.com
Para obter informações mais detalhadas, visite o site oficial da Fazenda dos Coqueiros.
Horários de Funcionamento
- Terça a domingo: das 10h às 16h
Valores de Ingresso
- Público em geral: R$ 35,00
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 2 horas


Construída em 1855 pelo casal Cândido Ribeiro Barbosa e Joaquina Maria de Jesus, a Fazenda dos Coqueiros é um dos marcos históricos mais emblemáticos de Bananal, SP.


Ao chegarmos, fomos calorosamente recepcionados pela atual proprietária, Maria Elisabeth Brum Gomes, que nos acolheu com um sorriso e nos convidou para uma visita guiada pelo amplo casarão que abriga a sede da fazenda.


A visita teve início com um ritual tradicional dos tempos áureos da Fazenda dos Coqueiros: lavar as mãos dos visitantes com água fresca, perfumada com lavanda ou pétalas de rosa, uma recepção que remete às antigas boas-vindas da época.


Em seguida, percorremos os amplos cômodos do casarão, onde o guia revelou a história de cada peça, os pertences originais e compartilhou diversas curiosidades sobre os ambientes e seus objetos.


Durante o Ciclo do Café, na Fazenda dos Coqueiros, os escravos eram organizados em diversos grupos, entre eles um chamado “escravos lambedores”, cuja função singular era lamber as feridas e machucados dos nobres para acelerar a cicatrização.


Também existiam os escravos conhecidos como “tigres”, encarregados de recolher as fezes e urinas acumuladas durante o dia em depósitos de madeira sob as janelas e levá-las até o rio.


Como o fundo desses recipientes não era devidamente vedado, os resíduos vazavam, queimando e manchando a pele dos escravos, que passavam a exibir marcas semelhantes às listras de um tigre, origem do apelido dado a eles.


Outra curiosidade intrigante sobre as fazendas regionais da época é que, quando as baronesas tinham filhos pequenos, escravas de 12 ou 13 anos eram obrigadas a engravidar para que elas pudessem amamentar os filhos dos barões.


Em certa ocasião, uma escrava doméstica grávida da Fazenda dos Coqueiros faleceu em decorrência de uma hemorragia.


Como era um dia de festa na fazenda, a baronesa ordenou que a escrava fosse enterrada na cozinha de terra batida, como forma de lembrá-la do seu lugar e de ensinar aos demais escravos que não podiam morrer em dias festivos.


Com pé-direito alto e cômodos espaçosos, o casarão sede da Fazenda dos Coqueiros, em Bananal, apresentava um clima interno bastante frio.


Para amenizar o frio, sob a residência que foi erguida sobre uma base de terra batida com cerca de 120 centímetros de altura, ficava a senzala dos escravos domésticos, cuja aglomeração gerava calor suficiente para aquecer o interior da casa.


Outra curiosidade da Fazenda dos Coqueiros é o banheiro anexo ao casarão, projetado para que as necessidades fossem despejadas diretamente em um pequeno canal.


Esse canal percorria o lado da casa até desembocar em um grande fosso, onde os resíduos eram acumulados.


O fosso servia como local de castigo para os escravos, que eram pendurados de cabeça para baixo dentro desse espaço reduzido e sufocados pela água do canal, até confessarem ou revelarem o que o barão queria ouvir.


Para disfarçar o uso do fosso como local de castigo, ele era frequentemente coberto por uma roda d’água, que era removida rapidamente quando preciso.



Após explorar a icônica Fazenda dos Coqueiros e nos impactar com suas histórias, curiosidades e as duras condições enfrentadas pelos escravos, retomamos nossa viagem de moto pela Rodovia dos Tropeiros.



Logo chegamos a Arapeí, onde fizemos uma rápida pausa para um lanche antes de seguir viagem.



A Rodovia dos Tropeiros, com seus 89 quilômetros de extensão, percorre o Vale Histórico, seguindo o antigo trajeto do ouro que saía das Minas Gerais rumo ao litoral fluminense.



Aliás, foi por esse caminho que Dom Pedro I passou em 1822, pernoitando na Fazenda Três Barras em Bananal no dia 16 de agosto, antes de seguir viagem rumo ao evento que culminaria na declaração da Independência do Brasil.



A viagem de Dom Pedro I é cheia de curiosidades e relatos, incluindo algumas passagens bastante engraçadas.



Dom Pedro I era um excelente cavaleiro, frequentemente adiantando-se à comitiva e chegando antes aos destinos. Foi assim no dia 17 de agosto, quando chegou sozinho, suado, mal vestido e queimado pelo sol à Fazenda Pau d’Alho, em São José do Barreiro.



Homem simples, Dom Pedro I não se identificou e apenas pediu comida às pessoas da fazenda. Por isso, não foi reconhecido e recebeu sua refeição na cozinha, junto às escravas.



Reza a lenda que, dias depois, mais precisamente no dia 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I lidava com fortes problemas intestinais e, durante sua oitava parada para atender às necessidades fisiológicas, já às margens do Rio Ipiranga em São Paulo, foi alcançado pelos cavaleiros vindos do Rio de Janeiro.



Os mensageiros traziam cartas assinadas por José Bonifácio e pela Princesa Leopoldina, sua esposa, informando sobre a delicada situação política em Portugal e pressionando Dom Pedro I a proclamar, de imediato, a Independência do Brasil.



E assim ocorreu a Independência do Brasil. Em uma visita à capital paulista em 2017, tivemos a oportunidade de conhecer o suposto local da proclamação: o belo Parque da Independência, às margens plácidas do Ipiranga (que, aliás, lembra mais um córrego), um passeio memorável que vale relembrar aqui.



Voltando à nossa viagem, seguimos pela sinuosa Estrada dos Tropeiros, cruzando os charmosos municípios paulistas de Arapeí, São José do Barreiro, Areias e Silveiras.



São todas cidades pequenas, bem conservadas, com rico valor histórico e cultural, que preservam tradições e encantam pela autenticidade.



No meio da tarde finalizamos nosso percurso pela calma Estrada dos Tropeiros e alcançamos o entroncamento com a movimentada BR-116.



Em meio ao intenso tráfego de caminhões e carretas, seguimos pela rodovia federal com atenção redobrada, enfrentando o ritmo acelerado e exigente desse importante corredor viário nacional.



Avançamos pela Rodovia Presidente Dutra até Taubaté, onde deixamos para trás o tráfego intenso e entramos na SP-123.



Assim que entramos na Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123), nuvens densas e escuras se formaram à nossa frente, sinalizando a iminência de uma tempestade pelo caminho.



Quarta-feira, fim de tarde, um calor infernal, últimos dias da Moto Expedição 2020: Belas Rotas… ah, que se dane a capa de chuva! Decidimos seguir viagem sem parar para vesti-la, confiando na sorte.



Seguimos sem vestir as capas de chuva e logo começamos a subir a impressionante Serra da Mantiqueira, alcançando quase 1.000 metros de altitude em menos de 20 quilômetros.



Famosa por suas paisagens deslumbrantes, clima agradável e biodiversidade abundante, a Serra da Mantiqueira é um valioso patrimônio natural que abrange os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.



O nome Mantiqueira, de origem tupi, significa “gota de chuva”, resultado da união dos termos amana (chuva) e tykyra (gota), refletindo a importância da serra como fonte vital de água potável, abrigando inúmeras nascentes e uma biodiversidade rica, com espécies típicas da Mata Atlântica e do Cerrado.


Logo após atravessarmos um túnel curvo de pouco mais de 200 metros, seguimos por uma sequência de curvas até que a chuva nos alcançou, fazendo jus ao nome da Mantiqueira e transformando a paisagem ao nosso redor.


Confesso que já sentia falta da chuva, nossa constante companheira ao longo desta viagem, que hoje demorou a chegar, mas quando veio, não decepcionou.



Desta vez, a chuva foi rápida, porém intensa, encharcando-nos completamente e reduzindo drasticamente a sensação térmica por conta da altitude elevada e do vento cortante.


Porém, foi essa chuva que presenteou-nos com um dos mais deslumbrantes pôr do sol que já tivemos a sorte de testemunhar até hoje.


Já em território pertencente ao município serrano de Campos do Jordão, paramos a Formosa no Mirante Vista Chinesa, também conhecido como Belvedere Vista Chinesa.



Ali, admiramos o pôr do sol inesquecível, enquanto o Astro Rei se retirava lentamente no horizonte, entre nuvens e a névoa que envolvia o Vale do Lajeado, tingindo o céu com tons dourados.



Após alguns minutos absorvendo a energia local e contemplando tamanha beleza natural, retomamos a viagem pelos poucos quilômetros restantes até alcançarmos o Pórtico de Campos do Jordão, SP.


Onde fizemos uma nova pausa, aproveitando para registrar uma foto do termômetro que marcava agradáveis 18 °C, um alívio para quem havia enfrentado mais de 35 °C durante quase todo o dia.


Ao chegar ao centro de Campos do Jordão, famosa cidade paulista apelidada de “A Suíça Brasileira”, partimos em busca de um hotel para descansar.

Devidamente instalados, celebramos o dia com um tradicional chopp de vinho, sabor típico da região.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Bananal – SP e Campos do Jordão – SP.


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