Brasil • Expedição 2020: Belas Rotas • Paraty • Rio de Janeiro
Dia 13: Paraibuna – SP a Paraty – RJ
10 de Novembro, 2020A terça-feira amanheceu nublada em Paraibuna – SP.
Com a Formosa molhada pela chuva que caiu durante a noite nos preparamos para pegar estrada.
E logo nos despedimos da pequena cidade, que fica às margens da rodovia SP-099.
Pela Rodovia dos Tamoios seguimos sentido leste.
A viagem seguia tranquila pela rodovia duplicada com baixo fluxo de veículos.
E em questão de minutos chegamos no início do trecho da serra, onde a estrada passa a ser de mão dupla.
Uma vez na sinuosa serra, a chuva resolveu aparecer.
E nos acompanhou até Caraguatatuba.
De volta ao nível do mar a chuva sessou e com isso decidimos acessar o centro da cidade.
Cruzamos algumas ruas até chegar na Avenida Doutor Arthur Costa Filho.
Pela avenida que costeia o mar passamos pela Praia do Centro e depois pela Praia do Camaroeiro.
Conhecidas as praias voltamos a percorrer a rodovia BR-101 sentido norte.
De volta à Rio-Santos a paisagem ao nosso redor voltou a ser composto por belas praias de um lado e pela cadeia montanhosa da Serra do Mar do outro.
Em meio a este cenário chegamos em Ubatuba, a Capital do Surfe.
A popular cidade litorânea conta com mais de 100 praias e algumas ilhas.
Leva o título de Capital do Surfe pelo fato de algumas de suas praias possuírem ondas perfeitas para a prática do esporte.
Aliás, anualmente o município realiza uma competição internacional de surfe na Praia de Itamambuca.
Assim que chegamos no principal trevo de acesso ao centro de Ubatuba deixamos a BR-101 e acessamos a Rodovia Oswaldo Cruz.
A rodovia estadual liga Ubatuba a Taubaté através de um percurso de 91 quilômetros.
No tempo do Brasil Colonial a SP-125 serviu como parte de um desvio da antiga Estrada Real.
E como ocorre em praticamente todas as estradas que cortam a Serra do Mar, a SP-125 conta com um trecho bastante íngreme e repleto de curvas acentuadas.
O que faz da estrada uma verdadeira delícia para ser percorrida de moto, mantendo sempre a atenção, respeito e condução defensiva, claro.
Após raspar as pedaleiras em diversas ocasiões, atingimos o alto da serra, onde fizemos o retorno e iniciamos a descida.
Neste trecho da SP-125 é proibido o trânsito de veículos de carga e transporte coletivo de passageiros.
E o motivo é muito simples, algumas curvas são tão acentuadas e contam com um grau de inclinação tão elevado que tais veículos poderiam ficar presos nestes locais.
Certas curvas são tão fechadas que por vezes conseguíamos ver a placa da própria Formosa.
Tá, exagerei agora… mas fato é que já percorremos muitas serras e trechos sinuosos com a Formosa, mas nada comparado aos aproximados 8 quilômetros da Rodovia Oswaldo Cruz que cortam o Parque Estadual da Serra do Mar.
Que estrada incrível, valeu SP-125!
Na sequência voltamos a rodar pela Estrada Rio-Santos.
Cerca de 45 quilômetros após o principal trevo de acesso ao centro de Ubatuba paramos às margens da rodovia para conhecer a Cachoeira da Escada.
As águas da bela queda d’água, também conhecida como Cachoeira da Divisa (por estar a menos de 1km do Rio de Janeiro), percorrem a Serra do Mar entre enormes pedras e formam várias piscinas naturais.
No local existe uma imagem de Oxum, orixá das águas doces, rios e cachoeiras, da riqueza, do amor, da prosperidade e da beleza, cultuada no candomblé e na umbanda.
Conhecida a cachoeira seguimos alguns metros pela BR-101 até chegar na divida entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Mais um estado brasileiro para a conta da Formosa!
Já em terras fluminenses rodamos poucos quilômetros pela Rio-Santos até que acessamos uma estrada sem acostamento em direção a Trindade.
Passamos por um trecho sinuoso e montanhoso até dar de cara com a Praia do Cepilho.
Ali paramos para fazer algumas fotos e depois voltamos a rodar.
Logo chegamos no centrinho de Trindade, bairro (ou distrito) de Paraty.
A pequena vila formada majoritariamente por pescadores abrange diversas praias e parte de seu território pertence ao Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Com os ponteiros do relógio se aproximando das 13h00 estacionamos a Formosa e fomos direto a um restaurante.
Inicialmente pensamos em passar o resto do dia em Trindade, percorrer algumas trilhas e conhecer suas paradisíacas praias, mas assim que adentramos no local sentimos uma vibração um tanto quanto pesada, o que aliado ao fato da forma como fomos atendidos no restaurante que escolhemos para almoçar nos fez desistir da ideia.
Nos contentamos então em conhecer a Praia dos Ranchos.
E decidimos adiar a exploração das belezas naturais de Trindade (que são muitas pelo que vimos na internet) para uma próxima oportunidade.
Decisão tomada, voltamos pelo mesmo trajeto da ida.
Até chegarmos no entroncamento com a BR-101, onde seguimos sentido norte.
Dali foram poucos quilômetros até o trevo de acesso ao centro de Paraty.
Em Paraty localizamos um hotel, onde deixamos a Formosa no aconchego do estacionamento, trocamos de roupa e partimos conhecer seu centro histórico.
Segundo alguns historiadores Paraty é a primeira cidade planejada do Brasil, uma vez que suas ruas e quadras foram desenhadas antes do início de sua construção.
As ruas foram todas traçadas do nascente para o poente e do norte para o sul.
O centro histórico da cidade mantém até os dias atuais o traçado original de suas ruas, é Patrimônio Nacional tombado pelo IPHAN e considerado pela UNESCO como o conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso.
O calçamento das ruas, conhecido como pé-de-moleque (pelo fato de cada pedra possuir um formato distinto, assemelhando-se ao doce de amendoim), teve início em 1776.
Dentre as diversas imponentes e históricas construções do centro histórico de Paraty destaca-se a Igreja de Santa Rita de Cássia.
Construído em 1722, o templo religioso é um dos principais cartões postais da cidade e possui elementos da arquitetura jesuítica e do barroco.
Atualmente a igreja abriga o Museu de Arte Sacra, que infelizmente estava fechado.
Paraty é conhecida como a Veneza brasileira pelo fato de estar no nível do mar e, em períodos de maré muito alta, ter suas ruas do centro histórico invadidas pelas águas do mar.
Este é o motivo das ruas terem o formato de um canal, permitindo o rápido escoamento das águas.
Enquanto caminhávamos pelo local percebemos que a maré estava baixando lentamente e com isso centenas de siris, ou caranguejos, saiam por entre as pedras das ruas.
Paraty foi fundada em 1667 e a grafia de seu nome gera controvérsias, sendo que os órgãos do governo federal utilizam Parati com “i” (com exceção do IPHAN) e o governo municipal usa o “y”.
Discussões à parte, a cidade teve grande importância econômica devido aos engenhos de cana-de-açúcar (chegou a ter mais de 250), sendo considerada sinônimo de boa aguardente.
No século XVIII destacou-se como importante porto por onde se escoava o ouro e as pedras preciosas das Minas Gerais, que embarcavam para Portugal.
A maçonaria teve grande participação e influência na fundação e no desenvolvimento de Paraty, inclusive deixou suas marcas no centro histórico.
No século XVIII as portas e janelas da maioria das casas da cidade eram pintadas em branco e azul, o chamado azul-hortênsia da maçonaria simbólica.
O centro histórico da cidade possui 33 quarteirões e, na administração municipal da época, existia o cargo de Fiscal de Quarteirão, exercido por 33 fiscais.
Outro sinal da presença maçônica são os três pilares (cunhais) de pedra lavrada encontrados em algumas esquinas, que formam o triângulo maçônico.
Até as plantas das casas, feitas na escala 1:33.33, têm a marca da simbologia dos maçons.
Caminhar pelas irregulares e estreitas ruas do centro histórico de Paraty nos faz voltar no tempo e imaginar como era a vida das pessoas naquela época.
A propósito, ao contrário do que ocorreu em Trindade, em Paraty sentimos uma sensação extremamente agradável e pacificadora, foi um caso de amor à primeira vista.
Encantados pela cidade, seu centro histórico e suas vibrações positivas, seguimos caminhada até passar pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
Construída em 1725, a pequena igreja ostenta o único altar de ouro da cidade, infelizmente estava fechada.
Com o cair da noite se aproximando, o acendimento das lâmpadas amarelas fixadas nas antigas edificações dão um charme a mais ao local.
Poucos passos adiante chegamos em outra igreja, desta vez a Igreja de Nossa Senhora das Dores.
A charmosa igreja, também conhecida como Capelinha, foi erguida em 1800.
A torre desta igreja, como a da Santa Rita, tem sobre a cúpula um galo marcador da direção dos ventos.
A igreja fica bem em frente à Baía de Paraty e ao lado do Rio Perequê-Açú.
Tanto o rio quanto o mar nas proximidades do centro histórico ficam repletos de barcos, com os quais é possível fazer passeios turísticos pelas ilhas da Baía de Paraty.
A baía conta com cerca de 65 ilhas, as quais formam um complexo de águas esverdeadas e cristalinas.
O fim do dia se aproximava quando chegamos na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.
A igreja matriz de Paraty, de estilo neoclássico e com as torres inacabadas, foi concluída em 1873.
Dali passamos por uma construção que abrigava a agência dos Correios nos anos 1930.
E por fim chegamos no Teatro Espaço.
Teatro Espaço
Local: Rua Dona Geralda, 42 | Centro Histórico | Paraty – RJ
Telefone: (24) 3371-1161
E-mail: ecparaty@ecparaty.org.br
Site: https://teatroespaco.com.br/
Funcionamento: Segunda, terça, quinta e sexta das 9h00 às 20h00 | Quarta e sábado das 9h00 às 22h00
O Teatro Espaço é um versátil teatro de 94 lugares criado em 1985 para ser a sede do Grupo Contadores de Estórias.
O Grupo Contadores de Estórias, conhecido pela qualidade de seu trabalho com teatro de bonecos, foi fundado por Marcos e Rachel Ribas em 1971.
Desde 1981 está radicado em Paraty e já encantou plateias de mais de 15 países.
Todas as quartas e sábados o Grupo Contadores de Estórias apresenta um espetáculo de bonecos no Teatro Espaço, porém, devido à pandemia as apresentações estão ocorrendo apenas aos sábados.
No local fomos muito bem recebidos pela simpática Giulia, que nos contou a história do teatro, nos apresentou os mais icônicos bonecos do grupo e nos deixou com, ainda mais, vontade de assistir o espetáculo ao vivo… enfim, faremos o possível para voltar a Paraty em um sábado.
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Bela Paraty, que cidade…
Me diz: Qual o cheiro de Paraty ?
Pergunto isso devido a cidade estar no nível do mar e também por ser a “Veneza brasileira”, então deve-se cheirar a peixe/umidade, ou não !? Certa vez, li ou assisti uma reportagem que a cidade não dispõe de esgoto, é verdade ?
Abraço e FELIZ 2021 pra vocês !!!
Cidade linda, encantadora!
Ótimo questionamento Fernando, acabei esquecendo de comentar a respeito na postagem.
Quando a cidade foi construída pelos portugueses o esgoto era despejado diretamente nas ruas, por isso elas possuem uma inclinação voltada para seu centro (formando um “V”) e também por este motivo estão no nível do mar (para que a maré alta limpasse toda a sujeira acumulada).
Atualmente, segundo nos informaram, o centro histórico de Paraty não conta com saneamento básico ou mesmo um sistema de tratamento de esgoto, porém, algumas ruas possuem rede de esgoto e outras não, e eventualmente este acaba vazando para a superfície (seja pela maré alta ou pela falta de manutenção/limpeza das fossas e sumidouros). Curiosamente, toda a rede elétrica do centro histórico é canalizada.
Com relação ao cheiro, em determinados momentos e em locais mais próximo do cais sentimos um mau cheiro (provavelmente ocasionado pela baixa da maré que alagava parte das ruas), mas nada alarmante e nem tão diferente do que presenciamos em outras cidades litorâneas pelas quais já passamos. Dentro dos restaurantes, lojas e hotéis não sentimos tal cheirinho.
Obrigado! Um ótimo 2021 para você e toda a família também ;) abraços…
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