Saímos cedo de José Pedro Varela, em Lavalleja, iniciando mais um dia de viagem de moto pelo Uruguai. Seguimos pela esburacada Ruta 14 até cruzar o Río Cebollatí e entrar no departamento de Rocha. Já na Ruta 19, atravessamos os incríveis Palmares de Rocha, um ecossistema único no mundo e um dos cenários naturais mais emblemáticos do país. No meio da tarde visitamos o histórico Fuerte de San Miguel e o Museo Criollo e Indígena Horacio Arredondo. Encerramos o dia chegando à Barra do Chuí, no extremo sul do Brasil, onde encontramos um lugar tranquilo para descansar.

Harley-Davidson Heritage Softail na Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada

Nas primeiras horas da terça-feira, carregamos a Formosa e nos despedimos do hotel depois de um café da manhã daqueles (rico, farto e, principalmente, com um café delicioso). Com o céu azul brilhando como convite, deixamos José Pedro Varela, no departamento de Lavalleja, prontos para enfrentar mais um dia de viagem pelo leste uruguaio.

Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada

Pegamos a Ruta 14 logo na saída da cidade e, não demorou muito, entendemos por que tantos uruguaios haviam nos alertado: a rodovia estava em péssimas condições, cheia de buracos (alguns bem fundos) exigindo atenção e paciência.

Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada

A deterioração era tanta que nos fez lembrar um trecho tenso que percorremos no norte da Argentina, pela Ruta Nacional 16 em plena Pampa del Infierno, outro lugar de buracos infinitos e vibração constante no guidão.

Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada

A Ruta 14 é uma das rodovias nacionais mais importantes do Uruguai, cortando o território de oeste a leste por cerca de 480 km, divididos em sete trechos. Mas nem a fama a salvou da má conservação, pelo menos naquele período da viagem. Para quem acha que estradas ruins são exclusividade brasileira, fica o aviso: Argentina, Paraguai e Uruguai também têm seus momentos de caos asfáltico… em contrapartida, também oferecem trechos impecáveis.

Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Depois de alguns quilômetros desviando das inúmeras crateras na pista, cruzamos com uma grande equipe de manutenção: máquinas, operários e poeira levantada pelo trabalho intenso. Uma visão animadora, esperança de dias melhores para esse trecho.

Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada

Se o pavimento não ajudava, o cenário compensava: um cartão-postal vivo. Campos verdes infinitos, céu azul escandaloso, rebanhos colorindo o horizonte e aquele silêncio amplo de áreas rurais.

Ruta 14 | Lavalleja - Uruguai | FredLee Na Estrada

Não à toa o Uruguai tem mais vacas que gente, são cerca de 3,4 bovinos por habitante. O país produz aproximadamente dez vezes mais alimentos do que consome e exporta 67% da sua carne para alguns dos mercados mais exigentes do planeta, alcançando mais de 50 destinos internacionais e garantindo presença constante no ranking dos maiores exportadores globais.

Ponte sobre o Río Cebollatí na Ruta 14 | Divisa entre os departamentos de Lavalleja e Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Grande parte desse sucesso vem do modo como a pecuária é conduzida: clima temperado, extensões de campo que parecem não ter fim e um ritmo de vida sem pressa criam o ambiente perfeito para o gado viver solto, alimentando-se exclusivamente de pastagens naturais durante todo o ano.

Ponte sobre o Río Cebollatí na Ruta 14 | Divisa entre os departamentos de Lavalleja e Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

A excelente reputação conquistada pela carne uruguaia é consequência direta desse modelo: natural, livre de hormônios e antibióticos, priorizando bem-estar animal e o tempo da natureza.

Río Cebollatí | Divisa entre os departamentos de Lavalleja e Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Outro destaque, talvez o mais impressionante, é o sistema nacional de rastreabilidade: obrigatório há mais de uma década e aplicado a 100% do rebanho. Isso significa que qualquer corte de carne pode ser rastreado desde a origem, passando pelo manejo, transporte, processamento e distribuição, oferecendo um nível de transparência raro no mundo.

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Río Cebollatí | Divisa entre os departamentos de Lavalleja e Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Além da pecuária, o Uruguai também se destaca na produção agrícola: arroz (especialmente na região de Rocha), soja e produtos lácteos ocupam posição importante na economia e reforçam o status do país como uma potência produtora de alimentos: pequena no tamanho, grande no resultado.

Ponte sobre o Río Cebollatí na Ruta 14 | Divisa entre os departamentos de Lavalleja e Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Desviando de buracos, contemplando vacas e absorvendo informações sobre esse país tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão produtivo, cruzamos a ponte estreita sobre o Río Cebollatí, um dos maiores rios uruguaios, com cerca de 235 km de extensão, divisor natural entre os departamentos de Lavalleja e Rocha.

Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Paramos logo após a ponte para observar o rio mais de perto: o nível estava alto, fruto das chuvas recentes, e na margem avistamos uma ampla área de camping (bem estruturada, aliás) algo comum no Uruguai e sempre atraente para quem viaja sobre duas rodas.

Ponte sobre o Río Cebollatí na Ruta 14 | Divisa entre os departamentos de Lavalleja e Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Túnel verde na Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Foram algumas fotos ali mesmo: do rio, da ponte, da área de camping e da entrada simbólica no departamento de Rocha, especialmente para a Sayo, já que carrega esse sobrenome. Uma Rocha em Rocha! Uma daquelas coincidências que fazem a estrada ficar mais divertida. O desafio agora é encontrar algum dia um território chamado Rucinski…

Túnel verde na Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Continuamos o percurso, agora pelo departamento de Rocha, onde a estrada formava um belo túnel verde, cercada de árvores alinhadas como guardiãs da paisagem.

Túnel verde na Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Túnel verde na Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Mais à frente, os campos voltaram a dominar e foi ali que a Sayo avistou mais um personagem gracioso pelo caminho: um maguari (a elegante cegonha sul-americana) caminhando tranquilamente à beira da estrada. Encantador. Paramos para contemplar sem pressa. Momentos simples assim sempre valem a pausa.

Maguari nas proximidades da Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

O maguari (Ciconia maguari), cujo nome científico une ciconia (“cegonha”, em latim), ao termo tupi maguari ou baguari, que significa “bico forte”, é uma das maiores aves sul-americanas. Pode atingir cerca de 1,40 m de altura e impressiona pela postura elegante: plumagem branca contrastando com asas escuras e o característico detalhe avermelhado no rosto.

Maguari nas proximidades da Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Maguari nas proximidades da Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Costuma viver em áreas úmidas, banhados e campos alagados, onde caça com calma e precisão pequenos peixes, anfíbios, insetos e até serpentes. Silencioso e observador, caminha devagar, quase com solenidade, até o instante exato em que o bico (fiel ao nome) entra em ação com velocidade certeira. Uma aula de equilíbrio e elegância selvagem.

Cavalos ao redor da Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Cavalo ao redor da Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Continuamos a viagem de moto vendo muitos cavalos pelo caminho, presença marcante e quase inseparável da identidade uruguaia. Esses animais, apesar de tão enraizados na cultura local, não são nativos da América do Sul. Chegaram por volta de 1500, durante as grandes navegações, trazidos inicialmente pelos espanhóis. Entre os nomes ligados a essa introdução, destaca-se Álvar Núñez Cabeza de Vaca, o mesmo explorador reconhecido como o primeiro europeu a registrar as Cataratas do Iguaçu.

Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Com o tempo, as missões jesuíticas trouxeram mais exemplares, principalmente das raças andaluz e berbere, ambas escolhidas por sua força, valentia e resistência, qualidades indispensáveis em uma época marcada por disputas territoriais intensas. Em meio a esses conflitos, muitos cavalos acabaram fugindo ou foram abandonados, tornando-se livres e formando grandes tropas que se espalharam pelos pampas e até pelos Andes.

Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Durante aproximadamente 400 anos, esses animais evoluíram de forma natural, enfrentando clima, vastidão e desafios do território sul-americano, um processo que resultou no surgimento do icônico cavalo crioulo: ágil, resistente, inteligente e perfeitamente adaptado à região.

Ruta 14 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Ruta 14 | Lascano - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Oficializado como raça em 1922, hoje o cavalo crioulo é muito mais do que um tipo de cavalo: é símbolo cultural e patrimônio vivo do Uruguai, Argentina, sul do Brasil, Paraguai e Chile, um companheiro inseparável da história gaúcha e da vida no campo.

Ruta 14 | Lascano - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Alguns quilômetros depois chegamos a Lascano, conhecida como a “Capital do Arroz”. Ali deixamos para trás a sofrida Ruta 14 e pegamos a Ruta 15, um alívio para corpo e alma. Excelente pavimento, pouco movimento e paisagem aberta. A viagem voltou a fluir.

Ruta 14 | Lascano - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Ruta 15 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Conforme avançávamos pela Ruta 15, as primeiras palmeiras butiá começaram a aparecer no horizonte: tímidas, ainda distantes, como um anúncio do que estava por vir.

Ruta 15 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Depois de pouco mais de 30 km, entramos na Ruta 19 e, aos poucos, o cenário mudou completamente: estávamos imersos em um vasto mar de palmeiras butiá odorata, compondo um dos ecossistemas mais emblemáticos do Uruguai, os Palmares de Rocha.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Essa paisagem extraordinária faz parte da Reserva da Biosfera Bañados del Este, reconhecida pela UNESCO em 1976. São mais de 70 mil hectares protegidos entre os departamentos de Rocha e Treinta y Tres, abrigando, além das palmeiras, uma rica diversidade de plantas e animais.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Não por acaso, o Palmar de Rocha é considerado um símbolo identitário da região: está presente em sua arte, poesia, música, brasões e no imaginário coletivo desde muito antes do turismo existir.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

A espécie predominante ali, a butiá odorata, é nativa do Uruguai e sul do Brasil. Suas folhas possuem um tom verde-acinzentado único, o suficiente para reconhecê-la mesmo à distância. Cada palmeira pode atingir entre 7 e 9 metros de altura, com troncos de até 60 cm de diâmetro, sustentando cerca de 25 grandes folhas que podem alcançar 3 metros de largura. Elas se renovam constantemente, chegando a substituir até 14 folhas por ano.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Grande parte das palmeiras dos Palmares de Rocha tem entre 200 e 300 anos, verdadeiras testemunhas silenciosas do tempo. Apesar de a espécie não estar ameaçada de extinção, o palmar em si enfrenta desafios ambientais, especialmente pela dificuldade de regeneração natural.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Quando chega a primeira quinzena de abril, os frutos amadurecem: os butiás (pequenos, arredondados, amarelo-alaranjados e com um sabor agridoce que surpreende). A cultura local encontrou inúmeras maneiras de transformá-los: licores, doces, marmeladas, geleias, molhos e até o café de coco, preparado com sementes moídas e tostadas, muitas vezes servido com leite ou misturado ao tradicional mate.

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Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Até o mel local carrega a identidade desse ecossistema: claro, aromático e com sabor delicado devido ao pólen predominante das flores do butiá, cuja floração costuma iniciar em janeiro, embora as palmeiras mais antigas nem sempre floresçam todos os anos.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

A origem desse grandioso palmar é envolta em histórias e hipóteses: teria surgido da dispersão intencional de sementes por povos nativos? Pelas migrações de aves? Ou simplesmente pela dinâmica natural de uma espécie que já pertencia genuinamente a esse território? Estudos atuais indicam que, apesar da presença humana e animal terem influenciado a distribuição dos frutos, o Palmar de Rocha nasceu e evoluiu em área onde a espécie já ocorria naturalmente, ou seja: ele é filho da própria terra.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

E como toda paisagem que se torna cultura, dali também nasceu uma expressão folclórica muito conhecida no sul do Brasil e fronteiras platinas: “me caiu os butiá do bolso!”, usada quando algo surpreende tanto que até mesmo o impossível faz sentido. Ali, cercados por aquele panorama quase surreal, a frase nunca pareceu tão apropriada.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Com a Formosa estacionada no acostamento da Ruta 19, tiramos algumas fotos, respiramos fundo e deixamos o olhar se perder naquele cenário único dos Palmares de Rocha. Os bois e vacas por perto observavam nossa presença com uma curiosidade calma, desses encontros tranquilos que fazem parte da rotina rural.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

E foi ali, contemplando aquele ecossistema singular no mundo, que me veio à memória o Parque Nacional El Palmar, na Argentina, onde acampei em 2017. Paisagens e sensações semelhantes: natureza, história e estrada.

Palmares de Rocha - Ruta 19 | Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Seguimos viagem pela rodovia bem conservada e quase sem movimento até alcançar nosso próximo destino: o histórico e imponente Fuerte de San Miguel, localizado nos arredores da vila de 18 de Julio.

Construído originalmente como uma modesta barricada militar pelos espanhóis em 1734, o forte foi ampliado pelos portugueses três anos depois, sob supervisão do brigadeiro José da Silva Paes, momento em que ganhou a estrutura de pedra que conhecemos hoje.

Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Em 1763, retornou ao domínio espanhol, mas sua relevância militar diminuiria com o tempo. Reconhecido oficialmente como Monumento Histórico Nacional em 1937, hoje o Fuerte de San Miguel faz parte do Parque Nacional San Miguel, uma área protegida com cerca de 1.500 hectares, integrada ao Sistema Nacional de Áreas Protegidas do Uruguai.

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Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Entramos no Fuerte de San Miguel pela ponte elevadiça e caminhamos devagar. Lá dentro, o Museu de História Militar do Forte apresenta uniformes, armas, insígnias, objetos cotidianos e ambientes cuidadosamente recriados, mostrando como viviam espanhóis e portugueses durante os intensos conflitos territoriais da época. Cada sala parecia uma cápsula do tempo: não apenas exibida, mas vivida.

Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Subindo às muralhas, a vista nos envolveu: o Brasil ao longe, o horizonte aberto do pampa e o Cerro Picudo, imponente, elevando-se quase cem metros acima da planície, uma sentinela silenciosa da história.

Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Perto dali existe uma área de preservação do gado crioulo original, descendente direto dos primeiros bovinos trazidos pelos espanhóis no período colonial, um patrimônio genético vivo.

Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Ao deixar o forte, encontramos o pequeno cemitério histórico, simples e preservado. Ali repousam europeus e nativos, lembrança concreta de que aquele território já foi fronteira, disputa, encontro e choque cultural.

Cemitério Histórico do Fuerte de San Miguel - Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
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Com o calor forte da tarde, buscamos sombra, água e descanso. Encostamos a moto sob as árvores, sentamos num banco improvisado, bebemos água gelada e comemos nozes pecan. Pequenas pausas assim fazem parte da viagem, e são tão importantes quanto qualquer destino.

Piquenique no Parque Nacional San Miguel | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Revigorados, seguimos para o Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo, ali perto. A área é arborizada, com bancos e mesas que parecem convidar à calmaria.

Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

A coleção é fascinante: carruagens e carretas históricas, incluindo uma diligência de 1816 e uma imponente carreta de 1880. Há também a réplica de um rancho tradicional (estrutura de madeira, paredes de palha e janelas de couro) e o famoso bolicho, o armazém típico da época.

Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

No interior do museu, uma sala inteira é dedicada aos gaúchos e aos povos indígenas, os habitantes originais dessa região cultural. Outra homenageia Horacio Arredondo de Navas, historiador, escritor e silvicultor que dedicou grande parte da vida à preservação do patrimônio cultural uruguaio, sendo responsável por iniciativas fundamentais como a restauração do Forte de São Miguel e a fundação do Parque Nacional Santa Teresa.

Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada
Museo Criollo y Indígena Horacio Arredondo | 18 de Julio - Rocha - Uruguai | FredLee Na Estrada

Quando o sol começou a descer no horizonte, encerramos a visita, subimos novamente na Formosa e seguimos estrada. Percorremos alguns quilômetros acompanhando a linha invisível da fronteira até cruzar definitivamente para o Brasil, rumo à Barra do Chuí, no extremo sul do país, onde encontramos um lugar tranquilo para passar a noite.

Trajeto de José Pedro Varela - Lavalleja - Uruguai a Barra do Chuí - Santa Vitória do Palmar - Rio Grande do Sul - Brasil | FredLee Na Estrada

Acima a imagem do mapa com o trajeto percorrido no dia entre José Pedro Varela – Lavalleja – Uruguai e Barra do Chuí – Santa Vitória do Palmar – Rio Grande do Sul – Brasil.