Brasil • Expedição 2022: Uruguay
Grande Jornada: O início de uma Vida Nômade sobre Duas Rodas
22 de Julho, 2022Descubra a transformação de uma vida convencional para a liberdade de uma vida nômade em uma viagem de moto vivendo aventuras pelas estradas.
Sabe aquela vontade absurda de largar tudo, pedir demissão e viver uma vida nômade, trocando o conforto e a comodidade pela emocionante incerteza das aventuras nas estradas? Pois bem, em julho de 2022, decidimos fazer exatamente isso!
Nossa jornada começou com a fundamental decisão de nos desapegar de todos os bens materiais. Sim, tudo! Vendemos e doamos todos os nossos pertences, mantendo apenas a Formosa, uma barraca, equipamentos de acampamento, algumas mudas de roupa e uma cuia de chimarrão (item vital).
Entregamos as chaves do apartamento alugado na imobiliária e abandonamos a vida convencional para abraçar uma vida nômade sobre duas rodas, onde as emoções de uma viagem de moto se tornam o roteiro, sem destino, data de retorno, planejamento ou compromissos.
Antes de iniciar nossa nova experiência, decidimos contribuir para causas nobres. Tosamos cortamos os cabelos cultivados cuidadosamente (o meu nem tanto) nos últimos 2 anos, doando as madeixas para uma instituição sem fins lucrativos que confecciona perucas naturais e às doa para crianças com câncer.
Depois foi a vez de doar sangue, atitude voluntária adotada pela Sayo há muito tempo, que se tornou parte essencial da vida dela, e que ela faz questão de realizar três vezes ao ano.
Feito isso nos restou aguardar a chegada do grande dia: 22/7/22.
E há algo ainda mais especial nesse novo capítulo: a data escolhida – 22/7/22. Não apenas é o aniversário da Sayo, mas também marca suas 40 primaveras.
Este ano, essa data especial se alinha de maneira cabalística, formando um número mágico que simboliza o início de um novo ciclo para nós. Nesse dia, deixaremos de ter um CEP e passaremos a viver como nômades, virando a chave para uma vida cheia de novas experiências, aprendizados e aventuras.
O ponto de partida escolhido para nossa jornada foi o marco divisório das “Gêmeas do Iguaçu”, onde União da Vitória – Paraná, e Porto União – Santa Catarina, se encontram. Esta decisão foi especialmente significativa, dado que a Sayo é natural de União da Vitória, enquanto eu sou originário de Porto União.
Chegado o grande dia: 22/7/22, nos despedimos dos familiares e seguimos ao ponto escolhido para o início de nossa aventura sobre duas rodas. Nossa caminhada pela Praça do Contestado, envolvidos por uma densa neblina nas primeiras horas da sexta-feira, logo foi marcada por uma fina garoa.
Sem titubear, fizemos as últimas fotos, vestimos as capas de chuva, ligamos a Formosa e zeramos seu hodômetro. Porém, ao pisar no pedal do freio para dar início à viagem, nos deparamos com um imprevisto: cadê o freio traseiro?
Com surpresa, percebemos que uma das pastilhas do freio traseiro estava prestes a cair, sustentada apenas pelo parafuso solto.
Que sorte não ter perdido a pastilha, nem mesmo o parafuso! Com as ferramentas em mãos, tentamos solucionar o problema, mas logo percebemos que nossa pequena chave torx T40 não daria conta do recado e não sacaria o sapeca do parafuso espanado.
Com o celular na mão ligamos para nosso amigo motociclista Arno, que prontamente nos atendeu e indicou uma mecânica de confiança.
A bordo da Formosa percorremos poucos quilômetros confiando apenas no freio dianteiro. Ao chegar à oficina, Jhonatan e Ezequiel empreenderam esforços incansáveis para soltar o teimoso parafuso que se recusava a ceder. Com o receio de danificar ainda mais a peça, e munidos de paciência, passamos algumas horas até finalmente conseguir recolocar a esquiva pastilha em sua posição original.
Acreditamos que nada em nossas vidas ocorre por acaso e somos gratos por enfrentar essa situação em uma cidade onde tivemos suporte disponível, e não no meio de uma estrada deserta.
Já era passado do meio-dia quando nos despedimos das Gêmeas do Iguaçu e colocamos a Formosa em movimento (agora com freio traseiro).
Ah, como mencionamos, não temos destino definido, apenas sabemos que estamos seguindo em direção ao sul e o universo nos guiará. A princípio, pensamos em rumar para o Rio Grande do Sul pela rodovia BR-116, mas ao observar os sinais, decidimos virar o guidão e seguir pela BR-153.
Com o sol se pondo no horizonte, chegamos à “Capital da Amizade”, Erechim – RS. Após registrar uma foto no pórtico da cidade, seguimos até o Guima Motos, onde Guima nos aguardava.
Com a ferramenta adequada, ele trocou magicamente rapidamente e com uma facilidade invejável o parafuso espanado do sistema de freio traseiro da Formosa. Obrigado, Guima!
Em seguida, dirigimo-nos à casa de nossos amigos Juli, Dirceu e Matheus, que, ao saberem que estávamos em território gaúcho, nos receberam de maneira incrível. Agradecemos muito pela calorosa hospitalidade, apoio, a acirrada disputa no videogame e pelas deliciosas comidas!
Hoje percorremos 240 quilômetros pelos três estados do sul brasileiro através da BR-153, também conhecida como Rodovia Transbrasiliana.
Amanhã tem mais estrada, e esperamos, preferencialmente, não deixar nenhum parafuso pelo caminho!
Despertamos nas primeiras horas de sábado, desfrutamos de um café da manhã especial preparado por nossos anfitriões, nos despedimos dos amigos e iniciamos nossa jornada de Erechim – RS em direção ao sul, seguindo pela, já conhecida pela Formosa, RS-135.
Ao chegarmos em Passo Fundo, contornamos a cidade e avançamos pela rodovia RS-324.
Em Vila Maria, fizemos uma parada em uma fruteira à beira da rodovia estadual para desfrutar de um almoço leve, com frutas frescas, rosca de polvilho e suco de uva integral.
Após nos alimentarmos, continuamos pela estrada com baixo fluxo de veículos, deixando para trás Casca, Nova Araçá e Nova Bassano. Em Nova Prata, acessamos a rodovia federal BR-470, cruzando Vila Flores e Veranópolis. Nesse município, fizemos uma pausa, desta vez no Belvedere do Espigão.
Quem já teve a oportunidade de explorar essa região conhece a magnífica vista proporcionada pelo Belvedere do Espigão. Do mirante, é possível apreciar parte do Vale do Rio das Antas, a Casa de Máquinas da Usina Hidrelétrica Monte Claro, a icônica Ponte da Estrada de Ferro e, é claro, a bela curva em forma de ferradura criada pelo rio, que integra a bacia hidrográfica do Rio Uruguai.
De um lado, Veranópolis, município reconhecido como o “Berço Nacional da Maçã” e famoso por ser a “Terra da Longevidade”. Do outro, Bento Gonçalves, cidade proclamada como a “Capital Brasileira do Vinho”.
Junto ao mirante, que oferece acesso gratuito, há uma lanchonete e restaurante. Aproveitamos a ocasião para nos aquecer com um café quentinho e saborear uma deliciosa tortinha artesanal de morango.
Antes de seguir viagem, tivemos a sorte de avistar um elegante tucano sobrevoando as árvores próximas. Infelizmente, ele foi mais rápido que nós, e não conseguimos capturar uma foto.
Uma fina garoa, tão sutil que nem nos preocupamos em colocar as capas de chuva, começou a cair quando deixamos o Belvedere do Espigão.
Continuamos nossa jornada rumo ao sul pela sinuosa BR-470, atravessando a encantadora Serra Gaúcha e passando por Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. Em seguida, acessamos a RS-446, percorrendo menos de 20 km até chegar em São Vendelino.
Dali em diante, continuamos nossa jornada pela duplicada e pedagiada rodovia RS-122. A noite caía quando chegamos em São Leopoldo, onde nossos amigos nos aguardavam para nos acolher em seu lar.
Os ponteiros do relógio se aproximavam do meio-dia quando trocamos abraços apertados com nossos queridos amigos Jaque, Rafa e o pequeno Arthur e pegamos a estrada novamente. Muito obrigado pessoal pela acolhida!
Embora o objetivo da viagem fosse seguir rumo ao sul, ao nos encontrarmos tão próximos da Rota Romântica, decidimos mudar a rota e seguir sentido norte pelo trecho da rodovia BR-116, permeando a deslumbrante Serra Gaúcha.
Essa região oferece um percurso repleto de curvas fechadas e uma paisagem sem igual.
Aliás, a Rota Romântica marca presença em praticamente todas as listas de estradas mais bonitas do Brasil. Inclusive, passamos por ela durante a Expedição 2020: Belas Rotas, e o relato está disponível nesta postagem.
Por ser domingo, a estrada registrava um alto fluxo de veículos, não só motos, mas também carros de passeio, exigindo que redobrássemos a atenção. Mesmo assim, não deixamos de aproveitar a sinuosa estrada.
Demoramos um pouco para percorrer os pouco mais de 60 quilômetros que ligam São Leopoldo a Nova Petrópolis. No topo da serra, decidimos fazer o retorno e seguir pelo caminho inverso, até nos depararmos com um enorme engarrafamento, chegando a ter que parar a moto no meio da pista em diversos momentos.
Com a noite se aproximando e o congestionamento aumentando, não hesitamos e procuramos um hotel na primeira cidade à frente, que, neste caso, foi Dois Irmãos.
A segunda-feira amanheceu ensolarada em Dois Irmãos, e logo nas primeiras horas, os termômetros marcavam 26 graus.
Assim nos despedimos de Dois Irmãos e seguimos pela rodovia BR-116 rumo ao sul, desta vez com consideravelmente menos movimento. Ao cruzarmos a Nova Ponte do Guaíba na capital gaúcha, avançamos pela rodovia federal.
Passamos por Guaíba e em Sentinela do Sul, fizemos uma pausa para almoçar pamonha e aproveitamos para descascar algumas nozes pecan que estavam nos alforjes da Formosa.
Com a barriga cheia, continuamos nossa jornada enfrentando longas retas e um forte calor.
A partir de Camaquã, a pista se tornou duplicada e, ao passarmos por Cristal, cruzamos por uma praça de pedágio onde motos não pagam \o/
Viajar de moto nos permite apreciar paisagens incríveis e nos faz integrar o cenário ao nosso redor.
Também nos proporciona sentir as bruscas mudanças climáticas que ocorrem repentinamente, como foi o caso ao nos aproximarmos de São Lourenço do Sul. O sol desapareceu em meio a uma densa névoa, acompanhada por um forte vento gelado.
A poucos quilômetros, estávamos praticamente derretendo em cima da moto, trajando todo o equipamento de segurança. Agora, fomos obrigados a parar para fechar as entradas de ar e colocar uma segunda pele.
Ao final do dia, chegamos em Pelotas – RS com o tempo nublado e a temperatura na casa dos 13 °C.
Na cidade conhecida como a “Princesa do Sul”, procuramos um local para passar a noite quando uma fina garoa começou a cair.
Ah, lembrando que a cidade é famosa pelos saborosos doces de Pelotas. Será que vamos resistir e passar por Pelotas sem comer nenhum docinho?
Cenas para o próximo capítulo, quer dizer, próxima postagem ;)
Acima a imagem do mapa com o trajeto percorrido entre São Leopoldo e Pelotas – RS passando por Nova Petrópolis.
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
Mas atenção, os campos marcados com * são de preenchimento obrigatório, pois assim mantemos (ou tentamos manter) o blog bonitinho, livre de robôs indevidos.
Ah, relaxe, seu endereço de e-mail será mantido sob sigilo total (sabemos guardar segredos, palavra de escoteiro) e não será publicado.