Brasil • Expedição 2021: Guartelá - Iguaçu • Paraná
Viagem de Moto pelo Paraná: de Prudentópolis a Cascavel – 100.000 Quilômetros Rodados com a Formosa
7 de Abril, 2021
Embarque em uma viagem de moto de Prudentópolis rumo ao oeste paranaense. Em Guarapuava, encante-se com a sinuosa Estrada Guaicará. Já na rodovia BR-277, celebre os 100.000 quilômetros rodados pela Formosa e encerre o dia em Cascavel (PR).
Depois de dois dias intensos explorando as belezas naturais de Prudentópolis (PR), destino reconhecido como a “Terra das Cachoeiras Gigantes” e fortemente marcado pela influência da cultura ucraniana, chegou o momento de seguir viagem. Após vivenciar trilhas ecológicas, saborear a gastronomia típica e sentir de perto a hospitalidade local, preparamos a moto e partimos rumo ao oeste paranaense. O trajeto pela Estrada Guaicará, no interior de Guarapuava (PR), revelou-se um espetáculo à parte, com curvas cênicas, campos de araucárias e paisagens que traduzem a essência do interior do Paraná. Já na Rodovia BR-277, a Formosa atingiu a impressionante marca de 100.000 quilômetros rodados, coroando com emoção nossa chegada a Cascavel (PR).

A quarta-feira amanheceu encoberta em Prudentópolis (PR), conhecida nacionalmente como a “Terra das Cachoeiras Gigantes”, título que faz jus à impressionante quantidade e imponência de suas quedas d’água. O município abriga mais de 1000 cachoeiras catalogadas, muitas delas com mais de 100 metros de altura, o que o torna um dos destinos mais fascinantes para os amantes do ecoturismo.

Chegamos a considerar a possibilidade de estender nossa estadia por mais alguns dias. No entanto, durante um passeio pela área central, visitamos o Centro de Informações Turísticas de Prudentópolis em busca de orientações sobre outros atrativos naturais que ainda poderíamos conhecer. Foi lá que descobrimos já ter visitado praticamente todas as cachoeiras acessíveis no momento, já que várias propriedades permaneciam temporariamente fechadas devido à pandemia.

Contudo, recebemos uma boa notícia: o Parque Estadual Salto São Francisco, lar da maior cachoeira da região, estava com os portões abertos para visitação. Com impressionantes 196 metros de altura, o Salto São Francisco é considerado uma das maiores e mais belas quedas d’água do Sul do Brasil.

O majestoso Salto São Francisco está localizado exatamente na divisa entre os municípios paranaenses de Prudentópolis, Guarapuava e Turvo, sendo acessado a partir do parque estadual em território de Guarapuava. O local oferece um mirante panorâmico e uma trilha ecológica que conduz os visitantes até a base da cachoeira, um percurso que exige preparo físico, mas recompensa com uma vista espetacular.



Para chegar ao Parque Estadual Salto São Francisco partindo de Prudentópolis (PR), existem duas rotas principais. A primeira atravessa o interior do município, totalizando cerca de 50 km, dos quais aproximadamente 38 km são de estrada de terra. A segunda, recomendada pelos guias locais, segue por Guarapuava e tem cerca de 100 km, sendo apenas 6 km em estrada não pavimentada.


Assim, partimos da “Terra das Cachoeiras Gigantes” pela rodovia BR-373. Pouco menos de 20 km depois, alcançamos o entroncamento com a BR-277 e seguimos por ela.


A estrada pedagiada apresentava excelente conservação e baixo fluxo de veículos, o que tornou a viagem agradável e tranquila até Guarapuava, município que, além de ser o maior em extensão territorial do Paraná, é também um importante polo econômico e educacional da região central do estado.


Deixando a rodovia federal, adentramos uma estrada municipal, guiados inicialmente por uma grande placa indicando o acesso ao Shopping Cidade dos Lagos. Logo adiante, uma placa menor chamou nossa atenção: o caminho para o Salto São Francisco.



Antes de iniciarmos o trajeto pela Estrada Guaicará, também conhecida como Caminho de São Francisco, fizemos uma pausa para colher lindas marcelas que cresciam às margens da estrada. A erva, tradicionalmente usada em chás medicinais e conhecida pelo aroma suave, é típica das regiões de campo do Sul do Brasil.


Com um punhado de marcelas frescas no alforje da Formosa, garantindo um toque especial aos próximos cafés da manhã, seguimos viagem pela pitoresca rota rural de Guarapuava (PR).



A Estrada Guaicará, estreita e sinuosa, se revelou um verdadeiro encanto, cercada por uma paisagem de campos e araucárias que caracterizam o bioma da Mata de Araucária, um dos ecossistemas mais ameaçados do país.



Durante o percurso, bem sinalizado com placas indicativas, era possível notar propriedades rurais que ofereciam produtos coloniais, cafés e almoços típicos da culinária paranaense, valorizando a hospitalidade do interior.




Entre uma curva e outra, passamos por uma charmosa igreja de madeira, a Capela Nossa Senhora das Graças, um exemplo da religiosidade presente em quase todos os cantos do interior do estado.



Conforme avançávamos, o cenário tornava-se ainda mais marcante, com florestas densas de pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia).



Esta árvore símbolo do Paraná está atualmente classificada como espécie criticamente ameaçada de extinção, o que torna o contato com ela uma experiência que inspira respeito e consciência ambiental.




A sucessão de curvas, aclives e declives ao longo da estreita estrada despertou lembranças do Camino de la Cornisa, na Ruta Nacional 9, Argentina, trecho que percorremos durante a Moto Expedição 2019: Salta – Jujuy – Tucumán. A semelhança na geografia e no sentimento de imersão na natureza reforçou o prazer de pilotar por estradas secundárias.



Seguimos passando pela localidade de Guairacá, onde se ergue a Igreja Nossa Senhora do Patrocínio, pertencente ao rito ucraniano.



Alguns quilômetros adiante, outra construção similar, a Igreja São Pedro e São Paulo, confirmou a forte presença da comunidade ucraniana na região. A colonização ucraniana em Guarapuava e Prudentópolis remonta ao final do século XIX, quando milhares de imigrantes se estabeleceram no Paraná, trazendo consigo tradições religiosas, culinárias e culturais que permanecem vivas até hoje.




Depois de cerca de 40 km de estrada sinuosa, o asfalto deu lugar ao chão de terra. Reduzimos a velocidade e seguimos com cuidado.



Poucos quilômetros depois, uma encruzilhada sem sinalização nos fez recorrer à tecnologia, ou, como brincamos, “aos astros modernos”: o Google Maps. Confirmamos a direção correta e prosseguimos, levantando poeira e colecionando paisagens.



Finalmente, após mais 6 km, chegamos à entrada do Parque Estadual Salto São Francisco. Para nossa surpresa, o portão estava fechado.




Um guarda-parque solitário confirmou o que já era evidente: o parque permanecia interditado devido à pandemia. A informação contradizia o que havíamos recebido em Prudentópolis (PR), revelando um desencontro entre as fontes.



Registramos o momento com uma foto diante do portão fechado, regamos algumas plantas próximas, aproveitamos para lanchar as bananas que haviam “cozinhado” dentro dos alforjes da Formosa sob o calor gerado pelo motor refrigerado a ar e retomamos o caminho de volta, agora apreciando o percurso sob uma nova perspectiva.





Mesmo sem alcançar o famoso mirante do Salto São Francisco, a experiência não deixou de ser memorável. O Caminho de São Francisco é, por si só, um passeio imperdível para quem viaja de moto: um trajeto com curvas suaves, visuais deslumbrantes e aquele sentimento de liberdade que só as duas rodas proporcionam.




De volta à BR-277, sem destino definido nem horários a cumprir, seguimos rumo ao oeste.




Poucos quilômetros após contornar o centro de Guarapuava, no trevo de acesso à Cooperativa Agrária, nossa fiel companheira, a Formosa, atingiu um marco especial: 100.000 quilômetros rodados.





Parar no acostamento para registrar o momento foi inevitável. E, como se o universo conspirasse, o dia estava perfeito: começara cinzento e agora o céu se abria em um azul intenso pontilhado de nuvens brancas. Sem planos, sem pressa, celebramos não apenas a marca da moto, mas a própria essência de viajar, o prazer de estar em movimento.




Foi impossível conter o sorriso por trás do capacete ao relembrar o início dessa vida sobre duas rodas, em outubro de 2014, quando a Formosa chegou às nossas vidas e abriu caminho para um novo estilo de viver. Desde então, aprendemos que viajar de moto não é apenas deslocar-se, é conectar-se com paisagens, pessoas e histórias, é redescobrir o mundo a cada curva.





Asfalto, paralelepípedo, terra, lama, cascalho, areia, rípio, salares, travessias de rio, balsas, sob sol ou tempestades, cada um dos 100 mil quilômetros foi uma verdadeira lição. Foram experiências que nos ensinaram sobre resiliência, simplicidade e o valor de cada momento vivido, sempre guiados pela curiosidade e pela paixão por viajar.




Com o espírito leve e o coração cheio de gratidão, continuamos pela rodovia pedagiada, cruzando os municípios paranaenses de Candói, Cantagalo e Virmond.




No trecho entre Laranjeiras do Sul e Nova Laranjeiras, pequenas barracas às margens da rodovia chamaram nossa atenção: famílias indígenas exibiam artesanatos típicos (cestos, colares, esculturas e utensílios em madeira e palha), expressões autênticas da rica cultura ancestral dos povos originários do Paraná.





Seguimos por Guaraniaçu e Ibema, enfrentando alguns pontos de “pare e siga” e contribuindo generosamente com os pedágios da BR-277 até chegarmos a Cascavel, uma das cidades mais importantes do oeste paranaense.




Quando o sol começou a se pôr, mergulhando lentamente no horizonte à nossa frente, a visibilidade se tornou desafiadora. Decidimos, então, encerrar o dia de estrada.





Entramos em Cascavel (PR) e paramos em um posto de combustível para abastecer e aproveitar o Wi-Fi local em busca de um hotel próximo.




Após o check-in e um merecido banho, saímos para caminhar pelo centro da cidade, esticando as pernas e apreciando o ambiente urbano.



Era também um momento de reflexão e gratidão por mais um dia vivido intensamente sobre duas rodas. Amanhã tem mais estrada!

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia durante a viagem de Prudentópolis (PR) a Cascavel (PR).
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