Viagem de Moto pelo Sul do Brasil com Visita ao Jardim Botânico de Faxinal do Céu, um Tesouro Ecológico no Paraná

Encerramos a Moto Expedição 2020: Belas Rotas com emoção, paisagens deslumbrantes e muita estrada! No último dia dessa longa viagem sobre duas rodas, cruzamos cenários marcantes dos três estados do Sul do Brasil e conhecemos um dos lugares mais surpreendentes do interior do Paraná: o Jardim Botânico de Faxinal do Céu, em Pinhão (PR). Esse refúgio ecológico criado pela Copel é um verdadeiro tesouro de biodiversidade, onde natureza, história e conservação se encontram, oferecendo aos visitantes uma experiência única de contato com a flora nativa e as espécies raras da Mata de Araucárias.

O domingo amanheceu com clima ameno em Guarapuava (PR), e o sol tímido surgia entre as nuvens, anunciando o início de mais um dia perfeito para pegar a estrada.

Nas primeiras horas da manhã, após um café reforçado, carregamos a Formosa pela última vez durante a Moto Expedição 2020: Belas Rotas, já com aquele sentimento nostálgico de quem se prepara para encerrar uma grande viagem sobre duas rodas.

Com as jaquetas de couro vestidas e os capacetes ajustados, partimos do centro de Guarapuava pouco antes das 7h30, pegando a rodovia PR-170 rumo ao sul.

Seguimos pela rodovia estadual de pista simples e bem asfaltada, cercados por imensas plantações que se estendiam até onde a vista alcançava, compondo uma paisagem tipicamente rural e serena, o retrato fiel do interior paranaense.

Após rodar aproximadamente 50 km, chegamos à tranquila cidade de Pinhão, no coração do Paraná, onde fizemos uma breve pausa para apreciar o ambiente acolhedor e a hospitalidade do lugar.

Localizado a 1.041 metros de altitude, o município de Pinhão abriga cerca de 30 mil habitantes e conserva o charme típico das pequenas cidades do interior.

O nome “Pinhão” tem origem nas antigas florestas de Pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia) que, no passado, cobriam grande parte do território onde hoje se encontra o município, árvore símbolo do estado e importante elemento da cultura paranaense.

Rodamos pelas ruas centrais de Pinhão e aproveitamos para registrar algumas fotos: primeiro diante da Prefeitura Municipal, e depois em frente à charmosa Igreja Espírito Santo, um dos pontos de referência da cidade.

Em seguida, retornamos à rodovia PR-170 e, aos poucos, o azul do céu foi sendo encoberto por nuvens cinzentas que despontavam no horizonte, sinalizando uma possível mudança no clima.

Atravessamos uma área tomada por neblina densa e, em poucos minutos, chegamos a Faxinal do Céu, um pequeno distrito pertencente a Pinhão, cercado por florestas e tranquilidade.

Faxinal do Céu é uma vila residencial fundada pela Copel (Companhia Paranaense de Energia) para abrigar os mais de 15 mil trabalhadores envolvidos na construção da primeira usina hidrelétrica do Rio Iguaçu: a Usina Hidrelétrica de Foz do Areia.

A construção da usina teve início em 1975, e sua inauguração ocorreu em 1980, representando um marco no desenvolvimento energético e econômico do Paraná.

Seu nome oficial é Usina Bento Munhoz da Rocha Netto, em homenagem ao engenheiro e ex-governador do estado, fundador da Copel e figura fundamental na expansão do setor elétrico paranaense.

A Usina Hidrelétrica de Foz do Areia é a maior operação da Copel, com quatro unidades geradoras, cada uma com capacidade de 419 MW, totalizando mais de 1.600 MW de potência, suficiente para abastecer milhões de residências.

Ao chegar ao centrinho de Faxinal do Céu, também conhecida como Vila da Copel, passamos pela singela Capela Senhor Bom Jesus, um ponto emblemático que reflete a história, a fé e a simplicidade da comunidade local.

Com a conclusão da usina nos anos 1980, Faxinal do Céu perdeu sua função original. Na década de 1990, a vila foi revitalizada com a criação da “Universidade do Professor”, um centro de formação educacional da Secretaria de Educação do Paraná, que promoveu cursos e capacitações até seu encerramento em 2011.

Desde então, a densidade populacional da vila diminuiu, e a Copel chegou a cogitar sua venda. Ainda assim, o local preserva um valioso patrimônio histórico, ambiental e afetivo, permanecendo como um dos lugares mais singulares da região.

Após registrar fotos da igreja de madeira Capela Senhor Bom Jesus, seguimos para conhecer o principal atrativo turístico da vila: o Jardim Botânico de Faxinal do Céu.

Criado em 1974, o Jardim Botânico de Faxinal do Céu ocupa uma área destinada pela Copel à produção de mudas florestais, com o objetivo de recompor áreas degradadas durante a construção da Usina Foz do Areia.

O encantador Jardim Botânico de Faxinal do Céu preserva uma importante reserva de vegetação nativa, com destaque para o Pinheiro-do-Paraná, conhecido pelos nativos como Curiirama e, cientificamente, como Araucaria angustifolia.

O espaço também abriga espécies de grande valor ecológico e econômico na história do Paraná, como a Imbuia (Ocotea porosa) e a Erva-Mate (Ilex paraguariensis), ambas atualmente ameaçadas de extinção.

Com o passar dos anos, o Jardim Botânico de Faxinal do Céu foi se expandindo e recebeu novas espécies ornamentais de clima temperado, incluindo coníferas, azaléias e diversas plantas floríferas que embelezam ainda mais o cenário.

Hoje, o Jardim Botânico de Faxinal do Céu é um verdadeiro refúgio ecológico, abrangendo impressionantes 152 hectares e abrigando espécies originárias dos cinco continentes.

Entre seus maiores destaques está a coleção de plantas ornamentais floríferas, como rododendros e azaléias, que encantam os visitantes com mais de 80 variedades de cores e formas.

Essas flores atingem seu auge nos meses de agosto e setembro, quando o jardim se transforma em um espetáculo de cores vibrantes e aromas marcantes, atraindo turistas e amantes da natureza.

No local, também é possível observar espécies do Hemisfério Norte, que vão desde plantas rasteiras até árvores imponentes, como a sequoia, símbolo de longevidade e resistência.

Além de preservar a flora regional, o Jardim Botânico de Faxinal do Céu tem como missão educar e conscientizar sobre a importância das florestas e rios, destacando suas funções ecológicas, sociais e econômicas.

O espaço atua como um valioso centro de educação ambiental, promovendo o respeito e a preservação da biodiversidade, e reforçando o compromisso com um futuro sustentável.

Embora a vontade de explorar as trilhas do encantador Jardim Botânico de Faxinal do Céu fosse grande, sabíamos que ainda nos aguardavam alguns quilômetros de estrada até Erechim (RS), nosso destino do dia.

Retornamos ao centro de visitantes do Jardim Botânico de Faxinal do Céu, onde a Formosa nos esperava, pronta e ansiosa para seguir viagem rumo ao próximo trecho da nossa moto expedição.

Despedimo-nos da vila de Faxinal do Céu, um lugar encantador que certamente figura em nossa lista de destinos a revisitar, da próxima vez, com mais tempo para explorar tudo o que essa joia escondida tem a oferecer.

De volta à rodovia PR-170, rodamos poucos quilômetros até avistar a imponente barragem da Usina Bento Munhoz da Rocha Netto.

Essa barragem foi a primeira de seu tipo construída no Brasil e, à época, a maior do mundo em sua categoria, com impressionantes 160 metros de altura e 828 metros de extensão.

Seis comportas controlam a passagem das águas do Rio Iguaçu por condutos forçados que conduzem o fluxo até a casa de força da usina.

O vertedouro da Usina Hidrelétrica de Foz do Areia, escavado a céu aberto e do tipo calha, foi projetado para suportar uma descarga máxima de 11.000 m³/s, um feito de engenharia notável para sua época.

Cerca de 40 quilômetros após cruzar a barragem, chegamos à cidade de Bituruna (PR).

Atravessamos rapidamente o centro urbano da cidade conhecida como a “Capital Paranaense do Vinho”, devido à forte tradição vitivinícola herdada dos imigrantes italianos que colonizaram a região.

Poucos minutos depois, fomos obrigados a parar às margens da rodovia para vestir as capas de chuva, pois os primeiros pingos começaram a cair.

Assim, sob chuva constante, chegamos ao entroncamento com a rodovia federal BR-153, a famosa Rodovia Transbrasiliana, uma das principais ligações Norte – Sul do país.

Pela BR-153, deixamos o Paraná e cruzamos a divisa com Santa Catarina, onde fomos surpreendidos por um intenso temporal.

Seguimos enfrentando a chuva, acompanhada por fortes rajadas de vento, até finalmente alcançarmos Erechim (RS), no norte gaúcho.

O lado positivo é que Erechim enfrentava uma estiagem de mais de 30 dias, e nossa chegada trouxe consigo a tão esperada chuva para a cidade.

Molhados e cansados, mas com um sorriso enorme por trás dos capacetes, chegamos em casa após percorrer mais de 7.500 quilômetros pelas rotas mais belas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro ao longo de 32 dias inesquecíveis de estrada.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Guarapuava – PR e Erechim – RS.