Brasil • Expedição 2020: Belas Rotas • São Paulo
Dia 30: Itatiba – SP a Capão Bonito – SP
27 de Novembro, 2020A chuva perdurou até altas horas da noite em Itatiba – SP e hoje o Sol já brilhava logo cedo com todo o seu esplendor.
Animados com o céu azul fizemos o desjejum, carregamos a Formosa e partimos da “Princesa da Colina” para um dia de muita estrada bonita!
Como a expedição deste ano tem por objetivo percorrer as mais belas rotas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, não poderíamos deixar de rodar pela famosa rodovia SP-360.
A rodovia estadual liga Jundiaí a Águas de Lindóia em uma extensão aproximada de 110km, mas o trecho mais conhecido, principalmente no mundo das duas rodas, fica entre Morungaba e Serra Negra.
O curto percurso, de apenas 40km, é composto por um asfalto em bom estado de conservação que percorre uma região montanhosa e conta com uma incrível sequência de curvas.
Local perfeito para um agradável passeio de moto, com direito a belas paisagens da Serra da Mantiqueira ao redor da rodovia e muitas raspadas das pedaleiras.
Em meio a um baixo fluxo de veículos avançamos pela estrada rapidamente.
E logo chegamos em Serra Negra.
A cidade, que fica a 927 metros acima do nível do mar, é nacionalmente conhecida por suas várias fontes de água mineral.
Tão logo chegamos no centro de Serra Negra acessamos algumas ruas principais e fizemos o retorno, voltando pelo mesmo trajeto.
Desta vez ao chegar em Amparo deixamos a SP-360 para trás e passamos a percorrer a SP-095.
Pela qual cruzamos o centro de Arcadas, Pedreira e Jaguariúna.
Nesta última passamos em frente à Estação Jaguariúna, construída em 1945.
E na sequência acessamos outra rodovia paulista, a duplicada SP-340.
Rodamos alguns quilômetros pela movimentada estrada sentido sul até um enorme congestionamento se formar em nossa frente.
E lá vamos nós praticar a arte de rodar pelo corredor…
Desvia de um retrovisor aqui, xinga um motorista ali, chuta um retrovisor acolá esquenta as partes baixas com a alta temperatura do motor da Formosa ao rodar em baixa velocidade, e segue o baile.
Não bastasse todo o estresse causado pela atenção redobrada ao rodar pelo corredor, que durou alguns longos quilômetros, ao olhar para o painel da Formosa vejo a indicação que temos combustível suficiente para rodar… 1 quilômetro!
Neste momento lembrei da regra de ouro do motociclismo: ao chegar em uma cidade para pernoitar, abasteça o tanque de sua motocicleta para, no dia seguinte, iniciar o dia com o tanque cheio.
Claro que burlei a dica essencial e agora me via em um dilema temendo o que seria pior: contar para todos os membros da expedição (FredLee e Sayo) sobre a vergonhosa situação a qual meti a todos (afinal, uma coisa é ter pane seca na Patagônia, onde as distâncias entre um posto de combustível e outro são enormes, e outra em plena região metropolitana de Campinas), ou rodar até a Formosa falecer.
Durante alguns tensos minutos de indecisão pude constar duas coisas: o contorno de Americana praticamente não tem postos de combustíveis e a Formosa me pregou uma baita peça, pois rodamos muito mais do que um mísero quilômetro (mais sorte que juízo).
Conduzindo em uma velocidade bem inferior à habitual finalmente avistei algo em forma de posto de combustível com letras garrafais em azul se destacando sobre um fundo amarelo, inicialmente pensei ser uma visagem, mas para a alegria de todos era real.
De volta ao jogo, mantendo a calma e elegância, estacionei a Formosa ao lado da bomba de combustível e observei atentamente o frentista adicionar 18 litros em seu tanque. Ah, tinham 900 mililitros ainda!
Com a Formosa devidamente abastecida, e eu voltando a respirar normalmente, seguimos pela SP-079.
Logo chegamos em Piedade e, sob um calor escaldante, seguimos pela rodovia estadual.
Até encontrar uma barraquinha vendendo queijos, rapadura, doces, melado e… coco!
Como já faziam dias, na verdade apenas dois dias, que não nos deliciávamos com água de coco, paramos para nos refrescar e hidratar.
Após a breve pausa voltamos a rodar pela SP-079 e logo passamos por Tapiraí.
Na sequência iniciamos a descida de outra lendária serra, muito conhecida no mundo motociclístico, a Serra da Cabeça da Anta.
A serra fica na rodovia SP-079 entre as cidades de Tapiraí e Juquiá.
Possui um percurso de aproximadamente 60km e um desnível de mais de 900 metros em meio à exuberante Mata Atlântica.
Rodovia de pista simples, estreita, sem acostamento e repleta de curvas fechadas.
Só não é um verdadeiro paraíso devido ao precário estado de conservação ao qual se encontra o asfalto da rodovia estadual, com inúmeros buracos, irregularidades e ondulações.
No meio da serra existe um amplo estabelecimento que conta com lanchonete, restaurante, café, banheiros e venda de artigos diversos.
O local está exatamente em frente a uma pequena cachoeira e uma bica de água na qual a torneira representa a cabeça da anta que dá nome à serra.
Antigamente tropeiros utilizavam esta via, que na época era uma trilha de chão batido, e paravam para beber a água cristalina que descia pela montanha.
Em determinada ocasião encontraram no local uma anta morta e logo passaram a chamar o lugar de Bica da Anta.
Em 1936 a estrada foi oficialmente inaugurada e na ocasião o Departamento de Estradas e Rodagens instalou a bica com a cabeça da anta como forma de manter viva a história.
Após as fotos com a cabeça da anta voltamos a percorrer a SP-079.
Poucas curvas adiante encontramos um bloqueio na pista, onde fomos informados que o temporal da noite anterior havia derrubado várias árvores e provocado o desmoronamento em alguns pontos nos quilômetros seguintes.
Aproveitamos o momento de pausa para conversar com o rapaz do DER, que comentou sobre a deplorável situação na qual a rodovia se encontra e que isso já se estende por vários anos, embora o recurso financeiro para recuperar o trecho já tenha sido liberado pelos órgãos competentes, restando agora apenas uma questão burocrática pelo fato da rodovia cruzar parte de uma área de preservação ambiental.
Burocracia à parte, aguardamos cerca de 30 minutos até a liberação da via, e então voltamos a rodar.
Aos poucos as curvas foram ficando mais abertas e o declive menos acentuado.
Logo nos vimos cercados por extensas plantações de banana e percebemos já estar em território pertencente ao município de Juquiá, conhecido como “Capital da Banana”.
Ali paramos às margens da rodovia para roubar banana regar as plantinhas.
Mais aliviados seguimos adiante, cruzamos o centro da pequena cidade e acessamos a SP-165.
Pela qual rodamos poucos quilômetros até chegar no entroncamento com a Rodovia Nequinho Fogaça, a SP-139.
Já na SP-139 (estrada de pista simples, estreita e sem acostamento) avançamos em direção norte, quando o azul do céu foi tomado por cinzentas nuvens que surgiram rapidamente.
Bastaram alguns minutos para uma leve chuva ter início, mas a viajem estava tão agradável e o tempo tão abafado, que optamos por seguir sem as capas.
Aos poucos a paisagem ao redor da rodovia foi sendo tomada pela densa e fechada floresta formada pela Mata Atlântica.
O piso da estrada deixou de ser o tradicional asfalto e se fez revestido por blocos de cimento intertravados.
Em meio a este cenário chegamos na portaria do Parque Estadual Carlos Botelho (PECB).
A rodovia estadual atravessa a unidade de conservação de proteção integral em uma extensão de 35km pela Serra de Paranapiacaba, conhecida como Serra da Macaca.
O parque foi criado em 1982 e contribui para a proteção de duas bacias hidrográficas, a do Alto Paranapanema e a do Vale do Ribeira.
Abrange uma área de 38.705 hectares de florestas ombrófilas densas e protege 56 espécies de peixes, 70 de anfíbios, 31 de répteis, 342 espécies de aves, 25 espécies de pequenos mamíferos e 35 espécies de médios e grandes mamíferos, entre eles o muriqui-do-sul ou mono-carvoeiro, o maior primata das Américas.
Em 1999 a unidade foi reconhecida como “Sítio do Patrimônio Mundial Natural” pela UNESCO.
Justamente por atravessar o importante refúgio de vida selvagem, a rodovia tem horário restrito para circulação de veículos, sendo permitido a passagem todos os dias das 6h às 20h.
Ao longo de todo o percurso existem diversas áreas de estacionamento, quiosques para piquenique, mirantes e uma ampla rede de trilhas que cruzam a mata e passam por bicas, rios e cachoeiras.
Devido à pandemia a circulação pela Estrada Parque Carlos Botelho estava permitida, mas com a condição de passar direto por todos os locais de parada, estando proibido estacionar ou parar rapidamente o veículo em qualquer ponto da estrada.
Esta é a primeira estrada parque paulista e foi pensada e executada para produzir os menores impactos possíveis no ambiente, isso explica por exemplo a escolha pelo pavimento ecológico, o qual permite maior escoamento de água, não conserva calor e produz um ruído gerado pelo atrito entre os pneus e os bloquetes (10 milhões ao total), contribuindo para afugentar os animais das proximidades da via.
A estrada é, sem dúvidas, uma das mais lindas do país, rodar em meio à Mata Atlântica por uma via estreita, sinuosa e que ganha altitude rapidamente é sensacional.
Mais um local que certamente voltaremos assim que possível, não somente para percorrer o trecho em um dia ensolarado, mas também para explorar com a devida atenção e calma todas as maravilhas que o Parque Estadual Carlos Botelho tem a nos oferecer.
Seguimos pelo percurso tranquilamente, dentro da velocidade estipulada (que varia entre 20km/h e 40km/h), apreciando o cenário ao nosso redor.
E quando percebemos já estávamos cruzando a portaria que indica o fim da estrada parque, deixando, inclusive, a chuva para trás.
Ali a rodovia volta a ser asfaltada e segue desta forma até São Miguel Arcanjo.
O fim do dia já se aproximava quando chegamos no trevo de acesso à cidade.
Analisamos nossa disposição e optamos por rodar mais alguns quilômetros no dia, então avançamos pela SP-250, que está em uma situação ótima para provocar danos na coluna dos motociclistas, ocasionar estragos nas suspensões, rodas, pneus… enfim, uma condição ridícula de conservação.
Ao menos foram apenas 15km pela via até acessarmos a duplicada SP-373.
A qual nos levou até Capão Bonito, onde chegamos no início da noite e fomos direto a um hotel para descansar, pois amanhã vamos serpentear!
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 4 comentários nesta postagem!
A serra da macaca até poucos anos atrás era de chão de terra. Esta obra com os bloquetes ficou muito bom. Quando voltarem a São Miguel Arcanjo experimentem o bolinho de frango, tomem um vinho colonial e apreciem as uvas de mesa que são plantadas na região.
Ficamos imaginando o quão tenso devia ser subir ou descer a serra em períodos chuvosos quando a estrada era de terra o.O
Obrigado pelas dicas, já anotamos! Pretendemos voltar a percorrer a sinuosa Serra da Macaca assim que surgir uma nova oportunidade e poder apreciar a vista de cada um dos locais de parada, além de caminhar pelas trilhas dentro do parque.
Valeu. Abraços…
Adoro o texto leve com pitadas de ironia 😜. Só imagens lindas ❤️.
Valeu! A ideia é transmitir as informações de uma forma descontraída ;)
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
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