Bananal • Brasil • Campos do Jordão • Expedição 2020: Belas Rotas • São Paulo
Viagem de Moto pela Serra da Bocaina, Centro Histórico de Bananal, Rodovia dos Tropeiros e Fazenda dos Coqueiros
25 de Novembro, 2020
Descubra o centro histórico de Bananal (SP), aventure-se em uma viagem de moto pela Estrada Sertão da Bocaina, visite a Fazenda dos Coqueiros e conheça a Rodovia dos Tropeiros. Aprecie o pôr do sol do Mirante Vista Chinesa, em Campos do Jordão (SP).
Hoje percorremos uma das rotas mais belas e históricas do interior paulista em uma incrível viagem de moto pelo Vale Histórico. Começamos o dia caminhando pelo centro histórico de Bananal (SP), com seu charme colonial e casarões preservados do Ciclo do Café. Seguimos pelas curvas cênicas da Estrada Sertão da Bocaina, que revela paisagens exuberantes do Parque Nacional da Serra da Bocaina, até o alto da serra. Visitamos a lendária Fazenda dos Coqueiros, um verdadeiro patrimônio do período cafeeiro, e cruzamos a tradicional Rodovia dos Tropeiros, caminho histórico percorrido por Dom Pedro I antes da Independência do Brasil. Finalizamos o dia subindo a magnífica Serra da Mantiqueira, brindados por um inesquecível pôr do sol no Mirante Vista Chinesa, em Campos do Jordão, a charmosa “Suíça Brasileira”.

A quarta-feira amanheceu nublada em Bananal (SP). Após um café da manhã tranquilo, partimos para uma caminhada pelo charmoso centro histórico, prontos para explorar seus encantos e admirar as construções antigas que preservam a memória de um dos municípios mais tradicionais do Vale do Paraíba Paulista.

Pequena, pacata e acolhedora, Bananal está situada em meio às montanhas da Serra da Bocaina, oferecendo um cenário encantador para quem busca conhecer belas paisagens, vivenciar o turismo histórico e cultural e desfrutar de uma atmosfera tranquila e convidativa.

A história da cidade está intimamente ligada ao Caminho Novo da Piedade, rota aberta entre 1725 e 1778 para ligar as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro. Essa via foi fundamental para o escoamento da produção agrícola e o desenvolvimento de povoados ao longo do trajeto, consolidando Bananal como ponto estratégico da região.

Com a abertura do caminho, surgiu a necessidade de implementar uma política de doação de terras, as chamadas sesmarias, que incentivava a ocupação da área e a criação de fazendas e povoados voltados ao apoio dos viajantes e tropeiros que percorriam a rota.


Mais do que apenas povoar os sertões, a medida buscava criar uma infraestrutura de apoio e estimular a economia regional, conectando o interior paulista ao litoral fluminense.


Foi nesse contexto que, em 1783, uma sesmaria foi concedida a João Barbosa Camargo e sua esposa, que ergueram uma singela capela de pau-a-pique dedicada ao Senhor Bom Jesus do Livramento, o marco fundador do núcleo urbano de Bananal (SP).

Curiosamente, o nome Bananal não tem relação com a fruta. Ele deriva do rio que atravessa o município, denominado “bananai” pelos índios Puris, primeiros habitantes da região.


O termo “bananai”, de origem tupi, significa “rio sinuoso”, em referência ao traçado curvilíneo do curso d’água. Com o tempo, o nome foi adaptado para “Bananá” e, posteriormente, transformou-se em Bananal, como é conhecido até hoje.


Graças às suas terras férteis e ao clima favorável, Bananal destacou-se rapidamente como uma das maiores produtoras de café do país durante a década de 1850, vivendo um período de intensa prosperidade econômica.

O uso intensivo da mão de obra escravizada impulsionou a expansão das lavouras, consolidando Bananal como um dos principais polos do Ciclo do Café no Brasil.

A riqueza gerada foi tamanha que a cidade chegou a cunhar suas próprias moedas, um feito raríssimo, símbolo de autonomia e poder econômico.

Os barões do café de Bananal também chegaram a avalizar um empréstimo concedido pela Inglaterra ao governo imperial brasileiro, um episódio que evidencia a influência política e financeira da elite bananalense na economia nacional.


Com o declínio do ciclo cafeeiro no final da década de 1920, as plantações foram substituídas gradualmente por lavouras de algodão e, principalmente, pela pecuária leiteira, que se tornaria a principal atividade econômica nas décadas seguintes.


A perda de protagonismo regional se acentuou a partir de 1951, com a inauguração da Rodovia Presidente Dutra (BR-116). O novo trajeto entre São Paulo e Rio de Janeiro desviou o fluxo comercial e turístico da cidade, reduzindo seu dinamismo econômico.


Mesmo assim, Bananal preservou sua essência: o charme do casario colonial, a hospitalidade de seu povo e o valioso patrimônio histórico que transformam a cidade em um verdadeiro museu a céu aberto.

Os casarões e sobrados do centro histórico, muitos erguidos no século XIX, continuam a refletir o esplendor do período áureo do café, conferindo a Bananal um charme singular.


Durante o auge da riqueza cafeeira, as residências exibiam fachadas decoradas com abacaxis, símbolo de nobreza e prosperidade, além de janelas e sacadas elaboradas que destacavam o status dos proprietários.


Caminhando pelo centro histórico de Bananal, logo chegamos à Praça Pedro Ramos, o coração da cidade, ponto de encontro de moradores e visitantes.


Também conhecida como Praça da Matriz, ela é arborizada, possui bancos convidativos, um charmoso coreto e um elegante chafariz europeu de ferro, que compõem um ambiente acolhedor e repleto de história.



O chafariz, instalado em 1879, apresenta elementos barrocos e quatro torneiras ornamentadas. Na época, sua principal função era fornecer água potável à população, já que Bananal ainda não dispunha de sistema de abastecimento encanado.



Ao redor da praça, destacam-se diversos casarões históricos, como o Solar de Luciano José de Almeida, que reforça o valor arquitetônico do centro de Bananal (SP).


Construído em 1847, o Solar de Luciano José de Almeida possui planta em formato de “U” e um pátio interno projetado para manobras de carruagens, características que evidenciam o requinte das residências urbanas do século XIX.


Em 1928, o sobrado foi convertido em Hotel Brasil, que funcionou por décadas e hoje permanece fechado, guardando parte importante da memória da cidade.


A poucos metros dali fica a Praça Rubião Júnior, também conhecida como Largo do Rosário, situada em frente ao Solar Aguiar Vallim.


Erguido em 1855, o Solar Aguiar Vallim é um dos ícones da arquitetura neoclássica paulista e testemunho do período de ouro de Bananal. Em seus salões, recebia autoridades imperiais e eventos sociais da alta sociedade.


Com suas sacadas de ferro fundido e imponente fachada, o solar abriga atualmente a ABATUR (Associação Bananalense de Turismo), preservando sua função cultural e histórica.


O interior impressiona com um majestoso hall e um salão de bailes equipado com coreto para orquestra, refletindo o luxo e a sofisticação do período.


O espaço está aberto à visitação pública, embora durante nossa visita, o acesso estivesse temporariamente suspenso devido à pandemia.



Ao lado, encontra-se o antigo fórum da cidade, inaugurado em 17 de março de 1833 como sede da Câmara Municipal, marco da emancipação política de Bananal e primeira construção pública do município.


Nas proximidades, destaca-se a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, erguida no século XIX, que abrigava celebrações religiosas voltadas à população escravizada, um importante símbolo da história afro-brasileira na região.



A construção do templo foi iniciada em 1882 e finalizada em 1886 e era o local de reunião da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Essa irmandade abrigava a religiosidade da comunidade negra, que muitas vezes não podia frequentar as mesmas igrejas da população branca.


Seguindo o passeio, chegamos à Santa Casa da Misericórdia, construída entre 1851 e 1871. O prédio abriga atualmente a Prefeitura Municipal de Bananal, mantendo viva sua relevância institucional.


Hoje, com cerca de 11 mil habitantes, Bananal se destaca não apenas pelo turismo histórico e rural, mas também pela produção artesanal de crochê de barbante, cachaças artesanais e doces caseiros, preservando tradições transmitidas por gerações.


Durante o auge do café, os fazendeiros locais construíram um ramal ferroviário para escoar a produção até Barra Mansa (RJ), ligando Bananal ao principal eixo exportador da época. Com 28 km de extensão, a ferrovia foi construída sem apoio governamental, inteiramente por iniciativa privada.


Em 1888, a estação ferroviária de Bananal, importada da Bélgica, chegou à cidade e foi instalada na entrada da vila, preservando o traçado urbano e integrando-se harmoniosamente ao ambiente local.


A estação ferroviária pré-moldada foi construída em estrutura metálica, com telhado de chapas galvanizadas almofadadas, compostas por cerca de 2 mil placas unidas por parafusos, um impressionante exemplo da engenharia do século XIX.


Com dois andares, assoalho de pinho de Riga, sala de visitas e área total de 400 m², a estação ferroviária de Bananal impressiona pela precisão técnica e estética europeia.

Historiadores e arquitetos consideram a Estação Ferroviária de Bananal uma das únicas do gênero no mundo, construída totalmente em estrutura metálica pré-fabricada e projetada exclusivamente para esse propósito.



O edifício é tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo) e, devido ao seu valor histórico, chegou a ser solicitado pela Bélgica para ser transformado em museu.

Em frente à estação, a Praça Dona Domiciana abriga a locomotiva a vapor nº 302 em exposição permanente, preservando a memória ferroviária que marcou a prosperidade de Bananal (SP).


Após a visita, seguimos de volta ao hotel, passando novamente pela Praça Pedro Ramos e nos dirigindo à Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Livramento, símbolo religioso mais importante da cidade.


Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal
Construída em 1811, a Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal guarda em seu interior pinturas com técnica de ilusão de ótica imitando mármore, estilo inspirado nas tendências europeias na época.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar na Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal partindo do centro de Florianópolis – Santa Catarina – Brasil:
Contatos da Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal
- Endereço: Travessa Dom Epaminondas, 51 – Centro | Bananal – São Paulo – Brasil
- Telefone: (12) 3116-5153
- E-mail: matrizbomjesus@hotmail.com
Para obter informações mais detalhadas, visite a página oficial da Paróquia Senhor Bom Jesus do Livramento – Igreja Matriz de Bananal no Facebook.
Horários de Funcionamento
- Segunda a sexta: das 8h às 12h e das 13h às 17h
Valores de Ingresso
- Público em geral: Gratuito
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 30 minutos


Construída em 1811, a Igreja Matriz de Bananal apresenta fachada discreta em estilo colonial e paredes de taipa de pilão com 130 centímetros de espessura, demonstrando a robustez das técnicas construtivas da época.



Seu interior surpreende com pinturas em técnica de ilusão de ótica, que imitam mármore, uma influência das tendências artísticas europeias do século XIX.




Perto do altar, destacam-se as tribunas reservadas aos fazendeiros, um vestígio da hierarquia social e religiosa que marcou o cotidiano da antiga Bananal.



Com isso, encerramos nosso passeio pelo centro histórico de Bananal (SP). Carregamos as bagagens na Formosa, vestimos nossos equipamentos de viagem e deixamos o centro pela rodovia SP-247, prontos para seguir rumo a novas paisagens.



A estrada, de pista simples e asfaltada, é sinuosa e sem acostamento, atravessando um cenário espetacular, uma verdadeira maravilha para quem aprecia viajar em contato direto com a natureza e as montanhas da Serra da Bocaina.



Também conhecida como Estrada Sertão da Bocaina, a rodovia segue em direção ao Parque Nacional da Serra da Bocaina, com aproximadamente 35 km de trecho pavimentado.



Localizado na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Serra da Bocaina abrange cerca de 104 mil hectares e se estende do nível do mar até altitudes superiores a 2.000 metros. É uma das maiores áreas contínuas de proteção da Mata Atlântica e uma das mais preservadas do país.



Seu território abriga uma impressionante diversidade biológica, considerada a maior entre as unidades de conservação do bioma. Nas encostas e escarpas cobertas por jequitibás, cedros e maçarandubas, árvores que chegam a atingir até 28 metros de altura, encontram-se ecossistemas únicos e exuberantes.



O Parque Nacional da Serra da Bocaina, criado em 1971, protege ambientes de grande valor ambiental e paisagístico, oferecendo aos visitantes cachoeiras cristalinas, trilhas, piscinas naturais, picos e mirantes com vistas deslumbrantes.



Entre as espécies protegidas estão animais ameaçados de extinção, como a onça-pintada, o preguiça-de-coleira, o mono-carvoeiro e mais de 300 espécies de aves, tornando o local um paraíso para observadores da natureza e amantes do ecoturismo.



À medida que nossas férias chegavam ao fim e iniciávamos o caminho de volta, aproveitamos cada curva da Estrada Sertão da Bocaina, uma rota que, sem exagero, merece figurar entre as rodovias mais bonitas do Brasil.




Em poucos minutos, ganhamos mais de 800 metros de altitude, por um trecho íngreme e sinuoso que serpenteia a serra, revelando a cada curva novos ângulos das montanhas e vales do Vale do Paraíba.



Seguimos até alcançar uma pequena localidade, onde se espalham restaurantes, pousadas e uma antiga igreja de madeira situada no alto de um morro, um cenário digno de cartão-postal.



Curiosos para conhecer o singelo templo em estilo de chalé, mesmo sob o calor intenso, estacionamos a Formosa sob a sombra de uma árvore e iniciamos a curta caminhada até a Igreja Sagrado Coração de Jesus.



A encantadora capela de madeira, com sua arquitetura simples e charmosa, transmite uma sensação de serenidade e antiguidade. Embora tenhamos pesquisado, não encontramos informações oficiais sobre sua origem ou data de construção.



Localizada no alto do morro, a Igreja Sagrado Coração de Jesus oferece uma vista panorâmica incrível da Serra da Bocaina e das paisagens verdejantes ao redor, um ponto perfeito para contemplar o visual e respirar o ar puro da montanha.



Após um momento de descanso e hidratação, seguimos até o trecho onde a Rodovia Sebastião Diniz de Moraes (SP-247) se transforma em estrada de terra e pedras. Decidimos, então, retornar ao centro de Bananal pelo mesmo caminho da ida, aproveitando novamente o visual privilegiado da serra.



Durante o retorno, fizemos uma parada no Mirante Vale da Bocaina, antes de iniciar a descida.



A vista do Mirante Vale da Bocaina é simplesmente deslumbrante. No alto de um morro, em meio às curvas fechadas, o mirante oferece uma paisagem onde o céu se funde às montanhas e os vales verdejantes se estendem até o horizonte, uma daquelas imagens que ficam gravadas na memória.



A energia que paira sobre a Serra da Bocaina é difícil de descrever: transmite uma sensação profunda de paz e serenidade, potencializada pela imponência das montanhas e pela harmonia natural do ambiente.




O nome “bocaina” vem do tupi-guarani e significa, possivelmente, “caminho para o alto” ou “depressão em uma serra”, referência à geografia acidentada e às passagens naturais entre os picos.



Com certeza voltaremos com mais tempo para explorar a Serra da Bocaina com calma, aproveitando suas trilhas, cachoeiras e mirantes.




Após um “até logo”, retomamos a viagem de moto pela encantadora Estrada Sertão da Bocaina, com a Formosa bailando com elegância pelas curvas fechadas da serra, embalada pelo ronco inconfundível do motor Twin Cam da Harley-Davidson.




A estrada é realmente espetacular para viajar de moto. Suas curvas desafiadoras e a pista estreita, com forte inclinação, lembram trechos da Serra da Rodovia Oswaldo Cruz (SP-125), que percorremos no décimo terceiro dia da moto expedição deste ano.





No caminho de volta, fizemos ainda uma breve parada para fotografar outro pequeno templo religioso: a Capela de São José do Retiro, situada às margens da rodovia, cercada por verde e silêncio.



De volta ao centro histórico de Bananal (SP), acessamos a Rodovia dos Tropeiros (SP-068) em direção ao oeste, retomando nossa viagem por uma das estradas mais simbólicas da história paulista.


Percorremos poucos quilômetros até alcançar a Fazenda dos Coqueiros, uma das mais tradicionais e antigas produtoras de café da região.


Fazenda dos Coqueiros
A Fazenda dos Coqueiros foi construída em 1855 pelo casal Major Cândido Ribeiro Barbosa e Joaquina Maria de Jesus.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar na Fazenda dos Coqueiros partindo do centro do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil:
Contatos da Fazenda dos Coqueiros
- Endereço: Rodovia SP-068, Km 309 | Bananal – São Paulo – Brasil
- Telefone: (12) 97405-5717
- E-mail: fazendadoscoqueiros@gmail.com
Para obter informações mais detalhadas, visite o site oficial da Fazenda dos Coqueiros.
Horários de Funcionamento
- Terça a domingo: das 10h às 16h
Valores de Ingresso
- Público em geral: R$ 35,00
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 2 horas


Construída em 1855 pelo casal Cândido Ribeiro Barbosa e Joaquina Maria de Jesus, a Fazenda dos Coqueiros é um dos principais marcos históricos de Bananal (SP), preservando arquitetura, mobiliário e tradições do período áureo do Ciclo do Café.


Ao chegarmos, fomos calorosamente recebidos pela proprietária Maria Elisabeth Brum Gomes, que nos acolheu com simpatia e nos convidou para uma visita guiada pelo imponente casarão-sede da fazenda, um verdadeiro mergulho na história do século XIX.



A visita começou com um ritual tradicional dos tempos da nobreza rural: lavar as mãos dos visitantes com água fresca perfumada com lavanda ou pétalas de rosa, gesto de hospitalidade que remete às antigas boas-vindas oferecidas às autoridades e convidados ilustres.



Em seguida, percorremos os amplos cômodos do casarão enquanto o guia compartilhava relatos e curiosidades sobre a vida na fazenda, explicando o uso de cada ambiente e o significado das peças originais, muitas ainda preservadas.



Durante o Ciclo do Café, a Fazenda dos Coqueiros abrigou dezenas de pessoas escravizadas, organizadas em diferentes funções. Entre elas, havia um grupo chamado “escravos lambedores”, cuja função cruel e simbólica era lamber ferimentos e machucados dos senhores, acreditando-se que isso acelerava a cicatrização.



Outro grupo era conhecido como os “tigres”, encarregados de recolher os dejetos acumulados nos depósitos de madeira sob as janelas. Como esses recipientes não eram bem vedados, os resíduos escorriam e queimavam a pele dos escravizados, deixando marcas semelhantes às listras de um tigre, daí a origem do apelido.



Os relatos sobre o cotidiano nas fazendas revelam também práticas desumanas impostas às mulheres escravizadas. Em muitas propriedades, baronesas obrigavam meninas de 12 ou 13 anos a engravidar para que pudessem amamentar os filhos dos senhores, uma das páginas mais sombrias da história do Brasil colonial e imperial.



Conta-se que, em certa ocasião, uma jovem escrava doméstica da Fazenda dos Coqueiros faleceu em decorrência de uma hemorragia durante a gravidez. Como o dia coincidiu com uma festa na casa, a baronesa ordenou que o corpo fosse enterrado na cozinha de terra batida, como forma de “lembrar o seu lugar” e servir de exemplo aos demais escravos, que não podiam morrer em dias festivos, um episódio que ainda hoje causa profunda comoção aos visitantes.



Com pé-direito alto e cômodos amplos, o casarão da fazenda impressiona pela arquitetura e pela engenhosidade construtiva. Apesar de imponente, seu interior é surpreendentemente frio, para amenizar a temperatura, sob a casa, em uma base de terra batida com cerca de 1,20 metro de altura, ficava a senzala dos escravos domésticos, cujo calor humano ajudava a aquecer os ambientes superiores.



Entre as peculiaridades da propriedade está também o banheiro anexo ao casarão, projetado para despejar os dejetos diretamente em um canal de água corrente. Esse canal seguia pelo lado da casa e desembocava em um grande fosso, onde os resíduos se acumulavam.



Tragicamente, o fosso era utilizado como instrumento de castigo: escravos eram pendurados de cabeça para baixo nesse espaço e submetidos à asfixia parcial pela água até confessarem o que o barão exigia. Para disfarçar a função do local, o fosso era coberto por uma roda d’água, removida apenas quando se pretendia aplicar punições.




A visita à Fazenda dos Coqueiros de Bananal (SP) é uma experiência marcante. Além de revelar o esplendor arquitetônico e econômico da época, confronta o visitante com a dura realidade da escravidão, lembrando que o luxo e o progresso da elite cafeeira foram construídos sobre o sofrimento de milhares de pessoas.



Após a visita, retomamos nossa viagem pela Rodovia dos Tropeiros, carregando conosco um misto de admiração pela história preservada e reflexão sobre o passado.



Poucos quilômetros adiante, chegamos a Arapeí, uma pequena cidade encantadora, onde fizemos uma breve pausa para um lanche antes de continuar o percurso.



Com 89 quilômetros de extensão, a Rodovia dos Tropeiros atravessa o Vale Histórico Paulista, seguindo o antigo caminho do ouro, a rota usada pelos tropeiros e mineradores para transportar riquezas das Minas Gerais até o litoral do Rio de Janeiro.



Foi por esse mesmo caminho que Dom Pedro I passou em 1822, durante sua viagem que culminaria na Proclamação da Independência do Brasil. No dia 16 de agosto, o então príncipe pernoitou na Fazenda Três Barras, em Bananal, antes de seguir viagem rumo a São Paulo.



A jornada de Dom Pedro I é repleta de curiosidades históricas e episódios pitorescos. O imperador era conhecido por ser excelente cavaleiro e costumava se adiantar à comitiva. Em 17 de agosto, chegou sozinho, exausto e queimado de sol, à Fazenda Pau d’Alho, em São José do Barreiro.



Sem revelar sua identidade, pediu apenas um prato de comida e, por não ser reconhecido, foi servido na cozinha junto às escravas, um episódio que se tornou uma das passagens mais humanas e curiosas da viagem que mudaria o destino do país.



Reza a lenda que, semanas depois, em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I sofria de fortes dores intestinais quando, às margens do Riacho Ipiranga, foi alcançado por mensageiros trazendo as cartas de José Bonifácio e da Princesa Leopoldina, instando-o a proclamar imediatamente a Independência do Brasil.



E assim, em meio a circunstâncias inusitadas e urgentes, ocorreu o célebre grito: “Independência ou Morte!”, um momento decisivo na história nacional.



Tivemos a oportunidade de visitar, em 2017, o Parque da Independência, em São Paulo, local que abriga o Museu do Ipiranga e o Monumento à Independência, erguido às margens do riacho que inspirou o hino e o imaginário histórico do país, uma visita memorável que merece ser lembrada aqui.



Voltando à nossa viagem, seguimos pela sinuosa Estrada dos Tropeiros, cruzando os municípios de Arapeí, São José do Barreiro, Areias e Silveiras.



Pequenas cidades cheias de charme, história e autenticidade, que preservam tradições seculares e compõem o coração do Vale Histórico Paulista, um verdadeiro tesouro cultural do interior de São Paulo.



No meio da tarde, encerramos nosso percurso pela tranquila Estrada dos Tropeiros (SP-068) e alcançamos o entroncamento com a movimentada BR-116, uma das rodovias mais importantes do país.



Entre o intenso tráfego de caminhões e carretas, seguimos pela rodovia federal com atenção redobrada, enfrentando o ritmo acelerado e exigente desse grande corredor logístico que liga o Rio de Janeiro a São Paulo.




Avançamos pela Rodovia Presidente Dutra (BR-116) até Taubaté, onde finalmente deixamos para trás o trânsito pesado e acessamos a SP-123, também conhecida como Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, via que conduz às montanhas de Campos do Jordão, um dos destinos turísticos mais visitados do estado.



Assim que entramos na SP-123, nuvens densas e escuras começaram a se formar no horizonte, prenunciando a chegada de uma tempestade.



Era uma típica tarde de quarta-feira quente, nos últimos dias da Moto Expedição 2020: Belas Rotas. Sob um calor sufocante e espírito aventureiro, decidimos ignorar as capas de chuva e seguir viagem, confiando na sorte, afinal, já estávamos acostumados a enfrentar o imprevisível.



Seguimos sem interrupções, subindo a impressionante Serra da Mantiqueira, que se eleva a quase 1.000 metros de altitude em menos de 20 quilômetros de estrada. A cada curva, a vista se tornava mais espetacular, revelando vales profundos, encostas cobertas por mata nativa e o ar fresco característico das montanhas.



A Serra da Mantiqueira, nome que vem do tupi “amana-tykyra”, que pode ser traduzida para “gota de chuva”, é um dos principais patrimônios naturais do Brasil, abrangendo os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.



É considerada uma das regiões mais ricas em nascentes de água potável do país, abrigando mananciais que alimentam importantes bacias hidrográficas e uma biodiversidade exuberante, com espécies típicas da Mata Atlântica e do Cerrado.



Logo após cruzarmos um túnel curvo de cerca de 200 metros, seguimos por uma sucessão de curvas até que a chuva finalmente nos alcançou, fazendo jus ao nome Mantiqueira. Em poucos minutos, o cenário se transformou: a serra se envolveu em neblina e o verde ganhou tons prateados sob a água que caía firme.



Confesso que já sentia falta da chuva, nossa fiel companheira ao longo desta moto expedição. Ela demorou a chegar naquele dia, mas, quando veio, não decepcionou. Foi uma pancada rápida e intensa, que nos encharcou por completo e reduziu drasticamente a sensação térmica, agravada pelo vento frio das montanhas.



Mas foi justamente essa chuva que nos presenteou com um dos pôr do sol mais deslumbrantes de toda a viagem.



Já em território pertencente ao município serrano de Campos do Jordão, paramos a Formosa no Mirante Vista Chinesa, também conhecido como Belvedere Vista Chinesa.



Do alto do Mirante Vista Chinesa, admiramos um pôr do sol inesquecível: o astro-rei se escondia lentamente atrás das montanhas, enquanto a neblina dançava sobre o Vale do Lajeado, tingindo o céu com tons dourados, rosados e lilases. Um espetáculo da natureza que parecia feito sob medida para encerrar o dia.



Depois de alguns minutos de silêncio e contemplação, retomamos o caminho pelos poucos quilômetros restantes até o Pórtico de Campos do Jordão, um dos cartões-postais da cidade.


Lá, fizemos uma breve parada para registrar uma foto clássica do termômetro, que marcava agradáveis 18 °C, um alívio refrescante depois de enfrentar mais de 35 °C ao longo do dia.


Ao chegarmos ao centro de Campos do Jordão (SP), a charmosa cidade conhecida como “A Suíça Brasileira” nos recebeu com seu clima ameno, arquitetura alpina e atmosfera acolhedora.

Encontramos um hotel confortável para descansar e, já instalados, brindamos o dia com um tradicional chopp de vinho, bebida típica da região, uma forma perfeita de celebrar mais uma etapa concluída da nossa viagem sobre duas rodas.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Bananal – SP e Campos do Jordão – SP.
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