Viagem de Moto de Erechim a Vila Maria (RS): Cascata do Porongo e Santuário Nossa Senhora da Salete

Após contemplar um nascer do sol cinematográfico na “Capital da Amizade”, iniciamos nossa viagem de moto partindo de Erechim (RS) rumo a Vila Maria (RS). No município conhecido como “Capital Regional do Ecoturismo”, percorremos estradas de terra pelo interior e visitamos um dos atrativos naturais mais impressionantes do norte gaúcho: a bela Cascata do Porongo. Depois, seguimos explorando o centro da cidade, onde conhecemos a Igreja Nossa Senhora da Saúde, e encerramos o passeio no Santuário Nossa Senhora da Salete, que abriga uma das maiores imagens da santa no mundo. Ao final da tarde, regressamos ao nosso lar com mais um dia especial registrado na memória.

Bom dia, Erechim, Rio Grande do Sul! Acordamos antes do amanhecer no primeiro sábado de abril, quando o céu da “Capital da Amizade” ainda era tomado pela penumbra.

Aos poucos, fomos presenteados com um espetáculo que transformou o horizonte em uma verdadeira pintura natural.

Tons violeta, rosados e amarelos ganharam vida enquanto o sol surgia lentamente, iluminando as imponentes araucárias que marcam a paisagem do Alto Uruguai Gaúcho.

Para completar o cenário, aviões cruzavam o céu deixando rastros vaporosos que pareciam dialogar com aquele início de manhã frio e sereno.

Enquanto observávamos essa mudança gradual de cores e luz, saboreamos um café da manhã simples e revigorante, ideal para começar mais um dia de estrada.

Logo seguimos até a garagem para retirar a capa da Formosa, nossa moto que, nos períodos de descanso, é sempre protegida com cuidado contra o frio típico do sul do Brasil.

Pouco depois, o som firme do motor Harley-Davidson V-Twin da Formosa preencheu o ambiente, anunciando o início de mais uma viagem de moto.

Vestimos nossas jaquetas e equipamentos de viagem e deixamos Erechim nas primeiras horas da manhã, rodando pela RS-135 em direção ao sul, com o sol já brilhando no céu azul e a temperatura baixa acompanhando os primeiros quilômetros.

O destino do dia era um dos mais belos atrativos naturais do norte gaúcho: a Cascata do Porongo, localizada no município de Vila Maria (RS).

Com o trânsito tranquilo e fluindo muito bem, rapidamente percorremos os 79 quilômetros da ERS-135 até o principal trevo de acesso a Passo Fundo (RS).

Contornamos a cidade, que hoje abriga cerca de 215 mil habitantes e se destaca como polo regional de saúde, educação e serviços, e seguimos pela RS-324 no sentido leste, acompanhados por uma paisagem marcada por campos ondulados e áreas de mata nativa.

À medida que avançávamos pela rodovia sinuosa, o cenário seguia encantador, e não demorou para chegarmos ao trevo principal de acesso a Marau (RS).

A partir dali, após rodarmos mais alguns quilômetros, alcançamos finalmente o município de Vila Maria (RS), nosso destino do dia.

Pequena, acolhedora e marcada pela forte influência da imigração italiana, Vila Maria está situada a aproximadamente 260 quilômetros de Porto Alegre e conta com cerca de 4.300 habitantes.

Tornou-se município em 1988, mas sua história começou ainda no início do século XX, com a chegada de colonos provenientes de Bento Gonçalves, Antônio Prado, Caxias do Sul e outras cidades da Serra Gaúcha.

O nome da localidade surgiu por volta de 1917, quando Maria Busato (viúva, mãe de vários filhos e empreendedora nata) adquiriu terras, abriu loja, pousada e passou a receber viajantes que cruzavam a região. Sua hospitalidade era tão marcante que o lugar ficou conhecido simplesmente como “Vila Maria”, nome que permaneceu e acabou oficializado.

Em meio a colinas suaves e vales verdes, o município está a cerca de 455 metros de altitude e abriga uma série de atrativos naturais, como a Cascata do Maringá, a Cascata do Porongo, a Cascata das Bruxas e o Monte di Vedana.

Esses locais não apenas impressionam pela beleza, mas também oferecem oportunidades para aventura, incluindo rapel, escalada, tirolesa, canionismo e até voo livre.

Não por acaso, Vila Maria (RS) conquistou o título de “Capital Regional do Ecoturismo”, consolidando-se como referência para quem busca contato direto com a natureza.

Com esse cenário inspirador, seguimos rumo ao interior do município para explorar suas estradas de terra e algumas de suas principais atrações naturais.

Nosso plano inicial era conhecer a famosa Cascata do Maringá, considerada a mais alta cachoeira de Vila Maria, com impressionantes 54 metros de queda.

Após rodarmos pouco mais de 5 quilômetros pela estrada de terra, chegamos a um entroncamento onde o acesso estava parcialmente bloqueado por cones.

Como havia espaço suficiente para a passagem da Formosa, avançamos com cautela, desviando de galhos e alguns trechos mais irregulares do caminho. Porém, logo adiante encontramos uma barreira de terra que impedia completamente a continuidade pela estrada.

Diante da impossibilidade de seguir com a Formosa e considerando que estávamos usando jaquetas de viagem, capacetes e sem um local seguro onde pudéssemos deixar a moto estacionada, concluímos que não seria prudente continuar o trajeto a pé, mesmo restando apenas 2.500 metros para alcançar a propriedade.

Assim, decidimos adiar a visita à Cascata do Maringá para uma próxima oportunidade, quando pudermos acessar o local com mais tranquilidade e segurança.

Voltamos então pelo mesmo caminho, agora seguindo em direção ao centro de Vila Maria (RS).

Menos de um quilômetro antes de chegar à área central, encontramos um entroncamento com uma placa indicando, no sentido oposto, o acesso à Cascata do Porongo.

Sem hesitar, seguimos por essa estrada, que se revelou curta e bastante agradável. Foram menos de 3 quilômetros por uma via de terra com algumas pedras soltas, porém em boas condições, acompanhados por um cenário bucólico e pela poeira levantada por um ônibus que seguia adiante.

Chegamos empoeirados e com sede à propriedade onde fica o Complexo Cascata do Porongo, sendo recepcionados de forma calorosa pelo proprietário.

A estrutura do Complexo da Cascata do Porongo em Vila Maria (RS) impressiona pela organização e cuidado: área de camping com pontos de luz, banheiros com chuveiros elétricos, uma cozinha comunitária, bar, lanchonete, campo de futebol, churrasqueiras e diversos espaços de convivência distribuídos em meio à vegetação exuberante.

Com a moto estacionada em uma sombra convidativa, iniciamos a curta trilha de 150 metros que acompanha um riacho pedregoso e passa diante da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes.

Mesmo dali já era possível avistar a bela Cascata do Porongo, nossa principal atração do dia.

Com seus 31 metros de queda, a água despenca com força pelo paredão rochoso, formando um poço de cerca de 5 metros de profundidade, um espetáculo natural de tirar o fôlego.

Atravessamos o riacho saltando entre as pedras até encontrar um ponto perfeito para nos acomodar e preparar um bom chimarrão.

Com o meio-dia se aproximando, saboreamos pãezinhos de queijo feitos com batata-doce, preparados com capricho pela Sayo no dia anterior, e completamos a refeição com laranjas doces e refrescantes.

Depois, retornamos ao outro lado do riacho e passamos horas contemplando a paisagem da Cascata do Porongo, absorvendo a energia calma e revitalizante do lugar.

O som constante da água se misturava ao movimento suave da brisa entre as árvores e ao canto dos pássaros, criando uma atmosfera de paz difícil de descrever.

Enquanto observávamos o entorno da Cascata do Porongo com mais atenção, ficou evidente como a natureza ali forma um cenário único, resultado da combinação entre relevo, água e vegetação típica da região.

Essa vegetação mais baixa, composta por xaxins, bromélias e samambaias que crescem próximas aos cursos d’água, ajuda a criar um microclima fresco e sombreado, favorecido pela umidade constante gerada pela queda. Caminhar pela trilha é, por si só, uma experiência sensorial: o ar mais frio, o cheiro da mata e o som da água formam um conjunto difícil de encontrar em ambientes mais secos ou abertos.

Logo ao redor, a presença marcante de araucárias e árvores de erva-mate revela a história natural do norte gaúcho. Esses remanescentes da antiga floresta com araucária mostram que, mesmo com a expansão agrícola ocorrida ao longo do século XX, alguns fragmentos desse ecossistema característico ainda resistem e seguem formando corredores verdes importantes para a fauna regional.

Além disso, toda a área de Vila Maria (RS) e dos municípios vizinhos integra um corredor ecológico que abriga diversas espécies nativas do Rio Grande do Sul. Não é raro que visitantes escutem, ao longe, o chamado grave do bugio-ruivo ecoando pelos vales — um som típico das matas da região e um lembrete da rica biodiversidade que ainda habita esses remanescentes florestais.

Entre uma foto e outra, observamos diversas aves, insetos e até mesmo um urubu solitário caminhando com tranquilidade pela borda superior da cascata.

Como não poderia faltar no outono gaúcho, levamos também bergamotas (ou mexericas, mimosas, dependendo da região) que, acompanhadas do chimarrão amargo, compuseram mais um momento típico e saboroso desse cenário.

Antes de irmos embora, ainda conseguimos registrar um surucuá-variado e um pica-pau, ambos exibindo cores vivas que contrastavam com o verde ao redor.

Revigorados, despedimo-nos do Complexo Cascata do Porongo no meio da tarde e retornamos ao centro de Vila Maria (RS).

Lá, fizemos uma breve parada diante da Igreja Nossa Senhora da Saúde, inaugurada em 1954 e com estilo arquitetônico românico, destacando-se por sua torre de 30 metros de altura.

Como ocorre em muitas cidades gaúchas, a Igreja Matriz de Vila Maria está localizada de frente para a praça principal, a Praça da Emancipação, um espaço amplo, arborizado, repleto de bancos, flores e um parque infantil.

Observando a Formosa parada ao sol, percebemos que, o passeio também contribuiu para deixá-la ainda mais marrom do que o habitual, parte natural do charme de viajar por estradas de terra.

Seguimos então em direção ao Santuário Nossa Senhora da Salete, situado no alto de um morro a 200 metros da RS-324.

O local abriga uma das maiores imagens de Nossa Senhora da Salete do mundo, com impressionantes 7 metros de altura, e é amplamente procurado em romarias e peregrinações.

Além da vista privilegiada, o santuário conta com boa infraestrutura, como lanchonete, quiosques, banheiros e áreas sombreadas para descanso.

Enquanto nos preparávamos para deixar o local, percebemos alguns vultos atrás da lanchonete e, ao nos aproximarmos, identificamos um pequeno grupo de quatis (ágeis e curiosos) aproveitando sua refeição. Foi um instante inesperado e divertido antes de voltarmos para a estrada.

Partimos de Vila Maria no meio da tarde, com uma parada rápida em Passo Fundo para lanchar, e de lá seguimos pela RS-135 em direção a Erechim (RS).

Ao percorrermos os últimos quilômetros rumo ao Alto Uruguai Gaúcho, percebemos que o dia se encerrava exatamente como havia começado: com um espetáculo natural.

Se pela manhã havíamos acompanhado o sol nascer sobre Erechim, agora observávamos o sol se pôr no horizonte do norte gaúcho, tingindo novamente o céu com tons alaranjados e rosados.

Foi uma bela forma de encerrar um passeio que uniu estrada, natureza, história e boas lembranças.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Erechim – RS e Vila Maria – RS.