Cânion Perau do Facão em Arvorezinha: Descubra a Cascata Mais Bonita do RS

Apesar da chuva que se iniciou em Erechim na tarde de sexta-feira, decidimos não desistir da nossa viagem planejada para o fim de semana. Nosso destino era explorar o esplêndido Cânion Perau do Facão, localizado no município gaúcho de Arvorezinha, e conhecer uma das cachoeiras mais bonitas do Rio Grande do Sul: a incrível Cachoeira do Perau do Facão.

Os primeiros pingos de chuva começaram a cair no início da tarde desta sexta-feira em Erechim, coincidindo com nossa saída da garagem e o início de um novo passeio a bordo da Formosa.

Chuva mais do que bem-vinda, afinal, a região do Alto Uruguai, assim como grande parte do sul brasileiro, tem enfrentado um extenso período de estiagem nos últimos meses.

Partimos da “Capital da Amizade” pela rodovia RS-135, seguindo em direção ao sul.

Ao contornarmos Getúlio Vargas, nos deparamos com uma fila de veículos parados ao longo da via devido a um sistema de pare e siga, ocasionado pelas obras em andamento na pista.

Em instantes, a estrada foi liberada, e continuamos nossa jornada sob a chuva até alcançar a entrada principal da cidade de Passo Fundo.

No amplo trevo de interseção entre a RS-135 e a BR-285, abandonamos a estrada estadual e passamos a seguir pela rodovia federal em direção oeste.

Após uma breve pausa para hidratação, continuamos nossa jornada pelo anel viário de Passo Fundo e, sem a persistência da chuva, entramos na rodovia BR-153 em direção ao sul.

Apenas alguns quilômetros na Rodovia Transbrasiliana foram suficientes para nos depararmos com outro ponto de pare e siga, mais uma vez devido às obras de recuperação asfáltica.

Em seguida, atravessamos a pequena cidade de Ernestina.

E chegamos ao município de Tio Hugo, que recebe um fluxo diário de cerca de 25.000 veículos, sendo estrategicamente localizado no ponto central entre Buenos Aires e São Paulo.

Nesse ponto, realizamos uma breve pausa para abastecer a moto, nos alimentamos e retomamos nossa jornada pela BR-153, que compartilha o trajeto com a BR-386 de Tio Hugo até Soledade.

A partir de Soledade, o azul começou a dominar o céu.

Cercados por uma paisagem deslumbrante e em meio a um intenso fluxo de veículos, nos despedimos da pedagiada BR-386, adentrando na RS-332.

Pela rodovia de pista simples e com estreito acostamento, acessamos a região conhecida como Vale do Taquari.

O cenário ao nosso redor passou a ser composto por extensas áreas de pastagem, belos rebanhos bovinos, algumas áreas de cultivo e outras destinadas à criação de ovinos.

Com o fim do dia de aproximando adentramos na Rota da Erva-Mate.

Após percorrer aproximadamente 200 quilômetros, alcançamos o destino do dia: Arvorezinha.

Em Arvorezinha, sequer acessamos o centro da cidade; na verdade, seguimos no sentido oposto, em direção a Fontoura Xavier.

Percorremos apenas alguns metros pela estrada de calçamento até chegarmos ao local pretendido: o Parque das Araucárias, ainda em terras de Arvorezinha, RS.

Ao chegar na vasta e encantadora área arborizada, encontramos um local propício e, antecipando-se ao pôr do sol, prontamente montamos a barraca Naturehike Cloud UP para inaugurar o primeiro acampamento do ano.

Assim que montamos a barraca e organizamos os equipamentos, as alegres e tagarelas gralhas-azuis prontamente vieram nos recepcionar.

A experiência de observar animais livres em seu habitat natural é verdadeiramente gratificante e emocionante. Permanecemos por vários minutos apreciando a beleza das aves.

Finalmente, exploramos os arredores do local onde montamos a barraca.

O Parque das Araucárias oferece uma excelente estrutura para camping, com pontos de luz, água encanada, banheiros equipados com chuveiro elétrico e diversas churrasqueiras integradas à exuberante vegetação.

Adicionalmente, o local dispõe de um lago com pedalinhos, um salão de eventos, quadra esportiva, áreas para caminhada pela natureza, piscina e várias cabanas para hospedagem.

Após explorarmos a área onde estamos instalados, preparamos um chá da tarde/jantar, desfrutando de algumas frutas e sanduíches que trouxemos de casa.

Após nos alimentarmos adequadamente, apreciamos o maravilhoso entardecer. Com a chegada da noite, nos recolhemos para descansar, pois amanhã exploraremos uma das principais belezas naturais de Arvorezinha, o Cânion Perau do Facão.

Trajeto percorrido no dia:

Assim que o sábado amanheceu, os pássaros iniciaram seu canto, e entre várias melodias misturadas, despertamos e prontamente nos levantamos.

Antes mesmo do nascer do sol, começamos os preparativos para o café da manhã.

Com uma imensa tranquilidade, pudemos apreciar a Lua cedendo espaço para a chegada do Sol.

Quando os primeiros raios solares começaram a iluminar a copa das árvores que adornam o Parque das Araucárias, já estávamos desfrutando de um delicioso café da manhã.

Arvorezinha, atualmente com cerca de 10.000 habitantes, está situada a uma altitude de 750 metros acima do nível do mar e fica a aproximadamente 200 quilômetros da capital Porto Alegre.

Os primeiros colonizadores chegaram a estas terras no início do século XX, sendo em sua maioria descendentes de imigrantes italianos originários das cidades de Antônio Prado, Veranópolis, Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Garibaldi.

Na época, a localidade foi denominada Alto Figueira, e alguns relatos indicam que a origem desse nome está relacionada ao primeiro morador a se estabelecer na região, Lino Figueira.

Segundo historiadores, o nome Figueira também pode fazer referência a uma árvore homônima localizada ao lado da igreja matriz.

Com o passar dos anos, o povoado passou por diversas mudanças de nome até finalmente ser chamado de Arvorezinha (como é de se imaginar, a Figueira localizada ao lado da igreja matriz é, ou era, bem pequena). Em 1959, ocorreu o processo de emancipação do município.

Atualmente, a economia de Arvorezinha é fundamentada na agricultura de pequenas propriedades, com destaque para o cultivo de erva-mate. Essa cultura é responsável pela presença significativa de indústrias ervateiras distribuídas pelo município, conferindo à cidade o título notório de “Terra da Erva-Mate e do Melhor Chimarrão”.

Após o café da manhã, desmontamos o acampamento, carregamos a Formosa e nos despedimos do Parque das Araucárias.

Prosseguimos pela estrada que atravessa o interior de Arvorezinha e se estende até o município vizinho de Fontoura Xavier.

Os primeiros metros da estrada são revestidos por paralelepípedos, seguidos por um pequeno trecho de asfalto e, por fim, a via se transforma em terra com algumas pedras soltas.

De qualquer forma, a estrada de terra estava em ótimo estado de conservação, e em breve superamos os 7 quilômetros, cercados por uma bela paisagem que inclui uma esbelta floresta de araucárias e diversas árvores de erva-mate.

Até alcançarmos o acesso ao principal atrativo de nossa viagem: o magnífico Cânion Perau do Facão.

Ao chegarmos ao local, adquirimos os ingressos, colocamos as pulseiras de identificação e recebemos todas as informações necessárias para visitar e conhecer um pouco da história dessa verdadeira maravilha natural.

“Perau” é uma denominação bastante comum no sul do Brasil, utilizada para indicar um grande declive que geralmente termina em direção a um rio ou arroio.

Como previsto, o Cânion Perau do Facão é caracterizado por essa formação, envolto por diversos tons de verde e um verdadeiro precipício com cerca de 80 metros de altura.

No fundo do cânion, as águas do pequeno Arroio Figueirinha serpenteiam entre a mata após se precipitarem pelo abismo, originando uma impressionante cascata dividida em duas belas quedas.

O parque natural que abriga o Cânion Perau do Facão foi inaugurado em novembro de 2021 e, desde então, tem passado por melhorias em suas instalações.

O parque oferece um total de 2,9 km de trilhas, divididas em quatro etapas distintas:

• Trilha Acessível: percorre o topo do perau, com 250 metros de extensão e acessibilidade.
• Trilha da Grutinha: conduz até uma pequena gruta próxima a uma cachoeira.
• Trilha das Corticeiras: avança pela mata até uma bela queda d’água.
• Trilha do Perau: leva o visitante aos pés da Cascata do Perau do Facão.

Antes da atual estrutura, o local contava com uma trilha utilizada pelos pescadores para acessar o poço formado na base da Cascata do Perau do Facão.

A trilha, que tem início no topo da formação rochosa e avança estreitando-se progressivamente entre o cânion, assemelha-se à lâmina de um facão. Inclusive, ao observar o cânion de cima, é possível notar o formato semelhante a uma faca, explicando assim a origem do seu nome: Cânion Perau do Facão.

A Trilha Acessível é praticamente plana, projetada para recever visitantes cadeirantes, e oferece dois mirantes que proporcionam a contemplação da imponência do Salto do Perau.

Essa queda d’água foi eleita a cascata mais bonita do Rio Grande do Sul no concurso Batalha das Cascatas Gaúchas 2023, concorrendo com outras 63 cachoeiras.

Do alto do cânion, é possível avistar as outras duas cascatas presentes no parque: a Cachoeira da Grutinha e a Cachoeira das Corticeiras.

Devido à seca que assola grande parte do sul do Brasil há meses, ambas as cachoeiras estão praticamente secas, permitindo-nos visualizar as enormes rochas que, em épocas normais, ficam encobertas pelas águas correntes.

Ao chegarmos à “ponta do facão”, onde o estreito braço da parte superior do cânion termina, iniciamos a descida por inúmeros degraus e um declive bastante acentuado.

Envoltos pela imponente Mata Atlântica, seguimos pela trilha admirando antigos xaxins, belas samambaias e diversas plantas nativas.

Em instantes, nos deparamos com as águas do Arroio Figueirinha, que tem origem na cidade de Arvorezinha e deságua no Rio Forqueta, este por sua vez desembocando no Rio Taquari.

Cruzamos o rio caminhando sobre as águas pulando pelas pedras. Na margem oposta, iniciamos a ascensão que nos conduziu até a pequena cavidade natural rochosa, situada ao lado da Cachoeira da Grutinha.

No local, aproveitamos para descansar por alguns minutos, nos hidratar e saborear algumas frutas frescas.

Em seguida, regressamos à trilha principal e seguimos em direção à segunda cachoeira, desta vez a Cachoeira das Corticeiras.

No local, um pequeno filete de água escorria timidamente pelo paredão rochoso. Aproveitamos para nos sentar em uma pedra, praticamente aos pés da cachoeira, absorvendo e se beneficiando de toda a energia do ambiente.

Enquanto contemplávamos, imaginamos a beleza ainda mais grandiosa do local quando as águas estiverem em seu nível normal.

Minutos depois, retomamos a caminhada, afinal, a maior de todas as quedas, e esta com um bom volume de água, estava à nossa frente.

Retornamos à beira do Arroio Figueirinha e, caminhando por sua margem, nos deparamos com a magnífica Cascata do Perau do Facão.

Mesmo com uma vazão consideravelmente menor do que o habitual, a beleza e magia da Cascata do Perau do Facão continuam encantadoras.

Assim que chegamos ao lado do circular poço formado aos pés da cachoeira, capturamos algumas fotos. Mais uma vez, cruzamos as águas do arroio, saltando entre as pedras.

Aliás, vale registrar que concluímos a trilha sem nenhum tombo, algo quase inacreditável, considerando que estou usando as mesmas botas que já me acompanharam em diversas aventuras e me fizeram comprar terrenos em Piratuba – Santa Catarina, Guapimirim – Rio de Janeiro, e tantos outros lugares deste mundão afora.

A trilha prossegue até uma gruta formada atrás da cachoeira. Claro que não me arrisquei a ir até lá, mas a valente Sayo e o destemido FredLee cumpriram a missão.

Por fim, nos acomodamos em uma grande pedra que mais parecia uma poltrona, estrategicamente posicionada no local de onde é possível contemplar as duas partes da imponente Cachoeira do Perau do Facão.

No local, preparamos nosso fiel companheiro tereré (estavam sentindo a falta dele, né?) com a tradicional e saborosa Erva-Mate Kurupí. Além disso, desfrutamos de alguns quitutes feitos pela Sayo no dia anterior, acompanhados de frutas, é claro.

Dedicamos vários minutos, ou quem sabe horas, para contemplar tamanha beleza natural. Ouvimos o canto dos pássaros, apreciamos o relaxante som da cascata, sentimos a brisa no rosto, observamos coloridas borboletas e admiramos toda a grandiosidade da mãe natureza.

Completamente revigorados, iniciamos nosso retorno, que é feito pelo lado oposto do Arroio Figueirinha, contornando o enorme paredão de pedra que sustenta o Facão do Cânion. Ou seria o Cânion do Facão?

Bom, não importa. Suados, cansados e com um sorriso enorme no rosto, retornamos ao topo do Cânion Perau do Facão, onde a Formosa nos aguardava ansiosa para percorrer a estrada de terra de volta ao centro de Arvorezinha – RS.

Durante nosso retorno, fizemos uma breve pausa para fotografar a Gruta Nossa Senhora de Lourdes.

Já no centro de Arvorezinha, paramos ao lado do Museu do Tijolo, que, embora estivesse fechado, nos permitiu vislumbrar através de suas paredes de vidro uma verdadeira obra de arte: um antigo Chevrolet pertencente à Cerâmica Fachinetto.

Dali, percorremos a área central da cidade e subimos até o topo do morro onde está localizada a Igreja São João Batista.

O templo religioso é visível de praticamente toda a cidade, assim como de alguns pontos da rodovia para quem vem de Soledade ou até mesmo de Ilópolis.

A igreja matriz de Arvorezinha foi construída pelos próprios imigrantes e inaugurada em 1942, representando um dos patrimônios históricos e arquitetônicos mais preciosos da região.

De frente para a igreja, na parte inferior, encontra-se a Prefeitura Municipal.

Quando verificamos o relógio, notamos que os ponteiros avançavam das 16h00. Sem hesitar, passamos no mercado para abastecer os alforges da Formosa com água e comida, pois decidimos passar mais uma noite acampando no Parque das Araucárias.

Com a barraca devidamente armada, encerramos o dia à moda dos motoqueiros malvadões que somos: saboreando um iogurte natural acompanhado por nutritivas bananas passas preparadas pela Sayo.