Turismo em Campos do Jordão – SP e Viagem de Moto ao Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo em Monteiro Lobato

Dedicamos a manhã desta quinta-feira a explorar os principais atrativos turísticos de Campos do Jordão (SP), desbravando alguns dos destinos mais encantadores da cidade tida como a “Suíça Brasileira”. Visitamos o Complexo Turístico Ducha de Prata, a charmosa Praça Benedito Calixto e o vibrante Parque Capivari. Após conhecer a tradicional Vila Abernéssia, iniciamos uma viagem de moto inesquecível pela sinuosa Rodovia Monteiro Lobato (SP-050), com suas curvas panorâmicas e vistas deslumbrantes da Serra da Mantiqueira, até chegar à acolhedora cidade de Monteiro Lobato, lar do Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo, o cenário real que inspirou as histórias do escritor José Bento Monteiro Lobato e que mantém viva a essência da cultura e da literatura infantil brasileira.

Acordamos cedo e, depois de um delicioso café da manhã, partimos para explorar algumas das principais atrações turísticas de Campos do Jordão (SP), uma das cidades mais encantadoras da Serra da Mantiqueira.

A bordo da Formosa, cruzamos as ruas centrais dessa charmosa cidade serrana paulista. Nossa primeira parada do dia foi no Complexo Turístico Ducha de Prata, um dos cartões-postais mais visitados de Campos do Jordão.

O Complexo Turístico Ducha de Prata é formado por quedas-d’água artificiais criadas a partir do desvio do curso do Ribeirão das Perdizes. O sistema de canalização produz belas cascatas que encantam os visitantes com um visual deslumbrante e uma atmosfera relaxante em meio à natureza exuberante da serra.

No passado, o local funcionava como um balneário frequentado pela alta sociedade, utilizado tanto para banhos quanto para momentos de lazer e descanso. Hoje, o espaço foi revitalizado e conta com plataformas de madeira que permitem caminhar entre as cascatas e apreciar o cenário de diferentes ângulos.

Além das passarelas, o Complexo Turístico Ducha de Prata oferece atividades ao ar livre, como tirolesa, arvorismo, arco e flecha, trilhas ecológicas e mirantes com vistas panorâmicas para as montanhas e vales da Mantiqueira. As lojas de lembranças e produtos regionais completam a experiência.

O nome Ducha de Prata vem do efeito visual das águas ao descerem pelas pedras, refletindo a luz do sol como se fossem fios de prata líquida, um espetáculo natural que rende belas fotos.

Localizada no coração da Serra da Mantiqueira, Campos do Jordão está a 1.628 metros de altitude, sendo o município com sede administrativa mais elevada do Brasil. Essa altitude confere à cidade um clima ameno e paisagens deslumbrantes, fatores que ajudam a explicar seu apelido de “Suíça Brasileira”.

Antes da chegada dos colonizadores, a região era habitada por povos indígenas como os puris, caetés, guarulhos e cataguás. A partir do século XVI, exploradores portugueses, entre eles Martim Corrêa de Sá e Inácio Caetano Vieira de Carvalho, começaram a desbravar essas terras.

Em 1771, Inácio Caetano Vieira de Carvalho fundou a Fazenda Bom Sucesso, e, posteriormente, em 1823, o local foi vendido ao Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, que a rebatizou como Fazenda Natal. Com o tempo, a propriedade ficou conhecida como os Campos do Jordão, nome que viria a batizar a futura cidade.

A fundação oficial de Campos do Jordão ocorreu em 29 de abril de 1874, por Matheus da Costa Pinto, que ergueu uma venda, uma pensão, uma capela e uma escola. Já a emancipação político-administrativa se deu em junho de 1934, marcando o início da trajetória da cidade como município independente.

No início do século XX, o clima puro e o alto teor de oxigênio de Campos do Jordão tornaram o local referência nacional no tratamento da tuberculose. Foram construídos vários sanatórios, atraindo médicos, pacientes e visitantes de todo o país, entre eles políticos, artistas e empresários.

Muitos desses visitantes acabaram se estabelecendo na cidade, contribuindo para o seu crescimento urbano e econômico. Com o advento da penicilina, nos anos 1960, e a consequente redução da tuberculose, Campos do Jordão direcionou seus esforços para o turismo, consolidando-se como um dos destinos de montanha mais procurados do Brasil.

Depois de conhecer a Ducha de Prata, seguimos pelas principais vias de Campos do Jordão até a charmosa Praça Benedito Calixto, também conhecida como Praça São Benedito.

A praça estava lindamente decorada para o Natal, criando um clima encantador e festivo, típico da cidade durante o inverno e o fim de ano.

Ao redor da Praça Benedito Calixto há lojas, cafés, restaurantes e lanchonetes, tornando o local um ponto perfeito para relaxar e aproveitar o ambiente acolhedor.

A Praça Benedito Calixto também conta com brinquedos infantis e uma concha acústica, palco de apresentações culturais e musicais, especialmente durante o famoso Festival de Inverno de Campos do Jordão, o maior evento de música clássica da América Latina.

Bem em frente à praça está a Igreja São Benedito, um dos marcos históricos e religiosos mais tradicionais da cidade.

Projetada pelos arquitetos Américo Salfati e Mário Buchighani, a Igreja São Benedito teve sua pedra fundamental lançada em 1944 e foi inaugurada dois anos depois, em 1946, tornando-se um símbolo da fé e da arquitetura local.

Após a visita ao templo, seguimos pela Rua Engenheiro Diogo de Carvalho em direção a outro ícone turístico da cidade: o Parque Capivari, que havia acabado de abrir seus portões.

Localizado no coração de Campos do Jordão (SP), o Parque Capivari é um espaço amplo e moderno que reúne lazer, gastronomia, comércio e entretenimento, com entrada gratuita e atrações para todas as idades.

Dentro do parque está a Estação Ferroviária Emílio Ribas, inaugurada em 1914. Ela fazia parte da Estrada de Ferro Campos do Jordão, idealizada por médicos para facilitar o transporte de pacientes em busca de tratamento.

Hoje, o local abriga o Centro de Memória Ferroviária, que preserva a história da ferrovia e sua importância para o desenvolvimento da cidade. Infelizmente, durante nossa visita, o espaço estava fechado por conta das restrições da pandemia.

O Parque Capivari também é lar do primeiro teleférico monocabo de cadeirinhas do Brasil, inaugurado em 1971, que oferece uma vista panorâmica inesquecível das montanhas da Serra da Mantiqueira, uma atração imperdível para quem visita Campos do Jordão.

O parque ainda conta com um lago com pedalinhos, trenó de montanha, pista de patinação no gelo, trenzinho turístico, carrossel e até uma roda-gigante, proporcionando diversão para toda a família.

Como as lojas de chocolates (um dos produtos mais famosos da cidade) ainda estavam fechadas, nos despedimos do Parque Capivari e seguimos para a Igreja Matriz de Campos do Jordão, dedicada a Santa Teresinha do Menino Jesus.

Localizada no centro do bairro Vila Abernéssia, a Igreja Matriz de Campos do Jordão teve sua construção iniciada em 1932. A escolha da santa francesa como padroeira se deve ao fato de ela ter falecido de tuberculose aos 24 anos, o que criou uma forte identificação com a história da cidade.

A Igreja Matriz de Santa Teresinha é simples e acolhedora, ideal para quem aprecia conhecer o lado espiritual dos destinos que visita.

Construída junto ao antigo convento dos franciscanos, é palco das principais celebrações religiosas de Campos do Jordão (SP).

O bairro Vila Abernéssia é o principal centro comercial do município e, por muitos anos, abrigou a sede administrativa da cidade. É uma região repleta de lojas, mercados e serviços que movimentam o dia a dia dos jordanenses.

O nome Abernéssia tem origem curiosa: foi criado em homenagem a cidades escocesas “Aber” de Aberdeen, “Ness” de Inverness e o sufixo “ia” de Escócia. A ideia partiu de seu fundador, o escocês Robert John Reid.

Ainda na Vila Abernéssia, visitamos a Praça Izabel Cury Paulo, mais conhecida como Praça da Bandeira. Assim como outras áreas da cidade, estava belamente decorada com enfeites natalinos, criando um ambiente acolhedor e festivo.

Conhecida também como Jardim de Vila Abernéssia, a praça foi inaugurada em novembro de 1942, em uma cerimônia que contou com a presença de autoridades e boa parte da população local.

Em frente à praça está o Mercado Municipal de Campos do Jordão, instalado em um prédio histórico inaugurado em 1958. O espaço manteve por muitos anos as tradicionais bancas de frutas e produtos hortifrutigranjeiros, que eram uma atração turística por si só.

No final da década de 1970, o mercado recebeu coberturas translúcidas, preservando seu charme arquitetônico e histórico.

Ao lado, encontra-se a Estação Ferroviária da Vila Abernéssia, outro ponto de interesse histórico que remete à época em que o trem era o principal meio de transporte para chegar à cidade.

Bem próximo dali está a Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, edifício que integra o centro histórico e simboliza a administração local, mantendo viva a essência e a história da “Suíça Brasileira”.

Com os ponteiros do relógio marcando 10h e o desapontamento por não termos conseguido provar o famoso chocolate de Campos do Jordão, nos despedimos da cidade pela rodovia estadual SP-050, também conhecida como Rodovia Monteiro Lobato.

Logo na saída, passamos em frente à fábrica da Cervejaria Baden Baden, uma das pioneiras na produção de cervejas artesanais de alta qualidade no Brasil, fundada em 1999 e símbolo da tradição cervejeira jordanense.

Em seguida, iniciamos a descida pela majestosa Serra da Mantiqueira, percorrendo a estreita e sinuosa Rodovia Monteiro Lobato (SP-050), um trajeto asfaltado, sem acostamento, mas com vistas de tirar o fôlego.

Conhecida também como Estrada Velha de Campos do Jordão, essa rodovia estadual serpenteia pela imponente cadeia montanhosa da Serra da Mantiqueira, revelando paisagens exuberantes e mirantes naturais ao longo de todo o percurso.

Com cerca de 100 quilômetros de extensão, a SP-050 conecta os municípios de Campos do Jordão e São José dos Campos, onde se encontra com a Rodovia Presidente Dutra (BR-116).

No caminho, passa pela pacata e acolhedora cidade de Monteiro Lobato, margeando a divisa com Minas Gerais e proporcionando vistas espetaculares das montanhas que delimitam os dois estados.

Sem dúvida, é uma das estradas mais bonitas do estado de São Paulo, merecendo destaque em nosso roteiro da Moto Expedição 2020: Belas Rotas.

Após cerca de 50 quilômetros de descida e mais de 1.000 metros de desnível, chegamos ao charmoso centro histórico de Monteiro Lobato (SP).

A pequena cidade, fundada em 1880, tem cerca de 5.000 habitantes e é carinhosamente chamada de “Pérola da Mantiqueira”, graças ao seu charme, à tranquilidade e à beleza natural da região.

Sua história está intimamente ligada à cultura cafeeira, que impulsionou o desenvolvimento local no século XIX, durante o auge do Ciclo do Café. Em 1849, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Bonsucesso do Buquira, após a doação de um terreno para a construção de uma igreja em meio às antigas fazendas de café.

Fundada em 1850, a Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso acompanhou o crescimento da cidade ao longo das décadas. Seu interior, decorado com vitrais coloridos e pinturas em estilo barroco, encanta pela beleza e pela atmosfera histórica.

As pinturas, obras do artista Antônio Limones, foram concluídas em 1952 e hoje são consideradas patrimônio cultural da cidade.

Antes de receber o nome atual, o município passou por quatro denominações: Freguesia das Estacas, Freguesia de Nossa Senhora do Bonsucesso do Buquira, Vila das Palmeiras do Buquira e Vila do Buquira.

O termo “buquira” vem do tupi e significa “Ribeirão dos Pássaros”, nome dado pelos povos indígenas ao rio que corta a região, uma referência à abundância de aves e à natureza preservada do local.

Após a visita à Igreja Matriz de Monteiro Lobato, seguimos até o Casarão do Centro, belo edifício histórico que abriga hoje a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

Logo adiante, passamos pelo Paço Municipal, instalado em um casarão do início do século XX, famoso por suas portas e janelas de madeira maciça e pela arquitetura que preserva o charme original da cidade.

Na sequência, visitamos a Gruta Nossa Senhora de Lourdes, um monumento artificial inaugurado em 1959 e criado pelo artista Francisco Ferreira Santeiro. O local tornou-se um importante ponto de devoção e contemplação, recebendo devotos que acendem velas em oração e visitantes que buscam a água pura que jorra de sua fonte natural.

Depois da parada, subimos novamente na Formosa e seguimos viagem pela Estrada do Livro, um dos trechos mais simbólicos do roteiro.

Essa estrada asfaltada e estreita, de pista simples e sem acostamento, percorre cerca de 8 quilômetros até a antiga Fazenda São José do Buquira, hoje conhecida como o Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo.

O Sítio do Picapau Amarelo, a Estrada do Livro e a cidade de Monteiro Lobato formam um conjunto cultural e histórico de enorme valor, que encanta visitantes de todas as idades. Esses locais celebram não apenas a literatura infantil brasileira, mas também a memória e o legado do escritor Monteiro Lobato, um dos maiores nomes da literatura nacional.

A origem de toda essa história está no casarão construído em 1880, que serviu como sede da Fazenda São José do Buquira e preserva até hoje seu valor histórico e arquitetônico.

Localizada a 8 km do centro urbano, a Fazenda São José do Buquira era dedicada ao cultivo de café, atividade que sustentou a economia regional por décadas.

O local era frequentado por José Bento Monteiro Lobato durante suas férias escolares, pois pertencia ao seu avô, o Visconde de Tremembé.

Com o falecimento do visconde em 1911, Monteiro Lobato herdou a propriedade e mudou-se para lá com sua esposa e dois filhos.

Embora não fosse um administrador rural experiente, Monteiro Lobato permaneceu na fazenda por sete anos, período em que teve mais dois filhos e escreveu algumas de suas obras mais importantes, como “A Velha Praga”, “Urupês” e o clássico da literatura infantil “Sítio do Picapau Amarelo”, inspirado diretamente na vida na Fazenda São José do Buquira e nos personagens da região.

Após vender o sítio, o escritor investiu na criação da Editora Monteiro Lobato, considerada a primeira editora moderna do Brasil, responsável por revolucionar o mercado editorial da época.

Hoje, a propriedade pertence a Maria Lúcia Xavier, neta de João Xavier Ribeiro, que herdou a fazenda de gerações anteriores. O local mantém seus portões abertos à visitação, convidando adultos e crianças a explorarem o espaço que inspirou personagens como Emília, Tia Nastácia, Dona Benta, Narizinho, Jeca Tatu e o Visconde de Sabugosa.

O casarão da Fazenda São José do Buquira é imponente, com 19 cômodos e mais de 60 portas e janelas, digno de um herdeiro de visconde.

Em seu interior, a mobília antiga e a biblioteca repleta de obras clássicas fazem o visitante sentir-se dentro do universo literário criado por Lobato.

Reconhecido como um dos maiores escritores brasileiros (especialmente por sua inestimável contribuição à literatura infantil), Monteiro Lobato faleceu em 1948, e, no ano seguinte, o município de Buquira foi rebatizado oficialmente como Monteiro Lobato, em sua homenagem.

No Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo, é possível passear por um pomar centenário com mangueiras, jabuticabeiras, laranjeiras e pitangueiras, tudo cercado pelas montanhas da Serra da Mantiqueira, compondo uma paisagem de rara beleza.

O riacho de águas cristalinas que atravessa a propriedade dá origem a uma bela cachoeira, cenário que inspirou a obra “No Reino das Águas Claras”, reforçando a ligação entre a literatura lobatiana e a natureza local.

Além das trilhas e áreas verdes, no Verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo há um atelier de artesanato e uma loja de doces e biscoitos artesanais e orgânicos, preparados com ingredientes regionais, que tornam a visita ainda mais agradável.

Após explorar o verdadeiro sítio onde nasceram os personagens mais amados da literatura infantil brasileira, retomamos a Estrada do Livro rumo ao centro de Monteiro Lobato, onde as ruas são enfeitadas com centenas de bonecas Emília penduradas nas lojas e postes, um charme à parte da cidade.

De volta à rodovia SP-050, seguimos viagem rumo a São José dos Campos, um dos principais polos industriais e tecnológicos do Vale do Paraíba Paulista.

Com mais de 700 mil habitantes, São José dos Campos combina urbanização moderna e áreas verdes, sendo sede de importantes instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o DCTA.

Após cruzarmos o centro da cidade, acessamos a Rodovia Presidente Dutra (BR-116) e, em seguida, a Rodovia Dom Pedro I (SP-065).

Foi então que o clima começou a mudar: nuvens cinzentas e carregadas se formaram no horizonte, prenunciando a chuva que logo cairia.

Não demorou para que um forte temporal nos surpreendesse, balançando a Formosa sob ventos intensos e repentinos.

Seguimos com cautela até Itatiba, enfrentando trânsito intenso e chuva constante, até finalmente encontrarmos um hotel aconchegante para descansar e encerrar mais um dia memorável da moto expedição deste ano.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Campos do Jordão – SP e Itatiba – SP.