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Forte Duque de Caxias: Vista da Baía de Guanabara, Pão de Açúcar e Corcovado no Melhor Mirante do Rio de Janeiro
19 de Novembro, 2020
Explore o Rio de Janeiro em um roteiro a pé imperdível: Praia de Copacabana, Praia do Leme e Forte Duque de Caxias (Morro do Leme): uma das vistas mais deslumbrantes da cidade. Visite a Urca, Praia Vermelha, Praia de Botafogo e o Parque do Flamengo.
Dedicamos o dia a um roteiro a pé pelo Rio de Janeiro, explorando algumas das paisagens mais famosas e fotogênicas da Cidade Maravilhosa. Começamos pela icônica Praia de Copacabana e seguimos para a vizinha Praia do Leme, antes de subir ao histórico Forte Duque de Caxias, um dos melhores mirantes do Rio, com vista panorâmica para a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar e o Corcovado. Não faltaram os tradicionais Biscoitos Globo para recarregar as energias. À tarde, visitamos pontos turísticos como o charmoso bairro da Urca, a Praia Vermelha e a Praia de Botafogo, encerrando o dia no Parque do Flamengo, contemplando a Praia do Flamengo e a cidade, mesmo sob chuva, acompanhados de uma refrescante água de coco.

Após uma noite de sono revigorante, embalada pela chuva suave que caiu sobre o Rio de Janeiro durante a madrugada, despertamos com energia renovada para aproveitar a quinta-feira. Iniciamos o dia com leveza e bom humor, dançando no icônico calçadão da Praia de Copacabana, um dos mais emblemáticos cartões-postais da Cidade Maravilhosa e símbolo mundial do turismo no Brasil.

Após esse animado aquecimento, seguimos para uma caminhada matinal ao longo da icônica Praia de Copacabana, carinhosamente chamada de “Princesinha do Mar”, apelido eternizado na canção homônima de Braguinha e Alberto Ribeiro, composta em 1934. A brisa fresca e a vista deslumbrante da orla compõem um cenário inconfundível, que traduz toda a essência do Rio de Janeiro.

No post anterior, em que relatamos nossa viagem de moto de Petrópolis ao Rio de Janeiro, com parada no imponente Palácio Quitandinha, compartilhamos um pouco da história e curiosidades fascinantes sobre o bairro e a Praia de Copacabana, uma das praias mais famosas do planeta.

Aliás, caminhar pelo calçadão de Copacabana é uma verdadeira experiência sensorial. O piso em ondas pretas e brancas, inspirado na Praça do Rossio em Lisboa, é uma obra do paisagista Roberto Burle Marx e se tornou um dos maiores símbolos do design urbano carioca. Não demora para que algum quiosque nos atraia com a irresistível promessa de um coco gelado. Logo cedemos à tentação e compramos nossos primeiros cocos do dia. Somos apaixonados por água de coco, não apenas pelo sabor naturalmente refrescante, mas também pelos inúmeros benefícios que ela oferece à saúde.

Além de ser uma excelente aliada na hidratação, a água de coco ajuda a reduzir o cansaço e o estresse que, felizmente, não nos acompanham durante as viagens de moto. Rica em sais minerais, ela contribui para a prevenção de câimbras, melhora o funcionamento do intestino e dos rins, fortalece o sistema imunológico e promove o bem-estar de forma natural e saborosa.

Antes da colonização, a Baía de Guanabara (a segunda maior baía do litoral brasileiro, com cerca de 380 km² de extensão) era habitada por pelo menos 84 aldeias de índios tupinambás. Eles a chamavam de Kûánãpará, que em tupi significa “baía abrigada”. Foi nesse cenário rico em natureza e cultura indígena que, mais tarde, se estabeleceria a cidade do Rio de Janeiro.

Como os europeus chegaram à Baía de Guanabara em 1º de janeiro de 1502, batizaram o local de Rio de Janeiro. Algumas fontes sugerem que o termo “rio” teria sido usado de forma equivocada pelos portugueses, por se tratar, na verdade, de uma baía. No entanto, há quem argumente que navegadores tão experientes dificilmente confundiriam uma baía com um rio. Na época, o termo “rio” era frequentemente empregado para designar enseadas, estuários e baías, o que explica a origem do nome da cidade.

Quando as naus colonizadoras adentravam a Baía de Guanabara, a primeira aldeia indígena avistada era a taba da Karióka, origem do nome “carioca”. Em tupi, o termo é formado pela junção de oka (casa) e kari’ó (carijó), resultando em kari’oka, “casa dos kariós, ou, carijós”.

Os Kariós eram um ramo ancestral dos índios tupinambás, oriundos da região amazônica, que migraram em busca do “Guajupiá” (Guajupiá é um termo tupi que se refere ao “Paraíso dos Tupinambás” ou “Terra sem Males”, um lugar idílico de paz e abundância) há cerca de dois mil anos. Seguindo o curso do Rio Amazonas até sua foz, avançaram pelo litoral nordestino, enfrentando e expulsando tribos tapuias (considerados por eles povos de “língua estranha”, não tupi) até alcançarem o litoral sul e se estabelecerem na região da Baía de Guanabara.

Seguindo pela orla da Praia de Copacabana, logo nos deparamos com o suntuoso Hotel Copacabana Palace, o primeiro grande edifício erguido no bairro, inaugurado em 1923. Majestoso e imponente, ele se tornou símbolo de luxo e sofisticação, além de um marco histórico que ajudou a transformar Copacabana em um dos destinos turísticos mais famosos do mundo.

O lendário Copacabana Palace já abrigou um dos maiores cassinos do Brasil e também a primeira casa de espetáculos da América Latina, atraindo artistas e personalidades internacionais. Esses espaços consolidaram sua fama como centro de entretenimento e elegância, contribuindo para a aura glamourosa que envolve o hotel até hoje.

Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, o Copacabana Palace já hospedou inúmeras celebridades ao longo das décadas, entre elas Rock Hudson, Rita Hayworth, Romy Schneider, Janis Joplin, Madonna, Freddie Mercury e a princesa Diana. Sua história é marcada por momentos icônicos que reforçam seu status como um dos hotéis mais emblemáticos da América Latina.

Em frente ao Copacabana Palace, encontramos uma estátua em homenagem a Ayrton Senna, eternizando o legado do tricampeão mundial de Fórmula 1, um dos maiores ídolos do esporte brasileiro.

A escultura de bronze que representa Ayrton Senna, criada pelo artista Mario Pitanguy, foi inaugurada em 2019, tornando-se mais um ponto turístico da orla e parada obrigatória para fãs e admiradores do piloto.

Os primeiros contatos dos índios tupinambás que habitavam a Baía de Guanabara com os europeus ocorreram por meio dos franceses, e foram inicialmente amistosos. Rapidamente, os franceses se tornaram aliados dos tupinambás, estabeleceram-se na região e tentaram colonizá-la. No entanto, as disputas internas entre católicos e protestantes dentro do Império Francês acabaram comprometendo a coesão da expedição, levando ao fracasso da colonização.


Os portugueses, já estabelecidos em São Vicente(SP), aliaram-se aos índios tupiniquins, inimigos tradicionais dos tupinambás da Baía de Guanabara. Assim começou um lento e violento processo de conquista da região, marcado por diversas batalhas entre portugueses e tupiniquins contra os tupinambás. Esses conflitos se intensificaram a partir de 1530, quando, frustrados por não encontrar ouro e prata nas incursões pelo Rio da Prata, os portugueses voltaram sua atenção para o controle estratégico da baía.

A principal batalha entre portugueses e tupinambás ocorreu em 20 de janeiro de 1567. O confronto foi tão violento que o capitão das forças portuguesas, Estácio de Sá, foi atingido por uma flecha no olho e faleceu pouco depois. Embora os tupinambás tenham perdido, sua resistência marcou profundamente a história da conquista da Baía de Guanabara.

Os tupinambás possuíam uma civilização complexa e avançada, comparável às dos incas, astecas e maias. A cidade do Rio de Janeiro começou a se formar nos locais onde essas aldeias estavam situadas, já que os primeiros caminhos eram exatamente as rotas que ligavam uma aldeia à outra. Foi nesse contexto que, em 1º de março de 1565, a Cidade Maravilhosa foi oficialmente fundada.

Em 1763, o Rio de Janeiro foi declarado capital da Colônia do Brasil, então sob domínio do Reino de Portugal. Anos depois, em 1807, com as tropas de Napoleão avançando sobre Portugal, Dom João VI tomou uma decisão histórica: transferiu toda a corte portuguesa para o Rio de Janeiro, transformando a cidade na sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Com essa transferência inédita, o Rio de Janeiro tornou-se a única capital de um país europeu fora da Europa, abrigando a sede de um império que incluía colônias na África, Ásia e Oceania.

Com a Independência do Brasil, em 1822, a cidade manteve o status de capital do Império do Brasil até 1889. Com a Proclamação da República, em 15 de novembro daquele ano, o Rio permaneceu como capital da nova República dos Estados Unidos do Brasil até 1960, quando a sede do governo foi transferida para Brasília.

Naquele período, o Rio de Janeiro foi transformado em uma cidade-estado e passou a se chamar Guanabara, denominação que perdurou até 1975, quando ocorreu a fusão entre o antigo Estado da Guanabara e o Estado do Rio de Janeiro, tornando a cidade homônima a nova capital estadual.

Atualmente, o Rio de Janeiro abriga cerca de 6,2 milhões de habitantes e se destaca como o principal destino turístico internacional do Brasil, da América Latina e de todo o hemisfério sul. Essa vocação global explica a diversidade de idiomas que ecoa nas praias e pontos turísticos da cidade, reforçando seu caráter cosmopolita e multicultural.

Caminhar pela orla da Praia de Copacabana é uma experiência tão agradável e envolvente que, quando percebemos, já estamos na Praia do Leme, praticamente uma extensão natural da famosa “Princesinha do Mar”.

Ali, fizemos uma breve pausa para assistir a uma animada partida de futvôlei, esporte criado na própria Praia de Copacabana, por volta dos anos 1960, pelo arquiteto e ex-jogador Octavio de Moraes. Hoje, o futvôlei é símbolo do estilo de vida carioca e uma das práticas esportivas mais populares das praias do Rio.

A Praia do Leme é banhada por águas geralmente limpas e possui uma extensa faixa de areia clara que se estende por quase 1 quilômetro. Menos movimentada que sua vizinha Copacabana, oferece um ambiente mais tranquilo, ideal para quem busca relaxar sem abrir mão da beleza e da energia do litoral carioca.


Seguimos nossa caminhada em direção à Pedra do Leme, um imponente costão rochoso coberto pela vegetação da Mata Atlântica, que dá nome à praia e ao bairro. O local recebeu essa denominação por lembrar, em seu contorno, o leme de um navio, uma bela referência à ligação do Rio de Janeiro com o mar.


Na década de 1980, o saudoso cantor e compositor Tim Maia eternizou a Praia do Leme com o clássico “Do Leme ao Pontal”, um verdadeiro hino carioca que celebra as praias e a alegria do Rio.



Na base da Pedra do Leme, diversos quiosques costumam ficar bastante movimentados ao entardecer. É o cenário perfeito para relaxar, saborear uma bebida gelada e apreciar o pôr do sol deslumbrante, enquanto o céu se tinge de tons dourados e alaranjados sobre o Atlântico.



O local também abriga a famosa Mureta do Leme, uma extensa mureta que acompanha parte do costão rochoso. Bastante frequentada por moradores e visitantes, é ideal para caminhadas, contemplação do mar e momentos de sossego com uma das vistas mais encantadoras da orla carioca.


Logo na entrada da Mureta do Leme está a estátua em homenagem a Clarice Lispector. A escritora e jornalista, nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, viveu por 12 anos no bairro do Leme, deixando sua marca literária e cultural na região.


Na escultura, criada pelo artista Edgar Duvivier e inaugurada em 2016, Clarice Lispector foi imortalizada ao lado de seu inseparável cachorro Ulisses, símbolo de sua companhia e inspiração durante os anos em que viveu no bairro.

Clarice Lispector representa uma ruptura profunda na literatura brasileira, com seu estilo de fluxo de consciência que desafiava as convenções realistas e sociológicas da época. Sua escrita introspectiva e poética marcou gerações e consolidou seu nome entre os maiores autores da língua portuguesa.


Além da estátua, que por si só já é um ponto turístico, a Mureta do Leme oferece uma vista panorâmica da orla das praias do Leme e Copacabana, tornando-se um lugar perfeito para contemplação, fotografias e momentos de relaxamento ao som das ondas.


Muito procurada por turistas e pescadores, a região também é conhecida como Caminho dos Pescadores Ted Boy Marino, em homenagem ao lendário lutador ítalo-brasileiro que conquistou o carinho da comunidade local. Esse espaço combina história, cultura e lazer em meio à beleza natural da orla carioca.


Ali, FredLee revelou suas habilidades na arte da pesca, aproveitando a tranquilidade do local para praticar uma atividade tradicional que conecta moradores e visitantes à riqueza natural do litoral carioca.


FredLee fez toda uma encenação, mas, no final, não conseguiu pescar nada. Mesmo assim, o momento divertido reforçou o clima descontraído e acolhedor que vivenciamos ao longo do nosso passeio pela orla do Leme.


Ao lado da Mureta do Leme fica a Praça Almirante Júlio de Noronha, carinhosamente chamada de Pracinha do Leme pelos moradores. Esse espaço aberto é um ponto de encontro tradicional do bairro, perfeito para relaxar, socializar e sentir o pulsar autêntico da comunidade local.


A pequena praça fica em frente à entrada do histórico Forte Duque de Caxias, uma importante construção militar que protegeu a Baía de Guanabara por séculos e que hoje é um ponto turístico imperdível do Rio de Janeiro, oferecendo uma verdadeira imersão na história da cidade e uma das vistas mais deslumbrantes da capital fluminense.


Forte Duque de Caxias
O Forte Duque de Caxias, um ponto turístico único que combina história, beleza natural e uma vista deslumbrante da cidade do Rio de Janeiro, foi construído entre 1913 e 1919 sobre as ruínas do antigo Forte do Vigia.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar no Forte Duque de Caxias partindo do centro do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil:
Contatos do Forte Duque de Caxias
- Endereço: Praça Almirante Júlio de Noronha, Leme | Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil
- Telefone: (21) 3223-5033
- E-mail: divisaodoforte.cep@gmail.com
Para obter informações mais detalhadas, visite o site oficial do Forte Duque de Caxias.
Horários de Funcionamento
- Terça a domingo: das 9h30 às 16h
Valores de Ingresso
- Público em geral: R$ 10,00
- Professores e estudantes: R$ 5,00
- Maiores de 60 anos: Gratuito
- Crianças até 10 anos: Gratuito
*O pagamento é aceito somente em dinheiro (reais brasileiros) ou via PIX.
**Não é permitida a entrada de animais.
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 2 horas



O acesso ao Forte Duque de Caxias, também conhecido como Forte do Leme, se dá por uma charmosa trilha ecológica: uma estreita via calçada em paralelepípedos com aproximadamente 800 metros de extensão. O caminho, cercado por vegetação nativa da Mata Atlântica, oferece contato direto com a natureza e prepara o visitante para a experiência histórica que o aguarda no topo do morro.


Antes de iniciarmos a Moto Expedição 2020: Belas Rotas, adquiri um par de botas novas, especialmente projetadas para aventuras intensas, desde longas caminhadas e trilhas acidentadas até travessias de rios, conforme prometia o anúncio do fabricante.


De fato, o calçado é excelente: firme, confortável e impermeável. No entanto, o solado se revelou surpreendentemente escorregadio, oferecendo pouca aderência em superfícies molhadas ou irregulares, o que exigiu atenção redobrada durante a caminhada.


Calçando essas botas, eu consigo escorregar até mesmo em pisos revestidos por carpete nos hotéis, imagine, então, encarar uma íngreme estrada de paralelepípedos molhada pela chuva da noite anterior e coberta por folhas espalhadas pelo caminho.


O percurso até o topo do Morro do Leme, onde se encontra o Forte Duque de Caxias, costuma levar cerca de 20 minutos de caminhada. Eu, entretanto, sentindo-me como um aluno desajeitado na primeira aula de patinação no gelo ou como uma bailarina pisando em ovos, levei alguns minutos a mais, tamanha era a concentração para não escorregar.


No fim, consegui completar os desafiadores 800 metros sem nenhuma queda, uma verdadeira façanha, considerando o solado traiçoeiro das botas!


Com gritos de vitória e socos ao ar com punhos cerrados em comemoração, finalmente adentramos o Forte Duque de Caxias, prontos para explorar sua rica história e apreciar a vista panorâmica da Baía de Guanabara.


O primeiro forte construído pelos portugueses no local foi erguido entre 1776 e 1779 e recebeu o nome de Forte do Vigia (ou Forte da Espia), pois não possuía artilharia: sua função era vigiar e alertar sobre a aproximação de navios que se dirigiam à então capital da colônia.


O atual Forte Duque de Caxias, construído entre 1913 e 1919, foi erguido sobre as ruínas do antigo Forte do Vigia, mantendo sua posição estratégica de defesa da entrada da Baía de Guanabara, especialmente em um período de modernização das forças armadas brasileiras no início do século XX.


Ao iniciarmos a exploração do forte, fomos surpreendidos por uma “invasão” inesperada, mas extremamente simpática: vários saguis-de-tufos-brancos (popularmente conhecidos como mico-estrela) apareceram curiosos, nos observando de perto e acompanhando parte do passeio.


O sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus) é um dos primatas mais conhecidos do Brasil. De pequeno porte, pesando entre 350 e 450 gramas, destaca-se pelos característicos tufos brancos nas orelhas e pelo comportamento ágil e curioso.



A espécie é nativa das florestas da Caatinga e da Mata Atlântica do Nordeste brasileiro, ocorrendo originalmente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins, até o sul da foz do Rio São Francisco.


Com o tempo, infelizmente, o sagui foi introduzido em outras regiões do país, inclusive no Rio de Janeiro, adaptando-se facilmente a ambientes urbanos e florestas secundárias. Hoje, suas populações também são registradas em locais distantes, como Florianópolis (SC) e até mesmo Buenos Aires (Argentina).


Esses serelepes saguis pareciam totalmente à vontade com nossa presença, curiosos e até atrevidos, se aproximavam na expectativa de receber algum alimento, embora alimentar animais silvestres não seja recomendado.


E não foram apenas os simpáticos saguis que surgiram da mata: diversos calangos, pequenos lagartos ágeis e espertos, também apareceram, parecendo querer dividir o protagonismo daquele momento de harmonia com a natureza.


A presença desses animais é comum, já que o Forte Duque de Caxias está inserido dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Morro do Leme, um dos refúgios de biodiversidade em meio à zona urbana carioca.


Criada em 1990, a APA do Morro do Leme (que inclui também o Morro dos Urubus, a Pedra do Anel, a Praia do Anel e a Ilha da Cotunduba) tem como principal objetivo preservar remanescentes da Mata Atlântica e garantir a coexistência entre natureza e urbanização.



Após a calorosa recepção da fauna local, voltamos nossa atenção ao Forte Duque de Caxias, prontos para mergulhar na história e admirar as surpresas que o local ainda reservava.



Devido à sua posição geográfica privilegiada, o forte foi equipado, em 1918, com poderosos obuseiros alemães Krupp de 280 mm, armamentos de longo alcance projetados para transpor grandes barreiras e reforçar a defesa da entrada da Baía de Guanabara.



Ao longo de sua trajetória, o Forte Duque de Caxias esteve presente em episódios marcantes da história nacional, como o levante militar de 5 de julho de 1922, a famosa “Revolta dos 18 do Forte”. Na ocasião, um grupo de jovens oficiais da Escola Militar do Rio de Janeiro rebelou-se contra o governo de Epitácio Pessoa, posicionando-se no Forte de Copacabana e chegando a trocar disparos com o Forte do Leme.




O forte também protagonizou o incidente com o navio alemão BADEN, em 24 de outubro de 1930. Quando a embarcação deixava o porto do Rio, desobedeceu à ordem de parada emitida pela Fortaleza de Santa Cruz, levando o Forte Duque de Caxias a abrir fogo. O ataque causou danos e vítimas entre os tripulantes, marcando um episódio tenso nas relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha.



Em 22 de agosto de 1935, o presidente Getúlio Vargas, em homenagem ao marechal Luís Alves de Lima e Silva, oficializou o nome atual: Forte Duque de Caxias.



O marechal, nascido em 1803 em Porto Estrela (atual Duque de Caxias – RJ), foi um dos maiores líderes militares do país, destacando-se na Balaiada, na Revolução Farroupilha e na Guerra do Paraguai. Em 1962, foi declarado Patrono do Exército Brasileiro.



Desativado como fortificação em 1965, o Forte Duque de Caxias passou a abrigar o Centro de Estudos de Pessoal do Exército Brasileiro, permanecendo aberto à visitação e tornando-se um importante ponto de turismo histórico no Rio de Janeiro.


Além de seu valor histórico, o Forte Duque de Caxias, situado a 124 metros acima do nível do mar, no alto do Morro do Leme, oferece uma vista panorâmica espetacular. Dali é possível admirar a Baía de Guanabara, as praias do Leme e Copacabana, o Pão de Açúcar, o Corcovado e todo o cenário urbano da Cidade Maravilhosa.


Aliás, o famoso apelido “Cidade Maravilhosa” carrega uma história curiosa. Embora tenha sido eternizado na canção de André Filho, de 1934, que exalta a cidade com os versos “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil”, a expressão já era usada décadas antes.


Um dos primeiros registros aparece no jornal O Paiz, em fevereiro de 1904, durante o carnaval carioca. O escritor Coelho Neto também utilizou o termo em 1908, e há ainda a hipótese de que a expressão tenha sido inspirada pela escritora francesa Jane Catulle-Mendès, que publicou em 1913 o livro “La ville merveilleuse” após visitar o Rio de Janeiro.


Fato é que o Rio de Janeiro realmente faz jus ao apelido de Cidade Maravilhosa, e o Forte Duque de Caxias é uma das provas mais concretas disso: um lugar onde natureza, história e beleza se encontram em perfeita harmonia. Após explorarmos o forte e nos encantarmos com a paisagem, iniciamos a descida pela ladeira, com o mesmo cuidado redobrado que tivemos na subida.

De volta ao nível do mar e com os ponteiros do relógio já passando das 13h, nos deliciamos com os tradicionais biscoitos de polvilho Globo. Embora tivéssemos planejado saboreá-los no alto do Forte Duque de Caxias, temendo a investida dos famintos saguis, optamos por deixar a refeição para um local mais seguro e tranquilo.

Ir ao Rio de Janeiro e não provar os Biscoitos Globo é como visitar Porto Alegre e não comer churrasco, ou ir a Salvador e não experimentar o acarajé. A tradição dos biscoitos de polvilho (nas versões doce e salgada) acompanhados do clássico chá mate gelado, é tão enraizada na cultura carioca que, em 2012, ambos foram reconhecidos como Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, símbolo da identidade das praias da cidade.

Curiosamente, os icônicos Biscoitos Globo, hoje sinônimo do modo de vida carioca, não nasceram no Rio, mas em São Paulo, em 1953. Mesmo assim, foi nas praias do Rio que conquistaram fama definitiva, graças aos ambulantes que, com seus cestos característicos e o tradicional chamado “Olha o Globo!”, se tornaram parte inseparável da paisagem à beira-mar.



Enfim, após a breve refeição, seguimos a pé e cruzamos o Túnel do Leme, diferente do dia anterior, quando o atravessamos a bordo da Formosa, nossa companheira de duas rodas na Moto Expedição 2020: Belas Rotas.


No caminho, passamos em frente à Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, uma igreja acolhedora que se destaca pela simplicidade e serenidade, um verdadeiro ponto de pausa em meio ao agito da zona sul carioca.


Pouco depois, chegamos ao charmoso bairro da Urca, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, onde está localizado o Instituto Benjamin Constant, referência nacional na educação de pessoas com deficiência visual e uma instituição de longa tradição no país.



Ali também se encontra o Museu de Ciências da Terra, conhecido como Palácio da Geologia Brasileira, um imponente edifício que abriga um valioso acervo geológico e paleontológico. Infelizmente, devido às restrições da pandemia, o museu estava fechado durante nossa visita.


O Museu de Ciências da Terra ocupa um majestoso prédio de estilo neoclássico tardio, tombado pelo patrimônio municipal, que por si só já vale a visita.


O edifício foi erguido em 1908 para abrigar o Palácio dos Estados durante a Exposição Comemorativa do Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, evento que reuniu representantes de diversos estados e nações, celebrando um dos marcos mais significativos da história econômica nacional.


A imponente fachada do corpo principal tem 78 metros de extensão e se projeta 44 metros à frente das alas laterais recuadas, conferindo ao conjunto uma aparência monumental e equilibrada, típica das grandes construções públicas da época.


Logo alcançamos o complexo turístico do Bondinho do Pão de Açúcar, um dos ícones mais visitados do Rio de Janeiro, que já havíamos explorado em 2018 (relembre aqui).


Em frente ao complexo, estende-se a ampla e arborizada Praça General Tibúrcio, um espaço público agradável para descanso e contemplação, além de palco de eventos culturais e esportivos na região da Urca.


No centro da praça, destaca-se o Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados, que homenageia os soldados brasileiros que participaram da Retirada da Laguna e do Combate de Dourados, episódios marcantes da Guerra da Tríplice Aliança (1864–1870), conflito que envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai.



Logo adiante, surge a pequena, porém acolhedora, Praia Vermelha, um recanto tranquilo entre formações rochosas que compõem a paisagem singular da Urca.


No canto direito da praia está o antigo Forte da Praia Vermelha, atual sede do Círculo Militar do Rio de Janeiro, que abriga um restaurante aberto ao público, com vista privilegiada e atmosfera histórica.


A Praia Vermelha fica situada entre dois morros icônicos da cidade: de um lado, o Pão de Açúcar, e do outro, o Morro da Babilônia, formando um conjunto visual impressionante que mistura mar, pedra e vegetação nativa.


Com suas areias de tom avermelhado (que deram origem ao nome) e o mar de ondas calmas, a Praia Vermelha é uma ótima opção para quem busca sossego e paisagens fotogênicas, longe da movimentação das praias mais centrais.


Em nossa visita de 2018, tivemos a sorte de provar os saborosos acarajés preparados pela baiana Cátia, uma experiência tão memorável que se tornou um dos motivos para retornarmos à Praia Vermelha nesta viagem.


Desta vez, porém, não encontramos a baiana Cátia, talvez por ser uma quinta-feira, pelas mudanças provocadas pela pandemia ou porque ela tenha mudado de ponto. Ficamos na dúvida, mas seguimos aproveitando o passeio.

Decepcionados com a ausência do acarajé, mas ainda apreciando a paisagem, nos despedimos da Praia Vermelha e continuamos nossa caminhada, prontos para descobrir o que mais o Rio de Janeiro tinha a nos oferecer naquele dia.


Caminhamos ao lado do Iate Clube do Rio de Janeiro até avistarmos a belíssima Praia de Botafogo, com sua enseada em forma de meia-lua emoldurada pelo Pão de Açúcar ao fundo, uma das paisagens mais icônicas e fotografadas da cidade.


Apesar de seus cerca de 700 metros de extensão e da vista privilegiada, a Praia de Botafogo não é recomendada para banho, pois suas águas são frequentemente classificadas como impróprias. Ainda assim, o local é bastante procurado por moradores e turistas para caminhadas, prática de esportes, piqueniques e momentos de contemplação à beira da Baía de Guanabara.


Vale a visita: das areias da Praia de Botafogo é possível admirar um panorama espetacular do Pão de Açúcar e do Morro da Urca, com o mar calmo à frente e o contraste das construções urbanas ao redor, um cenário que resume perfeitamente o espírito do Rio de Janeiro, onde natureza e cidade convivem em harmonia.



Após apreciar a vista, atravessamos a movimentada Avenida das Nações Unidas por um túnel.



Do outro lado, a chuva começou a cair, mas não diminuiu nosso entusiasmo. Seguimos o passeio observando as inúmeras estátuas e monumentos espalhados pelas ruas cariocas, cada um contando um fragmento da rica história cultural da cidade.



O contraste entre as modernas edificações e os prédios históricos é uma das marcas mais notáveis da capital fluminense, revelando a convivência entre tradição e modernidade que faz do Rio um lugar singular.



Seguimos adiante, passando em frente à Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro.


Até atravessarmos novamente as amplas avenidas cariocas por um túnel subterrâneo e chegarmos ao vasto complexo do Parque do Flamengo, popularmente conhecido como Aterro do Flamengo.


Planejado como um parque vivo, o Aterro do Flamengo se estende do Aeroporto Santos Dumont, no centro da cidade, até o início da Praia de Botafogo, cruzando os bairros da Glória e do Flamengo.


O projeto visionário da arquiteta Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, mais conhecida como Lota de Macedo Soares, rompeu com o conceito tradicional de parque urbano. Para ela, não bastava criar um espaço com jardins e bancos, era preciso oferecer uma área pública que promovesse qualidade de vida, controlasse a especulação imobiliária e restabelecesse a relação entre os cariocas e a cidade.


Construído com o material resultante do desmonte do Morro de Santo Antônio, o Aterro do Flamengo exigiu grandes intervenções na orla e marcou profundamente a paisagem do Rio de Janeiro. Inaugurado em 1965, o parque ocupa cerca de 1,2 milhão de metros quadrados, integrando áreas verdes, ciclovias, quadras esportivas e espaços culturais, tudo emoldurado pela vista da Baía de Guanabara.


Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Parque do Flamengo abriga atrações emblemáticas, como o Museu de Arte Moderna (MAM), a Marina da Glória, o Monumento a Estácio de Sá e o Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, que dá nome oficial ao complexo.


À beira do Aterro se estende a Praia do Flamengo, com sua ampla faixa de areia e uma vista privilegiada do Pão de Açúcar, do Aeroporto Santos Dumont e da Ponte Rio-Niterói.


Com cocos bem gelados nas mãos, sentamo-nos na mureta da Praia do Flamengo e, mesmo sob a chuva fina, aproveitamos alguns minutos para contemplar o cenário: o mar calmo, os aviões pousando e decolando, e o ritmo tranquilo da cidade ao entardecer.


Com o fim do dia se aproximando e a chuva se intensificando, registramos as últimas fotos antes de nos despedir da Praia do Flamengo, um dos lugares que melhor traduzem o encontro entre natureza, urbanismo e vida carioca.


Depois de uma longa caminhada repleta de história, cultura e paisagens memoráveis, optamos por retornar ao hotel em Copacabana utilizando o eficiente metrô do Rio de Janeiro, que garantiu um trajeto rápido e confortável.


Já era noite quando chegamos ao nosso local de pernoite. Agora era hora de descansar, amanhã a estrada nos espera novamente. Obrigado por mais um dia inesquecível, Cidade Maravilhosa!
Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Passeio cansativo mas com belas paisagens, pena a chuva atrapalhar mas como sempre valeu a pena…
Caminhada boa, o suficiente para suar :) e a chuva sempre se fazendo presente durante a Expedição 2020, mas de qualquer forma conseguimos ver vários atrativos durante o dia. Valeu, abraços…
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
Mas atenção, os campos marcados com * são de preenchimento obrigatório, pois assim mantemos (ou tentamos manter) o blog bonitinho, livre de robôs indevidos.
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