Brasil • Expedição 2020: Belas Rotas • Santos • São Paulo • São Vicente
Viagem de Moto pela Rodovia Régis Bittencourt e Imigrantes: De Quatro Barras – PR a São Vicente e Santos – SP
5 de Novembro, 2020
Enfrente o tráfego na Rodovia Régis Bittencourt e explore a cênica Rodovia dos Imigrantes, uma obra-prima da engenharia brasileira, famosa por sua integração única com a exuberante Mata Atlântica.
No dia em que o sol finalmente brilhou em Quatro Barras, no Paraná, decidimos deixar a cidade e seguir rumo a São Paulo. Pegamos a Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que conecta as capitais Curitiba e São Paulo, enfrentando os desafios de longos engarrafamentos. Em seguida, continuamos nossa viagem de moto pelo Rodoanel Mário Covas, até finalmente descer pela Rodovia dos Imigrantes, uma das estradas mais bonitas do Brasil, que nos levou até as encantadoras cidades litorâneas de Santos e São Vicente, onde finalizamos nossa jornada no final do dia.

Despertamos nas primeiras horas da quinta-feira e, ao abrir a janela do hotel, fomos recebidos por um lindo céu azul em Quatro Barras, no Paraná.

Após o café da manhã, organizamos os equipamentos na Formosa e partimos cedo, seguindo rumo norte pela rodovia BR-116.

Com pouco movimento na estrada, avançamos rapidamente pela rodovia pedagiada, bem conservada e duplicada.

O trecho de aproximadamente 400 quilômetros da rodovia federal BR-116, que liga as capitais Curitiba e São Paulo, é conhecido como Régis Bittencourt.

O nome é uma homenagem ao engenheiro civil Edmundo Régis Bittencourt, que teve atuação destacada na gestão do DNER na década de 1950 e se dedicou à construção da ligação rodoviária entre os estados de São Paulo e Paraná.

A Rodovia Régis Bittencourt passou a contar com pista dupla em toda a sua extensão em dezembro de 2017. Sob administração da concessionária Arteris desde 2008, a estrada possui seis praças de pedágio distribuídas ao longo do trajeto.

A via desempenha um papel crucial na rede rodoviária brasileira, ligando os polos econômicos das regiões Sudeste e Sul do Brasil e conectando essas áreas aos principais países da América do Sul.

O tráfego médio diário da Rodovia Régis Bittencourt ultrapassa os 29 mil veículos, sendo composto principalmente por ônibus e caminhões, que representam cerca de 80% do fluxo total da via.

Após percorrer aproximadamente 75 quilômetros pela Régis Bittencourt, chegamos à divisa entre os estados, onde deixamos o Paraná e ingressamos no território de São Paulo.


Num piscar de olhos, o azul do céu deu lugar a densas nuvens cinzentas, que parecem ter uma atração especial pela Formosa, encobrindo rapidamente o cenário ensolarado que até então predominava.


Com o céu encoberto e a temperatura amena, a viagem seguia tranquila e confortável. Pouco depois, alcançamos um trecho da rodovia que atravessa parte do Parque Estadual do Rio Turvo.


O Parque Estadual do Rio Turvo (PERT) está situado nas regiões do Vale do Ribeira e do Litoral Sul, com uma extensão de 73.893,87 hectares. Sua rica diversidade de fauna inclui inúmeras espécies, entre as quais se destacam a onça-pintada, a onça-parda, o cachorro-vinagre, a anta, a harpia, o uiraçu-falso e, especialmente, o papagaio-do-peito-roxo, que é o símbolo da unidade de conservação.


Mantendo um bom ritmo de viagem, seguimos até Pariquera-Açu, onde fizemos nossa primeira parada do dia para abastecer a Formosa em um dos postos da conhecida Rede Graal.

Logo que chegamos, um ônibus vindo de Erechim, no Rio Grande do Sul, estacionou na lanchonete ao lado do posto de combustíveis.

Com receio de encontrar algum credor entre os passageiros do ônibus, decidimos deixar o local o mais rápido possível.


Alguns quilômetros adiante, fizemos uma nova parada, desta vez para vestir as capas de chuva, uma tarefa que já se tornara rotineira ao longo da Moto Expedição 2020: Belas Rotas.

Pouco depois de tomarmos a prudente decisão de parar para vestir as capas, a chuva começou a cair, confirmando que havíamos feito a escolha certa.


A chuva nos acompanhou por alguns minutos e só começou a perder intensidade quando nos aproximamos da conhecida Serra do Cafezal.


A Serra do Cafezal, envolta pela exuberante Mata Atlântica, se estende por aproximadamente 70 quilômetros entre os municípios paulistas de Miracatu e Juquitiba.


Esse foi o último segmento da Rodovia Régis Bittencourt a ser duplicado, em 2017. Antes da duplicação, era considerado um dos trechos mais perigosos de toda a estrada.

Ao nos aproximarmos de Juquitiba, nos deparamos com uma longa fila de veículos parados na pista, em sua maioria caminhões e carretas, indicando uma possível interdição na rodovia.

Seguimos viagem por um estreito corredor formado entre os veículos pesados parados na estrada. Após cerca de 25 intermináveis quilômetros nesse ritmo, para nossa alegria, os veículos começaram a se mover lentamente, quase como uma miragem surgindo no horizonte.

No entanto, a alegria durou pouco, em menos de cinco minutos, o trânsito voltou a ficar completamente parado.

Exaustos após um longo trajeto, avançando com cautela pelo estreito corredor formado entre os imensos veículos, onde frequentemente era necessário parar a Formosa para desviar cuidadosamente espelhos, protetor de motor e alforjes de pneus, carrocerias e cabines de caminhões e carretas, optamos por fazer uma pausa no acostamento. Aproveitamos o momento para nos hidratar e saborear as deliciosas bananas desidratadas que havíamos comprado na região de Juquiá, SP.

Revigorados pelo lanche, retomamos a viagem e seguimos por mais alguns quilômetros pelo corredor entre os veículos. Logo chegamos a um ponto onde marcas de pneus na pista e parte da carga de uma carreta espalhada no acostamento revelavam a provável causa do extenso congestionamento.

De fato, a partir daquele ponto, o trânsito voltou a fluir normalmente, permitindo que seguíssemos viagem com mais tranquilidade.

Poucos quilômetros adiante, em uma situação que parecia um déjà-vu, o trânsito voltou a ficar completamente parado e, mais uma vez, tivemos que exercitar a paciência.


Após seguir pelo corredor, finalmente chegamos a Embu das Artes, SP.


Em Embu das Artes, o trânsito começou a fluir livremente novamente, aliviando a tensão acumulada durante o percurso.


Na verdade, poderíamos ter evitado todo esse congestionamento se tivéssemos optado pela rodovia BR-101 logo após passar por Juquiá, especialmente considerando que nosso plano é seguir até Santos e São Vicente.


No entanto, como estamos de férias e adoramos fazer corredor, e considerando que a essência da nossa expedição este ano é explorar algumas das estradas mais bonitas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, não poderíamos deixar de incluir a Rodovia dos Imigrantes, a principal rota de acesso da capital paulista à Baixada Santista, em nosso roteiro.


Após as devidas explicações e com a carteira consideravelmente mais leve devido aos vários pedágios na Régis Bittencourt, nos despedimos da BR-116 e acessamos o Rodoanel.


O Rodoanel Mário Covas, com seus 176 quilômetros de extensão, é um anel viário que circunda a região central da Grande São Paulo.


Sua infraestrutura contribui significativamente para a melhoria do fluxo de tráfego, facilitando o deslocamento pela área metropolitana.


Já no Rodoanel, percorremos um breve trecho dentro do município de São Paulo, reconhecido apenas ao avistarmos a placa indicando o limite municipal.


Em seguida, cruzamos rapidamente para São Bernardo do Campo.


Após isso, percorremos apenas mais alguns quilômetros até chegarmos ao entroncamento entre o Rodoanel e a Rodovia SP-160, mais conhecida como Rodovia dos Imigrantes.


E quem diria, justamente nas proximidades da Terra da Garoa, o azul começou a dominar o céu, afastando as densas e carregadas nuvens cinzentas que nos acompanhavam desde o território paranaense.


Na Rodovia dos Imigrantes, chegamos a uma praça de pedágio onde, para nossa alegria, motocicletas são isentas de tarifa, oferecendo um pequeno alívio financeiro após os pedágios anteriores.


Seria ideal que as motocicletas fossem isentas de tarifas em todas as praças de pedágio, ou, ao menos, que, nos locais onde o pagamento é necessário, existissem faixas exclusivas para facilitar o tráfego. Essa medida, já adotada em algumas praças, garante uma passagem mais ágil e segura para os motociclistas.


À medida que nos aproximávamos do início da Serra do Mar na Rodovia dos Imigrantes, percebemos que a combinação da Formosa, a serra e o sol é quase tão utópica quanto a ideia de motocicletas serem isentas de tarifa em todos os pedágios.


Novamente envolvidos por um céu nublado, com nuvens carregadas e uma espessa neblina que limitava nossa vista panorâmica do litoral paulista, iniciamos a descida da Serra do Mar pela rodovia que conecta São Paulo ao litoral.


A Rodovia dos Imigrantes é amplamente reconhecida como um marco da engenharia civil brasileira. Seu projeto enfrentou desafios geográficos e ambientais significativos, demandando soluções técnicas avançadas para vencer o relevo acidentado da Serra do Mar, ao mesmo tempo em que preservava a rica biodiversidade da Mata Atlântica.


O trecho inicial dessa via, ligando a cidade de São Paulo ao topo da Serra do Mar, foi inaugurado em 23 de janeiro de 1974. Com 30,5 quilômetros de extensão, essa etapa marcou o começo de uma das mais emblemáticas obras de infraestrutura rodoviária do Brasil.


Inaugurada em 1976, a pista norte da Rodovia dos Imigrantes, utilizada para a subida da serra, é reconhecida como uma das obras de engenharia mais impressionantes e arrojadas de sua época. Além de sua complexidade técnica, ela simboliza um avanço significativo na infraestrutura rodoviária brasileira, proporcionando uma das rotas mais cênicas e desafiadoras do país.


Em 2002, entrou em operação a pista sul da Rodovia dos Imigrantes, destinada à descida da serra. Com 21 quilômetros de extensão, ela supera um desnível de 700 metros, representando um feito técnico notável. Esse trecho serpenteia pelo Parque Estadual da Serra do Mar, integrando-se de forma harmoniosa à paisagem natural e proporcionando aos motoristas uma experiência visual única e inesquecível.


Com 44 viadutos, 7 pontes e 14 túneis em sua extensão, a Rodovia dos Imigrantes é uma verdadeira obra-prima da engenharia brasileira. Ao atravessar a exuberante Mata Atlântica, ela não apenas conecta regiões estratégicas do estado de São Paulo, mas também oferece vistas panorâmicas deslumbrantes, consolidando-se como uma das rodovias mais belas e icônicas do país.


Essa via desempenha um papel fundamental na economia paulista ao ligar a capital, São Paulo, ao Porto de Santos, um dos maiores e mais movimentados da América Latina. Essa conexão estratégica facilita o comércio internacional e otimiza o transporte de mercadorias provenientes de diversas regiões do Brasil.



Ao longo do percurso, a Rodovia dos Imigrantes revela vistas espetaculares da Serra do Mar e do litoral paulista.


A Rodovia dos Imigrantes também se destaca como um exemplo de como a infraestrutura pode ser desenvolvida de maneira sustentável. Foram incorporadas passagens para animais e adotadas diversas medidas para reduzir os impactos ambientais, permitindo que a estrada se integrasse de forma mais harmônica à natureza ao longo de sua extensão.


O nome da via faz referência aos imigrantes, especialmente aos italianos, que se estabeleceram em São Paulo no final do século XIX e início do século XX. A estrada conecta a capital paulista ao litoral, uma região que foi, historicamente, um dos destinos escolhidos por muitos desses imigrantes ao buscarem novas oportunidades no Brasil.


Após superar o acentuado declive por meio de longos túneis, finalmente chegamos ao nível do mar.


Com a brisa salgada da maresia no ar, chegamos em São Vicente, no litoral de São Paulo.


Em São Vicente, a primeira vila oficialmente fundada no Brasil, em 1532, encontramos rapidamente um hotel e deixamos a Formosa estacionada com segurança e conforto.


Após uma breve troca de roupas, seguimos prontos para sentir a areia fina e clara da Praia do Itararé sob nossos pés.



Com 2.400 metros de extensão, a Praia do Itararé está estrategicamente localizada entre as ilhas Porchat e Urubuqueçaba, formando um cenário deslumbrante e cheio de contrastes que encanta os visitantes.



A Praia do Itararé não se destaca apenas por sua extensão, mas também pela larga faixa de areia, que a torna a mais movimentada e popular praia de São Vicente. Sua orla bem planejada oferece uma excelente infraestrutura, com pista de caminhada, quiosques variados, quadras esportivas, playgrounds e áreas verdes, ideal para quem busca lazer, esportes ou simplesmente relaxar à beira-mar.



À medida que o dia se aproximava do fim, aproveitamos para relaxar e contemplar a beleza da Praia do Itararé. Mesmo com o céu encoberto e a brisa fria soprando do mar, a atmosfera serena manteve seu charme intacto, criando o cenário ideal para desacelerar e recarregar as energias após um longo dia na estrada.



Além de sua beleza natural, a Praia do Itararé também é conhecida pelo teleférico que liga a orla ao topo do Morro da Asa Delta, um dos principais atrativos da região. Infelizmente, durante nossa visita, ele estava fechado. Mesmo assim, vale destacar que o local é bastante procurado por praticantes de voo livre, que aproveitam as correntes de ar e a vista panorâmica para decolar em experiências impressionantes sobre o litoral.

Outro atrativo da Praia do Itararé é a Pedra da Feiticeira, um monumento natural envolto em lendas e com visual sempre mutável. Sua aparência se transforma conforme a maré: em maré alta, fica cercada pelas águas do mar; já na maré baixa, surge integrada à faixa de areia. Esse fenômeno cria um espetáculo único e cativante para quem visita o local.

No topo da Pedra da Feiticeira, uma escultura em fibra de vidro retrata a figura de uma feiticeira, eternizando uma lenda que intriga os moradores de São Vicente desde o século XVI. Essa representação enigmática desperta a curiosidade dos visitantes e adiciona um toque de mistério e riqueza cultural à paisagem, tornando o local ainda mais interessante e simbólico.

De acordo com as tradições locais, no século XVI, uma mulher misteriosa costumava repousar sobre a Pedra da Feiticeira nas noites quentes. Ela era conhecida por suas danças e canções, saudando os navios que passavam pela costa. Em raras ocasiões, ao conversar com os moradores da região, ela compartilhava a história de seu amor por um marinheiro português, com quem viveu um romance breve e teve um filho.

O marinheiro prometeu voltar de Portugal para levá-los consigo, mas nunca cumpriu sua promessa. Apesar de sua juventude, sua aparência marcada pelo sol e pelos trajes desgastados a fizeram ser chamada de “bruxa”, uma figura que ainda hoje faz parte do imaginário popular de São Vicente, SP.

Continuamos nosso passeio pela areia da principal praia de São Vicente e, quase sem perceber, já estávamos em Santos. Chegamos à Praia do José Menino, que segue naturalmente como extensão da Praia do Itararé. Essa transição suave entre as duas cidades realça a beleza contínua da orla, unindo São Vicente e Santos através de suas praias vibrantes e populares.

A Praia do José Menino está situada de frente para a Ilha Urubuqueçaba, um ponto de interesse natural que embeleza ainda mais a paisagem. A proximidade com a ilha confere à praia um charme especial, tornando o cenário litorâneo de Santos ainda mais deslumbrante e convidativo.

Na Praia do José Menino, o Parque do Emissário Submarino é uma das atrações mais populares, embora estivesse fechado durante nossa visita. Este parque é um importante ponto de lazer, oferecendo amplos espaços para atividades ao ar livre e esportes. Além disso, é um excelente local para quem deseja relaxar e apreciar a natureza, sendo um atrativo que reforça o apelo turístico de Santos, SP.

Dentro do Parque do Emissário Submarino, um dos destaques é a escultura “100 Anos da Imigração Japonesa”, criada pela renomada artista Tomie Ohtake. Esta obra monumental celebra o centenário da imigração japonesa para o Brasil e se tornou um marco cultural significativo. Além de ser um ponto de encontro para os amantes da arte, a escultura oferece uma oportunidade para a reflexão histórica, enriquecendo ainda mais a visita ao parque.

O Parque do Emissário Submarino também proporciona uma vista privilegiada de toda a orla da Praia do Itararé, em São Vicente – SP.


À medida que a noite caía, chegamos ao Parque Municipal Roberto Mário Santini, localizado estrategicamente às margens da movimentada Avenida Presidente Wilson. Este parque é um ponto de encontro popular tanto para moradores de Santos, quanto para visitantes, oferecendo um refúgio tranquilo com vistas espetaculares para o mar, mesmo durante as horas mais agitadas do dia.



Ali, aproveitamos para nos refrescar e nos hidratar com uma deliciosa água de coco, a escolha perfeita para combinar com a atmosfera litorânea e o clima de relaxamento que o parque oferece.


E assim, nos despedimos da quinta-feira, encerrando mais um dia repleto de descobertas e paisagens deslumbrantes em nossa motoexpedição.


Abaixo o mapa com o trajeto percorrido no dia, entre Quatro Barras – PR e São Vicente – SP.



Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
“Fugindo de credor” hein !? hehehe….
Bela Mata Atlântica, legal demais esse trajeto.
Abraços e ótimos kms !!!
É Fernando, não está fácil pra ninguém rsrsrs
Trajeto muito bonito mesmo. Valeu, abraços!
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