Rodovia dos Imigrantes: Engenharia em Harmonia com a Natureza

No dia em que o sol finalmente brilhou em Quatro Barras, Paraná, tomamos a decisão de deixar a cidade. Pegamos a rodovia BR-116 rumo ao vizinho estado de São Paulo, ansiosos por rodar com a Formosa pela primeira vez em uma das estradas mais cênicas do Brasil: a espetacular Rodovia dos Imigrantes.

Partimos cedo, seguindo pela rodovia BR-116 em direção norte, aproveitando as primeiras horas da manhã para iniciar nossa jornada.

O percurso de cerca de 400 quilômetros pela Rodovia Régis Bittencourt, parte da BR-116, que conecta as capitais Curitiba e São Paulo é notavelmente conhecido por sua importância estratégica e beleza natural, fazendo dele um dos eixos rodoviários mais significativos do Brasil.

Avançamos rapidamente pelos primeiros 75 km do dia pela rodovia pedagiada, bem conservada e duplicada, com baixo fluxo de veículos. Logo, deixamos o estado do Paraná e adentramos o território de São Paulo.

Como se por um passe de mágica, as cinzentas nuvens, que parecem ter uma atração especial pela Formosa, rapidamente encobriram o azul que antes dominava o céu.

Com o céu encoberto e a temperatura agradável, a viagem continuava de forma tranquila e confortável.

Mantendo este ritmo, avançamos até Pariquera-Açu, onde realizamos nossa primeira parada do dia para abastecer a Formosa.

Justo quando chegamos, um ônibus procedente de Erechim, Rio Grande do Sul, estacionou na lanchonete que ficava ao lado do posto de combustíveis.

Preocupados com a possibilidade de encontrar algum credor entre os passageiros do ônibus, decidimos partir do local o mais rápido possível.

Alguns quilômetros à frente, fizemos outra parada, desta vez para vestir as capas de chuva, uma tarefa que já se tornou rotineira durante a Moto Expedição 2020: Belas Rotas.

Logo após tomarmos a prudente decisão de parar para vestir as capas, a chuva começou a cair, confirmando que havíamos feito a escolha certa.

A chuva nos acompanhou por alguns minutos e começou a diminuir apenas quando nos aproximamos da Serra do Cafezal.

A Serra do Cafezal, envolta pela exuberante Mata Atlântica, estende-se por cerca de 70 quilômetros entre os municípios paulistas de Miracatu e Juquitiba. Recentemente duplicada, este trecho era conhecido por ser um dos mais perigosos da Rodovia Régis Bittencourt.

Ao nos aproximarmos de Juquitiba, deparamos com uma longa fila de veículos, principalmente caminhões e carretas, sinalizando uma possível interdição na pista.

Continuamos nosso caminho por um corredor formado entre os veículos pesados, que estavam parados na estrada. Após percorrer cerca de 25 intermináveis quilômetros desta forma, para nossa alegria, os veículos começaram a se mover lentamente, quase como uma miragem no horizonte.

No entanto, nossa alegria foi breve, durando menos de cinco minutos, até que o trânsito voltasse a ficar completamente parado.

Exaustos após um longo percurso de 25 km rodando cuidadosamente entre os imensos veículos, onde frequentemente era necessário parar a Formosa para desviar meticulosamente os espelhos, protetor de motor e alforjes de pneus, carrocerias e cabines de caminhões e carretas, optamos por fazer uma pausa no acostamento. Aproveitamos para nos hidratar e saborear as deliciosas bananas desidratadas que adquirimos na região de Juquiá, SP.

Revigorados pelo lanche, retomamos a viagem e percorremos mais alguns quilômetros pelo corredor. Logo chegamos a um ponto onde as marcas de pneus na pista e parte da carga de uma carreta no acostamento revelavam a causa do enorme congestionamento.

De fato, a partir daquele ponto, o trânsito voltou a fluir normalmente.

Poucos quilômetros à frente, em uma situação que parecia um déjà-vu, o trânsito novamente ficou completamente parado (haja paciência).

Continuando pelo corredor, finalmente chegamos em Embu das Artes, SP.

Em Embu das Artes, aos poucos, o trânsito começou a fluir livremente novamente.

Aliás, poderíamos ter evitado todo esse congestionamento se tivéssemos optado pela rodovia BR-101 logo após passar por Juquiá, especialmente porque nosso plano era seguir até Santos e São Vicente ainda hoje.

No entanto, como estamos de férias e adoramos fazer corredor e a essência de nossa expedição este ano é explorar algumas das estradas mais belas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, não poderíamos deixar de incluir a Rodovia dos Imigrantes, a principal rota de acesso da capital paulista à Baixada Santista, em nosso roteiro.

Após as devidas explanações e com a carteira consideravelmente mais leve devido aos vários pedágios na Régis Bittencourt, nos despedimos da BR-116 e acessamos o Rodoanel, seguindo em direção ao nosso próximo destino.

O Rodoanel Mário Covas, com seus 176 quilômetros de extensão, é um anel viário que circunda a região central da Grande São Paulo. Sua estrutura proporciona uma significativa melhoria no fluxo de tráfego, facilitando o deslocamento na área metropolitana.

Uma vez no Rodoanel, percorremos um breve trecho dentro do município de São Paulo, que só reconhecemos ao avistar a placa indicando o limite municipal. Em seguida, cruzamos rapidamente para São Bernardo do Campo.

Após isso, foram apenas mais alguns quilômetros até alcançarmos o entroncamento entre o Rodoanel e a Rodovia SP-160, também conhecida como Rodovia dos Imigrantes.

Na Rodovia dos Imigrantes, fomos saudados por um céu azul límpido e uma praça de pedágio onde, para nossa alegria, motocicletas são isentas de tarifa, proporcionando um pequeno alívio financeiro após os pedágios anteriores.

Seria perfeito se motocicletas fossem isentas de tarifas em todas as praças de pedágio, ou ao menos que, nos locais onde os motociclistas são obrigados a pagar, houvesse faixas exclusivas para facilitar seu trânsito. Essa medida, já implementada em alguns locais, proporciona uma passagem mais ágil e segura para os motociclistas.

À medida que nos aproximávamos do início da serra na Rodovia dos Imigrantes, constatamos que a combinação Formosa, com a serra e o sol, é quase tão utópica quanto a ideia de motocicletas isentas de tarifa em todos os pedágios.

Sob um céu encoberto por densas nuvens, que restringiam nossa vista panorâmica do litoral paulista, começamos a descida da serra na Rodovia dos Imigrantes, uma experiência marcante mesmo com a visibilidade reduzida.

A Rodovia dos Imigrantes é reconhecida como um marco da engenharia civil no Brasil, destacando-se por seu projeto extremamente complexo e pelos significativos desafios ecológicos que envolveu sua construção.

Inaugurada em 1976, a pista ascendente norte da Rodovia dos Imigrantes é considerada uma das mais belas e audaciosas obras de sua época, representando um avanço significativo na infraestrutura rodoviária do país.

Em 2002, a pista descendente sul da Rodovia dos Imigrantes foi inaugurada, superando um verdadeiro desafio ao atravessar um desnível de 700 metros. Este trecho, que se estende por 21 quilômetros, serpenteia pelo Parque Estadual da Serra do Mar, integrando-se harmoniosamente ao ambiente natural.

A Rodovia dos Imigrantes, com seus 44 viadutos, 7 pontes e 14 túneis, é uma obra-prima da engenharia que atravessa a exuberante Mata Atlântica. Esta estrada não apenas conecta regiões, mas também oferece vistas espetaculares, consolidando-se como uma das mais belas rodovias do Brasil.

Após superar o acentuado declive por meio de extensos túneis, finalmente alcançamos o nível do mar.

Com a maresia já presente no ar, chegamos a São Vicente, SP.

Em São Vicente, conhecida por ser a primeira vila fundada no Brasil em 1532, rapidamente encontramos um hotel onde deixamos a Formosa confortavelmente estacionada. Após uma rápida troca de roupas, estávamos prontos para sentir a areia fina da Praia do Itararé sob nossos pés.

A Praia do Itararé, com seus 2400 metros de extensão, situa-se estrategicamente entre as ilhas Porchat e Urubuqueçaba, oferecendo um cenário deslumbrante e diversificado para seus visitantes.

A Praia do Itararé não apenas impressiona pela sua extensão, mas também pela ampla faixa de areia que faz dela a mais movimentada e popular da região. Sua orla bem estruturada conta com uma pista de caminhada, vários quiosques, quadras esportivas, playgrounds e áreas verdes, oferecendo uma variedade de atividades para todos os gostos e idades.

Conforme o dia ia chegando ao fim, aproveitamos para relaxar e absorver a beleza da Praia do Itararé, mesmo com o céu encoberto e uma brisa gelada que soprava. Essa atmosfera, embora fresca, não diminuiu o encanto do lugar, proporcionando um cenário perfeito para descontrair após um longo dia de viagem.

Além disso, a Praia do Itararé é conhecida por seu teleférico, que infelizmente estava fechado durante nossa visita. Este teleférico conecta a praia ao topo do Morro da Asa Delta, um ponto famoso entre os entusiastas de voo livre que frequentemente saltam deste local para aproveitar as correntes de ar e a vista panorâmica da região.

Outro ponto de interesse na Praia do Itararé é a Pedra da Feiticeira, um monumento natural que tem sua beleza alterada pelas marés. Dependendo da maré, a pedra pode ser cercada pelo mar ou completamente envolvida pela areia, oferecendo um espetáculo variável e encantador para os visitantes.

No cume da Pedra da Feiticeira, uma escultura de fibra de vidro retrata uma feiticeira, perpetuando uma lenda que fascina os habitantes de São Vicente desde o século XVI. Essa representação enigmática atrai curiosos e embeleza ainda mais o cenário local, agregando um toque de mistério e cultura à paisagem.

Segundo as tradições locais, no século XVI, uma mulher enigmática costumava dormir sobre a Pedra da Feiticeira durante as noites quentes. Ela era conhecida por suas danças e canções, saudando os navios que navegavam próximos à costa. Em raras ocasiões, ao interagir com os moradores locais, ela contava a história de seu amor por um marinheiro português, com quem teve um breve romance e um filho. O marinheiro prometeu retornar de Portugal para levá-los consigo, mas nunca cumpriu sua promessa. Apesar de sua juventude, os trajes desgastados e a pele marcada pelo sol lhe valeram o apelido de bruxa, uma figura que ainda hoje povoa o imaginário dos vicentinos.

Continuamos nosso passeio pela areia da principal praia de São Vicente e, quase sem perceber, já estávamos em Santos. Chegamos à Praia do José Menino, que é naturalmente a continuação da Praia do Itararé. Esta transição suave entre as cidades destaca a extensão e a beleza contínua da orla, unindo dois municípios através de suas praias populares.

A Praia do José Menino está situada de frente para a Ilha Urubuqueçaba, um ponto de interesse natural que embeleza ainda mais a paisagem. Esta proximidade com a ilha proporciona uma vista encantadora para quem visita a praia, adicionando um charme único ao cenário litorâneo de Santos, SP.

Na Praia do José Menino, o Parque do Emissário Submarino é uma das atrações mais conhecidas, mas estava fechado durante nossa visita. Este parque é um ponto de lazer importante, oferecendo espaço para atividades ao ar livre e esportes, além de ser um excelente local para observar a natureza e relaxar, contribuindo significativamente para o apelo turístico da região.

Dentro do Parque do Emissário Submarino, destaca-se a escultura “100 Anos da Imigração Japonesa”, criada pela renomada artista Tomie Ohtake. Esta obra é um marco cultural importante, celebrando o centenário da imigração japonesa para o Brasil e serve como um ponto de encontro para apreciação artística e reflexão histórica.

O Parque do Emissário Submarino, oferece ainda uma vista privilegiada de toda a orla da Praia do Itararé, em São Vicente, SP.

À medida que a noite caía, chegamos ao Parque Municipal Roberto Mário Santini, localizado estrategicamente às margens da movimentada Avenida Presidente Wilson. Este parque é um ponto de encontro popular tanto para moradores de Santos, quanto para visitantes, oferecendo um refúgio tranquilo com vistas espetaculares para o mar, mesmo durante as horas mais agitadas do dia.

Ali, aproveitamos para nos refrescar e hidratar com uma saborosa água de coco, um complemento perfeito para a atmosfera litorânea e o clima de relaxamento do parque.

E assim nos despedimos da quinta-feira, finalizando mais um dia repleto de descobertas e belas paisagens em nossa moto expedição.

Abaixo o mapa com o trajeto percorrido no dia, entre Quatro Barras – PR e São Vicente – SP: