Antonina • Brasil • Expedição 2020: Belas Rotas • Morretes • Paraná • Quatro Barras
Dia 07: Morretes – PR e Antonina – PR
4 de Novembro, 2020Após o café da manhã tratamos de vestir as capas, desta vez não pela presença da chuva, a qual provavelmente deve se fazer presente no decorrer do dia conforme anunciam as carregadas nuvens que rodeiam Quatro Barras, mas sim devido ao frio.
E pela primeira vez durante a Expedição 2020: Belas Rotas iniciamos o dia sabendo onde iríamos passar a noite: na mesma cidade da noite anterior, uma vez que a ideia hoje é percorrer a Estrada da Graciosa com toda a calma e atenção que a rodovia requer.
Desta forma não foi necessário carregar as bagagens na Formosa (ufa!), tarefa diária quando estamos em viagem.
Tarefa, aliás, que nos primeiros dias requer um pouco mais de tempo e paciência, mas com o avanço da viagem passa a ser feita de forma quase automática, quando cada item tem seu lugar certo no alforge e no fim tudo parece se encaixar perfeitamente.
Tudo pronto partimos do centro de Quatro Barras pela Avenida Dom Pedro II, que nada mais é do que um trecho do traçado original da Estrada da Graciosa, construída entre os anos de 1854 (mesmo ano da emancipação da Província do Paraná) e 1873.
Logo após cruzar o tímido pórtico de acesso a uma das estradas mais emblemáticas do país passamos em frente ao local onde ficava o pinheiro sob o qual, em 1880 durante uma visita oficial à província, Dom Pedro II e sua comitiva descansaram.
O pinheiro histórico teve um triste fim após ser atingido por um raio em meados do século XX.
Pois bem, a estrada foi construída aproveitando trechos de um dos 5 antigos caminhos coloniais (Arraial, Cubatão, Graciosa, Itupava e Picada dos Ambrosios) que ligavam o litoral com o primeiro planalto paranaense e, consequentemente, o interior do estado.
Obviamente todos estes caminhos já eram amplamente utilizados pelos nativos, que abriram tais trilhas muito antes de alguém pensar em construir uma estrada por ali.
Fato é que o trajeto original da Estrada da Graciosa ligava o município de Curitiba a Antonina, Morretes e Paranaguá.
Com a abertura da BR-116 um novo acesso à Graciosa foi construído, deixando todo o trajeto de Quatro Barras praticamente esquecido.
Por décadas o trecho de aproximadamente 20 quilômetros que compõem a chamada Velha Estrada da Graciosa foi utilizado apenas por caminhões vindos de pedreiras, participantes do Rally da Graciosa e alguns viajantes com espírito mais aventureiro.
Com o projeto da Estrada Parque Graciosa, concebido no ano de 2006 e executado a partir de 2009, o percurso finalmente foi pavimentado.
E com isso o trajeto que é cercado por belas paisagens e reúne em sua extensão alguns atrativos centenários como a Igreja da Campininha, o Oratório Anjo da Guarda e a Capela São Pedro passou a ser mais visitado e explorado.
Em meio a este cenário chegamos na pequena, mas charmosa, Ponte do Arco, onde fizemos uma breve pausa para esticar as pernas e observar a natureza ao seu redor.
Na sequência voltamos a rodar pelas sinuosas curvas da Estrada da Graciosa.
Estrada que permaneceu sendo o único acesso ao litoral paranaense até o ano de 1969, quando a rodovia BR-277 foi construída.
A Graciosa teve papel fundamental no desenvolvimento econômico do Paraná, sendo amplamente utilizada para escoar a produção de erva-mate, café e madeira que vinham de várias partes do estado e seguiam até os portos de Antonina e Paranaguá.
Sua importância era tamanha que ela foi a primeira via carroçável paranaense e permaneceu sendo a única estrada pavimentada do estado até meados do século XX.
Logo após passar a ponte sobre o Rio Taquari a Área de Preservação Ambiental da Serra do Mar tem início e uma placa ao lado da entrada de uma estrada de terra indica que o trecho original da Estrada da Graciosa segue pela via sem asfalto.
São aproximadamente 4 quilômetros de estrada de terra, os quais não percorremos devido à chuva da noite anterior e por desconhecer a situação da estrada.
Seguimos pela rota asfaltada até chegar no entroncamento com a rodovia PR-410 onde, antes de seguir sentido leste, partimos rumo oeste em busca do famoso pórtico da Graciosa, que na verdade não fica no traçado original da estrada (vai entender).
Uma vez no Portal da Graciosa, que é um dos símbolos da rota cênica, paramos para registrar o momento.
O belo portal com arquitetura característica das missões jesuítas representa parte da história do antigo caminho, foi projetado por Angel Bernal e inaugurado em 1997.
Reza a lenda que durante a expulsão dos jesuítas do Brasil, no século XVIII, um grupo de missionários juntou todo o ouro possível de ser carregado em doze jumentos e desceu a Serra da Graciosa tendo como destino o Porto de Antonina.
Mas antes de alcançar o destino os jesuítas foram informados que seriam barrados pela coroa e impedidos de embarcar com o ouro, assim sendo, enterraram a preciosa carga nos arredores da Graciosa, onde estão até os dias atuais.
Como estávamos sem pá para sair cavando nos arredores da estrada decidimos adiar a busca pelo tesouro e partimos para a diversão!
Do pórtico até o local onde o trecho de terra da rota original da Graciosa se une à PR-410 são aproximadamente 5km, os quais vencemos com facilidade.
Dali foram poucos metros até chegar ao primeiro dos sete recantos que estão espalhados ao longo da rodovia.
O Recanto Engenheiro Lacerda, assim como os demais, conta com uma ótima estrutura de lazer, composta por estacionamento, churrasqueiras, banheiros e mirantes.
Mirantes, inclusive, que proporcionam uma linda vista da Mata Atlântica, da Baía de Paranaguá e do mar.
Com o céu encoberto e uma densa neblina surgindo em meio à serra nossa visão do mirante ficou um tanto quanto prejudicada, mas o pouco que conseguimos avistar foi o suficiente para nos encantar e imaginar a beleza que deve ser em um dia limpo de Sol (voltaremos).
Conhecida a primeira área de descanso iniciamos a descida da Graciosa.
E aos poucos as fechadas curvas começaram a dar o ar da graça na estreita rodovia asfaltada.
Por falar nisso, o início da descida é todo asfaltado, mas gradativamente alguns trechos da rodovia passam a ser pavimentados por paralelepípedos e esta mescla segue até os últimos 8 quilômetros da serra, quando a pavimentação da estrada passa a ser exclusivamente de escorregadias e irregulares pedras.
Algumas curvas após a primeira área de parada chegamos no segundo recanto, o Recanto Rio Cascata.
Como o nome sugere, esta parada é embelezada por uma linda cascata localizada às margens da rodovia.
Aliás, a Estrada da Graciosa atravessa o trecho mais preservado de Mata Atlântica do Brasil.
A nascente de diversos riachos e a exuberância da mata tropical da região compõem dois importantes parques paranaenses: o Parque Estadual da Graciosa e o Parque Estadual Roberto Ribas Lange.
Em 1993 a Unesco declarou parte da estrada como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
A descida dos 1.050m de altitude da Serra do Mar, as curvas sinuosas e o seu calçamento, ora de pedra ora de asfalto, fazem da Estrada da Graciosa um verdadeiro parque de diversões para motociclistas e ciclistas.
Isso tudo em meio a um cenário fascinante, cercado pela suntuosa Mata Atlântica com seus riachos, cachoeiras, hortênsias, picos e montanhas.
Não por acaso a Estrada da Graciosa é considerada uma das estradas mais lindas do país.
O Recanto Bela Vista proporciona uma vista incrível do imponente e lendário Pico do Marumbi.
Envoltos nesta paisagem encantadora nos aproximávamos do fim da serra, quando paramos para uma foto no Recanto Curva da Ferradura.
Alguns recantos, como este, abrigam lanchonetes e quiosques que vendem bebidas, comidas e produtos regionais, com destaque para a coxinha de aipim, prato típico local.
Após a breve pausa seguimos para os últimos quilômetros de ar puro, natureza exuberante e cenários de tirar o fôlego da Serra da Graciosa.
Entre uma curva e outra logo avistamos a histórica ponte de ferro sobre o Rio Mãe Catira, indicando o fim da área de serra.
O rio de águas geladas se conflui logo adiante com o Rio São João, formando o Rio Nhundiaquara.
Após a ponte de ferro a rodovia volta a ser asfaltada.
E poucos quilômetros depois passamos por um trevo no qual a PR-410 segue à esquerda sentido Antonina, mas nós nos despedimos da estrada adentrando na PR-411 com direção ao centro de Morretes.
Morretes abriga atualmente cerca de 16.000 habitantes, é uma cidade histórica e rica em arquitetura colonial a qual leva este nome em referência aos pequenos morros (morretes) que circundam a sede municipal.
Antes de adentrarmos no centro da cidade paramos no distrito de Porto de Cima para conhecer a Igreja de São Sebastião do Porto de Cima que, infelizmente, estava fechada.
Inaugurada em 1850 a pequena igreja de arquitetura com características coloniais foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1963.
Porto de Cima teve seu apogeu em decorrência dos engenhos de erva-mate e, nas últimas décadas do século XVIII, passou a ter grande importância econômica como entreposto comercial entre o litoral e o planalto.
A localidade guarda vestígios de seu passado retratado pelas ruínas de engenhos, antigos casarões e calçadas de pedras.
Dali foram cerca de 10 quilômetros até chegarmos ao centro de Morretes.
Com os ponteiros do relógio indicando meio-dia não tardamos em estacionar a Formosa e localizar um restaurante para nos saborearmos com o prato típico regional: o barreado.
O prato que tem como principal ingrediente a carne bovina leva este nome em consequência da expressão barrear (vedar) a panela, normalmente de barro, com um pirão de cinza ou farinha de mandioca para evitar que o vapor escape e o cozido não seque rapidamente.
A deliciosa iguaria é normalmente servida com arroz e banana-da-terra.
Devidamente alimentados iniciamos a caminhada pela área central da cidade.
Passamos pela Casa Rocha Pombo, uma homenagem ao morretense que se tornou uma das maiores expressões paranaenses como historiador, escritor, professor e político.
E seguimos até às margens do Rio Nhundiaquara, de onde conseguimos avistar a Ponte Velha, inaugurada em 1912.
Dali bastaram alguns passos até chegarmos na Igreja de São Benedito.
Tombado como Patrimônio Histórico, o templo religioso de estilo colonial foi construído em 1765.
Passamos pela câmara municipal de vereadores.
E logo depois pela prefeitura municipal.
Que fica em frente à Praça Rocha Pombo.
Dali fomos até a Igreja Nossa Senhora do Porto.
A igreja matriz de Morretes teve sua construção iniciada em 1812 e foi inaugurada em 1850.
Sua torre ostenta um sino vindo de Portugal com o brasão do Império, fundido no ano de 1854.
Da igreja seguimos pela antiga Rua do Comércio, atual Rua General Carneiro, que foi palco de grandes transações comerciais nos profícuos ciclos do ouro e da erva-mate.
Nesta rua fica a construção mais antiga da cidade, que já abrigou um cassino, foi sede da primeira repartição geral dos telégrafos e atualmente é um hotel e restaurante.
Ao seu lado está o Marco Zero de Morretes, fixado no dia 31 de dezembro de 1733.
Quando chegamos na Praça dos Imigrantes os primeiros pingos de chuva começaram a cair preguiçosamente.
Nos permitindo ainda fazer as últimas fotos às margens do Rio Nhundiaquara antes de voltar a vestir as capas de chuva.
Com a chuva engrossando vestimos as capas, subimos na Formosa e nos despedimos de Morretes pela rodovia PR-408.
Em poucos minutos chegamos na vizinha Antonina.
Passamos por uma série de construções pintadas com diversos tons de azul, que contrastavam com o carregado céu e seus 50 tons de cinza.
Até se aproximar do centro da cidade.
Onde paramos para conhecer a Estação Ferroviária de Antonina.
A edificação de 1916 é uma das sobreviventes do período áureo da cidade, que chegou a abrigar o quarto porto mais importante do país.
Bem próximo da estação férrea fica a Igreja Bom Jesus do Saivá.
O histórico monumento religioso teve sua construção iniciada no ano de 1789.
Dali rodamos debaixo de chuva pelas estreitas ruas centrais da cidade.
Até chegarmos nas proximidades do trapiche municipal, onde estacionamos a Formosa, tiramos as capas de chuva e iniciamos uma caminhada em meio à garoa.
Passamos pelo mercado municipal.
Depois pela prefeitura municipal, que está instalada em um belo casarão do final do século XIX
E seguimos pelas ruas do centro histórico de Antonina, tombado pelo IPHAN em 2012, formado por um conjunto de sobrados com características do colonial brasileiro, eclética e art déco, com calçamento de pedras e ruínas que enriquecem esse patrimônio.
Com uma população de aproximadamente 20.000 habitantes, Antonina é uma das povoações mais antigas do Paraná e seu nome é uma homenagem prestada ao Príncipe da Beira Dom António de Portugal.
Passamos em frente à Igreja de São Benedito.
E logo chegamos no Theatro Municipal.
A edificação de linhas ecléticas ricas em adornos foi inaugurada em 1906.
O local foi palco de um inesquecível evento no dia 24 de abril de 1933, quando o navio Almirante Jaceguay aportou na cidade para uma parada técnica em sua viagem com destino à Argentina e os principais artistas da era de ouro do rádio brasileiro desembarcaram e promoveram um verdadeiro espetáculo, dentre eles Procópio Ferreira, Sílvio Caldas, Luís Barbosa, Aracy de Almeida, Carmen Miranda e o maestro Ary Barroso.
Do teatro seguimos até a câmara municipal.
Passamos por floridas vielas.
Até chegarmos na Praça Coronel Macedo.
Que fica praticamente ao lado do Santuário de Nossa Senhora do Pilar.
Tombada como Patrimônio Histórico do Paraná em 1999 a Igreja de Nossa Senhora do Pilar data de 1714.
A igreja matriz foi construída em uma bela colina às margens da baía.
Em 2012 foi elava à condição de Santuário pela Diocese de Paranaguá, em reconhecimento aos milagres e graças alcançadas por católicos da cidade.
Da igreja foi um pulinho até o Belvedere do Valente, de onde se tem uma vista privilegiada de parte da cidade, da Baía de Paranaguá e de sua exuberante riqueza natural.
Com a chuva cada vez mais forte apertamos o passo até chegar ao local onde a Formosa, toda molhada, nos aguardava, ansiosa para bailar pelas curvas da Graciosa novamente.
E sob uma forte chuva retornamos à Quatro Barras, com direito a diversas reboladas da Formosa em meio às escorregadias, escorregadias e escorregadias (sim, estava bem escorregadio) pedras da incrível Estrada da Graciosa, registrando apenas nossa breve pausa para hidratação no Recanto Bela Vista.
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Passeio “Gracioso” esse hein !!! A beleza dessa estrada/serra é magnífica. Minha primeira vez nesse lugar foi na década de 80, confesso que era mais linda e perigosa, devido ao pavimento poliédrico em toda extensão, mas é óbvio que vale cada km rodado. Da próxima vez em Morretes, deguste o gelato de gengibre.
Maravilha de publicação e grande abraço.
Caramba Fernando, fico imaginando encarar a Serra da Graciosa toda pavimentada em paralelepípedo e com os veículos da década de 1980, isso sim é que era aventura!
Puxa vida, desconhecia o gelato de gengibre de Morretes, mas já anotamos para a nossa próxima passagem pelo local, esperamos que com sol, experimentá-lo.
Valeu, abração!
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer!
É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas nos sinalizar que chegou até aqui ;)
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