De Moto pela Rota Romântica e Rota do Sol no Rio Grande do Sul

Embora um domingo nublado tenha amanhecido em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, nosso entusiasmo permaneceu inabalável. Estávamos prontos para explorar a encantadora Rota Romântica do Rio Grande do Sul. O itinerário incluía ainda uma viagem pela pitoresca Serra do Pinto, cujas curvas sinuosas nos levariam em direção ao litoral gaúcho.

Logo após um reforçado café da manhã, subimos na Formosa para percorrer as rodovias gaúchas.

Partimos de Caxias do Sul, a segunda cidade mais populosa do Rio Grande do Sul, seguindo pela rodovia federal BR-116 em direção ao sul.

Após apenas alguns quilômetros deixando o centro de Caxias do Sul, chegamos ao distrito de Galópolis.

A história de Galópolis tem raízes profundas em eventos ocorridos na Itália em 1890. Naquele ano, um conflito trabalhista levou 308 tecelões, insatisfeitos com a redução de seus salários, a emigrar para o Brasil.

Ao chegarem em terras tupiniquins, esses imigrantes italianos se dispersaram por diversas regiões, incluindo São Paulo, Porto Alegre, Flores da Cunha, Veranópolis e Caxias do Sul. Em cada local, eles contribuíram para o desenvolvimento comunitário e econômico, enriquecendo a tapeçaria cultural brasileira com suas tradições, culinária e técnicas de manufatura trazidas da Europa.

Retomando nossa viagem, fizemos uma parada em Galópolis, às margens da BR-116, para admirar a deslumbrante Cascata Véu de Noiva.

Após a rápida pausa, retomamos nossa jornada pela sinuosa estrada que serpenteia através das esbeltas montanhas da Serra Gaúcha. A condução pelas altitudes variadas oferece vistas espetaculares e uma experiência imersiva na deslumbrante paisagem natural da região, destacando a beleza única do sul do Brasil.

A estrada, uma rodovia de pista simples, apresenta-se sem acostamento e é repleta de curvas fechadas, proporcionando uma experiência de condução desafiadora e emocionante, perfeita para quem viaja de moto.

Em meio a um trânsito tranquilo, com baixo fluxo de veículos, logo cruzamos a ponte sobre o Rio Caí. Este importante marco geográfico não apenas oferece vistas pitorescas, mas também marca a divisa entre Caxias do Sul e Nova Petrópolis, RS.

Ao chegarmos em Nova Petrópolis, começamos a percorrer o trecho da rodovia BR-116 que faz parte da Rota Romântica gaúcha.

A Rota Romântica do Rio Grande do Sul tem sua inspiração no famoso roteiro homônimo da Alemanha.

Desenvolvida entre 1994 e 1995, a versão gaúcha da Rota Romântica é composta por cidades de colonização predominantemente alemã.

Atualmente, a Rota Romântica é formada pelos municípios de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Presidente Lucena, Linha Nova, Picada Café, Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco de Paula. Cada cidade contribui com seu charme único e tradições ricas, tornando esta rota um mosaico cultural vibrante.

A Rota Romântica no Rio Grande do Sul não se limita apenas à rodovia BR-116, ela também engloba trajetos pelas estradas estaduais RS-235, VRS-865 e VRS-873.

Ladeada por plátanos, cujos galhos por vezes parecem abraçar a rodovia, a Rota Romântica é frequentemente destacada como uma das estradas mais bonitas do Brasil. Esta característica garante a ela um lugar de destaque em praticamente todas as listas que celebram as rotas mais cênicas do país, atraindo viajantes que buscam tanto a beleza natural quanto a rica cultura da região.

Charmosa e encantadora, a Rota Romântica gaúcha merece plenamente o reconhecimento que recebe em âmbito nacional.

A Rota Romântica é extremamente popular entre os motociclistas, especialmente nos finais de semana. Eles apreciam o belo trajeto e frequentemente fazem paradas na Tenda do Umbu, um ponto de encontro estrategicamente localizado no meio da Serra Gaúcha. O local oferece uma variedade de serviços, incluindo posto de combustíveis, loja de conveniência, lanchonete, restaurante, além de instalações sanitárias e um playground. A área verde disponibiliza várias mesas, cadeiras e churrasqueiras, ideal para descanso, hidratação, lanches e oportunidades para socializar e fazer novas amizades.

Optamos por continuar nossa viagem pela Rota Romântica até a divisa entre os municípios de Dois Irmãos e Novo Hamburgo. Neste ponto, as curvas fechadas e o trecho de serra dão lugar a uma mudança significativa na rodovia BR-116, que passa a ser duplicada, proporcionando uma condução mais tranquila e rápida.

Ao chegar lá, decidimos fazer o retorno e percorrer novamente o mesmo caminho, desta vez apreciando a paisagem sob uma nova perspectiva.

À medida que o horário do almoço se aproximava, fizemos uma breve parada na Tenda do Umbu. Aproveitamos para saborear algumas bananas que tínhamos guardado nos alforjes da Formosa, desfrutando de um momento de descanso e reabastecimento antes de continuarmos nossa jornada.

É bastante comum que, nos locais onde paramos, algumas pessoas se aproximem para perguntar sobre a Formosa. Questões como número de cilindradas, consumo de combustível, custo e detalhes sobre as viagens mais longas que fizemos são frequentes. Após satisfazerem sua curiosidade, muitos também pedem para tirar uma foto ao lado dela, ou até mesmo sentar-se sobre ela para um clique mais especial.

Além disso, há momentos em que nos afastamos um pouco, o que dá oportunidade aos mais tímidos de se aproximarem. Eles aproveitam essa chance para fazer diversas poses ao lado da moto, capturando suas próprias memórias fotográficas ao lado da Formosa. Essa interação discreta adiciona uma camada extra de diversão e comunidade às nossas paradas.

Na Tenda do Umbu, a situação não foi diferente.

Enquanto uma família realizava uma verdadeira sessão fotográfica com a Formosa como atração principal, nos aproximamos e logo escutamos o elogio: “Nós passamos olhando cada moto aqui estacionada, mas nenhuma se compara a esta, que sem dúvidas é a mais linda de todas!”.

Rodeada por uma centena de motos, em sua maioria novas, limpas e perfumadas, lá estava a Formosa, uma distinta jovem senhora das estradas. Apesar de coberta de lama após as aventuras na Serra do Corvo Branco e enfrentar a chuva na Serra do Rio do Rastro, exalando um peculiar aroma de óleo queimado misturado com pelego molhado, ela mantém seu charme inconfundível. As marcas de guerra de viagens anteriores apenas acrescentam ao seu caráter, continuando a atrair olhares, conquistar corações e justificar plenamente o nome que carrega.

Com a Formosa de peito guidão erguido, exibindo todo o seu orgulho e com a moral elevada, deixamos a Tenda do Umbu com garbo e elegância. Retomamos nossa jornada, rasgando as fechadas curvas da Serra Gaúcha com as pedaleiras raspando e soltando faíscas de alegria.

Naturalmente, não poderíamos nos despedir da BR-116 sem fazer uma parada para capturar uma foto romântica na rota mais apaixonante do país.

Após registrar o momento, continuamos nossa viagem de moto pela Rota Romântica no Rio Grande do Sul e logo chegamos novamente ao trevo de acesso à Nova Petrópolis. Desta vez, deixamos a BR-116 para adentrar o centro da cidade.

Nova Petrópolis, conhecida como o “Jardim da Serra Gaúcha” e considerada a cidade mais florida da região, estava esplendidamente decorada para o Natal.

Essa atmosfera festiva, aliada ao fato de que o dia seguinte seria feriado nacional (segunda-feira, 2 de novembro), transformava Nova Petrópolis em um verdadeiro formigueiro humano. A cidade pulsava com a energia dos visitantes que aproveitavam o prolongamento do fim de semana para desfrutar das belas paisagens e da decoração natalina.

Cruzamos o centro de Nova Petrópolis rapidamente e logo retomamos nosso trajeto pela Rota Romântica, agora na rodovia RS-235.

Como esperado, os aproximadamente 35 quilômetros que ligam Nova Petrópolis a Gramado apresentavam um alto fluxo de veículos.

Felizmente, motocicletas são isentas de tarifa na praça de pedágio de Gramado – RS e dispõem de uma área exclusiva para passagem. Isso nos permitiu evitar uma longa fila de carros, facilitando nossa progressão na viagem e permitindo que continuássemos a desfrutar da bela rota sem interrupções significativas.

E assim, no início de uma ensolarada e abafada tarde de domingo, chegamos a um dos destinos mais cobiçados do Brasil. A chegada em Gramado, com sua atmosfera europeia e charme inconfundível, marcou mais um ponto alto em nossa jornada pela Rota Romântica, consolidando-se como um momento especial de nossa aventura pelas serras gaúchas.

Diante da grande quantidade de pedestres e veículos circulando pela cidade, optamos por buscar rotas alternativas para evitar o centro congestionado de Gramado, RS.

Apesar de nossos esforços em evitar as áreas mais movimentadas, em alguns momentos ainda enfrentamos um caótico congestionamento. Esta situação ressaltou a popularidade de Gramado como destino turístico, especialmente durante períodos de alta temporada, onde a cidade se transforma em um vibrante hub de visitantes buscando experienciar seu charme único e suas atrações culturais.

Rapidamente nos livramos do congestionamento e seguimos pela Avenida das Hortênsias, a estrada cênica que conecta Gramado a Canela.

Em Canela, encontramos um cenário semelhante, por isso optamos por evitar as ruas centrais. Priorizamos rotas menos movimentadas, permitindo-nos explorar mais tranquilamente as belezas naturais e arquitetônicas dessa encantadora cidade, sem o estresse dos congestionamentos frequentes nas áreas mais populares.

Poucos minutos depois, deixamos o centro de Canela – RS para trás, retomando nossa jornada pela RS-235 em direção ao leste.

Ao meio da tarde, alcançamos São Francisco de Paula, marcando o término da Rota Romântica. A partir deste ponto, seguimos pela rodovia RS-020, adentrando um novo segmento de nossa aventura pelas estradas do Rio Grande do Sul.

Logo após contornarmos São Francisco de Paula – RS, foi necessário fazer uma pausa para nos equiparmos com capas de chuva, pois as nuvens escuras no horizonte anunciavam a iminência de chuva.

O trecho da rodovia RS-020, que vai de São Francisco de Paula até o entroncamento com a BR-453, apresenta cerca de 35 quilômetros de asfalto em condições precárias. No entanto, a desafiadora condição da estrada é compensada pela incrível paisagem ao redor, oferecendo vistas que fazem valer a pena a aventura.

Superando os desafios de buracos, desníveis e remendos, finalmente chegamos ao cruzamento das rodovias. Com alívio, nos despedimos da estrada estadual RS-020 e ingressamos na rodovia federal BR-453.

Conhecida como Rota do Sol, a rodovia BR-453 é uma importante via que conecta a Serra Gaúcha, começando em Lajeado, ao Litoral Norte, terminando em Terra de Areia – RS. Esta estrada é essencial para quem busca explorar as belezas naturais da região, oferecendo vistas espetaculares e um acesso direto às praias do litoral gaúcho.

Assim como a Rota Romântica, a Rota do Sol é frequentemente listada entre as estradas mais bonitas do Brasil. Essa rodovia é reconhecida pela sua paisagem deslumbrante, que captura a essência da diversidade geográfica do país, proporcionando aos viajantes uma experiência visual rica enquanto se deslocam entre a serra e o mar.

Um dos trechos mais espetaculares da Rota do Sol é a Serra do Pinto. Esta parte da rodovia é conhecida por suas vistas panorâmicas impressionantes e curvas acentuadas, oferecendo uma experiência de condução única e emocionante.

Atualmente em obras, a Serra do Pinto se destaca não só pelo seu grande desnível, mas também por ser um corredor atravessado por exuberante Mata Atlântica. A estrutura inclui um impressionante conjunto de túneis e viadutos que facilitam a transposição das montanhas, tornando a viagem não apenas mais segura, mas também mais fascinante.

Os túneis na Serra do Pinto foram projetados com uma infraestrutura moderna e segura, contando com duplos túneis — um para cada sentido do tráfego — e pistas duplicadas.

O Túnel da Reversão, o primeiro túnel situado no sentido serra-litoral, é uma obra engenhosa com 118 metros de extensão. Este túnel está estrategicamente interligado a um viaduto, facilitando o fluxo de tráfego e melhorando a conectividade na região.

O Túnel da Reversão se destaca por seu mirante localizado no final do túnel, na borda do viaduto, que inclui uma pequena área de estacionamento.

O segundo túnel, conhecido como Túnel do Arroio Carvalho, possui uma extensão de 388 metros.

A paisagem ao redor da Rota do Sol é verdadeiramente magnífica, proporcionando vistas espetaculares da natureza local. A estrada corta cenários variados, desde densas florestas de Mata Atlântica até áreas com vistas panorâmicas de vales e montanhas.

Chegando ao nível do mar, fizemos uma parada em uma das muitas fruteiras ao longo da estrada para nos refrescar com uma deliciosa água de coco gelada, aproveitando para desfrutar de um momento de relaxamento à beira da estrada.

Reabastecidos e revigorados, continuamos nossa jornada, percorrendo os últimos quilômetros da Rota do Sol no Rio Grande do Sul.

Ao chegar em Terra de Areia – RS, deixamos para trás a BR-453 e adentramos a rodovia BR-101, direcionando-nos ao norte.

A BR-101, completamente duplicada no estado do Rio Grande do Sul desde o entroncamento com a BR-290 Free Way, em Osório, até a divisa com Santa Catarina, inclui agora uma praça de pedágio localizada no município de Três Cachoeiras. Neste ponto, diferentemente de outros trechos da viagem, as motocicletas também são tarifadas.

Avançávamos rapidamente pela BR-101, com baixo fluxo de veículos. A pista, duplicada e com poucas curvas, oferecia uma viagem bastante monótona, permitindo um deslocamento eficiente e sem interrupções significativas.

Logo após, alcançamos a divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Em Passo de Torres, já em território catarinense, fomos recebidos por uma vista encantadora de balões coloridos flutuando contra o céu nublado de Torres – RS, dando um toque especial ao final da tarde de domingo.

Na área central de Passo de Torres, buscamos acomodações para passar a noite, mas, devido à proximidade do feriado, encontramos dificuldades para localizar um lugar disponível para pernoitar.

Atravessamos a ponte sobre o Rio Mampituba, retornando ao território gaúcho, e prosseguimos nossa busca por um local para nos hospedarmos em Torres. Já era noite quando finalmente conseguimos encontrar um hotel, situado na extremidade da área urbana da cidade, próximo à rodovia BR-101.

Após um longo dia percorrendo estradas sob calor intenso e chuvas ocasionais, estávamos ansiosos por uma noite de descanso tranquilo. No entanto, o barulho vindo do quarto ao lado era incessante, perturbando nossa paz e impedindo qualquer tentativa de relaxamento. Isso nos levou a buscar os proprietários do hotel para relatar a situação e buscar uma solução para o incômodo.

Sem sucesso em nossa queixa carregamos a Formosa em meio à escuridão da abafada noite de domingo, vestimos nosso traje de motoqueiros malvadões e tacamos fogo no hotel voltamos para a rodovia BR-101.

Claro que rodamos poucos quilômetros até um forte temporal nos atingir, com direito a raios e trovões (o que foi bom, pois assim nos mantivemos acordados durante o trajeto), que nos acompanharam até o centro de Criciúma – SC, onde, longe da euforia do litoral, localizamos com facilidade um hotel onde a diária cabia em nosso bolso e oferecia as duas condições básicas que buscamos em um local para pernoitar: higiene e sossego.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Caxias do Sul – RS e Criciúma – SC.