Hoje pela manhã deixamos a Formosa estacionada e partimos para uma caminhada pelo centro histórico de Pelotas, Rio Grande do Sul.
A primeira foto do dia foi em frente à Catedral Anglicana do Redentor, também conhecida como Igreja Cabeluda.
Construída em estilo gótico-céltico, a Igreja Cabeluda abriu as portas ao público em 1892. Sua torre possui 27 metros de altura.
Da igreja fomos ao Mercado Central.
O Mercado Central de Pelotas, também conhecido como Mercado Público, possui estilo neoclássico e foi inaugurado em 1853 após seis anos de obras.
Como chegamos no mercado logo após às 8h00 as lojas ainda estavam fechadas, decidimos então explorar outros pontos da cidade e depois retornar.
O Mercado Público de Pelotas fica ao lado da Praça Coronel Pedro Osório, a qual é cercada de edificações históricas, como a Antiga Sede do Banco do Brasil, construída entre os anos de 1926 e 1929.
Na outra esquina fica a prefeitura municipal.
A edificação que abriga a prefeitura foi inaugurada no ano de 1881 para ser a sede da câmara municipal.
Ao seu lado fica a Biblioteca Pública, construção erguida entre os anos de 1878 e 1881
A biblioteca foi fundada em 1875 por diversos cavalheiros da sociedade local, com o objetivo de colaborar para o conhecimento intelectual e cultural dos pelotenses.
Na sequência passamos pela Praça Coronel Pedro Osório, onde existe uma estátua do escritor pelotense João Simões Lopes Neto, considerado um dos maiores regionalistas da literatura brasileira, autor de Contos Gauchescos, Lendas do Sul e Casos de Romualdo.
A praça é tida como um símbolo do modelo de arquitetura histórica característico na cidade.
Depois passamos pelo Grande Hotel, inaugurado em 1928.
E pelas casas geminadas construídas pelo Comendador Joaquim Assumpção para suas duas filhas, Judith e Francisca Augusta.
Bem próximo dali fica a Casa Senador Augusto Assumpção, construída entre 1884 e 1889.
E o Theatro Guarany, que tem uma história um tanto quanto curiosa.
O coronel Rosauro Zambrano, abastado comerciante e charqueador pelotense, era apaixonado por companhias de óperas e, naquela época, o único teatro existente na cidade era o Sete de Abril, onde Rosauro mantinha convênio com a gerência, garantindo a reserva de um determinado camarote para todas as apresentações.
Certo dia, ao dirigir-se para o camarote na hora do espetáculo constatou que por uma confusão do gerente, ou da bilheteria, o camarote havia sido vendido para outra pessoa, e o teatro estava lotado.
Não conformado em ter perdido a apresentação o coronel teria dito: “Já que vocês não guardaram o meu camarote, eu não piso mais no Teatro Sete de Abril e vou construir um outro para assistir óperas e operetas”. Assim surgiu o Theatro Guarany de Pelotas, construído a mando de Rosauro nos anos 1920.
A região onde está o município de Pelotas era área de passagem de duas tribos que habitavam a região sul brasileira e a Zona do Prata: Minuanos e Charruas, que desde o século XVII lidavam com o gado pelas redondezas.
Com a guerra travada entre Espanha e Portugal os nativos foram dizimados e em 1758 o general Gomes Freire de Andrade, governador do Rio de Janeiro e futuro Conde de Bobadela, doou terras de sua propriedade, às margens da Lagoa dos Patos (maior laguna da América do Sul, com 265 quilômetros de comprimento e 60 de largura), ao coronel Thomaz Luiz Osório, oficial português.
No dia 2 de abril de 1776 a Vila de Rio Grande foi libertada dos espanhóis, data comemorada pelas famílias refugiadas do conflito, que se instalaram às margens do Arroio Pelotas, dando origem ao povoado batizado com o nome do santo do dia: São Francisco de Paula.
No ano de 1780 chega à região o português João José Pinto Martins, que tinha uma fazenda de gado no nordeste brasileiro mas acabou vindo para o sul fugindo da seca, e instalou a primeira charqueada na região do Arroio Pelotas.
Assim teve início a região que se tornou próspera com várias estâncias de charque, as quais se expandiram com base na mão de obra escrava, tanto é que no censo feito em 1833 foi constatado que 51% da população local era composta por negros escravizados.
Devido a grande importância da localidade no ano de 1834 foi inaugurada ali a primeira casa de espetáculos do Rio Grande do Sul, o Theatro Sete de Abril.
E em 1835 a então Vila de São Francisco de Paula se torna cidade, recebendo o nome de Pelotas, em homenagem às primeiras embarcações indígenas feitas em couro usadas na região.
No mesmo ano a Guerra dos Farrapos teve início e como Pelotas era uma das principais cidades gaúchas na época, foi tomada e retomada por Farrapos e Imperialistas diversas vezes ao longo dos dez anos de duração do conflito, fazendo com que mais da metade da população abandonasse a cidade.
Após a guerra foi necessária a criação de uma enfermaria para abrigar os doentes e carentes, esta enfermaria, construída em 1847, foi o embrião do primeiro hospital da cidade, a Santa Casa de Misericórdia.
Nas proximidades do hospital fica a Praça Piratinino de Almeida, a qual abriga até hoje em seu centro a caixa d’água de ferro construída em 1874, sendo a única do gênero em toda a América Latina naquele momento.
Atualmente Pelotas abriga cerca de 350.000 habitantes e tem como principal fonte econômica o agronegócio, sendo o maior produtor de pêssego para a indústria de conservas do país, além de produzir outros produtos como aspargo, pepino, figo e morango.
O município também é grande produtor de arroz, possui a maior produção de leite do estado e tem um destacado rebanho bovino de corte.
Após conhecer parte do centro histórico de Pelotas decidimos retornar ao Mercado Central.
Atualmente o Mercado Central tem aproximadamente 120 bancas entre lojas de artesanato, cafeterias, lanchonetes, restaurantes, açougue, e outros.
No ano de 1911 o local passou por uma grande reforma, tomando as características atuais, incluindo a estrutura de ferro em homenagem à Torre Eiffel, de Paris.
A torre do relógio e o farol de ferro foram importados de Hamburgo, Alemanha.
Do farol, que no alto tinha a estátua do deus Mercúrio, se emitia a luz de uma poderosa luminária rotativa.
Retomando a época do auge das charqueadas, nas décadas de 1860 e 1870 a expansão do charque pelotense ganhou velocidade e diversos navios transportavam o produto para os mais variados destinos, inclusive o nordeste brasileiro, de onde retornavam carregados de açúcar.
Com isso o consumo de doces finos, de origem portuguesa e francesa, passaram a ser costume entre as famílias locais e no ano de 1986 foi criada a Feira Nacional do Doce (Fenadoce), com o objetivo de promover a cultura doceira da cidade e desenvolver as potencialidades regionais.
A iniciativa deu tão certo que hoje a cidade é conhecida como a “Capital Nacional do Doce”.
Claro que não poderíamos deixar de experimentar alguns desses doces (que são vários), e no Mercado Central não faltam opções, então tratamos de escolher alguns e nos deliciar com as gostosuras.
De barriga cheia recuperamos a Formosa e rodamos até a Estação Férrea Largo de Portugal.
Na sequência passamos pelo Centro Espírita Jesus, em uma edificação de 1928.
E estacionamos nos arredores da Praça José Bonifácio.
A qual fica em frente à Catedral Metropolitana São Francisco de Paula.
A bela igreja matriz da cidade foi concluída em 1853.
Após fotografar o templo religioso nos despedimos do centro da cidade e seguimos até o Museu da Baronesa, que fica no Bairro Areal.
O Solar da Baronesa foi construído depois da metade do século XIX, época em que Pelotas viveu o apogeu das charqueadas.
Como o museu estava fechado no horário em que passamos pelo local, fizemos algumas fotos externas e seguimos rumo à Charqueada Santa Rita, onde vamos pernoitar.
Todo o trajeto até as charqueadas é bem sinalizado e o asfalto acaba próximo da entrada da primeira das quatro charqueadas sobreviventes, a Santa Rita.
Com o fim do asfalto logo descobrimos o motivo do bairro se chamar Areal, e passamos a rodar por uma estrada de terra composta por muita areia fofa.
Depois de algumas reboladas da Formosa chegamos no portão de acesso à Charqueada Santa Rita Pousada de Charme.
A Charqueada Santa Rita, antiga Charqueada de Inácio Rodrigues Barcellos, foi construída no ano de 1826 em estilo colonial.
Atualmente as instalações da antiga fazenda de charque compõem uma pousada de charme, finamente decorada com mobília de época e um ambiente muito acolhedor.
Além da hospedagem o local conta com sala de jogos, piscina e oferece atividades como passeios à cavalo, empréstimo de canoas, bicicletas e campo de golfe.
Tudo isso às margens do Arroio Pelotas.
Ainda nas dependências da pousada funciona um pequeno museu.
O Museu do Charque contém elementos de época e uma maquete de como eram as charqueadas na época de seu apogeu.
Entre os itens expostos destaca-se a réplica de uma pelota, pequena embarcação feita de couro, na qual os proprietários da charqueada embarcavam e atravessavam o arroio puxados pelos escravos, que utilizavam as mãos para nadar e os dentes para levar as pelotas.
Nos tempos áureos das charqueadas a quantidade de pelotas cruzando o arroio era tão grande que o mesmo passou a se chamar Arroio das Pelotas.
Conhecido o Museu do Charque emprestamos duas bicicletas da Charqueada Santa Rita e pedalamos até a propriedade vizinha, a Charqueada São João.
Charqueada São João
Local: Estrada da Costa, 750 | Areal | Pelotas – RS
Telefone: (53) 3015-1810
E-mail: contato@charqueadasaojoao.com.br
Site: https://www.charqueadasaojoao.com.br/
Funcionamento: Terça a sábado das 9h00 às 18h00 | Domingo e segunda das 14h00 às 18h00
Ingresso: R$ 30,00
Tempo médio de visitação: 2 horas
Após comprar os ingressos assistimos um pequeno vídeo relatando a história das charqueadas e, claro, da Charqueada São João.
A Charqueada São João, uma das maiores do Rio Grande do Sul, foi construída pelo português Antônio Gonçalves Chaves entre 1807 e 1810.
O nome São João foi, provavelmente, uma homenagem de Antônio José Gonçalves Chaves ao seu filho João Maria. Os filhos de Gonçalves Chaves, Antônio José e João Maria, compartilharam das propriedades que foram de seu pai.
A casa, que guarda uma parte da história do Rio Grande do Sul, foi comprada por Rafael Dias Mazza em 1952, como presente para sua esposa Nóris Moreira Mazza.
No ano 2000 a família Mazza resolveu abrir as portas da charqueada ao público, proporcionando uma verdadeira viagem no tempo.
A Charqueada São João serviu como local de gravação da minissérie “A Casa das Sete Mulheres” e do filme “O Tempo e o Vento”.
A casa de 1810 foi reconhecida como Patrimônio Nacional pelo IPHAN e é a única que mantém as características arquitetônicas originais e o seu próprio acervo da época do Ciclo do Charque.
Durante a empolgante visita guiada pela Dona Eva, funcionária da Charqueada São João há 40 anos, aprendemos muitas coisas e uma das curiosidades que nos chamou a atenção é que na época das charqueadas as mulheres utilizavam as claras dos ovos para engomar as roupas e as gemas eram descartadas.
Isso até alguém ter a brilhante ideia de aproveitar as gemas para complementar os doces que eram produzidos com o açúcar oriundo do nordeste, nascendo assim a tradição dos saborosos doces de Pelotas, que carregam como principal característica até os dias atuais os fios de ovos.
Atualmente a entrada do casarão da Charqueada São João fica aos fundos da estrutura original, uma vez que a frente de todas as construções eram voltadas para o Arroio Pelotas.
Parte do charque produzido pelas charqueadas gaúchas era utilizado como alimento para os escravos e tinha a duração média de 1 ano, podendo ser transportado por longas distâncias.
Nos anos de glória existiam mais de 40 charqueadas ao longo do Arroio Pelotas, as quais chegavam a matar 1 milhão de bois durante um ano, sendo que toda a sangria era despejada no arroio, fazendo com que suas águas ficassem vermelhas e o arroio fosse conhecido também como Arroio Vermelho.
Após uma verdadeira imersão cultural retornamos à Charqueada Santa Rita.
Ali contemplamos o Sol se pôr e nos preparamos para o jantar.
Que não poderia ter outro ingrediente principal, a não ser o charque, e devorando uma deliciosa pizza de charque encerramos com chave de ouro o sábado.


Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Mas bah tchê o coronel Rosauro Zambrano não era fraco…kkkkk….
Viu só! Já que não deixaram seu espaço reservado, ele resolveu o problema :) hahahaha
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
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