Argentina • Chajarí • Entre Ríos • Expedição 2017: El Palmar - Moconá • Ubajay
Dia 05: Paso de Los Libres – Corrientes – Argentina ao Parque Nacional El Palmar – Ubajay – Entre Ríos – Argentina
25 de Setembro, 2017Deixamos o hotel em Paso de Los Libres – Corrientes – Argentina nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira e seguimos pela Ruta Nacional 14 sentido sul, tendo como destino do dia o Parque Nacional El Palmar.
De Paso de Los Libres em diante a Ruta 14 é duplicada e a viagem ganha agilidade, da mesma forma que passa a ser monótona devido às longas retas e baixo fluxo de veículos.
Quando cruzamos a divisa entre Corrientes e Entre Ríos a Policia Caminera da província de Entre Ríos estava atacando os veículos em sua blitz rotineira, curioso que eles fazem isso no meio da faixa de rolamento, ocasionando um belo congestionamento. Aguardamos alguns minutos na fila e ao chegar nossa vez o policial acenou com as mãos indicando para seguir viagem.
Avançamos pela Ruta 14 e logo chegamos na cidade Chajarí, onde fomos conhecer o Museo Regional Camila Quiroga.
Museo Regional Camila Quiroga
Local: Adolfo Repetto, 1900 | Chajarí – Entre Ríos – Argentina
Telefone: +54 03756 493-000
E-mail: info@camilaquiroga.com.ar
Site: https://www.camilaquiroga.com.ar/
Funcionamento: Segunda a sexta das 8h00 às 11h30 e das 14h30 às 18h00 | Sábado das 14h00 às 20h00
Ingresso: Gratuito
Tempo médio de visitação: 45 minutos
Camila Josefa Ramona Passera, mais conhecida como Camila Quiroga, nasceu no dia 19 de março de 1893 na casa que atualmente abriga o museu regional que carrega seu nome.
Neta de Constantino Saltery, filha da uruguaia Constanza Saltery e do italiano César Passera, mudou-se para Buenos Aires em 1906 para seguir a carreira de atriz, sendo descoberta por Armando Discépolo, importante diretor teatral e dramaturgo argentino.
Integrou a companhia Hermanos Podestá, onde estreou “Con las alas rotas”, de Emilio Berisso, alcançando mais de 350 apresentações.
Mais tarde criou uma companhia teatral própria em parceria com seu marido Héctor Quiroga, com ela realizou um tour pela Europa atingindo sucesso e destaque, principalmente na Espanha, Portugal e França.
No cinema Camila Quiroga participou de nove filmes entre os anos de 1916 e 1918 até se consagrar com a atuação na obra “Juan sin ropa”, de 1919 dirigido pelo diretor francês Georges Benoit.
Trabalhou ao lado de importantes personagens como Carlos Gardel, Florencio Parravicini, Lola Membrives, Pablo Podestá, Blanca Podestá e Alfonsina Storni.
Recebeu condecorações em Portugal, México, Cuba e Chile, onde Gabriela Mistral a declara como “a primeira mulher a considerar a América Latina como uma só terra”.
Até hoje Camila Quiroga é tida como uma das expoentes atrizes argentinas, muito respeitada e admirada por seus conterrâneos.
A visita ao museu é guiada e na ocasião tivemos a satisfação de percorrer as salas da antiga residência de Quiroga com a companhia de uma simpática senhora que nos contou detalhadamente a história da artista e de cada objeto ali exposto.
Oito salas e um salão multiuso utilizado para palestras e eventos compõem o espaço cultural.
Além do acervo da renomada atriz argentina o museu abriga importantes peças que retratam a vinda dos primeiros imigrantes italianos à região de Chajarí, bem como alguns artigos jesuítas.
Chajarí conta atualmente com cerca de 35.000 habitantes, está a 53 metros de altitude acima do nível do mar e é nacionalmente conhecida não somente por ser a cidade natal de Camila Quiroga, mas também por possuir um complexo de águas termais.
O Complejo Termas de Chajarí é considerado um dos mais modernos da Argentina e coloca a disposição dos visitantes todas as propriedades terapêuticas contidas nas águas que emergem do solo a uma temperatura que varia entre 36º e 41º C.
Não nos animamos em conhecer as piscinas de águas terminais neste momento, então fizemos uma breve pausa em frente ao complexo para uma foto e voltamos à estrada.
Completamos o tanque da Formosa em um posto às margens da Ruta 14 e alguns quilômetros adiante paramos para fazer um lanche e se hidratar em um quiosque que nos atraiu pela quantidade de placas publicitárias até chegar nele.
Alimentados avançamos sentido sul e decidimos acessar o centro da cidade de Concordia.
Debaixo de um Sol escaldante e seguidos por um fluxo caótico de veículos em pleno horário de pico no centro da cidade com mais de 140.000 habitantes nos contentamos em fazer uma única foto em frente à Iglesia Nuestra Senora de Pompeya e sair o quanto antes do conturbado centro urbano.
De volta à Ruta 14 nos refrescamos com o vento no rosto e no início da tarde passamos pela cidade de Ubajay, a última antes da entrada do Parque Nacional El Palmar.
A vila cidade tem cerca de 3.500 habitantes, a maioria das ruas é de terra e devido ao horário, da sagrada sesta argentina, o local parecia um vilarejo fantasma.
A sesta é uma breve cochilada no início da tarde (que por vezes pode durar horas), geralmente depois do almoço, uma tradição em alguns países ou regiões, como é o caso desta parte da Argentina, onde o clima é mais quente. A palavra tem origem na expressão latina hora sexta, que no calendário romano correspondia à sexta hora a partir da manhã, ou seja, ao meio-dia.
Com isso não cruzamos com nenhuma pessoa pelas ruas, todos os estabelecimentos estavam cerrados, e nossa ideia de comprar água e comida para levar ao parque nacional foi por água abaixo.
Sem mantimentos e água voltamos a percorrer a rodovia federal. Em instantes chegamos na portaria de entrada ao Parque Nacional El Palmar, onde existe um centro de visitantes, são vendidos os ingressos e repassadas as informações sobre o local.
Parque Nacional El Palmar
Local: Ruta Nacional 14, Km 198 | Ubajay – Entre Ríos – Argentina
Telefone: +54 03447 493-053
E-mail: elpalmar@apn.gov.ar
Site: https://www.argentina.gob.ar/parquesnacionales/elpalmar
Funcionamento: Todos os dias das 7h00 às 23h00
Ingresso: $ 1.300
Tempo médio de visitação: 1 dia
Assim que compramos a entrada a guia olhou para a Formosa e disse algo parecido com isso: “Tengo que avisarle que de aquí hasta el parque son 11km de camino arenoso, con algunos fragmentos de arena fofa”.
Bom, como diz Humberto Gessinger na canção “Até o fim”, eu “não vim até aqui pra desistir agora”.
Coloquei o capacete, vesti as luvas, liguei a Formosa e lá fomos nós!
Pois bem, a maior parte dos 11 quilômetros está em bom estado de conservação, com várias pedras em meio ao solo arenoso, mas alguns pequenos trechos com menos de 1 quilômetro de extensão são revestidos unicamente por areia fofa e com vários trilhos formados pelos veículos que passaram por ali.
Foquei na pilotagem, reduzi a velocidade e com isso não fizemos pausas durante o percurso para fotografar, mas no fim deu certo.
A Formosa rebolou diversas vezes, eu matei algumas baratas pelo caminho (motoqueiros entenderão) mas chegamos sãos e salvos, livres de uma queda indesejada.
Uma vez no centro do Parque Nacional El Palmar fomos até o camping local, onde compramos os ingressos e rapidamente armamos a barraca.
El Palmar Camping – Parque Nacional El Palmar
Local: Parque Nacional El Palmar | Ubajay – Entre Ríos – Argentina
Telefone: +54 03447 423-378
E-mail: info@campingelpalmar.com.ar
Site: http://campingelpalmar.com.ar/
Funcionamento: Todos os dias das 9h00 às 18h00
Ingresso: $ 800
O Camping El Palmar oferece ótima estrutura, conta com mais de 7 hectares, área para 200 barracas, banheiros limpos, chuveiros com água quente, eletricidade, churrasqueiras, mesas com bancos debaixo da sombra das árvores, vigilantes, internet wireless, lanchonete e restaurante.
Isso sem falar da tranquilidade e vista privilegiada proporcionada pelo magnífico Rio Uruguai, que costeia todo o parque nacional.
Tão logo terminamos de armar a barraca e arrumar as tralhas para o pernoite recebemos a visita de um esbelto lagarto, que lentamente se aproximou, circundou a barraca, rodeou da Formosa e após nos dar as boas vindas desapareceu em meio ao verde da mata.
Com fome e sem água logo caminhamos até a lanchonete, onde devoramos uma hamburguesa e compramos algumas botellas de água.
Enquanto nos alimentávamos uma urraca común, ou gralha-picaça, se aproximou para ver se ganhava algo, mas não levou nada desta vez, pois o esfomeado motociclista sequer deixou alguns farelos para a pobre ave.
Mais tranquilos após o lanche iniciamos a exploração do Parque Nacional El Palmar.
O parque compreende uma área de 8.200 hectares e foi criado em 1966 com o objetivo de preservar uma área representativa de Palmeiras Yatay.
A paisagem predominante no local é a savana, mas devido às ondulações do terreno, à composição do solo e à grande disponibilidade de água, existem outros ambientes como a floresta e a selva, proporcionando a sobrevivência de uma ampla variedade de animais.
O Parque El Palmar é extremamente lindo, muito bem preservado e repleto de senderos, ou, trilhas.
Passamos pela sede administrativa do parque e iniciamos a caminhada pelo Sendero Calera del Palmar.
A trilha tem um percurso total de 900 metros, muito bem demarcado e segue costeando o rio adentrando no Sitio Histórico Calera del Palmar.
Nativos, espanhóis, jesuítas e crioulos passaram por esses caminhos em diferentes épocas ao longo dos tempos.
O silêncio em meio à caminhada só era interrompido pelo cantar dos pássaros, que se fazem presentes em grande quantidade nas cercanias do Parque El Palmar.
Cerca de 1.000 espécies de aves são conhecidas atualmente na Argentina, dessas, mais de 250 podem ser avistadas no Parque Nacional El Palmar, um verdadeiro paraíso para quem curte ouvir, fotografar e apreciar os pássaros.
Em determinado ponto da trilha avistamos montes de pedras que serviam como barricada e suporte para canhões.
O local escolhido para a colocação das cañoneras não foi por acaso, já que estamos próximos de um dos pontos de menor profundidade do Rio Uruguai, onde em determinadas épocas do ano é possível avistar bancos de areia em meio ao rio, facilitando sua travessia, e as barricadas serviam justamente para proteger o território de possíveis invasores vindos da margem oposta do rio, que atualmente pertence ao Uruguai.
Além da bela paisagem ao longo da caminhada as inúmeras placas espalhadas pelo percurso narrando a história daquele local fazem da trilha algo muito especial e cultural.
Antes da colonização essas terras eram habitadas pelos índios charruas, depois chegaram os guaranis e então os europeus, que introduziram os guaranis ao primeiro estabelecimento agrícola, pecuário e minerador da região, organizado pela ordem religiosa jesuíta Companhia de Jesus.
Assim que os jesuítas foram expulsos da área, na década de 1760, chegaram os comerciantes e criadores de gado vindos da Espanha.
Neste momento o território passou a ser utilizado principalmente para a criação de gados e originou uma verdadeira indústria de insumos que iam desde carne, couro e banha, à lenha, madeira e cal.
É bem provável que a maioria das construções mais antigas de Santa Fé, Buenos Aires e Montevidéu tenham sido construídas utilizando cal e madeiras provenientes deste local.
O resquício das antigas edificações erguidas ao longo do século XVIII são testemunhas de toda a história ocorrida neste local.
São residências, galpões, fornos de cal, igrejas e cemitério, que nos remetem ao período do território que um dia foi lar dos nativos, passou a abrigar uma redução jesuíta, se transformou em um grande centro industrial e hoje é mantido como um belo parque nacional.
Muito próximo deste tesouro arquitetônico encontramos outro tesouro, este natural, uma charmosa praia banhada pelas águas do Río Uruguay.
Curtimos a beleza local por alguns momentos e no fim do dia retornamos à área central do parque, onde são vendidos artesanatos locais.
Vale destacar que além das inúmeras trilhas para caminhada no Parque El Palmar também é possível alugar bicicletas, fazer passeios a cavalo e passeios de canoa.
Com a noite se aproximando tratamos de tomar um banho e aguardar pelo pôr do Sol.
E assim nos despedimos desta segunda-feira, rodeados por uma incrível beleza natural em um lugar repleto de energia positiva.
“La tierra no la heredamos de nuestros padres sino que la tomamos prestada de nuestros hijos.”
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Valeu, lugares diferentes e belas fotos, parabéns,…
Lugares maravilhosos mesmo, abraços ;)
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