Das Belezas do Cerro del Toro ao Inesquecível Pôr do Sol do Cerro San Antonio em Piriápolis, no Uruguai

No ensolarado sábado, seguimos os passos de Francisco Piria, fundador de Piriápolis, para explorar algumas maravilhas naturais desse encantador balneário uruguaio. Nosso roteiro incluiu as três icônicas e místicas fontes de águas minerais idealizadas por Piria: La Fuente del Toro, La Fuente de la Virgen e La Fuente de Venus. Além disso, caminhamos pelas trilhas ecológicas do Parque Cerro del Toro, cercados pela exuberante natureza a cada passo. Para fechar o dia com chave de ouro, apreciamos um dos entardeceres mais impressionantes do Uruguai: o inesquecível pôr do sol visto do alto do Cerro San Antonio de Maldonado.

O sábado começou com um friozinho agradável, mas sob um céu azul deslumbrante em Piriápolis. Após um café da manhã reforçado, organizamos nossas mochilas com alimentos, água, erva-mate e a inseparável cuia, prontos para explorar as belezas desta encantadora cidade uruguaia.

Após uma breve caminhada de pouco mais de 30 minutos, chegamos a um dos principais cartões-postais de Piriápolis: a impressionante Fonte do Touro, conhecida localmente como La Fuente del Toro.

La Fuente del Toro, um dos ícones de Piriápolis, é uma escultura de bronze em tamanho natural, concebida pelo renomado escultor Isidore Bonheur. Trazida de Paris ao Uruguai por Francisco Piria, a obra foi inaugurada em 1911 e rapidamente se destacou como uma das principais atrações turísticas da cidade.

Localizada em um denso bosque, a cerca de 100 metros acima do nível do mar, La Fuente del Toro impressiona com seus 3.000 quilos. A água mineral que jorra da boca do touro, símbolo do Cerro del Toro — a colina onde a escultura está situada — provém de uma nascente natural. Francisco Piria acreditava que essa água possuía propriedades terapêuticas, o que torna a visita a este local ainda mais especial.

De acordo com lendas populares, tocar nos órgãos genitais da escultura é considerado um gesto que traz boa sorte. Por essa razão, muitos visitantes fazem questão de subir até o monumento do touro para realizar esse ritual, o que reforça o caráter místico e simbólico que envolve La Fuente del Toro de Piriápolis, no Uruguai.

Após conhecer e fotografar La Fuente del Toro, seguimos por uma estreita e sinuosa trilha, imersos na exuberante natureza do Parque Cerro del Toro. Em pouco tempo, alcançamos o cume da montanha, que se eleva a 250 metros acima do nível do mar, proporcionando uma vista espetacular da paisagem circundante.

Do alto do Cerro del Toro, somos agraciados com uma vista panorâmica única de Piriápolis, que destaca suas deslumbrantes praias e balneários, como Punta Negra, Punta Colorada e Playa Hermosa.

A paisagem proporciona uma nova perspectiva da cidade e da maravilhosa costa do departamento uruguaio de Maldonado, tornando este local um ponto imperdível para aqueles que desejam apreciar a beleza natural da região.

Sob um vento frio e agradável, com um céu azul impecável, nos acomodamos em uma das muitas pedras no topo do Cerro del Toro.

Aproveitamos o momento para saborear um delicioso sanduíche de jamón y queso, preparado com um generoso pão amanteigado fresco, enquanto apreciávamos a tranquilidade e a beleza que nos cercava.

O Cerro del Toro é parte da Sierra de las Ánimas, um conjunto de serras que se formou há milhões de anos e é a única região de origem vulcânica no Uruguai. Esse fenômeno ocorreu na mesma época em que a Cordilheira dos Andes começou a se elevar entre Argentina e Chile, atingindo impressionantes 6.962 metros de altitude.

A Sierra de las Ánimas está situada nos departamentos uruguaios de Lavalleja e Maldonado, caracterizando-se como uma região rica em história geológica e belezas naturais. Nesse conjunto montanhoso, encontra-se o Cerro de las Ánimas, a segunda montanha mais alta da República Oriental do Uruguai, com uma altitude de 501 metros.

O nome Sierra de las Ánimas, que se traduz como “Serra das Almas”, faz referência aos índios nativos charruas que foram mortos (dizimados) nesta região. Este local foi um importante refúgio para esse povo durante a colonização espanhola, simbolizando a luta e a resistência de suas comunidades diante das adversidades enfrentadas ao longo da história.

Reza a lenda que, à noite, é possível avistar o resplendor dos espíritos dos antigos charruas. Essa luz, conhecida como “luz má,” representa as almas que pereceram na região. Assim, o nome Sierra de las Ánimas, também chamada de Sierra de las Almas, faz alusão a essa conexão espiritual, conferindo um toque místico à história desse lugar tão significativo.

Após nos alimentarmos, continuamos nossa caminhada pela trilha circular no topo do Parque Cerro del Toro, onde a cada passo éramos agraciados com vistas deslumbrantes.

Tudo isso sob a vigilância da imponente lua, que brilhava intensamente e se destacava em um céu limpo e sem nuvens, acrescentando um toque mágico à nossa experiência.

Don Francisco Piria, fundador de Piriápolis, nasceu em Montevidéu em 1847, com o nome completo de Fernando Juan Santiago Francisco María Piria de Grossi. Após a morte de seu pai ainda na infância, sua mãe, preocupada com a educação dele, o enviou para a Itália, onde foi criado por seu tio, um monge jesuíta.

Sob a orientação de seu tio, que alguns acreditam ter sido alquimista, Piria recebeu uma educação exemplar em história, filosofia e mitologia. Ele permaneceu na Itália dos 5 aos 16 anos, retornando ao Uruguai com uma formação intelectual privilegiada para a época.

De volta a Montevideo, Francisco Piria desempenhou diversas funções e se destacou como fundador de 70 bairros na capital uruguaia. Além disso, ele foi responsável pela criação do povoado de Joaquín Suárez, no departamento de Canelones.

Curiosamente, Piria inicialmente rejeitou a ideia de adquirir os terrenos onde, mais tarde, fundaria o balneário de Piriápolis. Don Félix de Lizarsa, fundador do povoado vizinho de Pan de Azúcar, tentou convencê-lo a investir na região, que considerava encantadora. A resposta de Piria foi curta e direta: “Mire, don Félix, yo no soy tan tonto como para plantar mis jalones en el desierto”.

Com o tempo, a visão de Francisco Piria mudou, e em 1889 ele decidiu se estabelecer na região. Em seus 2.700 hectares, que se estendiam do Cerro Pan de Azúcar até o Rio da Prata, Piria começou a cultivar uvas, oliveiras e tabaco. Recém-retornado de uma viagem à Europa, onde se encantou pelos balneários da costa mediterrânea, Piria logo começou a colocar em prática a ideia de criar algo similar no Uruguai. Assim, ele iniciou o desenvolvimento do primeiro balneário uruguaio, que mais tarde se tornaria a famosa cidade de Piriápolis.

A ideia de Francisco Piria era criar uma cidade autossuficiente, com excelente conexão internacional, que ressaltasse a beleza natural de suas praias e montanhas, como o Pan de Azúcar, San Antonio e Cerro del Toro. Inicialmente, ele nomeou o projeto de “La Ciudad Balnearia del Porvenir” (Cidade Balneária do Futuro), mas logo mudou o nome para Piriápolis.

Em 1897, Piria já estava construindo seu castelo nos arredores, que se tornaria sua residência permanente e que planejamos visitar nos próximos dias. Em 1904, ele inaugurou o Gran Hotel Piriápolis, que fotografamos ontem.

Em 1912, Piria começou a vender terrenos no balneário, enquanto seu sócio realizava vendas em Buenos Aires, onde havia muitos clientes potenciais. Não por acaso, a principal avenida de Piriápolis foi nomeada Rambla de los Argentinos, em homenagem a essa conexão. Além disso, o luxuoso Argentino Hotel de Piriápolis, inaugurado em 1930, reforça ainda mais essa ligação histórica e simbólica com o público argentino, que, desde o início, foi um dos principais frequentadores da cidade.

A cidade de Piriápolis, completamente planejada por Francisco Piria, desperta curiosidade e intriga até os dias atuais, sendo repleta de simbologia e mistérios. Um fato interessante é que, ao observarmos um mapa de Piriápolis, os principais pontos que fazem referências à alquimia, quando unidos por linhas, formam a constelação de Aquário. No plano original de 1912, o traçado da cidade incluía símbolos cabalísticos, como a Árvore da Vida, alinhada com as principais ruas.

Piria teria seguido uma geometria sagrada ao traçar a cidade, marcando pontos energéticos específicos com as estátuas de suas três fontes principais: a Fuente de la Virgen (Fonte da Virgem), a Fuente del Toro (Fonte do Touro) e a Fuente de Venus (Fonte de Vênus). Essas fontes, que formaram um dos primeiros passeios da cidade no início do século XX, eram parte fundamental da visão de Piria. Ele acreditava firmemente nas propriedades curativas das águas que fluíam das nascentes da região, conferindo um caráter místico e medicinal ao projeto urbanístico.

Após concluirmos nossa exploração e caminhada pelas encantadoras trilhas ecológicas no topo do Parque Cerro del Toro, seguimos em direção à Fonte de Vênus, conhecida localmente como La Fuente de Venus. Este local, além de ser um dos pontos mais simbólicos de Piriápolis, proporciona um ambiente de tranquilidade e beleza.

La Fuente de Venus, em Piriápolis, é uma réplica exata de uma famosa escultura da Itália. A fonte, que emana água mineral, possui 10 metros de altura e é adornada por seis imponentes colunas de mármore. Localizada no centro de uma praça arborizada e bem preservada, o ambiente ao redor da fonte é repleto de pássaros, tornando o local ainda mais encantador e sereno para os visitantes.

Ali, aproveitamos para cevar um mate especial de primeira e nos deliciar com os saborosos ojitos uruguaios que preparamos na noite anterior, acompanhados de pães de queijo feitos com batata-doce. Essa pausa para o lanche, em um ambiente tão encantador, tornou a experiência ainda mais agradável e memorável.

Embora os símbolos de Piriápolis estejam claramente expostos, acreditar em seus significados e nas crendices associadas a eles é uma escolha pessoal. O que é inegável é que o mistério que envolve Francisco Piria é uma parte essencial do patrimônio cultural da cidade.

Piriápolis é uma cidade que foi criada, em grande parte, por um único homem, e a realização desse feito, por si só, parece um milagre, tornando-a um destino único e fascinante para todos que a visitam.

Francisco Piria faleceu em 1933, mas a cidade continuou a crescer e se desenvolver, ao contrário do que se poderia imaginar.

O balneário de Piriápolis viveu seu auge durante as décadas de 1940 e 1950. Até 1959, a cidade contava com um trenzinho turístico que levava os visitantes aos principais atrativos locais, percorrendo aproximadamente 18 quilômetros.

Nas décadas de 1960 e 1970, Piriápolis recebeu importantes festivais musicais de nível internacional, consolidando-se como um centro cultural vibrante e atraente para visitantes de todo o mundo.

Atualmente, Piriápolis abriga uma população de cerca de 9.000 habitantes, respira turismo e se destaca como o segundo balneário mais importante da República Oriental do Uruguai, superado apenas pela badalada Punta del Este.

Com o dia chegando ao fim, decidimos explorar mais um atrativo imperdível de Piriápolis: o emblemático Cerro San Antonio.

O Cerro San Antonio de Piriápolis, montanha que se ergue elegantemente às margens do Rio da Prata, alcança uma altura de 130 metros. Seu topo pode ser conquistado por uma estreita e sinuosa estrada asfaltada, através de um teleférico, ou por uma trilha que serpenteia por sua margem. É claro que optamos pela caminhada.

No meio do percurso, a cerca de 70 metros acima do nível do mar, encontramos a imagem da Stella Maris Capo Laboro, conhecida como Virgen de los Pescadores (Virgem dos Pescadores), sobre um pequeno pedestal. Venerada pelos amantes do mar e da pesca, esta figura é considerada a pedra fundamental da cidade de Piriápolis. A poucos metros dela, localiza-se a primeira fonte de água mineral planejada por Francisco Piria, La Fuente de la Virgen, que está abrigada em uma pequena gruta.

Do mirante em frente à imagem da santa, Mirador de la Virgen Stella Maris, podemos contemplar uma vista espetacular da região, com a beleza do litoral e das montanhas se fundindo em um panorama deslumbrante.

Após a breve pausa, seguimos pelo longo percurso contornando o Cerro San Antonio até atingirmos o seu cume, onde uma verdadeira multidão se concentrava. O motivo? Apreciar um dos mais belos entardeceres de todo o Uruguai.

Além de um amplo estacionamento, o alto do Cerro San Antonio de Piriápolis abriga uma pequena capela, a Capilla de San Antonio, algumas residências particulares, bares, lanchonetes e restaurantes. Claro, também encontramos a base do teleférico chamado Aerosillas Piriápolis, que parte do Puerto de Piriápolis e leva os visitantes até o alto do morro.

Rapidamente, tratamos de nos acomodar em um local privilegiado, com vista para toda a cidade de Piriápolis, seu elegante porto e sua charmosa avenida à beira-rio, conhecida como Rambla de los Argentinos.

Ali, preparamos um café brasileiro com cardamomo, cravo e gengibre em nossa prensa francesa, aquecida por um mini fogareiro a álcool.

Para acompanhar, desfrutamos dos deliciosos ojitos con dulce de leche e da tarta de crema con frutillas y dulce de leche, feitos com muito amor e carinho pela Sayo.

Tudo isso tendo como plano de fundo um pôr do sol inesquecível, um dos mais lindos que já tivemos a oportunidade de presenciar.

Que espetáculo da natureza! Sem dúvida, o pôr do sol de Piriápolis, apreciado do alto do Cerro San Antonio, é um dos mais belos de todo o Uruguai!

Após esse verdadeiro espetáculo da natureza, uma merecida salva de palmas foi realizada por todos os presentes.

Assim, nos despedimos deste sábado maravilhoso, após aproveitar um memorável pôr do sol do alto do Cerro San Antonio.

Gracias, Piriápolis!