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Viagem de Moto de Erechim a Áurea (RS): Conheça a Capital Polonesa dos Brasileiros
23 de Outubro, 2021
Embarque em uma viagem de moto de Erechim (RS) a Áurea, a "Capital Polonesa dos Brasileiros". Explore a herança cultural da região, paisagens rurais, pontos históricos e experiências que revelam por que o norte gaúcho é um destino tão surpreendente.
Aproveitamos a temperatura amena de um sábado nublado em Erechim (RS) para realizar um breve, porém enriquecedor, passeio de moto até Áurea, a “Capital Polonesa dos Brasileiros”. Ao longo do trajeto, exploramos paisagens rurais, conhecemos a história da imigração polonesa no norte gaúcho, visitamos pontos culturais, apreciamos a gastronomia típica e registramos mais um roteiro autêntico pelo interior do Rio Grande do Sul.

O sábado amanheceu com clima firme e temperaturas amenas em Erechim, no norte gaúcho, condições ideais para um passeio de moto pela região.

Nosso destino escolhido para o dia foi Áurea (RS), município reconhecido oficialmente como a “Capital Polonesa dos Brasileiros”, título que reforça sua forte identidade cultural e histórica ligada à imigração europeia.

Nas primeiras horas da manhã, enquanto ainda organizávamos as últimas coisas antes da partida, pudemos observar a lua permanecendo visível no céu, resistindo ao brilho crescente do sol que surgia no lado oposto.

Tomamos o café da manhã com tranquilidade e, assim que tudo estava pronto, seguimos para mais um passeio com a Formosa, já animados com o roteiro do dia.

Ao cruzarmos o centro de Erechim, a “Capital da Amizade”, fomos acompanhados pelas árvores floridas que enfeitam a Avenida Maurício Cardoso, uma das mais tradicionais da cidade. O colorido das flores costuma marcar boa parte da primavera e do verão, ajudando a compor um cenário agradável em meio ao movimento urbano.

Erechim (RS) é um município singular no interior do estado, pois foi um dos primeiros a nascer de um projeto urbanístico planejado. Fundada oficialmente em 1918, a cidade foi desenhada com ruas largas e inspirada em conceitos urbanísticos usados nos traçados de Washington (1791), Paris (1850), Buenos Aires (1580) e Belo Horizonte (1897).


Com aproximadamente 110 mil habitantes, Erechim possui economia diversificada, destacando-se pelas agroindústrias, pelo comércio e pelo setor metalmecânico. A presença de instituições de ensino superior, como a URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, também impulsiona pesquisa, inovação e movimentação estudantil na cidade.


Logo após atravessarmos a área central, seguimos em direção à Rodovia Transbrasiliana (BR-153), um dos principais eixos de ligação do Alto Uruguai Gaúcho.


Rodamos alguns quilômetros pela BR-153 até alcançar o amplo trevo que dá acesso à RS-477, via que liga municípios do Alto Uruguai ao Nordeste do Rio Grande do Sul.


A partir dali, o fluxo de veículos diminui e a paisagem rural se torna mais presente, criando um trajeto agradável e mais tranquilo.


Conforme avançávamos pela estrada estadual, nuvens densas começaram a se aproximar vindas do oeste. Mesmo assim, mantivemos o ritmo de viagem com serenidade, sem pressa.



O clima instável é comum na região, especialmente entre a primavera e o verão, quando o calor e a umidade favorecem a formação de chuvas rápidas.


Atravessamos o pequeno Povoado Argenta, ainda dentro de Erechim, um dos muitos núcleos formados por imigrantes europeus no início do século XX.


A localidade preserva capelas, propriedades rurais familiares e a memória cultural de seus primeiros habitantes, mantendo vivas tradições que foram passadas de geração em geração.


Pouco depois, extensas lavouras começaram a dominar o cenário. Erechim (RS) já ostentou o título de “Capital do Trigo”, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, quando as áreas rurais eram majoritariamente destinadas ao cultivo do cereal.


Com a emancipação de antigos distritos e a modernização da agricultura, a produção acabou se espalhando pela região, mas a vocação agrícola continua evidente.



Nosso plano inicial incluía uma visita a uma cachoeira em Centenário (RS). No entanto, a aproximação das nuvens escuras e a garoa que já aparecia no retrovisor nos fez reconsiderar a ideia.


Como o acesso exigia alguns quilômetros de estrada de chão, optamos pela prudência e decidimos seguir diretamente para Áurea (RS).


No entroncamento entre a RS-477 e a estrada que leva a Áurea, continuamos pela via asfaltada, observando a dança das nuvens e as mudanças sutis na luminosidade.


A estrada estava em boas condições e o tráfego reduzido, o que deixou o percurso agradável mesmo sob instabilidade climática.


Áurea (RS) teve seu processo de colonização iniciado em 1906, quando imigrantes poloneses chegaram à localidade, então chamada de Rio Marcelino (pertecente à Erechim).



A política de colonização do estado oferecia lotes rurais como incentivo, atraindo famílias em busca de novas oportunidades. Os colonos construíram capelas, escolas e pequenos centros de comércio, seguindo o padrão de organização típico das colônias do norte gaúcho.


Em 1918, o povoado passou a ser chamado de Treze de Maio e, em 1938, recebeu o nome de Princesa Isabel. A homenagem recordava o apoio da princesa a diversas famílias polonesas que chegaram ao Rio Grande do Sul no período imperial, especialmente durante uma epidemia que vitimou muitos imigrantes, inclusive crianças.



Somente em 1944 o nome Áurea foi oficialmente adotado, passando a identificar a então Vila Áurea. A escolha remetia simbolicamente à Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 1888, e ao legado humanitário atribuído à figura histórica.



A emancipação político-administrativa de Áurea ocorreu em 1987, quando o município ganhou autonomia e pôde direcionar investimentos para infraestrutura rural, preservação cultural e incentivo à agricultura, pilares essenciais para localidades de pequeno porte.




Hoje, Áurea possui cerca de 4 mil habitantes, dos quais aproximadamente 90% são descendentes de poloneses. A cultura permanece viva no idioma, na gastronomia, na música, na religiosidade e nas festas típicas, elementos que renderam à cidade o título de “Capital Polonesa dos Brasileiros”.



Antes de chegar ao centro, passamos por dois pórticos consecutivos, algo incomum em municípios pequenos.




Ambos exibiam elementos decorativos com cores, símbolos e figuras características da Polônia, reforçando a identidade cultural logo na entrada da cidade.


Pouco depois, já no centro urbano, os primeiros pingos de chuva começaram a bater nos capacetes, anunciando que o tempo instável realmente nos acompanharia naquele dia.



Durante os primeiros minutos na área central, percebemos que, mesmo pequena, Áurea (RS) mantém uma organização urbana cuidadosa.


As ruas são bem sinalizadas, há boa conservação nas calçadas e diversos estabelecimentos comerciais apresentam elementos decorativos inspirados na cultura polonesa, o que torna o centro simpático e acolhedor para quem chega pela primeira vez.


Sob uma fina garoa, estacionamos a Formosa em frente ao Museu Municipal João Modtkowski, instalado em uma construção de 1951.


O nome homenageia um dos pioneiros da comunidade polonesa local, cuja família teve papel importante na organização social e religiosa da antiga Vila Áurea.


Infelizmente, o museu (que abriga objetos do cotidiano dos imigrantes, fotografias antigas e documentos históricos) estava fechado no momento de nossa visita. Mesmo assim, observar a arquitetura e o entorno já transmite um pouco da atmosfera preservada ao longo das décadas.



Bem em frente ao museu está a Praça João Paulo II, uma área ampla com bancos e espaços de convivência.


A praça é ponto de encontro da comunidade e sede de apresentações culturais, feiras e eventos religiosos, especialmente nos meses de clima mais ameno.


A economia de Áurea baseia-se predominantemente na agricultura, com foco nas lavouras de soja, milho, trigo e feijão. A produção de erva-mate também possui forte relevância, tanto para consumo interno quanto para comercialização na região.


Deixando a praça, seguimos em direção à imponente Igreja Nossa Senhora do Monte Claro, um dos principais cartões-postais da cidade.


Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro – Igreja Matriz de Áurea (RS)
Construída entre 1957 e 1961, a Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro – Igreja Matriz de Áurea (RS) é dedicada à Matka Boska Częstochowska, padroeira da Polônia.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar na Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro – Igreja Matriz de Áurea (RS) partindo do centro de Porto Alegre – Rio Grande do Sul – Brasil:
Contatos da Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro – Igreja Matriz de Áurea (RS)
- Endereço: Rua da Matriz, 267 – Centro | Áurea – Rio Grande do Sul – Brasil
- Telefones: (54) 3527-1033 | (54) 99694-0520
- E-mail: paroquia.nsmonteclaro@diocesedeerexim.org.br
Para obter informações mais detalhadas, visite a página oficial do Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro – Igreja Matriz de Áurea (RS) no Facebook.
Horários de Funcionamento
- Segunda a sexta: das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30
Valores de Ingresso
- Público em geral: Gratuito
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 30 minutos


Construída entre 1957 e 1961, a Igreja Matriz de Áurea é visível de diversos pontos da cidade devido à sua posição privilegiada e à torre elevada.



A devoção a Nossa Senhora do Monte Claro (Matka Boska Częstochowska) foi trazida pelos primeiros imigrantes poloneses ao Brasil, especialmente ao Paraná e ao Rio Grande do Sul, onde comunidades inteiras preservam tradições religiosas vinculadas à santa.


Nossa Senhora de Częstochowa é considerada a padroeira da Polônia e uma das figuras religiosas mais veneradas do catolicismo no Leste Europeu. Sua imagem está associada ao Santuário de Jasna Góra, em Częstochowa, local de peregrinação que abriga o ícone conhecido como “Madona Negra”, cuja história remonta ao século XIV.



Diante da Igreja Matriz de Áurea, que estava fechada naquele momento, há uma estátua em homenagem a Karol Józef Wojtyla, o Papa João Paulo II. Natural de Wadowice, na Polônia, ele foi canonizado em 2014 e permanece como uma das figuras mais admiradas na comunidade polonesa ao redor do mundo.



Após apreciarmos a igreja e seu entorno, seguimos para outras ruas centrais de Áurea, observando o comércio local, as escolas e algumas residências com arquitetura influenciada pela imigração europeia.



Durante esse percurso, notamos também murais coloridos dedicados à cultura polonesa, além de pequenos jardins comunitários bem cuidados pelos próprios moradores. Esses detalhes simples ajudam a reforçar o sentimento de pertencimento e mostram como a identidade cultural está presente no cotidiano da cidade.



Seguimos até a Avenida Rio de Janeiro, que margeia o sereno Rio Leão, um dos principais cursos d’água da região.



Às margens do rio há um espaço público com gramado, pontes de madeira, bancos e lixeiras, formando um ambiente ideal para caminhar, fotografar ou simplesmente relaxar observando o fluxo suave da água.



Ali, fizemos uma pausa para desfrutar das chipas de erva-mate que havíamos preparado no dia anterior, acompanhadas de bergamotas e carapinhas (ou cri-cri), amendoins açucarados preparados com especiarias.




A combinação caiu muito bem naquele clima frio e úmido. O tereré ficou para outra oportunidade, já que a garoa e o vento não favoreciam a bebida gelada.



Depois do lanche, seguimos até a Casa do Imigrante, outro importante museu da cidade, mas que também se encontrava fechado. Mesmo assim, valeu a visita pela arquitetura preservada e pelo valor histórico do local.



Antes de deixar Áurea, decidimos conhecer a Pousada da Mamucha, localizada às margens da estrada de acesso ao município. O local oferece mais do que hospedagem: é uma verdadeira imersão na cultura polonesa.


A Pousada Mamucha possui arquitetura tradicional e um espaço externo repleto de flores, hortaliças e árvores frutíferas, formando a belíssima Villa Mamucha.



O ambiente é acolhedor e transmite a sensação de estar em um sítio europeu, mas com o charme característico do interior gaúcho.


À beira do Rio Leão, o mesmo que atravessa o centro da cidade, o espaço oferece tranquilidade e contato direto com a natureza.


No restaurante da pousada, é possível saborear pratos típicos da culinária polonesa, como o pierogi (ou pirogue), um pastel cozido e recheado (que saboreamos em nossa visita a Prudentópolis, PR), e a czarnina, uma sopa tradicional feita com sangue de pato, bastante popular entre imigrantes e seus descendentes.


Aliás, Áurea (RS) realiza anualmente a Festa Nacional da Czarnina, que celebra essa tradição culinária herdada dos primeiros colonos poloneses. O evento costuma reunir apresentações culturais, música típica, danças folclóricas, venda de produtos artesanais e, é claro, a degustação da famosa czarnina preparada conforme as receitas tradicionais.


A festa atrai visitantes de diversas regiões do estado e reforça o papel de Áurea como guardiã da cultura polonesa no Brasil.


Ao lado da pousada, ainda dentro das instalações da Villa Mamucha, está o Galpão Campeiro Roda de Amigos, espaço destinado à preservação das tradições gaúchas. Ali é possível adquirir licores, geleias, mel e outros produtos artesanais produzidos na região.



Com os alforjes da Formosa carregados de quitutes, iniciamos o retorno para Erechim pelo mesmo caminho, desta vez sob chuva constante. Mesmo molhados (afinal, esquecemos as capas), chegamos em casa com a sensação renovada proporcionada por um passeio simples, mas cheio de significado.


O roteiro curto, a boa estrada e o contato com a história e com a cultura polonesa de Áurea (RS) tornaram a viagem de moto uma experiência autêntica e enriquecedora, revelando um pouco mais da riqueza histórica e cultural do norte gaúcho.

Acima está o mapa com o trajeto percorrido no dia entre Erechim – RS e Áurea – RS.

Oba! Já são 4 comentários nesta postagem!
Preciso de detalhes de como chegar a Áurea RS somos de são paulo
Olá Eliana!
Caso tu pretenda ir com condução própria basta seguir pela rodovia BR-116 até Curitiba – PR, na capital paranaense tu acessa a rodovia BR-467 e segue até União da Vitória – PR, onde vai pegar a Rodovia Transbrasiliana (BR-153) e descer até Erechim – RS, dali restam poucos quilômetros até Áurea – RS pela RS-477.
Ao todo são aproximadamente 910km. Todo o percurso é asfaltado.
Roteiro:
https://maps.app.goo.gl/MmJvXRpnQ4NyrB1BA
Se for de ônibus deve embarcar na rodoviária paulista em um veículo com destino a Erechim – RS e de lá seguir até Áurea – RS via ônibus, táxi, aplicativo ou veículo locado.
Já para a opção aérea pode voar de São Paulo até Passo Fundo – RS ou Chapecó – SC, e de qualquer das duas cidades seguir de ônibus, táxi, aplicativo ou veículo locado até Erechim – RS e então Áurea – RS.
Boa viajem. Abraços.
Valeu. pena que os principais pontos estavam fechados…estive na Áurea em 1987… lá vistei o Sr. Luiz Antônio Rucinski que conheci no banco Bradesco. Ele morava meio afastado do centro da cidade…Mesmo nome kkkk
Pois é, pelo que nos informaram os museus abrem apenas em dias úteis ou em finais de semana com agendamento, mas é um bom motivo para retornarmos, até para provarmos os pratos típicos poloneses que eventualmente são servidos em alguns locais.
De qualquer forma o passeio foi ótimo, principalmente pelas pessoas que conhecemos na cidade, muito acolhedora por sinal.
Que legal, baita coincidência hein!
Abraços…
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