Antonina • Brasil • Expedição 2020: Belas Rotas • Morretes • Paraná • Quatro Barras
Viagem de Moto pela Estrada da Graciosa e Passeio pelo Centro Histórico de Morretes e Antonina no Litoral do Paraná
4 de Novembro, 2020
Embarque em uma viagem de moto pela lendária Estrada da Graciosa (PR-410), uma das rotas mais cênicas do sul do Brasil. Explore o charme histórico de Morretes e Antonina e saboreie o tradicional barreado, ícone da gastronomia paranaense.
No sétimo dia da Moto Expedição 2020: Belas Rotas, encaramos um dos trajetos mais deslumbrantes do sul do Brasil: a Estrada da Graciosa (PR-410). Essa rota histórica, que liga o planalto curitibano ao litoral paranaense, é famosa por suas curvas fechadas, trechos de paralelepípedo e vistas panorâmicas da Serra do Mar. Nosso destino foram as charmosas cidades de Morretes e Antonina, reconhecidas por seus centros históricos coloniais, gastronomia típica, com destaque para o tradicional barreado, e rica herança cultural. Entre belas paisagens, história viva e uma chuva intensa no retorno a Quatro Barras, vivemos um dia que sintetiza o melhor do mototurismo no Paraná: estrada, aventura e descobertas autênticas.

A quarta-feira amanheceu cinzenta e fria em Quatro Barras, município da região metropolitana de Curitiba, no Paraná. Começamos o dia nos aquecendo com um café quente e reconfortante antes de vestir nossos trajes de viagem.

Logo subimos na Formosa, nossa companheira de estrada, prontos para explorar uma das estradas mais emblemáticas do Brasil: a lendária Estrada da Graciosa.

Como o roteiro do dia seria um bate e volta, optamos por não levar toda a bagagem. A Formosa ficou mais leve e fácil de manobrar, proporcionando um trajeto mais ágil, estável e prazeroso pelas curvas históricas da serra. Embora o processo de organizar os pertences na motocicleta possa parecer trabalhoso no início, ele se torna natural com o tempo. Cada item passa a ter seu lugar exato no alforje, encaixando-se de forma prática e eficiente. Esse hábito reflete o aprendizado e a rotina que qualquer viagem longa em duas rodas ensina: paciência, planejamento e adaptação.

Com tudo pronto, deixamos o centro de Quatro Barras pela Avenida Dom Pedro II, via de valor histórico que integra o traçado original da antiga Estrada da Graciosa, cujo projeto remonta ao século XIX.

A construção da Estrada da Graciosa teve início em 1854, ano da emancipação da então Província do Paraná, e foi concluída em 1873. Desde então, tornou-se uma rota fundamental para o desenvolvimento econômico e social da região, conectando o planalto curitibano ao litoral paranaense e impulsionando o comércio de produtos como erva-mate, café e madeira.

Ao cruzarmos o discreto pórtico que marca o início da Estrada Velha da Graciosa, passamos por um ponto de grande valor histórico: o local onde, em 1880, Dom Pedro II e sua comitiva descansaram durante uma visita oficial à província.

Na ocasião, repousaram sob a sombra de uma imponente araucária, o Pinheiro-do-Paraná, árvore-símbolo do estado. Embora o exemplar tenha sido destruído por um raio em meados do século XX, sua memória segue viva na cultura e na história locais.


A Estrada da Graciosa foi estrategicamente planejada para aproveitar trechos de antigas rotas coloniais que já serviam como caminhos naturais há séculos. Entre elas, destacam-se os caminhos do Arraial, Cubatão, Itupava e Picada dos Ambrósios, todos essenciais para ligar o litoral ao primeiro planalto paranaense.


Muito antes da chegada dos colonizadores, esses trajetos já eram utilizados por povos indígenas, os verdadeiros desbravadores da região. Foram eles que abriram as primeiras trilhas entre o planalto e o mar, moldando a geografia das rotas que mais tarde seriam aprimoradas por tropeiros e colonos. Esse legado indígena é parte indissociável da formação da infraestrutura paranaense.



O traçado original da Estrada Graciosa ligava Curitiba aos municípios de Morretes, Antonina e Paranaguá, este último, um dos portos mais antigos e importantes do Brasil. Durante décadas, a estrada foi o principal corredor para o escoamento de produtos agrícolas e manufaturados que abasteciam tanto o mercado interno quanto o comércio internacional.



Com o passar do tempo, e especialmente após a inauguração da BR-116, um novo acesso à Serra da Graciosa foi criado, deixando cerca de 20 quilômetros do trecho original da estrada, que passa por Quatro Barras, em desuso. Por muitos anos, esse segmento permaneceu esquecido, sendo usado apenas por caminhões de pedreiras, participantes do Rally da Graciosa e aventureiros em busca de experiências autênticas.



A mudança começou em 2006, com o lançamento do projeto Estrada Parque Graciosa, que ganhou força em 2009. O objetivo era revitalizar e pavimentar o trecho histórico, garantindo acesso sustentável e valorizando o patrimônio natural e cultural. Com as melhorias, o percurso voltou a atrair visitantes, revelando encantos como a Igreja da Campininha, o Oratório Anjo da Guarda e a Capela São Pedro, marcos que refletem a devoção e a tradição das comunidades locais.



Durante nosso passeio pelo percurso antigo da Estrada da Graciosa, fizemos uma breve parada na charmosa Ponte do Arco, onde aproveitamos para esticar as pernas e admirar o entorno verdejante. O som da água correndo e o aroma úmido da mata criavam um cenário de pura tranquilidade.



De volta à estrada, seguimos em ritmo de aventura, sentindo as pedaleiras da Formosa tocarem e rasparem o asfalto nas curvas mais fechadas da Velha Estrada da Graciosa, cercados por paisagens exuberantes da Serra do Mar Paranaense.



Até 1969, a Estrada da Graciosa era a única ligação rodoviária entre Curitiba e o litoral. Com a construção da BR-277, a estrada perdeu sua exclusividade, mas jamais sua relevância histórica e turística.



A Estrada da Serra da Graciosa foi também a primeira via carroçável do Paraná e, por muito tempo, a única pavimentada, um verdadeiro feito de engenharia para o século XIX.




Ao cruzarmos a pequena ponte sobre o Rio Taquari, entramos no trecho protegido pela Área de Preservação Ambiental da Serra do Mar, um dos últimos remanescentes contínuos de Mata Atlântica do Brasil.



Logo à frente, uma placa discreta sinaliza o início da via de terra que continua o traçado original da Estrada da Graciosa. Esse caminho de cerca de 4 quilômetros oferece uma experiência mais rústica e próxima da natureza, perfeito para ciclistas. Como o solo ainda estava úmido pela chuva da noite anterior, optamos por seguir pelo trecho asfaltado, preservando a segurança.



Seguimos até o entroncamento com a PR-410, que nos levaria ao famoso pórtico da Estrada da Graciosa, localizado na interseção com a BR-116. Curiosamente, o monumento não está sobre o traçado original da estrada, mas permanece como um ícone simbólico, o portal de entrada para uma das rotas mais belas e históricas do Brasil.



Paramos para fotografar o belíssimo Portal da Graciosa, cuja arquitetura é inspirada nas missões jesuíticas.


Projetado pelo arquiteto Angel Bernal e inaugurado em 1997, o Portal da Graciosa representa um marco simbólico da rota histórica que liga o planalto curitibano ao litoral. Sua estrutura combina elementos coloniais e detalhes rústicos que remetem à presença dos jesuítas no sul do Brasil.

E não é apenas na arquitetura que os jesuítas aparecem. Uma lenda local conta que, ao serem expulsos do Brasil no século XVIII, um grupo de missionários teria escondido o ouro que transportava em doze jumentos, enterrando a carga nas encostas da Serra da Graciosa antes de chegar ao porto de Antonina. Até hoje, há quem acredite que o tesouro permanece escondido em algum ponto entre as curvas da serra.

Sem pá e com espírito mais aventureiro do que arqueológico, deixamos a caça ao tesouro para outro dia e seguimos nossa viagem de moto, prontos para iniciar a descida da Serra da Graciosa.



Do pórtico até o ponto onde o trecho de terra da Estrada da Graciosa se conecta novamente à PR-410, são cerca de 5 quilômetros de estrada tranquila, cercada por paisagens exuberantes e trechos que convidam a uma condução mais contemplativa.


Logo alcançamos o primeiro dos sete recantos da Estrada Serra da Graciosa, áreas de parada cuidadosamente planejadas para descanso e apreciação da natureza.


O Recanto Engenheiro Lacerda, um dos mais conhecidos, oferece excelente infraestrutura: estacionamento, churrasqueiras, banheiros, lanchonete e mirantes que revelam vistas panorâmicas da Serra do Mar, da Baía de Paranaguá e, em dias de céu limpo, até do Oceano Atlântico.


Mesmo sob o céu encoberto e envoltos pela neblina típica da serra, a beleza do local impressionava. A sensação era de estar dentro de um cenário quase místico, e já planejávamos voltar em um dia ensolarado para ver as montanhas sob outra luz.


Iniciamos então a tão esperada descida da Serra da Graciosa. À medida que avançávamos, as curvas fechadas e o traçado estreito exigiam atenção redobrada, mas também proporcionavam pura emoção e um contato mais intenso com a natureza.



Percebemos a transição gradual do asfalto para o paralelepípedo, material predominante nos últimos 8 quilômetros da descida.



Essas pedras, assentadas ainda no século XIX, são parte da autenticidade da Estrada da Graciosa. Escorregadias em dias úmidos, exigem cuidado na pilotagem, mas também oferecem uma viagem no tempo, um retorno às origens históricas da rota.




Pouco depois, chegamos ao Recanto Rio Cascata, marcado por uma bela queda-d’água visível da estrada. O som da água e o ar fresco criam um ambiente relaxante, ideal para fotos e para uma pausa breve antes de continuar a descida.



Assim como no Recanto Engenheiro Lacerda, no Recanto Rio Cascata também existem churrasqueiras e banheiros, além de estar inserido no meio da exuberante Mata Atlântica.



A Estrada da Graciosa atravessa uma das áreas mais bem preservadas de Mata Atlântica do país. A diversidade biológica da região é notável, abrigando espécies endêmicas de flora e fauna.



Ao longo do trajeto, nascentes de rios e dois importantes parques estaduais, o Parque Estadual da Graciosa e o Parque Estadual Roberto Ribas Lange, reforçam o compromisso do Paraná com a conservação ambiental.



Em 1993, a UNESCO integrou a região da Estrada da Graciosa à Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecimento que valoriza tanto sua importância ecológica quanto o papel histórico dessa estrada na integração entre o litoral e o planalto.



Ao longo dos 1.050 metros de declive da Serra do Mar, a Estrada da Graciosa se revela como um verdadeiro paraíso para motociclistas, ciclistas e viajantes.



O relevo variado, a alternância entre paralelepípedos e asfalto, as curvas fechadas, a via extremamente estreita e o contato direto com a natureza transformam o percurso da Estrada da Graciosa em uma experiência inesquecível.



Entre recantos floridos, riachos cristalinos e o colorido das hortênsias que emolduram as margens da estrada, é fácil entender por que a Estrada Serra da Graciosa é considerada uma das estradas mais bonitas do Brasil.




Do Recanto Bela Vista, tivemos uma visão privilegiada do Pico do Marumbi, um dos marcos naturais mais imponentes do Paraná, com 1.539 metros de altitude. Esse conjunto de montanhas é muito procurado por montanhistas de todas as partes do mundo e está inserido no Parque Estadual Pico do Marumbi, berço do montanhismo brasileiro.




Seguimos até o Recanto Curva da Ferradura, parada obrigatória para fotos e para contemplar uma das curvas mais icônicas e fotogênicas da rota cênica da Estrada da Graciosa.




O local conta com amplo estacionamento, churrasqueiras, banheiros, lanchonetes e quiosques que oferecem produtos típicos da região. Entre as delícias, uma dica imperdível é provar a tradicional coxinha de aipim, famosa pelo sabor caseiro e textura macia.



Encerramos a descida da Serra da Graciosa com a alma leve e os olhos repletos de paisagens memoráveis. Cruzamos a ponte de ferro sobre o Rio Mãe Catira, estrutura histórica que marca o fim da parte serrana da Estrada da Graciosa.




Do Portal da Graciosa, no entroncamento com a BR-116, até este ponto, percorremos cerca de 16 quilômetros, sendo aproximadamente 10 quilômetros de descida pela Serra da Graciosa, um trecho que revela um declive impressionante de quase 800 metros, iniciando-se nas proximidades do Recanto Lacerda.



Logo à frente, as águas do Rio Mãe Catira se unem às do Rio São João, formando o majestoso Rio Nhundiaquara, um dos mais importantes cursos d’água do litoral paranaense.



A partir desse ponto, a PR-410 volta a ser asfaltada, plana e majoritariamente reta, conduzindo os viajantes rumo às charmosas cidades históricas de Morretes e Antonina.



Poucos quilômetros após cruzarmos a ponte de ferro sobre o Rio Mãe Catira, chegamos a um entroncamento viário onde a PR-410 (Estrada da Graciosa) segue à esquerda em direção à histórica Antonina.



Optamos, porém, por seguir outro caminho igualmente encantador: tomamos a PR-411, rumo ao charmoso centro de Morretes, uma das cidades mais tradicionais e acolhedoras do litoral paranaense.


Com cerca de 18 mil habitantes, Morretes é um verdadeiro tesouro histórico do Paraná, reconhecido por sua arquitetura colonial preservada e pelo ritmo tranquilo de cidade interiorana. Seu nome deriva dos pequenos morros, os “morretes”, que cercam o vale onde se encontra, moldando sua paisagem e identidade geográfica.


Antes de chegarmos ao centro, fizemos uma parada no distrito de Porto de Cima para visitar a Igreja de São Sebastião, um dos mais belos exemplares da arquitetura colonial da região.


Inaugurada em 1850, essa singela construção carrega grande valor histórico e religioso. Tombada como Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1963, a Igreja de São Sebastião encanta pela simplicidade e harmonia com o entorno natural. Mesmo fechada no momento da visita, sua presença silenciosa e o cenário bucólico ao redor tornaram a parada especialmente significativa.

Porto de Cima teve seu auge econômico entre o final do século XVIII e o início do XIX, impulsionado pelos engenhos de erva-mate, que dominaram a produção local. O distrito era um importante entreposto comercial, facilitando o transporte de mercadorias entre o litoral e o planalto curitibano, um elo vital nas rotas comerciais do período colonial.

Até hoje, Porto de Cima preserva vestígios desse passado próspero: ruínas de antigos engenhos, casarões centenários e calçamentos de pedra que remetem à época dos tropeiros. Esses elementos conferem à região um charme histórico irresistível, atraindo visitantes interessados na cultura e no patrimônio do Paraná.

Após essa imersão no passado, seguimos viagem por cerca de 10 quilômetros até o centro de Morretes, no coração da planície litorânea.

Chegamos por volta do meio-dia e, ao estacionar a Formosa, fomos direto em busca de um bom restaurante. Estávamos ansiosos para provar o tradicional barreado, prato típico e símbolo da gastronomia paranaense.

O barreado é preparado com carne bovina cozida lentamente até desmanchar, em um processo que pode durar mais de 12 horas. A receita tem origem nas festas coloniais da região, e seu nome vem da técnica artesanal de “barrear” a panela de barro, vedando-a com uma mistura de farinha de mandioca ou cinzas para reter o vapor. Esse cozimento lento garante uma carne extremamente macia e suculenta, repleta de sabor.

Servido geralmente com arroz branco, farinha de mandioca e banana-da-terra, o barreado proporciona uma harmonização perfeita entre o salgado e o adocicado, uma experiência gastronômica que traduz a essência cultural do litoral paranaense, especialmente em Morretes e Antonina.

Após essa refeição marcante, seguimos com uma caminhada pelo centro histórico de Morretes, apreciando cada detalhe da arquitetura colonial e a atmosfera acolhedora que faz da cidade um dos principais destinos turísticos do Paraná.

Durante o passeio, visitamos a Casa Rocha Pombo, dedicada à memória de José Francisco da Rocha Pombo, um dos intelectuais mais influentes do Paraná. Nascido em Morretes, ele foi historiador, professor, escritor e político, tendo contribuído significativamente para a formação da identidade cultural brasileira. O museu mantém objetos pessoais, livros e documentos, oferecendo uma imersão no legado desse ilustre morretense.

Seguimos pelas charmosas ruas de pedra até as margens do Rio Nhundiaquara, um dos cartões-postais de Morretes. O rio, de águas claras e correnteza suave, corta o centro urbano e oferece uma paisagem encantadora, perfeita para fotos e momentos de contemplação.


Foi ali que avistamos a Ponte Velha de Morretes, inaugurada em 1912. Com estrutura de ferro e concreto, a ponte é um símbolo do município e testemunha silenciosa da evolução local. Mais do que uma travessia, ela representa um elo entre o passado e o presente, conectando gerações e histórias.



Poucos passos adiante, encontramos a Igreja de São Benedito, uma das mais antigas e importantes edificações religiosas da cidade. Construída em 1765, é um notável exemplo da arquitetura colonial brasileira, com linhas simples e fachada branca que refletem a estética da época.



O templo, tombado como Patrimônio Histórico do Paraná, preserva a devoção de séculos e continua sendo um marco de fé e cultura para os moradores.


Continuamos a caminhada pelo centro histórico e passamos pela Câmara Municipal de Vereadores, seguida pela Prefeitura de Morretes, situada em frente à arborizada Praça Rocha Pombo, um agradável espaço verde ideal para descanso e observação do cotidiano local.


Seguindo adiante, alcançamos a Igreja Nossa Senhora do Porto, também conhecida como Igreja Matriz de Morretes. Com construção iniciada em 1812 e concluída em 1850, ela é uma das mais belas expressões da fé e da tradição religiosa do município.


Entre seus elementos mais notáveis está a torre que abriga um sino histórico fundido em Portugal, datado de 1854, que ostenta o brasão do Império Brasileiro. Esse detalhe conecta simbolicamente o templo às raízes coloniais e ao período imperial do país, reforçando seu valor histórico e artístico.

Encerrada a visita, seguimos pela antiga Rua do Comércio, hoje chamada Rua General Carneiro, uma via que teve papel central nos ciclos econômicos do ouro e da erva-mate. Caminhar por ela é como voltar no tempo e imaginar os dias em que tropeiros e comerciantes movimentavam o coração econômico da cidade.

Entre casarões coloridos e calçadas de pedra, encontramos a construção mais antiga de Morretes, um edifício que já serviu como cassino, repartição dos telégrafos e que hoje funciona como hotel e restaurante. Sua longevidade e versatilidade simbolizam a adaptação da cidade ao longo dos séculos.


Ao lado, está o Marco Zero de Morretes, instalado em 31 de dezembro de 1733, ponto simbólico que marca oficialmente o nascimento da cidade.


Encerramos nosso passeio na Praça dos Imigrantes, onde os primeiros pingos de chuva começaram a cair suavemente. O som da chuva misturado ao burburinho tranquilo das ruas reforçou o clima bucólico e acolhedor da cidade.


Antes de colocarmos novamente nossas capas de chuva, aproveitamos para registrar as últimas fotos às margens do Rio Nhundiaquara, eternizando aquele momento especial em Morretes, PR. A paisagem serena, o som da água correndo e o charme das construções coloniais ao redor criavam o cenário perfeito para encerrar nossa visita.


Com a chuva se intensificando, vestimos as capas, subimos na Formosa e nos despedimos de Morretes, levando conosco lembranças inesquecíveis de uma cidade acolhedora, repleta de história, cultura e beleza natural em cada esquina.


Seguimos pela rodovia PR-408, deixando para trás o cenário bucólico que caracteriza essa charmosa cidade histórica do litoral paranaense.

Poucos minutos depois, já avistávamos a entrada da vizinha Antonina – PR, prontos para mais um mergulho na história e nas paisagens que fazem do litoral paranaense um destino tão singular.

Ao entrar em Antonina, fomos recepcionados por uma sequência de construções pintadas em tons de azul, criando um contraste marcante com o céu encoberto, que exibia uma paleta de (quase) cinquenta tons de cinza, típica dos dias chuvosos. O cenário parecia uma pintura viva, mesclando melancolia e encanto.


Avançamos direto em direção ao centro histórico de Antonina, onde o movimento nas ruas aumentava e os principais pontos turísticos se aproximavam.



Nossa primeira parada foi na Estação Ferroviária de Antonina, inaugurada em 1916. O edifício, de estilo eclético e linhas robustas, é um testemunho do tempo em que Antonina se destacava como o quarto porto mais importante do Brasil. Hoje, a estação representa um símbolo da era de ouro do transporte ferroviário e marítimo, que impulsionou a economia e o desenvolvimento da região.



Ao lado da estação ferroviária, visitamos a Igreja Bom Jesus do Saivá, cuja construção teve início em 1789. O templo, de arquitetura simples e fachada branca, é uma das mais antigas edificações religiosas da cidade e reflete a devoção e a longevidade cultural que caracterizam Antonina.



Sob uma chuva fina e constante, seguimos com a Formosa pelas ruas estreitas e charmosas de Antonina, onde as poças d’água formavam reflexos poéticos das fachadas coloridas. O conjunto urbano, com seus sobrados coloniais, becos floridos e ladeiras de pedra, faz do centro histórico um convite à contemplação.


Estacionamos a Formosa próximo ao Trapiche Municipal de Antonina, ponto de embarque e desembarque que ainda mantém sua importância para o turismo local, e dali partimos para uma caminhada pela cidade.


A poucos metros, chegamos ao Mercado Municipal de Antonina, um espaço vibrante que reflete o cotidiano da comunidade. Entre bancas de frutas, peixes e artesanato, o mercado é o coração pulsante da cidade, onde moradores e visitantes se misturam em meio a aromas, sabores e histórias.

Em seguida, passamos pela Prefeitura Municipal de Antonina, instalada em um belo casarão do final do século XIX, mais um exemplo da arquitetura preservada que reforça o valor histórico do centro urbano.



Continuando a caminhada, exploramos o centro histórico de Antonina, reconhecido pelo IPHAN em 2012. As ruas de pedra, os sobrados coloridos, as ruínas e os detalhes em estilo art déco revelam uma cidade que soube preservar sua essência, onde o passado e o presente coexistem em perfeita harmonia.



Com cerca de 20 mil habitantes, Antonina é uma das cidades mais antigas do Paraná, fundada oficialmente em 1714. Seu nome homenageia Dom António de Portugal, o Príncipe da Beira, e sua história está profundamente ligada à colonização portuguesa, à navegação e ao ciclo da erva-mate.



Durante o percurso, passamos pela Igreja de São Benedito, mais um exemplo da arquitetura religiosa local, e seguimos até o imponente Theatro Municipal de Antonina, inaugurado em 1906. O edifício impressiona por seu estilo eclético e riqueza ornamental, abrigando eventos culturais desde o início do século XX.



Um episódio marcante na história do Theatro Municipal de Antonina ocorreu em 24 de abril de 1933, quando o navio Almirante Jaceguay ancorou na baía e trouxe à cidade grandes nomes da música e do teatro brasileiros, entre eles Procópio Ferreira, Carmen Miranda, Aracy de Almeida e Ary Barroso, que se apresentaram no teatro, transformando a cidade em palco de um espetáculo histórico.


Logo depois, passamos pela Câmara Municipal de Antonina e seguimos por vielas floridas que, mesmo sob chuva, exalavam cor e vida, reforçando o charme da cidade.


Nossa próxima parada foi a Praça Coronel Macedo, localizada ao lado do Santuário de Nossa Senhora do Pilar, um dos maiores tesouros arquitetônicos e espirituais de Antonina, PR.



Datada de 1714 e tombada como Patrimônio Histórico do Paraná em 1999, a antiga Igreja Matriz de Antonina é uma das edificações religiosas mais antigas e preservadas do estado.



Erguida sobre uma colina com vista panorâmica da baía, oferece uma das paisagens mais encantadoras da cidade. Em 2012, a Igreja de Nossa Senhora do Pilar foi elevada à condição de Santuário pela Diocese de Paranaguá, em reconhecimento à devoção mariana e às inúmeras graças atribuídas à Nossa Senhora do Pilar.



Do Santuário de Nossa Senhora do Pilar, seguimos até o Belvedere do Valente, um mirante natural de onde se tem uma vista deslumbrante da Baía de Paranaguá, das montanhas cobertas pela Mata Atlântica e do casario colonial de Antonina. É um ponto imperdível para fotos e contemplação da harmonia entre natureza e história.


Com a chuva voltando a cair com força, apressamos o passo de volta ao ponto onde a Formosa nos aguardava. Encharcada, mas fiel companheira, ela estava pronta para mais uma travessia pela lendária Estrada da Graciosa.

O retorno a Quatro Barras – PR foi marcado por uma intensa tempestade. As pedras molhadas da Serra da Graciosa exigiam atenção redobrada, e em muitas curvas a Formosa “rebolava”, como se dançasse entre os desafios da serra. Mesmo assim, mantivemos o espírito leve e o foco na estrada.

Fizemos uma breve parada no Recanto Bela Vista, para nos hidratar e respirar um ar puro antes dos quilômetros finais do passeio. A vista coberta pela neblina e o som da chuva batendo nas folhas completavam o cenário, um fechamento poético para um dia repleto de história, aventura e emoção sobre duas rodas.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia pela Estrada Serra da Graciosa, partindo de Quatro Barras – PR, rodando até Morretes e Antonina.


Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Passeio “Gracioso” esse hein !!! A beleza dessa estrada/serra é magnífica. Minha primeira vez nesse lugar foi na década de 80, confesso que era mais linda e perigosa, devido ao pavimento poliédrico em toda extensão, mas é óbvio que vale cada km rodado. Da próxima vez em Morretes, deguste o gelato de gengibre.
Maravilha de publicação e grande abraço.
Caramba Fernando, fico imaginando encarar a Serra da Graciosa toda pavimentada em paralelepípedo e com os veículos da década de 1980, isso sim é que era aventura!
Puxa vida, desconhecia o gelato de gengibre de Morretes, mas já anotamos para a nossa próxima passagem pelo local, esperamos que com sol, experimentá-lo.
Valeu, abração!
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