Viagem de Moto por Santiago del Estero: Autódromo de Termas de Río Hondo, Catedral Basílica e Mirador Turístico

Partimos de San Miguel de Tucumán em direção à capital da província vizinha, Santiago del Estero. Pelo caminho, descobrimos a famosa Termas de Río Hondo, cidade construída sobre aquíferos termais e lar do moderno Autódromo Internacional, palco do MotoGP da Argentina. Já na capital, considerada a “Madre de Ciudades”, exploramos o charmoso centro histórico, com destaque para a imponente Catedral Basílica Nuestra Señora del Carmen, a mais antiga do país, e encerramos o dia no alto do Mirador Turístico do Complejo Juan Felipe Ibarra, de onde assistimos a um pôr do sol inesquecível sobre Santiago del Estero.

Logo ao amanhecer de segunda-feira, organizamos os equipamentos na Formosa e partimos de San Miguel de Tucumán, capital da província, seguindo pela Ruta Nacional 9 em direção ao sul.

O clima estava perfeito uma viagem de moto: temperatura agradável, céu limpo e ensolarado, além de pouco movimento na estrada.

Após cerca de 70 km de asfalto em ótimo estado, chegamos a uma praça de pedágio onde motociclistas não pagam tarifa, algo bastante comum nas rodovias argentinas.

A praça de pedágio Peaje La Florida fica exatamente na divisa territorial entre as provincias argentinas de Tucumán e Santiago del Estero.

Mais uma província argentina para o currículo da Formosa!

Poucos quilômetros depois, chegamos a Termas de Río Hondo, cidade que, como o nome sugere, é famosa por suas águas termais de propriedades terapêuticas reconhecidas em todo o mundo.

O município não é apenas um balneário, mas sim uma cidade inteira construída sobre 14 aquíferos naturais, de onde brotam constantemente águas quentes e mineralizadas.

Reconhecida como o maior complexo termal da Argentina e de toda a América Latina, Termas de Río Hondo repousa sobre um gigantesco lago subterrâneo que abastece suas fontes.

Às margens do Río Dulce, a cidade, com cerca de 35 mil habitantes, oferece excelente infraestrutura turística.

Além dos banhos termais, há atrações como o Museo del Automóvil, a Reserva Natural Tara Inti e o Dique de Termas de Río Hondo, pontos que tornam o destino ideal tanto para quem busca relaxamento quanto para os que preferem aventura.

Devido ao tempo limitado, deixamos a experiência das águas quentes para uma próxima oportunidade e seguimos para um lugar especial para os apaixonados por velocidade: o Autódromo Internacional Termas de Río Hondo.

Logo na entrada, uma escultura de 300 kg chama a atenção: uma homenagem em ferro e peças de motocicletas ao ídolo Valentino Rossi, eternizado em ação sobre sua Yamaha M1.

Criada em 2018 pelo artista uruguaio Joaquín Arbiza, a obra traduz a essência e a energia do “Doctor”, reverenciado por fãs do mundo todo.

Inaugurado em 2008, o Circuito Termas de Río Hondo recebe as principais categorias do automobilismo argentino, como a Turismo Carretera, a TC2000 e a Top Race.

Após a reforma projetada pelo italiano Jarno Zaffelli, o autódromo passou a ter destaque internacional e, desde 2014, é palco do Grande Prêmio da Argentina de MotoGP, evento que coloca a cidade definitivamente no mapa mundial do motociclismo.

Tivemos a oportunidade de subir às arquibancadas e observar de perto a pista que já recebeu nomes históricos como Marc Márquez, Cal Crutchlow, Maverick Viñales e, claro, Valentino Rossi, proporcionando momentos memoráveis aos fãs do esporte.

Dentro do mesmo complexo funciona o Museo del Automóvil Termas de Río Hondo, inaugurado em 2012.

O espaço abriga uma coleção diversificada de carros, motos e outros veículos que marcaram época no esporte a motor.

Infelizmente, como era segunda-feira, o museu estava fechado, o que se transformou em mais um motivo para planejarmos um retorno à cidade.

Sem perder o ânimo, seguimos adiante pela estrada.

O Autódromo Internacional Termas de Río Hondo está cercado por vizinhos de peso: o Aeroporto Internacional e o imenso Embalse de Río Hondo, todos muito próximos entre si.

O lago artificial, construído em 1967, impressiona por sua extensão de 330 km². Além da beleza, cumpre funções essenciais: controla enchentes, garante abastecimento de água, gera energia elétrica e ainda estimula o turismo e a piscicultura.

Formado pelas águas do Río Dulce, o reservatório Embalse de Río Hondo abrange Tucumán e Santiago del Estero, unindo as províncias em um cenário de rara imponência.

Ao cruzarmos a barragem do Dique Frontal Río Hondo, com seus mais de 4 km de extensão, retornamos ao centro de Termas de Río Hondo para, em seguida, pegar novamente a Ruta Nacional 9.

Seguimos pela Ruta Nacional 9, enfrentando uma longa reta de cerca de 60 km sob um sol implacável, com temperaturas que passavam dos 40 °C, até finalmente avistarmos a silhueta da capital provincial: Santiago del Estero.

Antes da chegada dos colonizadores espanhóis, estas terras eram ocupadas por povos originários como toconotés, lules, vilelas, mocoviés e sanavirones, que presenciaram a fundação da cidade em 1553 por Juan Núñez de Prado, marco que consagra Santiago del Estero como a cidade mais antiga da Argentina.

Ainda hoje existe um debate histórico: teria sido Núñez de Prado em 1550 ou Francisco de Aguirre em 1553 o verdadeiro fundador? Independentemente da versão, não há dúvidas sobre o papel central da cidade na colonização.

A partir daqui partiram as expedições que deram origem a San Miguel de Tucumán (1565), Córdoba (1573), Salta (1582), La Rioja (1591), San Salvador de Jujuy (1593) e Catamarca (1683). Por essa razão, Santiago del Estero ostenta com orgulho o título de “Madre de Ciudades”.

Com uma área de 136.351 km², a província de Santiago del Estero abriga cerca de 1,06 milhão de habitantes, dos quais aproximadamente 280 mil vivem na capital.

Às margens do Río Dulce, que a separa da vizinha La Banda, Santiago del Estero combina traços coloniais com construções modernas, refletindo mais de 460 anos de história em sua arquitetura e cultura.

Chegamos ao hotel no centro exatamente ao meio-dia. Depois de um rápido check-in, levei a Formosa até o estacionamento de uma quadra próxima e trocamos de roupa para algo mais leve, prontos para explorar o centro histórico apesar do calor intenso da capital santiagueña.

Nosso primeiro destino foi a Plaza Libertad, coração da cidade. Um espaço verde que une história e descanso, com árvores nativas que sombreiam um charmoso coreto e uma fonte adornada por figuras angelicais.

No centro, destaca-se o monumento equestre em homenagem ao General Manuel Belgrano, herói da independência argentina.

De frente para a Plaza Libertad ergue-se a imponente Catedral Basílica de Santiago del Estero – Iglesia Nuestra Señora del Carmen, testemunha de cinco séculos da história do país.

A origem da Catedral de Santiago del Estero remonta ao período entre 1565 e 1570, durante o reinado de Felipe II, quando o Papa Pio V estabeleceu aqui a primeira diocese do território que hoje é a Argentina.

A chegada do Frei Francisco de Victoria em 1581 marcou o nascimento da primeira catedral argentina, motivo de grande orgulho para os moradores locais.

A atual construção, datada de 1876, é a quinta versão do templo, já que as anteriores foram destruídas por tragédias: um incêndio em 1615, inundações em 1627 e o terremoto de 1817.

De estilo neoclássico, com duas torres campanárias, a Catedral Basílica de Santiago del Estero foi declarada Monumento Histórico Nacional em 1953.

O interior da Catedral Basílica Nuestra Señora del Carmen guarda verdadeiras relíquias: imagens sacras dos séculos XVI e XVII que continuam sendo veneradas até hoje. Não são peças de museu, mas símbolos de fé que mantêm vivo o caráter religioso do local.

Ao caminhar por suas naves, é impossível não sentir a força da devoção e da perseverança que sustentaram o templo ao longo de séculos.

A poucos metros da catedral, encontramos a Municipalidad de Santiago del Estero e, ao lado, o moderno Centro Cultural del Bicentenario (CCB).

Inaugurado em 2010, o complexo ocupa um edifício histórico do século XIX, antiga Casa de Gobierno (Cabildo de Santiago del Estero), preservando sua arquitetura e memória.

O CCB possui 10.000 m² de área museográfica e abriga três museus de grande relevância: o Museo Histórico Provincial “Orestes Di Lullo”, o Museo de Ciencias Antropológicas y Naturales “Emilio y Duncan Wagner” e o Museo de Bellas Artes “Ramón Gómez Cornet”.

Infelizmente, como outros pontos turísticos da cidade, o complexo não abre às segundas-feiras. Somado ao calor escaldante, que ultrapassava os 40 °C, optamos por retornar ao hotel.

Para nossa surpresa, além do café da manhã incluso, o hotel oferecia também um acolhedor café da tarde, cortesia muito bem-vinda.

Devidamente alimentados, aproveitamos para descansar no conforto do quarto climatizado, recarregando as energias para seguir explorando Santiago del Estero no fim do dia.

Ao entardecer, quando o calor intenso finalmente começou a dar trégua, seguimos até o Mirador Turístico de Santiago del Estero, localizado no topo do moderno Complejo Juan Felipe Ibarra.

Este conjunto de edifícios governamentais, inaugurado em 2014, tornou-se um dos símbolos da nova Santiago del Estero. Em seu último andar, a 105 metros de altura, encontra-se o mirante que oferece a vista panorâmica mais completa da capital provincial.

A visita guiada foi uma agradável surpresa. Sob a condução do simpático Manuel, não apenas identificamos os principais marcos urbanos da cidade, como também conhecemos histórias e curiosidades sobre cada um deles. 

O guia deu vida aos pontos turísticos e culturais, transformando simples referências geográficas em capítulos vivos da história santiagueña.

O auge da experiência aconteceu quando o sol começou a se pôr no horizonte. Do alto do mirante, observamos a cidade sendo lentamente tingida por tons dourados e alaranjados, um espetáculo natural que deu ainda mais encanto à paisagem.

Encerramos a segunda-feira contemplando Santiago del Estero de um ponto de vista privilegiado. A cada detalhe revelado das alturas, tivemos a sensação de enxergar não apenas a cidade em sua extensão física, mas também a profundidade de sua história e identidade.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre San Miguel de Tucumán – Tucumán – Argentina e Santiago del Estero – Santiago del Estero – Argentina.