Amaicha del Valle • Argentina • El Mollar • Expedição 2019: Salta – Jujuy – Tucumán • Tafí del Valle • Tucumán
Sitio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes, Museo Los Menhires e Tafí del Valle em Tucumán, Argentina
28 de Setembro, 2019
Descubra o Sitio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes, atravesse o Abra del Infiernillo, visite o Museo Los Menhires e viva os encantos de Tafí del Valle em uma viagem de moto por Tucumán, na Argentina.
Em uma inesquecível viagem de moto pelo noroeste argentino, partimos de Cafayate, em Salta, e seguimos rumo à província de Tucumán pela lendária Ruta Nacional 40. No caminho, exploramos a fascinante Ciudad Sagrada de Quilmes, maior sítio arqueológico pré-colombiano da Argentina, e o inspirador Museo de la Pachamama – La Casa de Piedra, em Amaicha del Valle, que celebra a cultura calchaquí e a cosmovisão andina. O passeio seguiu pela impressionante travessia do Abra del Infiernillo, ponto mais alto transitável de Tucumán, e pelo Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires, em El Mollar. Encerramos o dia em Tafí del Valle, um destino encantador que combina história, natureza e cultura em meio às montanhas dos Vales Calchaquíes.

O dia amanheceu em Cafayate, na província de Salta, envolto em uma atmosfera especial. O céu límpido e a brisa fresca anunciavam mais um capítulo inesquecível da nossa viagem de moto pela Argentina.

Depois de um café da manhã reforçado, carregamos nossos equipamentos na Formosa, vestimos as roupas de viagem e nos despedimos do centro dessa cidade acolhedora e charmosa, já deixando para trás a sensação de querer ficar um pouco mais.

Cafayate, famosa por seus vinhedos de altitude e paisagens impressionantes, já havia conquistado nosso coração.

Porém, a estrada nos chamava, e era hora de seguir viagem pela lendária Ruta Nacional 40, um dos ícones do motociclismo na América do Sul. Com seus mais de 5.000 km de extensão, atravessando a Argentina de norte a sul, essa rodovia é sinônimo de aventura, cenários únicos e muita história.

À medida que avançávamos rumo ao sul, a paisagem se transformava em um espetáculo natural: montanhas coloridas, vales profundos e formações rochosas que mais pareciam esculturas talhadas pelo tempo.

Entre um trecho e outro, imensas plantações de uvas emolduravam o caminho, lembrando-nos de que estávamos em plena Rota do Vinho de Salta, um circuito turístico imperdível que serpenteia pelos Vales Calchaquíes, na Argentina.

Essa região é reconhecida mundialmente pelos vinhos de altitude, cultivados a mais de 1.700 metros acima do nível do mar. Entre eles, o destaque vai para a casta Torrontés, um vinho branco típico da província, conhecido por seus aromas intensos e notas frutadas, considerado um dos melhores do país e um verdadeiro cartão de visitas da enogastronomia argentina.

No caminho, cruzamos pelas pequenas localidades de Tolombón e El Molino, verdadeiros tesouros escondidos no coração dos Valles Calchaquíes.

Tolombón, com sua atmosfera tranquila e rica herança cultural, convida o visitante a mergulhar nas tradições locais e na produção artesanal de vinhos e artesanatos. Já El Molino, como o próprio nome sugere, guarda a memória dos antigos moinhos que marcaram a vida da região e encanta por sua simplicidade e beleza bucólica.

Poucos quilômetros adiante, chegamos à divisa entre Salta e Tucumán. Mais uma província argentina para a nossa lista!

Conhecida como “El Jardín de la República” (O Jardim da República), Tucumán prometia nos surpreender com sua diversidade natural, riqueza cultural e um papel histórico fundamental na construção da República Argentina.

Apesar de ser a menor província do país em extensão territorial, com pouco mais de 22 mil km², Tucumán abriga cerca de 1,7 milhão de habitantes e se destaca pela vitalidade de sua capital, San Miguel de Tucumán.

Foi ali que, em 1816, foi assinada a Declaração da Independência da Argentina, transformando a cidade em um símbolo nacional. Além de sua relevância histórica, San Miguel de Tucumán encanta com sua arquitetura colonial preservada, praças arborizadas e uma atmosfera acolhedora que convida a explorar cada detalhe.


A província de Tucumán também surpreende pela diversidade de paisagens: serras, vales férteis, florestas tropicais e até desertos fazem parte de seu território.

É um destino que combina natureza, cultura e gastronomia, sendo uma parada obrigatória para quem deseja conhecer o verdadeiro coração argentino.

A origem do nome Tucumán ainda desperta debates. Uma das versões sugere que deriva de “yucumán”, termo quéchua que significa “lugar onde nascem os rios”, em referência à abundância de cursos d’água da região.

Outra hipótese defende que vem de “tucma”, também do quéchua, traduzido como “onde terminam as coisas”, indicando que ali teria sido o limite do Império Inca em direção ao sul.

Muito antes da chegada dos colonizadores espanhóis, a região já era habitada por povos indígenas de grande desenvolvimento cultural, como os calchaquíes, quilmes, tolombones e amaichas. Esses povos ergueram fortalezas, cidades e sistemas agrícolas avançados, deixando um legado que ainda pode ser visitado hoje em sítios arqueológicos espalhados pela província.

E foi justamente um desses vestígios históricos que escolhemos como primeiro atrativo em Tucumán: um mergulho na memória ancestral da região, explorando as raízes que moldaram sua identidade e revelando os segredos das civilizações que resistiram ao tempo e à conquista.

Cerca de 50 km após deixarmos Cafayate, desviamos do asfalto da Ruta Nacional 40 e seguimos por uma estrada de rípio (comum na Argentina) composta por terra batida, areia fofa e pedras soltas. Esse tipo de caminho exige atenção redobrada, mas costuma recompensar com experiências únicas e paisagens inesquecíveis.

Nosso destino era a fascinante Ciudad Sagrada de Quilmes, também conhecida como Ruínas de Quilmes. Esse sítio arqueológico é considerado um dos mais importantes da Argentina e guarda os vestígios de uma das civilizações pré-colombianas mais resistentes e organizadas do território: os quilmes.

A cada quilômetro percorrido, a paisagem árida e imponente dos Vales Calchaquíes nos transportava para uma atmosfera de viagem no tempo.

Após cerca de 5 km de rípio, com direito a algumas reboladas da Formosa, que só aumentaram a sensação de aventura, finalmente chegamos ao coração do Valle Calchaquí, onde se erguem as ruínas dessa antiga cidade fortificada, a Ciudad Sagrada de los Quilmes.

A Ciudad Sagrada de Quilmes, que em seu auge foi uma próspera fortaleza indígena, hoje se revela como um testemunho vivo da resistência e da engenhosidade do povo quilmes. Ao pisar naquele solo histórico e sagrado, sentimos a energia de um lugar que foi palco de batalhas, tradições e de uma cultura que ainda ressoa entre suas pedras milenares.

Sitio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes – Ruínas de Quilmes
A Ciudad Sagrada de Quilmes é formada pelos restos do maior assentamento pré-colombiano da Argentina, sendo considerada o sítio arqueológico mais importante do país.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar no Sitio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes – Ruínas de Quilmes partindo do centro de San Miguel de Tucumán – Tucumán – Argentina:
Contatos do Sitio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes – Ruínas de Quilmes
- Endereço: Ruta Nacional 40, Km 4292 – Valles Calchaquíes | Amaicha del Valle – Tucumán – Argentina
- Telefone: +54 381 430-3644
- E-mail: informes@tucumanturismo.gob.ar
Para obter informações mais detalhadas, visite o site oficial do Sitio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes – Ruínas de Quilmes.
Horários de Funcionamento
- Todos os dias: das 8h30 às 18h
Valores de Ingresso
- Público em geral: $10.000
- Público em geral (argentinos): $5.000
*Todos os preços estão em pesos argentinos.
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 2 horas
Recursos para sua Visita

Estacionamos a moto à sombra e iniciamos a visita pelas pequenas lojinhas de artesanato local, produtos regionais, bebidas e lanches.

Seguimos então para o Centro de Interpretación de la Ciudad Sagrada de los Quilmes, onde uma verdadeira imersão cultural nos aguardava. O espaço, dividido em quatro salas, utiliza recursos visuais, auditivos e táteis para contar a trajetória desse povo originário.


A primeira sala apresenta as origens da comunidade e seu estabelecimento no Valle Calchaquí, a segunda recria o cotidiano, exibindo réplicas de roupas, armas, ferramentas agrícolas, ornamentos e objetos utilizados em rituais religiosos.

O Centro de Interpretação da Cidade Sagrada de Quilmes conta também com um auditório, onde um vídeo narra, de forma emocionante, a história dos quilmes, desde sua ascensão até o trágico exílio imposto pelos conquistadores espanhóis.

Na última sala, observamos um laboratório onde peças arqueológicas ainda estão sendo estudadas, prova de que a história desse povo segue em constante descoberta.

Com o conhecimento fresco na memória, caminhamos pelas vielas do Sítio Arqueológico Ruínas de Quilmes, onde a grandiosidade da Ciudad Sagrada de Quilmes se revela pouco a pouco.


Estratégica e discretamente construída nas encostas do Valle de Yokavil, a Ciudade Sagrada de Quilmes está a 1.850 metros de altitude, no Cerro Alto del Rey, em terras pertencentes hoje à comunidade de Amaicha del Valle, no departamento de Tafí del Valle, a cerca de 180 km de San Miguel de Tucumán.


Considerado o maior assentamento pré-colombiano da Argentina, o local chegou a abrigar 4.000 pessoas. Apesar de apenas 10% da cidade estar restaurada, a dimensão de suas ruínas impressiona.



Fortalezas defensivas, áreas residenciais, espaços cerimoniais, morteiros e sistemas agrícolas mostram uma sociedade organizada e engenhosa.



As trilhas bem sinalizadas do sítio arqueológico que começou a ser resturado na década de 1970 permitem explorar cada setor de perto, e a cada subida somos recompensados com vistas espetaculares do vasto Valle Calchaquí. É um passeio que une história, arqueologia e paisagens de tirar o fôlego.



Entre os aspectos mais notáveis da civilização quilmes estava o avançado sistema de irrigação, que utilizava barragens e canais de pedra para armazenar e distribuir a água da chuva.




Essa engenharia permitia a produção de alimentos durante todo o ano e garantia a sobrevivência da comunidade em períodos de seca, um verdadeiro exemplo de sustentabilidade e adaptação ao ambiente.



Outro destaque era a técnica construtiva das casas e muros: paredes de dupla camada de pedra, preenchidas com terra e cascalho. Essa solução conferia resistência, durabilidade e isolamento térmico, protegendo os habitantes das variações extremas de temperatura do clima semiárido da região. Caminhar entre essas estruturas é como contemplar uma obra-prima da engenharia ancestral.



As crenças dos quilmes também chamam a atenção. Para eles, a morte não era apenas um evento natural, mas frequentemente vista como resultado de maldições, o que muitas vezes gerava tensões sociais e conflitos entre famílias e até entre diferentes comunidades.


Devido aos constantes confrontos com povos vizinhos, a Cidade Sagrada dos Quilmes contava com fortalezas defensivas estrategicamente posicionadas.


Essas construções foram fundamentais para que os quilmes resistissem bravamente até o século XV, quando enfrentaram a expansão do Império Inca.


Com a invasão inca, os quilmes foram obrigados a aprender o quéchua, pagar tributos, fornecer alimentos e permitir a presença de representantes imperiais em sua comunidade. Mesmo assim, souberam preservar parte de sua identidade e costumes, mostrando capacidade de adaptação diante da dominação.


Mas o episódio mais trágico da história dos quilmes viria mais tarde, durante a colonização espanhola. Conhecidos por sua resistência feroz, os quilmes foram um dos últimos povos originários a sucumbir aos colonizadores.


Em 1667, após décadas de batalhas, a resistência dos quilmes finalmente caiu e cerca de 1.700 sobreviventes foram forçados a percorrer aproximadamente 1.400 km até Buenos Aires, em uma marcha desumana sem água, comida ou abrigo.


Pouco mais de 400 chegaram vivos ao destino, e foi nessa região que se estabeleceu o atual município de Quilmes, que herdou o nome desse povo. Essa marcha forçada é considerada um dos episódios mais cruéis da história colonial argentina, um verdadeiro genocídio que marcou profundamente a memória dos povos originários.



Apesar da tragédia, o legado dos quilmes segue vivo: nas ruínas preservadas, na cultura transmitida pelas comunidades locais e na história de resistência que continua a inspirar.


Visitar a Ciudad Sagrada de Quilmes é muito mais que conhecer um sítio arqueológico, é se conectar com um capítulo fundamental da identidade argentina.


Após nos emocionarmos com a grandiosidade do Sítio Arqueológico Ciudad Sagrada de Quilmes – Ruínas de Quilmes e com a história marcante desse povo guerreiro, voltamos à estrada com a Formosa. A experiência de explorar as ruínas deixou em nós uma sensação profunda de respeito e reflexão sobre a importância de preservar e honrar as civilizações que moldaram a história da América do Sul.

Com o coração cheio de lembranças e os olhos ainda maravilhados pelas paisagens do Valle Calchaquí, seguimos pela icônica Ruta Nacional 40 até o entroncamento com a Ruta Provincial 307, que tomamos rumo ao sudeste.

Foram pouco mais de 13 km por uma estrada em péssimas condições, marcada por buracos e irregularidades, que exigiram cautela, mas logo fomos recompensados: chegamos ao centro de Amaicha del Valle, uma das joias mais autênticas da província de Tucumán.

Amaicha del Valle nos recebeu com seu charme único, uma combinação de tradição indígena, cultura viva e hospitalidade. Essa vila, com cerca de 5.000 habitantes, está situada a 2.000 metros de altitude e é famosa por ter 360 dias de sol por ano, fato que favorece a agricultura local e cria um ambiente acolhedor para os visitantes.

O que torna Amaicha del Valle ainda mais especial é sua identidade indígena preservada. É uma das poucas comunidades argentinas que mantém instituições ancestrais, como a liderança de um cacique e o Conselho de Anciãos, símbolos da resistência e da continuidade cultural do povo calchaquí.

Localizada no departamento de Tafí del Valle, Amaicha del Valle é também porta de entrada para experiências culturais e naturais inesquecíveis. 
E, logo na chegada, ao lado do principal acesso da cidade, está um dos atrativos mais emblemáticos da região: o Museo de la Pachamama – La Casa de Piedra.


Museo de la Pachamama – La Casa de Piedra
O Museo de la Pachamama, também conhecido como La Casa de Piedra, é uma joia cultural que nasceu em 1996 pelas mãos do talentoso artista plástico Héctor Cruz, um descendente direto dos nativos dos Valles Calchaquíes.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar no Museo de la Pachamama – La Casa de Piedra partindo do centro de Salta – Salta – Argentina:
Contatos do Museo de la Pachamama – La Casa de Piedra
- Endereço: Ruta Provincial 307, Km 118 | Amaicha del Valle – Tucumán – Argentina
- Telefone: +54 389 242-1004
- E-mail: informes@tucumanturismo.gob.ar
Horários de Funcionamento
- Segunda a sábado: das 9h às 18h
- Domingo: das 9h às 13h
Valores de Ingresso
- Público em geral: $5.000
*Todos os preços estão em pesos argentinos.
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 45 minutos


Inaugurado em 1996 pelo artista plástico Héctor Cruz, descendente direto dos povos originários dos Vales Calchaquíes, o Museo de la Pachamama, também conhecido como La Casa de Piedra é um tributo à Pachamama (Mãe Terra), figura central na cosmovisão andina.


Construído inteiramente com pedras da região, o prédio em si já é uma obra de arte, refletindo a conexão profunda entre o homem, a natureza e a espiritualidade indígena.



O Museo Pachamama – La Casa de Piedra ocupa uma área de 10.000 m² e abriga coleções que incluem artefatos arqueológicos, pinturas, esculturas e exposições que revelam a história, os costumes e as crenças dos povos calchaquíes.


O espaço cultural foi concebido não apenas como um museu, mas como um centro cultural vivo, capaz de transmitir a sabedoria ancestral de forma sensorial e imersiva.


Entre seus maiores destaques está o pátio externo, que lembra uma fortaleza de pedra e funciona como um santuário a céu aberto.


Ali, monumentais esculturas representam divindades e símbolos da mitologia andina: a Pachamama, o deus Sol (Inti), a deusa Lua (Quilla), a misteriosa víbora de duas cabeças da cultura Awada, o guerreiro da Lua e a impressionante mesa dos 12 caciques, cada obra carregada de simbolismo e espiritualidade.



Esse espaço ao ar livre, repleto de significado, convida à contemplação e ao respeito pela cosmovisão andina. Caminhar entre suas esculturas é sentir-se parte de uma herança milenar, onde a arte se mistura à fé, à história e à resistência cultural.


Visitar o Museo de la Pachamama é, portanto, uma experiência enriquecedora, que une aprendizado, reflexão e emoção, tornando-se parada obrigatória para quem deseja conhecer a essência de Amaicha del Valle e seu povo.


Ao nos despedirmos do Museo de la Pachamama, fomos em direção à Formosa justamente no momento em que um ônibus de turismo, com placas de Buenos Aires, estacionava em frente ao local. Em poucos instantes, uma dezena de senhores e senhoras desembarcou e, curiosos, logo se aproximaram para conversar sobre a moto.

O interesse foi imediato: perguntaram sobre a história da Formosa, sobre nossa viagem e, claro, pediram para tirar várias fotos com ela. Mais uma vez percebemos como nossa companheira de estrada desperta sorrisos e curiosidade por onde passa, transformando-se em parte da própria experiência da viagem.

Depois desse animado encontro, seguimos rumo ao centro de Amaicha del Valle, Tucumán.

Contornamos a Plaza San Martín, coração da cidade, um espaço cheio de vida onde moradores e visitantes se encontram e onde se sente o verdadeiro pulsar da comunidade.


Poucos metros adiante, passamos em frente à charmosa Iglesia de San Ramón Nonato, cuja construção teve início em 1888.

De arquitetura simples, mas carregada de significado, a Iglesia de Amaicha del Valle é um marco histórico e religioso, reflexo da devoção e da tradição local.

Após esse breve passeio, retomamos nossa viagem pela sinuosa e esburacada Ruta Provincial 307.


Os buracos e trechos desgastados exigiam muita atenção, mas a recompensa vinha em cada curva: entrávamos na espetacular Cuesta de los Cardones.

Essa estrada, cercada por montanhas imponentes e marcada pela presença dos cardones, cactos gigantes que se erguem como guardiões silenciosos do vale, é um verdadeiro espetáculo natural.

A cada curva, novas vistas se descortinavam, revelando a grandiosidade da paisagem árida e, ao mesmo tempo, cheia de vida. A Cuesta de los Cardones, também chamada de Quebrada de Amaicha, é um desses lugares que mostram como a natureza pode transformar até os trajetos mais difíceis em experiências inesquecíveis.

Pouco depois, a qualidade do asfalto da Ruta Provincial 307 melhorou consideravelmente, permitindo que a viagem fluísse com mais leveza.


A Formosa parecia bailar com suavidade pela estrada, enquanto continuávamos a apreciar as montanhas coloridas, os vales extensos e os cactos pontuando a paisagem.

Foi nesse ritmo agradável que alcançamos o Abra del Infiernillo. Localizado a 3.042 metros de altitude, é o passo de montanha transitável mais alto da província de Tucumán e conecta o Valle Calchaquí ao Valle de Tafí.


A sensação de estar no topo do mundo era real: o ar rarefeito, o silêncio quebrado apenas pelo vento e a vista panorâmica que se estendia por quilômetros criavam uma atmosfera indescritível.


O nome do lugar, Abra del Infiernillo, pode ser traduzido como “Pequeno Inferno”, e remete às dificuldades extremas enfrentadas por antigos viajantes devido à altitude, ao terreno íngreme e ao clima severo.


Hoje, apesar da estrada oferecer acesso mais fácil, a travessia do Abra del Infiernillo ainda carrega o peso simbólico de coragem e superação.



Estar ali era mais que contemplar uma paisagem: era conectar-se a um marco histórico, lembrando das gerações que desafiaram a natureza para cruzar essa passagem estratégica.


Vencido o passo de montanha, a descida pela Ruta Provincial 307 nos brindava com novos ângulos a cada quilômetro, até que o azul profundo do Dique La Angostura surgiu no horizonte.


Também chamado de Lago La Angostura ou Embalse La Angostura, esse reservatório artificial, além de abastecer a região com recursos hídricos, forma um cenário impressionante.


O contraste entre a serenidade das águas e as montanhas em tons amarelos e esverdeados que o cercam é de uma beleza que convida a parar, respirar fundo e simplesmente admirar.


E, finalmente, chegamos a Tafí del Valle, um dos destinos mais encantadores do noroeste argentino. Situada no coração do vale que leva seu nome, a cidade é um refúgio rodeado por montanhas imponentes, vegetação exuberante, riachos cristalinos e um clima de tranquilidade que convida ao descanso e à contemplação.


Conhecida pelo turismo rural e pelas atividades náuticas no Dique La Angostura, Tafí del Valle nos recebeu com um clima ameno e uma paisagem deslumbrante. Suas ruas charmosas, construções de estilo colonial e o ar puro da montanha criam um cenário acolhedor, perfeito para explorar a gastronomia local, visitar feiras de artesanato ou simplesmente relaxar apreciando o entorno.


O nome da cidade, Tafí del Valle, tem origem na palavra diaguita “taktikllakta”, que significa “Cidade de Entrada Esplêndida”. E não poderia haver definição mais precisa: à medida que nos aproximávamos, as montanhas verdejantes, os vales amplos e o céu azul nos confirmavam que estávamos prestes a adentrar um lugar verdadeiramente especial.


Nosso primeiro destino em Tafí del Valle foi o Museo Jesuítico de La Banda, localizado a menos de 1 quilômetro do centro.

Museo Jesuítico de La Banda – Antigua Estancia Jesuítica
O Museo Jesuítico de La Banda está situado na Antigua Estancia Jesuítica de Tafí del Valle, uma construção histórica erguida pelos jesuítas em 1718.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar no Museo Jesuítico de La Banda – Antigua Estancia Jesuítica partindo do centro de Florianópolis – Santa Catarina – Brasil:
Contatos do Museo Jesuítico de La Banda – Antigua Estancia Jesuítica
- Endereço: Avenida Gobernador Silva (Ruta Provincial 325), 4137 | Tafí del Valle – Tucumán – Argentina
- Telefone: +54 386 742-1685
- E-mail: informes@tucumanturismo.gob.ar
Horários de Funcionamento
- Terça a domingo: das 8h às 18h
Valores de Ingresso
- Público em geral: $3.000
*Todos os preços estão em pesos argentinos.
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 45 minutos

O Museo Jesuítico de La Banda funciona na Antigua Estancia Jesuítica de Tafí del Valle, também conhecida como Conjunto Jesuítico de La Banda, construída pelos jesuítas no século XVIII e declarada Monumento Histórico Nacional em 1978.


Esse conjunto arquitetônico, que já abrigou atividades agrícolas e pecuárias, hoje guarda um rico acervo de objetos, documentos e reconstruções que contam a presença da Companhia de Jesus na região. Sua arquitetura colonial bem preservada é um testemunho vivo do impacto cultural e econômico deixado pelos jesuítas em Tafí del Valle e arredores.

Fundado em 1718, o Conjunto Jesuítico de La Banda incluía um casarão, uma capela e até um moinho hidráulico. Com a expulsão dos jesuítas em 1767, a estância passou por diferentes proprietários, entre eles o governador José Manuel Silva e, por um período, serviu de residência ao presidente argentino Nicolás Avellaneda. Em 1973, o governo de Tucumán assumiu sua administração e a transformou em museu.

Hoje, o Museo Jesuítico de La Banda conta com seis salas que exibem peças de valor histórico, religioso e arqueológico. O visitante pode explorar ambientes como a capela e sacristia, o quarto principal de uma casa do século XIX, a sala de estar, a sala de jantar e até uma tradicional fábrica de queijos. Cada espaço é ambientado com móveis de época, transportando o público diretamente ao passado.


A visita é enriquecida por uma montagem imersiva que utiliza luzes, sons, narrações e aromas, proporcionando uma experiência sensorial completa. O acervo inclui desde objetos das culturas indígenas até pinturas coloniais da escola cusquenha. Embora fotografias em seu interior não sejam permitidas, a memória da experiência é mais do que suficiente para marcar a passagem pelo local.


Após uma visita guiada repleta de aprendizado, seguimos viagem pela Ruta Provincial 307.


Pouco depois, a estrada nos colocou lado a lado com o Dique La Angostura, um cenário impressionante que parecia acompanhar nosso passeio.

Esse lago artificial, o mais alto da Argentina e um dos poucos no mundo acima dos 2.000 metros de altitude, possui profundidade máxima de 6 metros. Além de ser uma fonte vital de recursos hídricos para a região, tornou-se também um espaço de lazer muito procurado. Suas águas tranquilas recebem praticantes de iatismo, caiaque e pesca esportiva, atraindo visitantes em busca de aventura e contemplação.

A paisagem, com o azul profundo do lago contrastando com o verde das montanhas ao redor, era simplesmente arrebatadora. O Dique La Angostura representa um encontro perfeito entre obra humana e natureza, criando um espaço que convida tanto ao relaxamento quanto à prática de atividades ao ar livre.

Cerca de 10 km após deixarmos o centro de Tafí del Valle, chegamos a El Mollar, uma pequena localidade repleta de charme e história.


Situada no coração do Valle de Tafí, essa vila de pouco mais de 3.000 habitantes, a 2.100 metros acima do nível do mar, é conhecida por sua atmosfera tranquila e por ser ponto de partida para explorar as riquezas naturais e arqueológicas da região.


O nome El Mollar tem origem na palavra quéchua “molle” (Schinus molle), árvore típica da flora andina, também chamada no Brasil de aroeira-salso ou aroeira-mole.



O que torna El Mollar especialmente fascinante são os vestígios da antiga cultura calchaquí, que conferem ao lugar uma aura mística. Entre eles, os mais impressionantes são os menhires, enormes pedras verticais gravadas com formas zoomórficas e antropomórficas, que intrigam arqueólogos e encantam visitantes há décadas.


Essas peças estão reunidas no Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires, um dos atrativos mais importantes da região. A palavra “menhir” tem origem celta e significa “pedra longa” (de men = pedra e hir = longa). Localmente, também são conhecidos como huacas ou wankas (termo quéchua que significa “os ancestrais”) pelos povos originários, além de serem chamados de piedras paradas pelos moradores atuais.

Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires
O Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires exibe cerca de 150 peças arqueológicas entre menhires ou huacas e elementos de moagem pertencentes a cultura Tafí, que habitou o vale entre os anos 500 a.C. e 800 d.C.
Como chegar
Mapa e roteiro de como chegar no Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires partindo do centro de Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil:
Contatos do Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires
- Endereço: Avenida Los Menhires | El Mollar – Tucumán – Argentina
- Telefone: +54 381 514-9840
- E-mail: museolosmenhires@gmail.com
Para obter informações mais detalhadas, visite o site oficial do Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires.
Horários de Funcionamento
- Terça a sábado: das 9h às 19h
- Domingo a segunda: das 9h às 14h
Valores de Ingresso
- Público em geral: Gratuito
Recomendamos verificar as tarifas antes da sua viagem, pois os valores podem ser alterados a qualquer momento.
Tempo Médio de Visitação
- 45 minutos

No Museo Arqueológico a Cielo Abierto Los Menhires, observamos uma dezena dessas esculturas, algumas com até 4 metros de altura e 4 toneladas. Com entalhes que representam figuras humanas, animais e símbolos fálicos, esses monumentos foram esculpidos entre 500 a.C. e 800 d.C. pela cultura Tafí. O mais impressionante é que, na época, não havia ferramentas de metal: todo o trabalho era feito com pedras lascadas, polidas e desgastadas manualmente.


Originalmente espalhados por todo o Vale do Tafí em áreas cerimoniais, agrícolas ou domésticas, os menhires eram considerados imagens sagradas ligadas ao culto da fertilidade e à representação dos ancestrais.


Em 1993, a Reserva Arqueológica Los Menhires foi declarada Patrimônio Arqueológico Nacional, e no início dos anos 2000 os monumentos foram transferidos para o parque atual, garantindo maior proteção e preservação.


Cercados por paisagens que transmitem paz, os menhires continuam a despertar curiosidade e admiração. Para os povos indígenas, eles simbolizavam força e espiritualidade, muitas vezes associados a felinos, figuras de poder na cosmovisão andina. Além deles, o parque exibe pedras utilizadas como moedores de grãos, testemunhos do cotidiano das comunidades que habitaram a região há milênios.


Explorar a Reserva Arqueológica Los Menhires em El Mollar foi como fazer uma viagem no tempo, permitindo-nos mergulhar nas raízes profundas da cultura do noroeste argentino.


Após a visita ao Parque Los Menhires, regressamos a Tafí del Valle e buscamos um hotel para descansar.



A Formosa ficou bem guardada na garagem, enquanto trocávamos de roupa para uma caminhada relaxante no fim da tarde.



A cidade de Tafí del Valle, cercada por natureza exuberante, é um dos principais destinos turísticos de Tucumán. Suas ruas tranquilas nos conduziram até a Municipalidad de Tafí del Valle e, em seguida, à charmosa Parroquia Nuestra Señora del Carmen – Iglesia de Tafí del Valle.


Depois de acompanhar o pôr do sol e registrar algumas imagens, encerramos o dia em um restaurante típico, saboreando a culinária regional.


Com o corpo relaxado e o coração leve, retornamos ao hotel para descansar, pois amanhã tem mais rutas argentinas pela Moto Expedição 2019: Salta – Jujuy – Tucumán.

Acima o mapa com o trajeto percorrido entre Cafayate – Salta – Argentina e Tafí del Valle – Tucumán – Argentina.

Oba! Já são 6 comentários nesta postagem!
Muito obrigado pelo retorno, estou em taffi hj e amanhã sigo para cafayate. Ajudou muito!!!! Abs
Maravilha, que tu tenha um ótimo passeio!
Apenas complementando, de Cafayate para cima (direção norte) a Ruta 40 tem cerca de 30km asfaltados (até San Carlos) e depois o pavimento passa a ser rípio.
Se tu for a Salta pode seguir pela Ruta 68 (Quebrada de Cafayate – Quebrada de las Conchas), a qual é toda asfaltada e cercada por lindas paisagens. Dica: leve água para se hidratar durante este trajeto, pois quando passamos por ele não encontramos nenhum local vendendo bebidas e fazia um calor insuportável.
Bons ventos. Abraços.
Este trecho da ruta 40 entre Tafi e cafayate possui ripio ou e todo asfaltado?
Olá Eduardo!
Todo o trajeto de Tafí del Valle a Cafayate é asfaltado, inclusive o pequeno trecho da Ruta 40.
Apenas a estrada que dá acesso às Ruínas de Quilmes é de rípio (5km).
Abraços…
Mais um dia de visitações a lugares pequenos mas sempre com suas peculiaridades, muito interessante pois são regiões praticamente desconhecida para nós..
Valeu
Sim, lugares fantásticos e com uma receptividade incrível!
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
Mas atenção, os campos marcados com * são de preenchimento obrigatório, pois assim mantemos (ou tentamos manter) o blog bonitinho, livre de robôs indevidos.
Ah, relaxe, seu endereço de e-mail será mantido sob sigilo total (sabemos guardar segredos, palavra de escoteiro) e não será publicado.