Rota do Vinho mais Alta do Mundo em Cafayate, Salta, Argentina: Bodega Domingo Molina e Piattelli Vineyards

Explorar Cafayate, no coração do Valle Calchaquí, é vivenciar o melhor do enoturismo na Argentina. Em meio a paisagens deslumbrantes e vinhedos de altitude reconhecidos mundialmente, dedicamos o dia a conhecer duas vinícolas imperdíveis da Rota do Vinho mais Alta do Mundo: a Bodega Domingo Molina e a Piattelli Vineyards. Além das degustações e da imersão na tradição vitivinícola local, caminhamos pelo charmoso centro histórico de Cafayate e visitamos o Museo de la Vid y el Vino, um espaço moderno e interativo que celebra a história, a cultura e a paixão pelo vinho na província de Salta.

A sexta-feira amanheceu com um céu azul intenso sobre o charmoso centro histórico de Cafayate, na província de Salta, noroeste da Argentina. O clima perfeito para explorar uma das regiões mais autênticas do país, marcada por paisagens de tirar o fôlego, vinhedos centenários e uma herança cultural que encanta qualquer visitante.

Após um café da manhã típico, seguimos para a Plaza 20 de Febrero, considerada o coração de Cafayate.

O espaço público, rodeado por árvores imponentes e construções coloniais, é ponto de encontro de moradores e turistas. Sua atmosfera acolhedora convida a caminhar sem pressa, absorvendo a rotina tranquila da cidade e sua forte identidade cultural.

De frente para a praça, ergue-se a Catedral Nuestra Señora del Rosario, também chamada de Iglesia de Cafayate. Com fachada amarela em estilo neoclássico, o templo é um marco histórico e religioso construído no final do século XIX. Sua importância vai além da fé: a arquitetura diferenciada guarda um simbolismo que reflete a fusão de estilos europeus e locais.

A atual Catedral Nuestra Señora del Rosario começou a ser erguida em 4 de janeiro de 1895, destacando-se por seu estilo pós-colonial com traços italianos e referências que lembram mesquitas, conferindo-lhe um aspecto singular.

O projeto da fachada, elaborado pelo arquiteto catalão Pedro Coll, apresenta três portais principais, cada um coroado por rosáceas que representam a Santíssima Trindade, reforçando o simbolismo religioso do conjunto.

Entre suas particularidades, está a estrutura com cinco naves, algo extremamente raro na arquitetura religiosa da América Latina. Apenas outras duas igrejas em toda a América do Sul compartilham essa mesma característica, o que torna a Catedral de Cafayate um verdadeiro patrimônio histórico.

O teto da Iglesia de Cafayate, sustentado por dezesseis pilares robustos, completa a grandiosidade do espaço, que combina arte, fé e memória cultural em cada detalhe.

No interior, encontramos imagens de santos esculpidas em madeira e gesso, que impressionam pela riqueza dos detalhes.

No altar principal, a imagem de Nuestra Señora del Rosario, conhecida carinhosamente como La Sentadita, recebe destaque especial. O apelido vem de sua posição sentada, algo pouco comum em representações marianas.

Essa peculiaridade permitiu que, durante séculos, a imagem fosse transportada no lombo de burros, levando bênçãos às comunidades da Quebrada de Cafayate.

Com pouco mais de 15 mil habitantes, Cafayate está a 1.660 metros de altitude, no coração do Valle Calchaquí. Além de sua atmosfera acolhedora, a cidade é reconhecida como um dos principais centros de produção de vinhos de altitude da América do Sul.

O terroir único, com dias ensolarados e noites frescas, favorece variedades como a uva Torrontés, responsável por projetar os vinhos de Cafayate para o cenário internacional.

Após o momento de contemplação na catedral, seguimos em direção a uma das experiências mais esperadas da viagem: degustar os renomados vinhos locais.

De táxi, partimos para visitar duas das muitas bodegas que compõem a Rota do Vinho de Cafayate – Salta, conhecida como La Ruta del Vino más Alta del Mundo, um roteiro imperdível para quem deseja mergulhar nos sabores e tradições vitivinícolas da região.

Essas bodegas representam a alma da produção vitivinícola de Cafayate, onde tradição centenária e técnicas modernas se unem para dar origem a vinhos de altitude reconhecidos mundialmente.

Depois de alguns quilômetros por uma estrada de rípio, em meio a um cenário rural de grande beleza, chegamos à primeira parada do nosso roteiro enoturístico: a Bodega Domingo Molina.

Situada em Yacochuya Norte, no coração dos Valles Calchaquíes, a vinícola é 100% familiar e simboliza a paixão pelo vinho que move Cafayate.

Fundada no ano 2000 pelos irmãos Osvaldo, Gabriel e Rafael Domingo, o projeto une a experiência acumulada por gerações com o profundo respeito às condições únicas de cultivo em altitude. O resultado é uma produção que valoriza a identidade local e coloca a região no mapa dos grandes vinhos da América do Sul.

A visita na Vinícola Domingo Molina começou com um passeio pelos vinhedos, onde aprendemos sobre as particularidades das uvas cultivadas em altitudes entre 1.600 e 2.300 metros.

O clima seco, os mais de 300 dias de sol ao ano, a baixa pluviosidade e a grande amplitude térmica garantem frutos de qualidade superior, características que explicam a força da viticultura em Cafayate, Salta – Argentina.

Entre as variedades cultivadas nos mais de 60 hectares da vinícola estão a Torrontés, uva emblemática da região, além de Malbec, Cabernet Sauvignon e Tannat, todas produzidas com extremo cuidado para refletir a autenticidade do terroir.

Os vinhos resultantes apresentam aromas intensos, excelente corpo, equilíbrio e uma expressividade marcante que conquista desde apreciadores iniciantes até enófilos experientes.

Um dos momentos mais especiais durante o passeio guiado pela Bodega Domingo Molina foi conhecer a chamada “parreira mãe” da bodega, com mais de 105 anos de idade. Essa videira centenária, de tronco retorcido e folhas vigorosas, testemunha a história da viticultura no Valle Calchaquí e simboliza a ligação íntima entre a tradição familiar e a força da natureza local.

A Bodega Domingo Molina alia tradição e tecnologia. Suas instalações modernas permitem vinificar com precisão, mas sem abrir mão do respeito pela terra e pelos processos manuais que mantêm a identidade dos vinhos.

Cada garrafa de vinho da vinícola carrega não apenas sabor, mas também a história de uma região única.

Para quem visita a Bodega Domingo Molina durante a época de colheita, entre fevereiro e abril, a experiência pode ser ainda mais envolvente. É possível participar da seleção manual das uvas, vivenciando de perto um dos momentos mais importantes do ciclo vitivinícola.

Colher os cachos diretamente das videiras e entender os critérios que garantem a qualidade é um mergulho autêntico na cultura do vinho de Cafayate – Salta – Argentina.

Como estávamos em setembro, não participamos da colheita, mas tivemos o privilégio de explorar os vinhedos e acompanhar parte do processo de produção antes de chegar ao momento mais esperado: a degustação.

Em um ambiente ao ar livre, com vista para as montanhas e os vinhedos que se estendem pelo Vale de Cafayate, provamos alguns dos principais rótulos da bodega, acompanhados por uma seleção de queijos regionais.

O Torrontés destacou-se pelos aromas florais frescos, enquanto o Malbec impressionou pela intensidade e estrutura. O cenário idílico transformou a degustação em uma experiência sensorial completa, unindo sabores, aromas e paisagens de forma inesquecível.

De taça em taça, a tarde passou leve. E, claro, não resistimos em levar algumas garrafas para prolongar essa memória em outras ocasiões. De coração cheio e paladar encantado, voltamos ao táxi rumo ao próximo destino: outra vinícola renomada de Cafayate, pronta para revelar mais histórias e sabores desse terroir singular.

O tour pelas bodegas de Cafayate, em Salta, é assim mesmo: uma experiência que se revela em etapas, cada uma trazendo novos sabores, histórias e paisagens únicas.

Com o Vale de Cafayate desfilando pela janela, seguimos animados rumo à nossa próxima parada, que prometia ser tão especial quanto a anterior. Poucos minutos depois, chegamos à Bodega Piattelli Vineyards.

Inaugurada em 2013, a Bodega Piattelli Vineyards rapidamente se consolidou como um dos grandes destaques do enoturismo em Cafayate. Sua estrutura moderna e acolhedora foi projetada para oferecer ao visitante muito mais do que vinhos: aqui, tradição, hospitalidade e paisagens deslumbrantes se encontram. O tour guiado conduz os visitantes desde os vinhedos até a vinificação, revelando os segredos da viticultura de altitude que consagrou a região.

Para completar a experiência, a Bodega Piattelli Vineyards abriga um restaurante requintado, onde a gastronomia regional é reinterpretada em pratos criados para harmonizar com seus rótulos. A loja, por sua vez, oferece uma seleção variada dos vinhos da marca, uma oportunidade perfeita para levar um pedacinho de Cafayate como lembrança. É um espaço que combina aprendizado, sabores e contemplação em um único lugar.

Quem deseja prolongar a estadia encontra no Piattelli Wine Resort a combinação ideal de conforto e exclusividade. Integrado ao complexo da vinícola, o resort oferece hospedagem sofisticada em meio aos vinhedos, com ambientes elegantes, atendimento personalizado e vistas privilegiadas para as montanhas do Valle Calchaquí. O spa do resort é um convite ao relaxamento depois de um dia de degustações e passeios, transformando a visita em uma imersão completa no universo do vinho.

Outro diferencial da Piattelli é sua presença em duas das regiões vinícolas mais renomadas da Argentina: Cafayate e Mendoza. Essa característica permite explorar diferentes terroirs e oferecer uma diversidade de rótulos que refletem com fidelidade as particularidades de cada solo e clima.

Entre as uvas cultivadas estão Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat, Trinità, Torrontés e Chardonnay, todas trabalhadas com precisão para extrair o máximo de sua expressão. O resultado vai de tintos potentes e estruturados a brancos frescos e aromáticos, como o Torrontés, uva considerada a “rainha” das cepas argentinas.

Como já havíamos vivido um tour detalhado na Bodega Domingo Molina, optamos por explorar a Piattelli de maneira mais livre. Caminhamos por seus jardins e vinhedos bem cuidados, admirando a imponência da arquitetura e a paisagem que se descortinava em todas as direções. As montanhas ao fundo, o clima ameno e a brisa suave criaram o cenário ideal para desacelerar e apreciar cada instante em silêncio, apenas absorvendo a conexão com a natureza e com a cultura do vinho.

O momento mais esperado, claro, foi a degustação. Em um ambiente acolhedor, dividimos a experiência com outros visitantes e mergulhamos nos rótulos da Bodega Piattelli, guiados por um sommelier que nos ajudou a identificar aromas, sabores e texturas.

O Torrontés brilhou pela leveza e frescor, enquanto os Malbecs e Cabernets se destacaram pela complexidade e intensidade características dos vinhos de altitude.

Foi uma verdadeira celebração dos sentidos. Cada taça parecia contar um capítulo da história de Cafayate e confirmar por que essa região é considerada uma das mais promissoras do enoturismo argentino.

Mais felizes e com a mochila carregada de vinhos (afinal, resistir às compras foi impossível), embarcamos no táxi que nos aguardava pacientemente do lado de fora da bodega. O retorno ao centro de Cafayate foi tranquilo, embalado pelas paisagens do Vale Calchaquí que se descortinavam pela janela.

De volta ao centro da cidade, seguimos direto para o hotel. Inspirados pelo ritmo sereno de Cafayate, e também pelo cachorrinho da foto abaixo, decidimos tirar uma sesta bem merecida. Depois de um dia de caminhadas, degustações e descobertas, nada melhor do que um descanso breve para recuperar as energias e mergulhar ainda mais no estilo de vida tranquilo da região.

Revigorados após a pausa, voltamos a explorar o centro de Cafayate. O charme rústico da cidade, com suas ruas estreitas, arquitetura colonial e atmosfera acolhedora, é perfeito para um passeio a pé.

Lojinhas de artesanato exibem peças únicas, feitas à mão, enquanto pequenas praças convidam a sentar e observar o ritmo lento da vida local.

A história de Cafayate é tão rica quanto suas paisagens. Antes da colonização, a região era habitada por povos de origem cacán, posteriormente dominados pelos diaguitas, reconhecidos por sua habilidade em agricultura, tecelagem e cerâmica.

Mais tarde, os incas expandiram seus domínios até os Valles Calchaquíes, deixando técnicas agrícolas e culturais que permanecem até hoje. Essas camadas de história se revelam nas tradições, na gastronomia e até na forma de viver dos moradores.

Nosso passeio pelo centrinho nos levou a um ponto imperdível: o Museo de la Vid y el Vino (Museu da Vinha e do Vinho), inaugurado em 2011.

Este espaço inovador apresenta, de forma interativa, a história e as características dos vinhedos mais altos do mundo, situados entre 1.600 e 3.000 metros de altitude.

Mais do que um museu, é uma experiência sensorial, com recursos audiovisuais, projeções e sons ambientes que transportam o visitante ao coração do Valle Calchaquí.

O percurso do Museo de la Vid y el Vino é dividido em duas grandes salas. A primeira, chamada Memória da Vinha, apresenta filmes e sons que narram a relação ancestral entre o homem e a terra, criando uma atmosfera imersiva.

Uma passarela conduz à segunda sala, Memória do Vinho, onde a iluminação mais clara e a energia vibrante refletem o dinamismo e a paixão da produção vinícola da região. É um passeio autoguiado, que permite a cada visitante absorver a experiência em seu próprio ritmo.

Entre tantas informações, um destaque se impõe: o Torrontés de Cafayate. Considerado o vinho branco mais emblemático da Argentina, ele é único no mundo e acumula prêmios internacionais. Produzido em vinhedos de altitude que variam entre 1.700 e 2.300 metros, o Torrontés resulta em um vinho fresco, com notas florais e cítricas marcantes, equilíbrio perfeito entre acidez e aroma. É a verdadeira joia do terroir saltenho.

Mas Cafayate não vive só de Torrontés. A região também produz brancos como Sauvignon Blanc e Chardonnay, cheios de frescor e complexidade aromática, além de tintos potentes: o Malbec, com sua intensidade frutada, o Cabernet Sauvignon, elegante e estruturado, o Tannat, de taninos marcantes, e o Syrah, com seus toques de especiarias. Uma diversidade que confirma a vocação do município como um dos polos vitivinícolas mais importantes da América do Sul.

Ainda imersos no universo dos vinhos, seguimos para o Museo Regional y Arqueológico Rodolfo Bravo, instalado em um belo edifício colonial no centro da cidade. Fundado em 1935, originalmente em Animaná, e transferido para Cafayate em 1943, o museu é um guardião da memória dos povos que habitaram os Valles Calchaquíes.

Seu acervo reúne peças arqueológicas encontradas em um raio de 30 quilômetros da cidade, principalmente ligadas às culturas diaguita e diaguito-calchaquí. Cerâmicas, ferramentas, adornos e objetos de uso cotidiano revelam o modo de vida e a habilidade artística desses povos, além de trazer vestígios da influência incaica. As exposições também abordam tradições locais e a evolução histórica de Cafayate, oferecendo ao visitante uma visão ampla da identidade cultural da região.

Com o cair da tarde, encerramos o passeio e retornamos ao hotel. O dia havia sido intenso e repleto de descobertas, entre vinhos, cultura e história, e era hora de descansar.