Museo de Arqueología de Alta Montaña, Catedral Basílica e Cabildo de Salta no Norte da Argentina

No nosso segundo dia em Salta, capital da província homônima no norte da Argentina, exploramos o charmoso centro histórico da cidade. Caminhamos pela arborizada Plaza 9 de Julio, visitamos o Museo de Bellas Artes de Salta, o histórico Cabildo de Salta – Museo del Norte, e nos impressionamos com o acervo do Museo de Arqueología de Alta Montaña (MAAM), onde conhecemos a fascinante história dos Niños del Llullaillaco. Também experimentamos os deliciosos tamales e as famosas empanadas argentinas, e exploramos o Museo Casa de Arias Rengel e o Museo Güemes. Finalizamos o dia com uma visita à imponente Catedral Basílica de Salta – Santuario del Señor y de la Virgen del Milagro, um dos símbolos mais marcantes da cidade.

Começamos nossa terça-feira em Salta, conhecida como “La Linda”, no norte da Argentina, saboreando um delicioso desayuno composto por medialunas e pan de papas.

Após um café da manhã reforçado, seguimos para o segundo dia de exploração pelo charmoso centro histórico de Salta.

Nossa primeira parada do dia foi o encantador Museo de Bellas Artes de Salta – Lola Mora, um espaço que reúne cultura e arte em um ambiente acolhedor.

Inaugurado em 1930, o Museo de Bellas Artes Lola Mora de Salta abriga uma rica coleção de obras de renomados artistas locais, além de peças de criadores que escolheram a cidade como lar e fonte de inspiração.

O Museo de Bellas Artes de Salta está situado na histórica La Casona Usandivaras, uma encantadora construção de estilo francês datada do início do século XX, que por si só já é uma obra de arte arquitetônica.

Com mais de 1.000 m² distribuídos em dois andares, o edifício foi cuidadosamente restaurado, ampliado e adaptado para abrigar o Museo de Bellas Artes de Salta – Lola Mora.

No térreo, são 245 m² dedicados a exposições temporárias, enquanto o primeiro piso oferece 166 m² para a coleção permanente.

O espaço também conta com uma biblioteca especializada, auditório, loja e um charmoso bar, proporcionando uma experiência completa para os visitantes.

O Museo de Bellas Artes de Salta, um dos mais antigos da Argentina, destaca-se por valorizar e preservar a rica história das artes plásticas locais, celebrando o talento e a criatividade que marcaram gerações de artistas da região.

O acervo do Museo de Bellas Artes de Salta é um verdadeiro tesouro, abrangendo diversas épocas e estilos.

Ele inclui Arte Sacra do século XVIII, obras do século XIX e criações de artistas renomados como Ernesto Scotti, Aristene Papi, Ramiro Dávalos, Guillermo Usandivaras, María Martorell, Carlos L. García Bes (Pajita), Luis Preti, Osvaldo Juane, Jorge Hugo Román, Rodolfo Argenti, Elsa Salfity, entre outros talentos de Salta que marcaram a arte do início e meados do século XX.

Além disso, o museu conta com uma Sala de Arte Pré-colombiana, que integra ao acervo permanente manifestações do passado pré-hispânico, uma importante fonte de inspiração para muitos artistas locais.

Entre os destaques do acervo do Museo de Bellas Artes de Salta está a obra “Vista de la ciudad de Salta”, pintada em 1854 pelo renomado artista italiano Carlo Penutti. Essa peça captura com maestria a paisagem e a atmosfera da cidade no século XIX, sendo um verdadeiro marco artístico e histórico.

Após visitar o Museo de Bellas Artes de Salta – Lola Mora, seguimos nosso passeio até o imponente Cabildo de Salta, um dos marcos históricos mais importantes da cidade.

O Museo Histórico del Norte está instalado no antigo Cabildo de Salta e integra um importante complexo museológico que também abriga o Museo Nacional Presidente José Evaristo Uriburu e o Museo Posta de Yatasto, formando um verdadeiro circuito cultural e histórico da região.

Os três museus oferecem uma fascinante viagem pela história de Salta, exibindo arte sacra, artefatos da cultura indígena, peças do período colonial, móveis do século XVIII, carroças e galeras antigas, além de valiosos documentos históricos. Os próprios edifícios que abrigam esses espaços também são históricos, com datas que remontam aos séculos XVII e XVIII, enriquecendo ainda mais a experiência cultural dos visitantes.

O Cabildo de Salta é uma verdadeira joia arquitetônica do período colonial, que combina elementos barrocos e neoclássicos em suas expressões populares. Sede do governo regional entre 1626 e 1888, o edifício preserva a história e a grandiosidade da época, oferecendo aos visitantes uma imersão única na cultura e na política de Salta durante os séculos passados.

Logo na entrada do Cabildo de Salta, encontra-se pendurado o brasão de armas da Argentina, com destaque para o barrete frígio, o icônico gorrinho vermelho simbolizando a liberdade. Este símbolo, que remonta à Revolução Francesa, também aparece nas bandeiras do Paraguai e dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no Brasil, reforçando a ligação histórica e cultural entre esses países e regiões.

Em 1937, o Cabildo de Salta foi declarado Monumento Histórico Nacional, reconhecendo sua importância cultural e arquitetônica. Desde 1949, o edifício abriga o Museo Histórico del Norte, que preserva e exibe a rica história da região, tornando-se um ponto central de memória e aprendizado sobre o passado de Salta.

O patrimônio do Museu Histórico del Norte revela aspectos fundamentais da história da região. As primeiras salas do museu apresentam vestígios das antigas civilizações, com peças do cotidiano que ilustram a forma de viver e pensar dos primeiros habitantes de Salta, oferecendo uma visão profunda sobre suas tradições e cultura.

O acervo do museu inclui uma variedade de peças, como ornamentos, colares, urnas funerárias e armas do período de dominação Inca, organizadas de maneira cultural e cronológica, proporcionando uma visão detalhada das práticas e da vida das civilizações que habitaram a região antes da chegada dos colonizadores.

Após explorar a primeira sala, seguimos para um amplo pátio interno do Cabildo de Salta, onde o ambiente tranquilo e histórico nos convida a apreciar a arquitetura colonial e a beleza do local.

Adentramos em outra sala, onde estão expostas peças de mobiliário histórico, elementos das primeiras aldeias agrícolas da região e notáveis obras de arte sacra, que ajudam a contar a história do desenvolvimento cultural e religioso de Salta.

Neste ambiente, o púlpito de madeira talhada do século XVIII, que pertenceu à Companhia de Jesus, destaca-se como uma verdadeira relíquia.

Além disso, peças de numismática e medalhas também atraem a atenção, oferecendo uma visão fascinante da história econômica e simbólica da região.

Ali, também é possível observar diversos elementos utilizados nas construções do período colonial, como ferramentas e materiais que refletem as técnicas e estilos arquitetônicos da época, proporcionando uma imersão na história da engenharia e construção do século XVIII.

Desta forma, é possível entender em detalhes como eram feitas as construções da época. A cobertura, por exemplo, era composta por bambus amarrados lado a lado, revestidos por uma fina camada de massa feita com barro, água e palha, técnica que demonstrava a engenhosidade e adaptabilidade dos colonizadores às condições locais.

Em seguida, acessamos o segundo piso da edificação, onde novas exposições nos aguardam.

No segundo pavimento do Cabildo de Salta, uma ampla varanda oferece uma vista privilegiada da Plaza 9 de Julio, permitindo apreciar o movimento e a beleza da praça sob uma perspectiva única.

Ali, encontramos um sino de 1822, uma peça histórica que testemunha momentos importantes da cidade e acrescenta ainda mais valor ao acervo do Cabildo de Salta.

Também tivemos a oportunidade de conhecer a Sala Capitular do Cabildo de Salta, decorada com mobiliário luso-brasileiro do século XVIII, uma curiosa fusão de influências que reflete as conexões históricas entre Espanha, Portugal, Brasil e a região de Salta durante o período colonial.

Em uma das paredes da sala, destaca-se o belíssimo estandarte do Regimento Espanhol Caballería Imperial de la Ciudad del Cuzco, uma peça impressionante que remonta à época colonial e simboliza a presença e influência militar espanhola na região.

Na sala ao lado, estão expostas diversas medalhas de importantes militares argentinos, honrando as figuras que desempenharam papéis fundamentais nas lutas pela independência e na construção do país.

Após explorar a área superior, retornamos ao piso térreo, onde continuamos nossa jornada histórica pelo Cabildo de Salta, mergulhando ainda mais na rica herança cultural da cidade.

Passamos pelo pátio das carruagens, onde estão expostos carros alegóricos e diligências do período do vice-reinado e do início do século XX, oferecendo uma visão fascinante do transporte e da mobilidade da época.

Ali, vimos um carro fúnebre do final do século XIX, utilizado em Cafayate para funerais de crianças. Essa peça histórica oferece um olhar profundo sobre as práticas funerárias da época e a sensibilidade cultural em torno dessas cerimônias.

Ao lado, havia uma galera do final do século XIX, utilizada para transportar passageiros entre Cafayate e Alemanía. Esse veículo oferece uma janela para o passado, mostrando como as viagens eram feitas em uma época em que o transporte era mais lento e desafiador.

Mais adiante, nos deparamos com um break do início do século XX, um elegante veículo de transporte que remonta à época em que as viagens eram uma experiência mais refinada e cuidadosa, refletindo o estilo e a funcionalidade do período.

E, por fim, encontramos um Renault de 1911, que pertenceu a Alberto Paz Posse, governador de Tucumán, uma verdadeira relíquia.

Em seguida, acessamos uma sala onde estava exposto um antigo piano, um instrumento que adiciona uma dimensão sonora à história do lugar, evocando a importância da música e da cultura na vida cotidiana da época.

Em seguida, visitamos uma sala onde estão expostos uniformes e armas utilizados por Manuel Belgrano e Martín Miguel de Güemes durante as guerras de independência da Argentina, peças que nos conectam diretamente aos heróis nacionais e aos eventos que moldaram a nação.

Ali, estão expostas as réplicas dos sabres que pertenciam ao general José de San Martín, símbolos de sua liderança e bravura nas lutas pela independência da Argentina.

Também está exposta uma bandeira espanhola, tomada por San Martín na Batalla de Pasco, um importante troféu de guerra que simboliza a vitória na luta pela independência e a resistência contra o domínio colonial.

Entre os inúmeros quadros, destaca-se uma obra de 1912, assinada por Estruch, que retrata Martín Miguel de Güemes e seus gaúchos, capturando a bravura e a determinação dos heróis da guerra de independência da Argentina.

Outro item valioso do museu é a antiga bandeira utilizada pelo batalhão das Guardas Nacionais de Salta, um importante símbolo da resistência local durante as guerras de independência e da luta pela autonomia da região.

O Museo Histórico del Norte – Cabildo de Salta também abriga um excelente acervo numismático, com moedas e medalhas que refletem a história econômica da região e as transformações ao longo dos séculos.

O acervo numismático do museu também narra a evolução do dinheiro, trazendo curiosidades sobre sua origem. Um exemplo interessante é a palavra “salário”, que vem do latim salarium, utilizado na antiga Roma, onde o sal era um item extremamente valioso, e os trabalhadores eram pagos com quantidades de sal como forma de remuneração.

Após visitar o Museo Histórico del Norte – Cabildo de Salta, seguimos nosso passeio pela Plazoleta Cuatro Siglos, um espaço encantador que celebra a rica história da cidade e oferece uma vista única de sua arquitetura e paisagens.

Na Plazoleta Cuatro Siglos, tivemos a oportunidade de assistir a dois artistas tocando músicas andinas, trazendo ainda mais charme ao ambiente e nos conectando com as tradições musicais da região.

Na sequência, seguimos até a Iglesia San Juan Bautista de La Merced.

Com capacidade para 300 pessoas, a atual Iglesia San Juan Bautista de La Merced foi construída em 1910 e inaugurada em 1914, preservando a tradição arquitetônica da época e servindo como um importante ponto de fé e cultura para a comunidade local.

Projetada pelo mestre Santiago Ziegelman, a Iglesia San Juan Bautista de La Merced é um notável exemplo do surgimento do estilo neogótico na arquitetura eclesiástica do noroeste da Argentina.

O interior da Igreja San Juan Bautista de La Merced é adornado por magníficos vitrais que ilustram cenas da vida de Cristo, além de abrigar valiosas imagens do século XVIII, como a de Nossa Senhora da Misericórdia, um Cristo deitado e um Sagrado Coração.

Desde sua construção, a igreja protege os restos de uma cruz enviada pelo General Manuel Belgrano após a Batalha de Salta, em 1813, com o lema “A los vencedores y vencidos en la Batalla de Salta, 20 de Febrero de 1813”. Esta cruz, com 5 metros de altura, está preservada em uma urna de ferro e vidro, fixada na parede, construída especialmente para garantir sua conservação.

Após visitar a Iglesia San Juan Bautista de La Merced, caminhamos até o Centro Cultural América – CCA.

O Centro Cultural América está instalado em uma imponente edificação construída em 1913, que se destaca pela sua arquitetura e pelo papel fundamental na promoção das artes e da cultura em Salta.

Inicialmente, a edificação foi sede do tradicional Clube 20 de Febrero. A partir de 1950, passou a servir como Casa do Governo, função que exerceu até 1987, quando começou a ser utilizado para o seu atual propósito cultural.

Declarado Monumento Histórico Nacional, o Centro Cultural América abriga diversas atividades artísticas e culturais, tornando-se um importante ponto de encontro para a comunidade e visitantes que buscam explorar a rica herança e a produção contemporânea da região.

O objetivo do Centro Cultural América é oferecer a todos os públicos um espaço de encontro, recreação e formação cultural, por meio de uma programação diversificada que valoriza tanto o patrimônio nacional quanto o artístico e cultural de importância universal.

O Centro Cultural América está localizado em frente à Plaza 9 de Julio, a praça mais importante da cidade, que também é histórica.

Foi nesse local, no dia 16 de abril de 1582, que Hernando de Lerma fundou a cidade de Salta, marcando o início de sua história.

Inicialmente, a praça era chamada de Plaza Mayor, nome comum nas localidades fundadas pelos espanhóis, pois foi a partir desse ponto central que começou a construção de Salta, estabelecendo-se como o coração da cidade desde sua fundação.

No centro da Plaza 9 de Julio de Salta, encontra-se um monumento em homenagem ao general Juan Antonio Álvarez de Arenales, um destacado líder militar que lutou ativamente contra a Espanha durante a Guerra da Independência da Argentina, contribuindo significativamente para a conquista da liberdade.

O monumento equestre de Juan Antonio Álvarez de Arenales é cercado por um conjunto de 14 esculturas de mulheres, que simbolizam as musas das 14 províncias que formavam a Argentina na época, representando a união e a força das diferentes regiões durante a luta pela independência.

A Plaza 9 de Julio é o epicentro da atividade política, cultural e social da cidade, sendo rodeada por importantes construções históricas que refletem a rica herança arquitetônica e cultural de Salta.

Nesta área, também há diversos restaurantes, lanchonetes e cafés, oferecendo aos visitantes uma ampla variedade de opções para relaxar e saborear a culinária local enquanto apreciam a atmosfera vibrante da praça.

Não titubeamos e entramos em um desses restaurantes para saborear mais empanadas argentinas e experimentar outro prato típico local, o tamal, uma delícia tradicional que nos conecta ainda mais à culinária autêntica do Norte da Argentina.

O tamal, ou tamales, é feito com milho moído, recheado com carne, legumes e outros temperos, e cozido envolto em palhas de milho, o que confere ao prato um sabor único e uma textura macia, sendo uma iguaria muito apreciada na região de Salta.

Após nos deliciarmos com os tamales, voltamos a caminhar pelo charmoso centro histórico de Salta, passando em frente ao Cine Teatro Victoria, um edifício emblemático que se destaca com sua arquitetura clássica.

Passamos também pelo Museo de Arte Contemporáneo de Salta (MAC), um espaço dedicado à arte moderna e contemporânea, que exibe obras de artistas locais e internacionais, oferecendo uma experiência enriquecedora para aqueles que apreciam a arte em suas mais diversas formas e expressões.

Após deixar a Plaza 9 de Julio caminhamos até outro museu, desta vez o Museo Casa de Arias Rengel.

A edificação que abriga o Museo Casa de Arias Rengel é um monumento histórico, construída no início do século XVIII pela família Arias Rengel.

Com sua arquitetura colonial preservada, o edifício é um importante exemplo do patrimônio histórico de Salta e oferece uma imersão na história local.

Alguns membros da família Arias Rengel participaram ativamente das sucessivas incursões espanholas ao Chaco argentino, com destaque para Francisco Gabino Arias Rengel, que, em 1774, foi nomeado segundo chefe da expedição ao Chaco pelo governador Gerónimo Matorras, desempenhando um papel significativo na história militar e territorial da região.

Após a morte de Gerónimo Matorras, Francisco Gabino Arias Rengel assumiu temporariamente o governo de Tucumán, desempenhando um papel importante na administração da região durante um período crítico da história argentina.

No primeiro piso do Museu Casa de Arias Rengel, são realizadas exposições temporárias dedicadas a artistas de Salta, enquanto no piso superior acontecem exposições itinerantes. Na ocasião, estava sendo exibida uma mostra de arte africana, oferecendo aos visitantes uma experiência cultural diversa e enriquecedora.

Na sequência, fomos conhecer o Museo Güemes, dedicado à vida e legado do herói nacional Martín Miguel de Güemes, figura crucial na luta pela independência da Argentina.

A casa que abriga o Museo Güemes, declarada Monumento Histórico Nacional no ano de 1971, foi originalmente a Tesouraria Real da Intendência de Salta até o final do século XVIII. Posteriormente, tornou-se o lar de Martín Miguel de Güemes e sua família, oferecendo uma visão única sobre a vida do herói da independência e seu ambiente familiar e político.

A casa é um dos poucos exemplos de arquitetura colonial que permanece preservado no país, sendo o único testemunho imobiliário da cidade de Salta diretamente relacionado ao General Martín Miguel de Güemes.

O Museo Güemes, repleto de estímulos visuais e sonoros, é composto por dez salas que narram de forma envolvente a trajetória do general Martín Miguel de Güemes. Cada ambiente foi cuidadosamente projetado para proporcionar uma imersão na vida e nos feitos deste herói nacional, tornando a experiência de visitação ainda mais enriquecedora e dinâmica.

Martín Miguel de Güemes é uma figura central na história da Argentina. Após participar da defesa de Buenos Aires durante as invasões inglesas, ele se uniu à causa revolucionária pela independência, que começou em 1810. Sua dedicação e liderança foram fundamentais para o sucesso da luta pela independência, especialmente nas regiões do norte da Argentina.

Invocando os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, Güemes conseguiu agregar ao exército as milícias gaúchas e mobilizar o voluntarismo de pequenos produtores, escravos, artesãos, mestiços e índios. Sua capacidade de unir diferentes setores da sociedade foi crucial para a resistência contra as forças realistas e para a defesa da independência na região do norte da Argentina.

Martín Miguel de Güemes foi o primeiro governador de Salta eleito sem a intervenção das autoridades de Buenos Aires, refletindo sua autonomia e compromisso com os ideais de independência regional. Além disso, ele lutou por uma pátria mais extensa que a atual Argentina, defendendo a integração das províncias do norte e a independência completa do domínio colonial espanhol.

Martín Miguel de Güemes é declarado um herói nacional na Argentina, sendo o único general argentino morto em ação de guerra, no dia 17 de junho de 1821. Sua morte ocorreu durante a epopeia de emancipação do continente americano, um marco crucial na história da luta pela independência. Seu legado permanece vivo como símbolo de coragem, liderança e compromisso com a liberdade.

Após conhecer um pouco mais sobre a independência da Argentina, deixamos o Museo Güemes e caminhamos novamente até a Plaza 9 de Julio. Aproveitamos o momento em que as nuvens deram uma trégua e o azul do céu apareceu para tirar uma foto em frente ao Cabildo de Salta, capturando a beleza da praça e da arquitetura histórica que a cerca.

Na sequência, fomos almoçar em um dos restaurantes locais.

Devidamente alimentados, seguimos para o Museo de Arqueología de Alta Montaña, um dos principais museus não apenas de Salta, mas de toda a Argentina. Localizado em um edifício histórico do século XIX, o museu fica em frente à Praça 9 de Julho e é conhecido por seu acervo único, que narra a história das civilizações andinas e preserva importantes achados arqueológicos da região.

O Museu de Arqueologia de Alta Montanha de Salta tem como principal objetivo proteger, estudar e divulgar uma das mais importantes descobertas arqueológicas das últimas décadas: os Niños del Llullaillaco. Esses impressionantes restos mumificados de crianças incas, encontrados no topo do vulcão Llullaillaco, representam um dos achados mais significativos da história da arqueologia e são um testemunho da complexa civilização inca.

Em março de 1999, o corpo de três crianças, juntamente com mais de uma centena de objetos, foram encontradas preservadas pelo frio no cume do vulcão Llullaillaco, a 6.700 metros de altitude. Este achado arqueológico, considerado um dos mais significativos do mundo, oferece um olhar profundo sobre os rituais e a cultura inca.

Como é proibido fotografar as salas onde as múmias das Crianças Incas de Llullaillaco e os demais artefatos estão expostos, fizemos fotos apenas das áreas que antecedem o acervo, para capturar a atmosfera e a grandiosidade do museu sem invadir as restrições de preservação.

Pesquisas revelaram que as crianças viveram há aproximadamente 500 anos, durante o auge do período Inca, pouco antes da chegada dos espanhóis.

Desde o século XV até 1532, ano da chegada dos conquistadores espanhóis ao Peru, grande parte do noroeste e centro-oeste do atual território argentino fazia parte do vasto Império Inca, governado por Pachacuti, também conhecido como Pachacutec, o nono Inca e famoso por ser o “Reformador do Mundo”.

Durante esse período, o Império Inca dominava a maior parte dos Andes, estendendo-se por territórios que hoje pertencem à Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Esse império era dividido em quatro regiões chamadas suyus, que juntos formavam o Tawantinsuyu, com Cusco como centro sagrado e político, mais do que uma cidade comum, era considerada o coração do império e um ponto de grande importância espiritual e administrativa.

Um dos rituais mais significativos do calendário Inca era o Capacocha, também conhecido como Capac Hucha, que pode ser traduzido como “obrigação real”. Esse ritual ocorria durante o mês dedicado à colheita e tinha grande importância religiosa e social para o Império Inca.

Durante o Capacocha, comunidades de todo o território Inca escolhiam uma ou mais crianças, reconhecidas por sua beleza e perfeição física, para participar desses rituais sagrados, que envolviam alianças simbólicas com os deuses e os ancestrais.

As crianças eram reunidas na praça principal de Cusco, diante das imagens de Viracocha, o deus da criação, e dos deuses do sol, do trovão e da lua.

No ritual, os sacerdotes realizavam o sacrifício de alguns animais e celebravam matrimônios simbólicos entre as crianças. Após a cerimônia, a comitiva, composta pelas crianças, sacerdotes e seus acompanhantes, iniciava uma longa jornada de volta ao seu povoado de origem. Em vez de seguir o caminho real, eles se dirigiam em linha reta, enfrentando os desafios naturais e geográficos ao longo do percurso.

A peregrinação podia durar semanas ou até meses, dependendo da distância e dos obstáculos enfrentados ao longo do caminho. A chegada da comitiva era sempre marcada por grandes celebrações, com a população local recebendo os participantes com entusiasmo e reverência.

Após a celebração, a comitiva seguia até o local onde seria realizada a oferenda, entoando cânticos em honra ao Inca. Esse momento era carregado de significados espirituais, com as canções servindo como uma forma de louvor ao imperador e aos deuses andinos.

Uma vez no local, as crianças eram vestidas com as melhores roupas e ingeriam chicha, uma bebida alcoólica tradicional feita a partir da fermentação de milho e outros cereais. A cerimônia de oferenda variava de acordo com a região, mas em Llullaillaco, as crianças, após entrarem em um estado de sono induzido, foram colocadas em uma câmara funerária, rodeadas por um enxoval elaborado, e cobertas com cascalho.

Esse ritual simbolizava a transição das crianças para um plano espiritual, onde eram oferecidas aos deuses, garantindo a prosperidade e equilíbrio das comunidades.

As oferendas humanas eram realizadas apenas nos santuários mais sagrados de Tawantinsuyu, localizados nas alturas das grandes montanhas. Esses locais, considerados próximos aos deuses, eram escolhidos para garantir que as oferendas tivessem um impacto divino significativo, fortalecendo a conexão espiritual entre os Incas e seus deuses, e assegurando a prosperidade e o bem-estar das comunidades.

Juntamente com as crianças, eram depositados diversos objetos em miniatura, feitos de ouro, prata e concha marinha. Esses itens representavam figuras de animais, seres humanos e até pequenos jogos de louças, simbolizando a riqueza e o valor espiritual da oferenda. Esses artefatos eram cuidadosamente confeccionados para refletir a complexidade e a importância dos rituais incas, que buscavam garantir a harmonia entre os mundos terrestre e divino.

O acervo do Museo de Arqueología de Alta Montaña, junto à história fascinante por trás das múmias, impressiona não apenas pela magnificência de sua coleção, mas também por nos proporcionar uma imersão no universo andino. Ele nos faz refletir profundamente sobre os costumes e rituais incas, revelando aspectos da espiritualidade, da organização social e da conexão dos povos andinos com o mundo divino. Cada peça exposta oferece uma visão única e rica da cultura Inca, aproximando o visitante de um dos períodos mais enigmáticos e fascinantes da história da humanidade.

Após nos encantar com o acervo do Museo de Arqueología de Alta Montaña, seguimos para conhecer a imponente Catedral Basílica de Salta, o Santuario del Señor y de la Virgen del Milagro. Este é um dos principais pontos religiosos da cidade e um símbolo importante da fé e da história local.

Localizada na Plaza 9 de Julio, a catedral é dedicada à devoção do Senhor e da Virgem do Milagre, cujas imagens são veneradas com grande fervor pelos habitantes de Salta.

Em 1856, o bispo eclesiástico Don José Eusebio Colombre iniciou a arrecadação de fundos para a construção de uma nova catedral em Salta, pois a anterior havia sido destruída por um terremoto.

O governo também desempenhou um papel fundamental no financiamento da construção do novo templo religioso. O governador Martín Güemes (filho do herói nacional) promulgou uma lei em 1858, que estabelecia um imposto sobre o sal extraído das salinas de Salta. O valor arrecadado com esse imposto foi destinado a cobrir as despesas da construção da nova Catedral de Salta, garantindo que o projeto fosse concluído e o monumento religioso se tornasse um símbolo da cidade e da região.

As obras da nova Catedral de Salta começaram ainda em 1858, seguindo os planos do engenheiro e arquiteto Felipe Bertrés, e foram concluídas em 1883.

Sua impressionante arquitetura barroca, com uma fachada de estilo italianizado, foi projetada pelos arquitetos Francisco Righetti e Fray Luis Gorgi.

Na entrada da Catedral Basílica de Salta, destacam-se dois mosaicos notáveis: o Mosaico de la Virgen del Milagro e o Mosaico del Señor del Milagro.

O Santuario del Señor y de la Virgen del Milagro atrai uma multidão de fiéis todos os anos, especialmente no dia 15 de setembro (curiosamente, a data de nossa chegada a Salta). Nesta data, devotos se reúnem para homenagear o Señor e a Virgen del Milagro, a quem atribuem a interrupção de uma série de devastadores terremotos que atingiram a cidade em 1692.

O interior da igreja do Santuario del Señor y de la Virgen del Milagro impressiona pela rica ornamentação e pela sutileza presente em cada detalhe, criando um ambiente de devoção e admiração.

A Catedral Basílica de Salta foi declarada Monumento Histórico Nacional em 1941, em reconhecimento à sua importância cultural e histórica.

O interior da Catedral Basílica de Salta também abriga o Panteón de las Glorias del Norte, um espaço de grande significado histórico, onde estão sepultados os restos mortais dos generais Martín Miguel de Güemes, Álvarez de Arenales e Rudecindo Alvarado, figuras-chave na luta pela independência da Argentina.

Na área externa lateral da igreja, destaca-se um belíssimo pátio florido, que encanta os visitantes com sua tranquilidade e beleza natural.

Contornamos a igreja e seguimos em direção ao Museo Catedralicio Monseñor Carlos Mariano Pérez, que fica localizado nos fundos da Catedral Basílica de Salta.

No entanto, infelizmente, ao chegarmos, encontramos o museu fechado, o que nos impediu de explorar o acervo dedicado à história religiosa da cidade e da igreja. Mesmo assim, a visita à área ao redor da catedral, com sua arquitetura e atmosfera histórica, foi uma experiência rica e interessante.

Retornamos para a frente da catedral, passando ao lado do Arzobispado de Salta, um edifício imponente que complementa o conjunto arquitetônico da área.

Em frente ao Arzobispado de Salta, encontra-se um monumento em homenagem ao Papa João Paulo II, que durante uma visita à Salta em 1987 venerou as imagens do Senhor e da Virgem do Milagre.

Com o fim do dia se aproximando, caminhamos rapidamente até o Museo Casa de Uriburu, uma das construções históricas de Salta que guarda uma rica parte do passado da cidade.

A antiga casa de adobe, construída em meados do século XVIII e cercada por um grande pátio interno, um estilo arquitetônico típico da época, passou a abrigar o Museo Presidente José Evaristo Uriburu na década de 1940.

O museu exibe uma série de coleções que ilustram a vida cotidiana durante o período colonial de Salta, oferecendo uma visão aprofundada da história local. Além disso, conta com uma importante biblioteca especializada em história, arte e museologia regional, tornando-se um recurso valioso para aqueles interessados em explorar o patrimônio cultural da região.

José Evaristo Uriburu, neto do general Álvarez de Arenales, e quem empresta seu nome ao espaço cultural, teve uma trajetória destacada como advogado e político, com influência não apenas em Salta, mas também em Buenos Aires. Sua atuação nas esferas política e jurídica contribuiu para a história argentina, sendo uma figura importante no desenvolvimento social e político da época.

Com a imagem da bandeira celeste e branca da República Argentina tremulando na sacada do Museo Presidente José Evaristo Uriburu, nos despedimos de um dia repleto de aprendizado e descobertas.

Foi uma jornada intensa, que proporcionou uma verdadeira imersão cultural, permitindo-nos explorar a rica história e tradições de Salta.