O Histórico Cuartel de Dragones e a Imponente Torre del Vigía em San Fernando de Maldonado, Uruguai

Na chuvosa quinta-feira, exploramos o centro histórico de San Fernando de Maldonado, uma das capitais departamentais mais importantes do Uruguai, conhecida por suas relíquias arquitetônicas impressionantes, como o Cuartel de Dragones e a Torre del Vigía. Ao final do dia, seguimos pela Ruta 10 em direção a Piriápolis.

Na madrugada de quinta-feira, uma fina garoa começou a cair, e San Fernando de Maldonado, capital departamental, amanheceu sob uma leve chuva. Aproveitamos a manhã tranquilamente, tomando café, organizando nossos equipamentos e carregando a moto. Assim que a chuva deu uma trégua, partimos para explorar o centro histórico dessa importante cidade uruguaia.

Chegamos rapidamente ao coração de Maldonado, a encantadora Plaza de San Fernando de Maldonado. Estacionamos a Formosa nas proximidades e começamos a caminhar pela moderna praça, que foi reformulada em 1975. No centro do espaço público, destacam-se um amplo chafariz e uma imponente estátua de José Gervasio Artigas, herói nacional do Uruguai. Além disso, a praça oferece banheiros públicos (gratuitos) bem cuidados para os visitantes.

Em frente à Praça de São Fernando de Maldonado, a Catedral de San Fernando de Maldonado, com sua arquitetura neoclássica, rapidamente capturou nossa atenção. A construção acrescenta um toque de beleza e charme ao centro histórico da capital do departamento de Maldonado.

Atravessamos a Rua 18 de Julio e entramos no templo religioso cuja construção começou em 1801. No entanto, devido às invasões inglesas de 1806, a obra foi interrompida, levando quase um século para ser concluída. A catedral foi finalmente inaugurada em 1895 pelo arcebispo de Montevidéu, Mariano Soler.

A Catedral de San Fernando de Maldonado, declarada Monumento Histórico Nacional, é formada por uma nave principal, duas torres sineiras e uma cúpula central. Ao longo das laterais e no fundo da nave, dois edifícios menores completam o conjunto arquitetônico em forma de cruz.

Seu magnífico Altar-Mor, obra de Antonio Veiga, recebeu dois prêmios na exposição continental realizada em Buenos Aires, em 1882. No altar, destaca-se a imagem da Virgem de Carmen, que originalmente pertencia ao navio a vapor “Ciudad del Santander”, naufragado próximo à Ilha de Lobos em 1829. A imagem foi doada pelo Marquês de Comillas, proprietário do navio, e hoje é venerada na catedral. Na base do altar, o pintor uruguaio Carlos de Santiago reproduziu a “Cidade de Santander”, acrescentando ainda mais valor artístico ao local.

Depois de explorar o interior da igreja, continuamos a descobrir o centro histórico de Maldonado. Passamos pela Jefatura de Policia e logo chegamos ao Museo Colección de Pintura y Escultura Nacional – Donación Nicolás García Uriburu, mais conhecido como Museo Colección Nicolás García Uriburu.

O arquiteto e artista argentino Nicolás García Uriburu fez a doação inicial da coleção exibida no Museu Colección de Pintura y Escultura Nacional de Maldonado, homenageando os grandes escultores e pintores uruguaios. Com o passar dos anos, o acervo do museu cresceu graças a contribuições significativas de pessoas que seguiram seu exemplo.

Na exposição permanente, é possível apreciar obras de renomados artistas uruguaios, como José Luis Zorrilla de San Martín, José Belloni, Severino Pose e Edmundo Prati. O museu também exibe esboços originais de importantes esculturas e monumentos que hoje embelezam praças e parques de Montevideo.

Além disso, o acervo conta com pinturas de Pedro Blanes Viale, Carlos María de Santiago, Rafael Barradas e José Cuneo, entre outros. Tanto o edifício, localizado dentro do histórico Cuartel de Dragones, quanto o acervo foram declarados Monumento Histórico Nacional, uma proteção legal que garante a preservação do patrimônio e o acesso público pleno.

Em seguida, fomos explorar o vizinho Museo Didáctico Artiguista, mais conhecido como El Cuartel de Dragones, que é considerado o conjunto arquitetônico colonial mais significativo do departamento de Maldonado. A construção do edifício fez parte de um plano geral de fortificação da região, refletindo a importância estratégica de Maldonado na época colonial.

A construção do Cuartel de Dragones o Blandengues foi projetada pelo engenheiro espanhol Bartolomé Howel em 1771. No entanto, sua conclusão só ocorreu 26 anos depois, em 1797, quando Rafael Pérez del Puerto finalizou a obra. Em 10 de março de 1797, José Gervasio Artigas ingressou como soldado neste quartel, onde subiu na hierarquia militar até retornar ao Cuerpo de Blandengues como oficial veterano.

O Cuartel de Dragones, que atualmente ocupa um quarteirão inteiro no centro de Maldonado, abrange uma área de 2.500 metros quadrados e foi construído principalmente com pedras, barro e telhas. Em seu interior, há uma capela que foi inaugurada em fevereiro de 1801.

Em 1969, o Cuartel de Dragones passou a abrigar o Museu Didático Artiguista, e sua restauração definitiva começou em 1973. A construção está muito bem preservada, refletindo a arquitetura original da época. O local oferece uma viagem no tempo, permitindo imaginar os anos de luta em que o forte servia como fortificação.

O Museo Didáctico Artiguista Cuartel de Dragones também costuma receber exposições de arte itinerantes em suas salas. No entanto, durante nossa visita, essas salas, infelizmente, estavam fechadas.

Durante a terceira década do século XVIII (1723, 1724 e 1725), o rei da Espanha, Felipe V, ordenou repetidamente a fundação de um povoado e a fortificação do Puerto de Maldonado, atualmente conhecido como Punta del Este. No entanto, recebeu um expressivo “não” de Bruno Mauricio de Zabala em 1730, devido às dificuldades enfrentadas para estabelecer uma população na baía.

Em 1750, foi assinado o Tratado de Madrid entre as coroas espanhola e portuguesa, no qual Portugal assumiu as Missões Jesuíticas Orientais ao Rio Uruguai e, em troca, devolveu Colonia del Sacramento à Espanha. Esse tratado estabeleceu a fronteira hispano-lusitana entre a Banda Oriental e o Rio Grande.

Diante disso, para a coroa espanhola, era essencial garantir sua presença no Rio da Prata, ocupando efetivamente o Puerto de Maldonado (Punta del Este) e Montevidéu. Assim, o governador militar de Montevidéu, José Joaquín de Viana, sugeriu ao rei a fundação de duas cidades, uma em Maldonado e outra em Minas. Sem receber resposta do soberano, Viana marchou com algumas famílias em agosto de 1755 em direção à zona de Maldonado, onde fundou o povoado perto de Portezuelo. Ele deixou os habitantes com as ferramentas e animais necessários para o sustento, mas abandonou a vila temporariamente.

Vinte meses depois, Viana retornou com sete famílias indígenas das Missões, incorporando-as ao jovem assentamento para aumentar sua população. Além disso, a população foi transferida para a localização atual de Maldonado. Mais tarde, o vice-rei Cevallos estabeleceu sua sede na jovem vila durante uma campanha contra os portugueses, entre 1777 e 1778.

Em maio de 1783, com o crescimento populacional e aumento das fazendas, os moradores concederam poderes a Dom Luis Estremera, um morador local, para administrar a criação de um cabildo, iniciando o processo legal para a fundação da cidade. Após várias tentativas, em 14 de março de 1787, foi realizada uma eleição, aprovada no dia 22 do mesmo mês, estabelecendo o Cabildo de Maldonado e transformando a Villa de Maldonado na cidade de San Fernando de Maldonado.

O nome San Fernando de Maldonado homenageia o rei Fernando VI da Espanha, que também foi o patrono da Casa Real Espanhola.

Atualmente, San Fernando de Maldonado, popularmente chamada de Maldonado, é lar de aproximadamente 90.000 habitantes e guarda relíquias arquitetônicas importantes, como o Cuartel de Dragones e a Torre del Vigía.

Enquanto os primeiros pingos da chuva voltavam a cair, continuamos nossa caminhada pelas ruas centrais de Maldonado até chegarmos na Plaza del Vigía, onde destaca-se a icônica Torre de Vigia, uma estrutura com estilo neoclássico de 17 metros de altura erguida entre 1797 e 1800.

Do ponto mais alto da Torre del Vigía de Maldonado, os militares puderam observar a chegada da frota inglesa em 1806, durante a primeira invasão. Este marco histórico é apenas um dos muitos eventos testemunhados da torre, incluindo a impressionante passagem do dirigível LZ 127 Graf Zeppelin na fria noite de junho de 1934.

Ao longo dos anos, no topo de La Torre del Vigía, foram hasteadas diversas bandeiras, incluindo as da Espanha, Portugal, Brasil, Argentina, e, desde 1829, a da República Oriental do Uruguai.

Com a chuva se intensificando, deixamos a Torre del Vigía apressadamente e fizemos uma breve visita ao Paseo San Fernando – Escuelas de Arte.

Em seguida, fomos almoçar deliciosas milanesas no restaurante Simple Sabores Caseros. Para a sobremesa, optamos por um prato típico uruguaio: a doce, irresistível e clássica Torta Rogel.

Mais tranquilos e bem alimentados, retornamos à Plaza de San Fernando de Maldonado, onde nos deparamos com uma cena curiosa. Ao avistarmos a Formosa, percebemos que dois guarda-chuvas protegiam seus assentos, cobertos pelos pelegos de carneiro que nos garantem conforto, assim como a grande mochila que fica em seu bagageiro traseiro.

Ao nos aproximarmos da moto, logo conhecemos o responsável por esse gesto gentil: o simpático Orlando. Passamos um bom tempo conversando com ele sobre os mais variados assuntos. Orlando, natural da Argentina e descendente de indígenas nativos, é um homem de vasta sabedoria e conhecimento.

Atualmente, Orlando trabalha como responsável pelo estacionamento nos arredores da praça principal de Maldonado, sendo devidamente registrado pela prefeitura local.

Antes de nos despedirmos, fizemos questão de tirar uma foto ao seu lado e oferecemos uma gorjeta pelo gesto carinhoso, que ele recusou com firmeza. Ainda assim, fomos presenteados com uma caixinha de cheirosos incensos, vendidos por ele. ¡Muchas gracias, Orlando!

Vestindo nossos trajes de chuva, deixamos a área central de San Fernando de Maldonado e, sem previsão de melhora no clima, decidimos pegar a estrada. Entramos na duplicada Ruta 10 e seguimos por ela até o final do dia, quando avistamos uma placa indicando Piriápolis à esquerda.

Ao chegarmos na área central da cidade litorânea de Piriápolis, fizemos uma parada em um mercado para comprar comida e decidir onde passaríamos a noite. Para nossa surpresa, ao sairmos do mercado, presenciamos uma cena inusitada: um cachorro sentado ao volante de um carro, como se estivesse estacionando na área coberta do estacionamento! Parece que exageramos na quantidade de mate uruguaio que tomamos ao longo do dia.

Pois bem, a noite já caía quando encontramos um hostel com um preço acessível na área central de Piriápolis. Para o jantar, mais um prato típico uruguaio: um delicioso Olimpico Pionono, que completou perfeitamente nosso dia.

Na sequência, fomos descansar ao som tranquilizante da chuva. Amanhã, se o tempo colaborar, planejamos explorar um pouco mais desta curiosa cidade uruguaia.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia entre San Fernando de Maldonado e Piriápolis – Maldonado – Uruguai.