Posta de Hornillos, La Paleta del Pintor e a Peregrinação à Virgen de Sixilera na Quebrada de Humahuaca, Argentina

Partimos de San Salvador de Jujuy pela Ruta Nacional 9 rumo à deslumbrante Quebrada de Humahuaca, na Argentina, explorando Tumbaya, o Museo Posta de Hornillos e a colorida montanha La Paleta del Pintor, em Maimará, antes de chegar a San Francisco de Tilcara, com seus museus, igreja histórica e a tradicional Peregrinação à Virgen de Sixilera.

Após o café da manhã no hotel em San Salvador de Jujuy, organizamos nossos equipamentos na Formosa, colocamos as roupas de viagem e seguimos rumo ao norte da Argentina. Pegamos novamente a Ruta Nacional 9, que, no trecho entre a capital provincial de Jujuy e a cidade de Yala, é duplicada. A partir daí, a estrada retorna ao formato de pista simples, revelando um trajeto ainda mais autêntico e encantador.

Alguns quilômetros adiante, fizemos uma parada para explorar o Mirador del Río Grande y el Puente de Jaire, que oferece vistas impressionantes e proporcionam um contato direto com a beleza natural da região.

Foi ali que notamos as nuvens cinzentas, que haviam nos acompanhado desde San Salvador de Jujuy, ficando para trás. À nossa frente, um céu azul vibrante começava a surgir, trazendo aquela alegria inconfundível que só um motociclista em estrada aberta pode sentir.

Localizado às margens da Ruta Nacional 9, o Mirador del Río Grande y Puente de Jaire oferece uma vista deslumbrante do Río Grande, um dos principais cursos de água do norte argentino.

Este rio tem sua nascente na emblemática Quebrada de Humahuaca, próximo ao limite com a Puna Argentina e a província vizinha de Salta, tornando-se um marco natural da região.

Nesta época do ano, setembro, o Río Grande se apresenta como um pequeno filete de água serpenteando entre as inúmeras pedras do leito. No entanto, em outras estações, ele faz jus ao nome e se transforma em um rio caudaloso e imponente, desempenhando um papel essencial na paisagem e na vida da região.

Depois de admirar a paisagem encantadora, retomamos a estrada. Passamos por León e seguimos margeando uma imponente montanha, cuja beleza parecia nos acompanhar a cada curva, tornando o trajeto ainda mais memorável.

Conforme avançávamos, o Río Grande ficou para trás, desaparecendo de vista.

A estrada então começou a subir, serpenteando pela montanha em um trajeto sinuoso e fascinante, que revelava novos ângulos da paisagem a cada instante.

Esse curto, porém marcante, trecho sinuoso da Ruta Nacional 9 nos levou a ultrapassar os 2.000 metros de altitude.

Para efeito de comparação, San Salvador de Jujuy, de onde partimos, está situada a 1.250 metros acima do nível do mar, evidenciando o quanto ganhamos em altura em pouco tempo.

Seguimos viagem e logo passamos por Volcán, porta de entrada para a deslumbrante Quebrada de Humahuaca. Este vale andino, com cerca de 150 km de extensão, é famoso por sua paisagem única e por sua rica história cultural, que encanta viajantes do mundo inteiro.

Com esse cenário deslumbrante ao nosso redor, chegamos a Tumbaya, uma pequena localidade que se destaca pela beleza natural e pelo charme de suas construções típicas, imersas na grandiosidade da Quebrada de Humahuaca.

A charmosa cidade de Tumbaya, com menos de 500 habitantes, está situada a aproximadamente 2.100 metros acima do nível do mar. Além de sua beleza pitoresca, a cidade é conhecida por abrigar uma renomada escola de gastronomia especializada na culinária andina, atraindo aqueles que desejam explorar os sabores típicos da região.

Tumbaya é um ótimo exemplo dos vilarejos locais, com suas tradicionais construções de adobe, que preservam o estilo colonial e se harmonizam perfeitamente com a paisagem andina ao redor.

Ao chegar no centro da cidade, estacionamos a Formosa ao lado da Plaza General Manuel Belgrano, um ponto central e aconchegante que convida a uma pausa para apreciar o ambiente tranquilo e acolhedor de Tumbaya, província de Jujuy, Argentina.

Na praça principal de Tumbaya, destaca-se uma estátua em homenagem a San Francisco Solano.

Também há um monumento na praça que simboliza um padre abençoando um nativo, representando o encontro das culturas indígenas e coloniais, um tema significativo na história da região andina.

Em frente à praça, encontra-se a Iglesia de Nuestra Señora de los Dolores y Nuestra Señora de la Candelaria, uma imponente igreja que foi declarada Monumento Histórico Nacional, destacando-se não apenas por sua arquitetura, mas também por seu valor cultural e religioso para a região.

A atual Iglesia de Nuestra Señora de los Dolores y Nuestra Señora de la Candelaria de Tumbaya é a terceira igreja construída no mesmo local. A primeira foi erguida em 1672, e dela restam a imagem de sua patrona, la Virgen de la Soledad, e um valioso crucifixo do retábulo do calvário. Sua construção começou por volta de 1840, sendo finalmente inaugurada em 1864, consolidando-se como um importante marco religioso e histórico da região.

Declarada Monumento Histórico Nacional, a charmosa Iglesia de Nuestra Señora de los Dolores y Nuestra Señora de la Candelaria abriga em seu interior valiosas pinturas da Escola Cusquenha, um importante legado artístico que reflete a influência colonial e a riqueza cultural da região.

Infelizmente, no momento de nossa visita, a Iglesia de Nuestra Señora de los Dolores y Nuestra Señora de la Candelaria estava fechada, o que nos impediu de explorar mais de perto suas incríveis obras de arte e arquitetura.

Após registrar o exterior da pequena igreja, deixamos Tumbaya e retornamos à Ruta Nacional 9, rodeados pela vibrante e impressionante paleta de cores das montanhas que formam o cenário deslumbrante da Quebrada de Humahuaca.

Em seguida, passamos por um controle policial, algo bastante comum na Argentina. Alguns policiais estavam na pista e, ao nos avistarem, apenas sinalizaram para que seguimos adiante, sem maiores intervenções.

Logo depois, chegamos ao entroncamento com a Ruta Nacional 52, mas optamos por continuar nosso trajeto pela Ruta Nacional 9, que seguia nos conduzindo através da deslumbrante paisagem andina.

A Quebrada de Humahuaca é, de fato, um verdadeiro ícone argentino, com um extenso percurso histórico que teve um impacto profundo no desenvolvimento e na configuração cultural da região.

Esse processo deu origem a um rico sincretismo, que se reflete tanto nos testemunhos de patrimônio material quanto nos valores intangíveis da área. Em 2003, a Quebrada de Humahuaca foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, destacando sua importância histórica e cultural única.

A combinação da paisagem deslumbrante da Quebrada de Humahuaca, com sua temperatura amena, céu azul e uma estrada asfaltada em ótimo estado de conservação, cria uma experiência única. A sensação de liberdade, que só uma viagem de moto pode proporcionar, torna esse trajeto ainda mais inesquecível.

Não é à toa que, ao percorrer essa região da Argentina, é comum encontrar outros motociclistas, ciclistas e viajantes de diversas partes do mundo, todos atraídos pela beleza e pela energia especial desse lugar.

Alguns quilômetros à frente, fizemos uma parada para conhecer outro atrativo imperdível às margens da Ruta Nacional 9: o Museo Posta de Hornillos, que já se encontra no território de Maimará. Este museu, repleto de história, oferece uma imersão cultural única da região.

A história da Posta de Hornillos, também conhecida como Finca de Hornillos, remonta a 1772 e servia como local de refúgio e abastecimento para viajantes e autoridades, além de ser o ponto de revezamento dos cavalos por sua localização estratégica no trajeto que ligava o Vice-Reino do Río de la Plata ao de Lima.

A partir de 1810, passou a funcionar como um destacamento militar e, durante as Guerras da Independência da Argentina, desempenhou um papel crucial, tornando-se um forte avançado e quartel do Comandante Manuel Álvarez Prado.

Em 1813, o general Manuel Belgrano descansou na Posta de Hornillos ao retornar da Campanha ao Alto Peru. Além dele, figuras históricas como Juan José Castelli, González Balcarce, José Rondeau e o General Martin Miguel de Güemes também passaram por ali, tornando o local um ponto de grande importância estratégica e histórica durante as Guerras da Independência Argentina.

Desde 1979, a Posta de Hornillos passou a abrigar o Museo Posta de Hornillos – Complejo Cultural Finca de Hornillos, preservando e compartilhando a rica história do local, além de se tornar um importante centro cultural que celebra o legado histórico da região.

A imponente casona colonial, construída por Gregorio Álvarez Prado em 1772, é um exemplo fascinante da arquitetura da época. Com paredes de adobe, a edificação conta com 19 habitações dispostas em torno de três pátios, além de diversas dependências menores que completam o conjunto. Esse layout reflete a funcionalidade e o estilo característico das construções coloniais da região.

O acervo do Museo Posta de Hornillos é rico e diversificado, composto por elementos arqueológicos dos povos originários da região, que datam de 10.000 a.C. até o período Inca. O museu também abriga armas espanholas e crioulas dos séculos XVI a XIX, meios de transporte utilizados no período colonial e móveis do final do século XIX, oferecendo uma imersão na história local e regional.

O local também foi habitado por antigas civilizações, como evidenciado pelo sítio arqueológico Pucará de Hornillos, localizado a poucos metros da casa. Esse importante vestígio histórico oferece uma conexão direta com as culturas pré-colombianas que habitaram a região, tornando a visita ainda mais enriquecedora.

Na propriedade, também está localizada uma estação experimental agrícola, a Unidade de Gestão Quebrada de Humahuaca, além de uma capela do século XX.

Em um dos pátios internos do Museo Posta de Hornillos – Complejo Cultural Finca de Hornillos, tivemos a oportunidade de observar um belíssimo cacto da espécie Echinopsis Atacamensis Pasacana, muito comum na região, bem de perto. Segundo nos informaram, essa planta cresce apenas cerca de 1 cm por ano, o que a torna um símbolo da resistência e da paciência da natureza local.

Além do centenário cacto, o local também abriga uma bela árvore com mais de 350 anos, um verdadeiro testemunho da longevidade e da força da natureza na região, oferecendo aos visitantes uma experiência única de conexão com o tempo e a história.

Nos arredores da casa, encontra-se a pequena Capilla de la Posta de Hornillos. Esta capela segue as técnicas e o estilo construtivo das igrejas tradicionais da Quebrada de Humahuaca, mantendo a autenticidade da arquitetura local e preservando a identidade cultural da região.

Próximo à Iglesia de la Posta de Hornillos, há um manancial natural, onde a água brota da terra de maneira pura e cristalina, criando um cenário de beleza intocada e uma fonte de vida para a região.

Provavelmente, esse manancial foi o principal motivo para que os povos antigos instalassem ali seu Pucará, e mais tarde, para a construção da Posta de Hornillos. A fonte de água natural certamente desempenhou um papel crucial na escolha estratégica do local, tornando-o um ponto de refúgio e abastecimento ao longo dos séculos.

Após o passeio pela Posta de Hornillos e uma verdadeira imersão cultural no local, retomamos a estrada, continuando nossa jornada pelas encantadoras e históricas estradas argentinas.

Em poucos minutos, chegamos à cidade de Maimará, uma charmosa localidade que nos recebeu com sua tranquilidade e paisagens impressionantes, típicas da região da Quebrada de Humahuaca.

Ali, fizemos uma parada às margens da Ruta Nacional 9 para conhecer o Mirador el Monolito, um ponto de vista que oferece uma panorâmica deslumbrante da cidade e das montanhas ao redor, incluindo o famoso Cerro La Paleta del Pintor, que impressiona pela variedade de tonalidades em suas encostas.

Do alto do mirante, é possível observar a pacata Maimará, que, na língua aymara, significa “Estrela Cadente”. Este povoado agrícola, situado a 2.390 metros acima do nível do mar, abriga atualmente cerca de 5.000 habitantes e se destaca pela tranquilidade e beleza natural que o cercam.

Um dos principal atrativos turísticos naturais de Maimará é a montanha conhecida como La Paleta del Pintor. Com suas formas e cores fascinantes, essa grande elevação parece uma verdadeira obra de arte, com suas tonalidades que variam do vermelho ao verde, criando uma paisagem impressionante e única.

Tons de marrom, vermelho, amarelo, ocre e salmão colorem o acidente geográfico de milhões de anos, criando uma verdadeira paleta de cores que mais parece uma obra de arte natural.

Essa impressionante diversidade de tonalidades é o que justifica o nome La Paleta del Pintor, remetendo à ideia de uma palheta de tintas de um pintor que capturou a essência da terra.

A Paleta del Pintor de Maimará, em Jujuy, está inserida no Cerro General San Martín, que se ergue às margens do Río Grande, que passa ao lado da cidade.

Existe, ainda, uma trilha ecológica que atravessa esse fabuloso morro, percorrida anualmente por centenas de fiéis, peregrinos e bandas de sikuris, que marcham até o Santuário de la Virgen de Punta Corral, um evento que mistura religiosidade, tradição e uma conexão profunda com a paisagem local.

Após nos maravilharmos e fotografarmos o Cerro La Paleta del Pintor, o principal cartão postal de Maimará, seguimos para o centro da cidade, onde pudemos explorar um pouco mais da tranquilidade e da beleza local, com suas ruas calmas e o charme típico de um povoado andino.

Uma vez no centro de Maimará, fomos conhecer a Iglesia Nuestra Señora de la Candelaria, uma charmosa igreja construída em 1924.

A arquitetura simples, mas imponente, da Iglesia de Maimará reflete a tradição religiosa da região e proporciona uma vista encantadora do cenário montanhoso ao redor.

O interior da igreja abriga um altar talhado em madeira manualmente por nativos, uma peça única trazida da cidade de Potosí, na Bolívia, que acrescenta um toque especial e histórico ao ambiente sagrado.

A igreja, que infelizmente estava fechada no momento da nossa visita, está localizada em frente à praça central de Maimará, oferecendo uma bela vista e um ambiente tranquilo, ideal para quem deseja apreciar a arquitetura local e a paisagem ao redor.

A Plaza Central de Maimará, por sua vez, é rodeada por construções de adobe, com a imponente La Paleta del Pintor servindo como plano de fundo. Esse cenário cria uma harmonia perfeita entre a arquitetura tradicional e a beleza natural, tornando o local ainda mais encantador.

Como já estava próximo do meio-dia, aproveitamos para almoçar e, claro, experimentar mais uma iguaria típica da região: os sorrentinos de pollo.

Esse prato, composto por uma saborosa massa recheada com frango e servido com molho de tomate caseiro acompanhado por queijo ralado, é uma deliciosa amostra da culinária local, que mistura influências italianas e ingredientes da região andina.

Após o almoço, voltamos a rodar pela área central de Maimará, Jujuy.

Nos despedimos de Maimará com uma foto do Cementerio Nuestra Señora del Carmen, um cemitério de grande valor histórico e cultural, que oferece uma vista serena e, ao mesmo tempo, impressionante da cidade e das montanhas ao redor.

Seguimos viagem pela Ruta Nacional 9, uma importante rodovia argentina que se estende por 1.967 quilômetros, conectando a capital, Buenos Aires, à La Quiaca, na divisa com a Bolívia.

Ao longo de seu percurso, a RN 9 atravessa nove províncias argentinas, oferecendo uma verdadeira travessia pela diversidade geográfica e cultural do país.

No início da tarde, chegamos ao nosso destino do dia: San Francisco de Tilcara, ou simplesmente, Tilcara.

Esta charmosa cidade, localizada no coração da Quebrada de Humahuaca, na província argentina de Jujuy, é um dos principais destinos turísticos da região, famosa por sua rica história, cultura e paisagens deslumbrantes.

Após abastecer a Formosa em um posto YPF localizado às margens da Ruta Nacional 9, próximo ao principal acesso da cidade, cruzamos a ponte sobre o Río Grande e adentramos no centro de Tilcara, prontos para explorar esta encantadora cidade andina.

Fomos direto ao hotel, onde estacionamos a Formosa, trocamos de roupa e, então, iniciamos uma caminhada pela famosa cidade de Tilcara, imersa na cultura e história da Quebrada de Humahuaca.

San Francisco de Tilcara está localizada a 2.465 metros acima do nível do mar. Suas ruas tranquilas e paisagens deslumbrantes nos convidavam a explorar cada detalhe. Ao contrário das demais cidades da Quebrada de Humahuaca, o centro de Tilcara se encontra na margem direita do Río Grande, o que confere à cidade uma organização única e uma vista encantadora do rio e das montanhas ao redor.

Com pouco mais de 5.500 habitantes, Tilcara se destaca como um dos principais centros turísticos da região, oferecendo uma excelente infraestrutura. A cidade conta com uma variedade de opções de hospedagem, como hotéis, pousadas e hostels, além de restaurantes, lanchonetes e peñas folclóricas, que são bares, restaurantes e casas com apresentações musicais regionais. Tilcara também é conhecida por suas festas, celebrações e espetáculos culturais, e carrega com orgulho o slogan: “Tilcara: Alegre, Mágica y Espiritual”.

Assim que iniciamos nossa caminhada pela área central de San Francisco de Tilcara, chegamos ao Museo Regional de Pintura José Antonio Terry – Museo Nacional Terry, um importante espaço cultural da cidade.

O Museo Regional de Pintura José Antonio Terry – Museo Nacional Terry, criado em 1948 e aberto em 1966, funciona na antiga casa do renomado pintor argentino. O museu exibe uma seleção de suas obras, que recuperam a cultura de Tilcara e da região da Quebrada de Humahuaca no início do século passado, oferecendo aos visitantes uma imersão na história e nas tradições locais.

José Antonio Terry nasceu em Buenos Aires em 1878 e iniciou sua formação artística aos 14 anos de idade. Chegou a San Francisco de Tilcara em 1911, integrando um contingente liderado pelos arqueólogos Salvador Debenedetti e Juan Bautista Ambrosetti. Sua chegada à cidade marcou o início de uma profunda conexão com a região, que influenciaria sua arte ao longo de sua carreira.

Maravilhado com as paisagens da região, o pintor decidiu se estabelecer em Tilcara para retratar a vida local, com um foco especial em seus habitantes e costumes. Em suas obras, ele destacou a cultura popular da cidade, a beleza de suas paisagens e os habitantes com fisionomias marcantes.

Em 1922, José Antonio Terry comprou a casa onde atualmente funciona o Museo Regional de Pintura José Antonio Terry – Museo Nacional Terry, uma construção do século XIX que se tornou o palco de sua história e legado artístico.

Além das obras de Terry, o museu abriga uma sala dedicada a exposições temporárias, onde pinturas, esculturas, fotografias e outras formas de expressão cultural regional são exibidas. Durante nossa visita, também tivemos a oportunidade de observar algumas das inúmeras variedades de milho cultivadas na região, um elemento essencial da cultura andina e da gastronomia local.

Após explorarmos o Museo Regional de Pintura José Antonio Terry – Museo Nacional Terry, seguimos para conhecer outro importante ponto cultural de Tilcara: o Museo Arqueológico Eduardo Casanova. Este museu é dedicado à preservação e à exibição de achados arqueológicos que revelam a rica história dos povos que habitaram a região da Quebrada de Humahuaca.

Fundado em 1968, o Museo Arqueológico y Antropológico Dr. Eduardo Casanova oferece uma visão abrangente do passado da região andina argentina. Por meio de uma rica coleção de artefatos, o museu retrata a cultura material das sociedades que habitaram este território em tempos pré-hispânicos, revelando aspectos da vida cotidiana, religião e organização social dessas antigas civilizações.

Além de explorar o passado pré-hispânico, o Museo Arqueológico y Antropológico Dr. Eduardo Casanova também aborda, sob uma perspectiva antropológica, questões sociais que marcaram o noroeste argentino em meados do século XX. Essa abordagem integradora conecta a história ancestral às dinâmicas sociais contemporâneas, enriquecendo ainda mais a experiência dos visitantes.

O acervo do Museo Arqueológico y Antropológico Dr. Eduardo Casanova é fruto de um século de trabalhos de escavação e resgate realizados, sobretudo, por professores e pesquisadores da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (UBA). Esses esforços concentraram-se em diversas regiões do noroeste argentino, consolidando uma coleção que documenta a rica história e cultura dos povos andinos que habitaram o território.

O museu, que começou com um acervo inicial de 3.000 peças, ampliou significativamente sua coleção ao longo dos anos por meio de aquisições, recuperações e novas descobertas.

Atualmente, o Museo Arqueológico y Antropológico Dr. Eduardo Casanova possui mais de 4.700 itens, incluindo peças arqueológicas, etnográficas e folclóricas, representando de forma abrangente a riqueza cultural e histórica do noroeste argentino.

O Museo Arqueológico y Antropológico Dr. Eduardo Casanova, juntamente com o Pucará de Tilcara, integra o Centro Universitário Tilcara, vinculado à Faculdade de Filosofia e Letras da UBA. Este centro desempenha um papel crucial na preservação e conservação do patrimônio, na produção de conhecimento arqueológico e etnográfico, e na promoção do turismo cultural sustentável.

Além disso, busca fomentar a participação da comunidade local para atender às demandas socioculturais da região, fortalecendo o vínculo entre ciência, cultura e desenvolvimento regional.

Em seguida, visitamos o Museo Provincial Ernesto Soto Avendaño, um espaço que destaca a vida e a obra de um dos artistas mais emblemáticos da região, oferecendo aos visitantes uma imersão na arte e na cultura local através de suas exposições.

O Museo Provincial Ernesto Soto Avendaño presta homenagem ao renomado escultor Ernesto Soto Avendaño, conhecido por seu trabalho marcante no Monumento aos Heróis da Independência Argentina. O escultor conquistou o I Prêmio Nacional pela execução dessa obra, realizada em 1928 e inaugurada na histórica cidade de Humahuaca em 23 de agosto de 1950, eternizando sua contribuição artística à memória nacional.

Fundado em 1974, o Museo Provincial Ernesto Soto Avendaño está situado na histórica casa colonial que pertenceu ao Coronel Don Manuel Álvarez Prado (1785–1836), um herói gaúcho da Quebrada de Humahuaca nas lutas pela independência argentina. O projeto do museu foi idealizado por Carolina Álvarez Prado, bisneta do coronel e discípula do talentoso escultor Ernesto Soto Avendaño, unindo história, arte e memória em um único espaço cultural.

Além de sua importância histórica e cultural, a emblemática casona que abriga o Museo Provincial Ernesto Soto Avendaño foi declarada Monumento Histórico Provincial em 1958. Essa joia arquitetônica representa um marco na preservação da identidade de San Francisco de Tilcara, sendo um testemunho vivo da rica herança cultural da região.

Os três museus que visitamos em Tilcara estão localizados ao redor da praça central da cidade, a Plaza Coronel Manuel Álvarez Prado. Esta praça, além de ser o coração da cidade, serve como um ponto de encontro entre a história, a cultura e a arte local, proporcionando aos visitantes uma experiência imersiva nas tradições e no legado de San Francisco de Tilcara.

A Praça Principal de Tilcara carrega seu nome em homenagem a Manuel Álvarez Prado, um pequeno proprietário rural da Quebrada de Humahuaca. Ele se uniu aos gaúchos e desempenhou um papel ativo na Guerra de Independência da Argentina, contribuindo para a luta pela liberdade do país e se tornando uma figura emblemática da história local.

A bela Plaza Coronel Manuel Álvarez Prado é palco de uma grande e tradicional feira de produtos artesanais, locais e regionais. Este mercado vibrante oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer a riqueza da cultura andina, com artesanatos, tecidos, joias e alimentos típicos, criando um ambiente único que reflete a identidade de Tilcara e da Quebrada de Humahuaca.

Ainda nas proximidades da praça, encontra-se a Municipalidad de Tilcara, um importante edifício administrativo que simboliza a governança local.

Perto da Plaza Coronel Manuel Álvarez Prado, também está o Salón Municipal, um espaço cultural que recebe diversos eventos, exposições e apresentações artísticas ao longo do ano.

Da praça, continuamos nossa caminhada pela área central de San Francisco de Tilcara e passamos em frente ao Museo Irureta, que, infelizmente, estava fechado no momento de nossa visita.

Após, avistamos a histórica casa onde, em 1841, foram velados os restos mortais do General Juan Galo Lavalle.

As ruas estreitas de calçamento, rodeadas por antigas construções, em sua maioria de adobe, tornam a caminhada pela área central de San Francisco de Tilcara uma experiência encantadora.

O charme histórico do local, combinado com a tranquilidade do ambiente, proporciona uma imersão única na cultura e arquitetura da região, fazendo com que cada esquina conte uma história do passado da Quebrada de Humahuaca.

Com esse cenário pitoresco, chegamos a outra praça de Tilcara, a pequena, mas não menos bela, Plaza Sargento Antonino Peloc.

Localizada em um ambiente tranquilo, rodeada por bares, restaurantes e lanchonetes, a Plaza Sargento Antonino Peloc, assim como outras da cidade, reflete o charme rústico e acolhedor da região, sendo mais um espaço que convida os visitantes a apreciar a paisagem local e a história de Tilcara.

Em um dos restaurantes ao lado da praça, nos chamou a atenção um equipamento que à primeira vista parecia uma antena parabólica, mas na verdade era um dispositivo utilizado para assar alimentos, especialmente carnes, aproveitando a luz solar como fonte de calor. Esse método sustentável e inovador é uma ótima demonstração de como a região integra práticas tradicionais com soluções ecológicas, refletindo a conexão da comunidade com a natureza e a busca por alternativas mais verdes.

A Plaza Sargento Antonino Peloc fica de frente para a Iglesia de la Virgen de Rosario y San Francisco de Asís, um importante ponto de referência religioso e histórico da cidade. Com sua arquitetura simples, mas marcante, a igreja é mais um exemplo da rica tradição cultural e religiosa da região, proporcionando uma vista encantadora da praça e das montanhas ao fundo.

Fundada em 1865 e declarada Monumento Histórico Nacional em 1941, a Iglesia de Nuestra Señora del Rosario y San Francisco de Asís, localizada em San Francisco de Tilcara, é um dos mais importantes marcos históricos e religiosos da cidade. Além de sua relevância cultural, a igreja guarda um valor histórico inestimável por abrigar os restos mortais do coronel Manuel Álvarez Prado, herói das lutas pela independência argentina e figura emblemática da Quebrada de Humahuaca.

Com sua arquitetura colonial de adobe e uma atmosfera que reflete a espiritualidade da região, a igreja é um local de culto e contemplação, além de ser um ponto de interesse para quem busca se conectar com a história profunda do norte argentino.

A Iglesia de Nuestra Señora del Rosario y San Francisco de Asís, em Tilcara, não carrega apenas um importante valor histórico e religioso, mas também é cercada por uma superstição que percorre gerações: La Maldición de la Virgen de Tilcara (A Maldição da Virgem de Tilcara).

A lenda La Maldición de la Virgen de Tilcara é uma das histórias mais intrigantes e populares do folclore esportivo argentino. Ela remonta ao ano de 1986, quando a seleção argentina de futebol, liderada pelo técnico Carlos Bilardo, escolheu a cidade de San Francisco de Tilcara como base de preparação para a Copa do Mundo no México. A altitude da cidade, similar à da Cidade do México, foi o fator decisivo, além da tranquilidade que permitia treinar longe do assédio da torcida e da mídia.

Durante a estadia, os jogadores e a comissão técnica se aproximaram da comunidade local e foram apresentados à profunda devoção à Virgen de Copacabana del Abra de Punta Corral, cuja imagem é venerada na Iglesia de Nuestra Señora del Rosario y San Francisco de Asís. Impressionados pelos relatos dos milagres atribuídos à santa, a seleção fez uma visita ao templo, e lá, num ato de fé, pediram a sua bênção para a conquista do título mundial. Em troca, prometeram retornar a Tilcara com o troféu da Copa do Mundo FIFA para agradecer pela proteção divina.

Com atuações memoráveis, incluindo o famoso “gol de mão” e o “gol do século” de Diego Maradona, a Argentina conquistou a Copa do Mundo de 1986 no México, consolidando-se como uma potência do futebol mundial. Contudo, a promessa feita à Virgem nunca foi cumprida. Nem jogadores, nem comissão técnica voltaram a San Francisco de Tilcara para cumprir o pacto.

Desde então, surgiu a crença de que a seleção argentina de futebol estaria sob a Maldição de Tilcara, impedida de vencer outra Copa do Mundo até que a promessa fosse honrada. Coincidência ou não, o país enfrentou uma série de frustrações em Copas do Mundo posteriores, chegando perto da vitória em 1990 e 2014, mas sem conquistar o título.

A superstição ganhou força entre torcedores e mídia, que apontavam a dívida espiritual como um possível motivo para os insucessos da seleção. San Francisco de Tilcara, por sua vez, tornou-se um local de peregrinação para curiosos e devotos, todos fascinados pela conexão entre futebol, fé e a cultura da Quebrada de Humahuaca.

Deixando as superstições para trás, seguimos explorando o centro de San Francisco de Tilcara, uma cidade encantadora com sua atmosfera tranquila e ruas repletas de história e cultura. Cada esquina parecia revelar um novo detalhe, seja em suas construções de adobe, nas feiras artesanais coloridas, ou nos sorrisos acolhedores de seus habitantes.

Durante nossa caminhada pelo centro de Tilcara, nos deparamos com uma cena típica e fascinante: os tradicionais cordeiros sendo assados em fogo de chão. Essa técnica ancestral de preparo é muito comum na região andina e impressiona pela simplicidade e pelo sabor que proporciona à carne.

Os cordeiros são dispostos em estruturas metálicas chamadas cruces ou asadores, inclinados sobre brasas cuidadosamente controladas para garantir um cozimento lento e uniforme. O aroma que se espalhava pelas ruas era irresistível e nos transportava diretamente para as tradições culinárias locais. É um espetáculo não apenas para o paladar, mas também para os olhos, revelando a forte conexão entre a gastronomia e a cultura da região.

Na sequência, encontramos um ponto perfeito para registrar memórias da viagem: um colorido letreiro com o nome da cidade, que se destaca pela vivacidade de suas cores e formas. Localizado em um espaço aberto e estratégico, ao lado de um enorme cacto da espécie Echinopsis Atacamensis, típico da região, o que adiciona um toque autêntico ao cenário.

À medida que o dia chegava ao fim, o centro de Tilcara se enchia de aromas e vida. Diversos tambores metálicos, improvisados como churrasqueiras, apareciam nas esquinas, exalando o calor das brasas e o cheiro tentador de algo sendo assado. Sobre as grelhas, massas redondas que lembravam pizzas estavam dispostas, ganhando uma crocância dourada ao serem tostadas.

Essas massas, típicas da região, são conhecidas como tortillas a la parrilla. São uma iguaria simples e deliciosa, feitas de farinha, água e sal, muitas vezes com um toque de gordura ou ervas para dar sabor. Não perdemos tempo e experimentamos as tortillas a la parrilla recheadas com jamón y queso, que foram um verdadeiro deleite! Quentes, crocantes e com o recheio derretendo no ponto certo, elas combinavam perfeitamente o sabor salgado do presunto com a textura cremosa do queijo.

Conforme a noite se aproximava e o vento andino soprava com mais intensidade, a temperatura começou a cair rapidamente. Para enfrentar o frio característico da região, FredLee não hesitou em recorrer a um item clássico e prático: o gorro andino. Feito de lã, com desenhos geométricos e muitas vezes decorado com tons vibrantes ou terrosos, o gorro andino é um símbolo cultural da região e uma peça indispensável para os viajantes que exploram as altitudes da Quebrada de Humahuaca. Além de proteger contra o vento gelado, ele trouxe ainda mais autenticidade à experiência, conectando FredLee à cultura local de maneira funcional e estilosa!

Foi então que começamos a ouvir a batida forte de tambores, acompanhadas pelo som característico dos sikus, instrumentos andinos de vento da época pré-colombiana, similares à flauta de pã.

Em poucos minutos, uma grande movimentação de pessoas começou, e a rua que levava ao nosso hotel foi tomada por uma aglomeração animada. Fomos surpreendidos por um desfile impressionante, composto por mais de 40 bandas de sikuris, acompanhando a chegada da Virgen del Rosario de Sixilera na cidade de San Francisco de Tilcara.

 

Essa celebração está enraizada em uma tradição que carrega fé e história. A tradição local conta que, no passado, os rios que irrigavam os pomares da Quebrada de Humahuaca começaram a secar, ameaçando a produção agrícola da região.

Preocupados com a escassez de água, os moradores se uniram e, em uma procissão com a imagem da Virgen del Rosario de Sixilera, atravessaram as montanhas, percorrendo cumes e vales. Após dias de caminhada, a água voltou a brotar da terra, renovando a esperança dos habitantes da região.

 

Como forma de agradecer pela milagrosa intervenção, foi escolhido um local para a construção de um santuário em honra à Virgen del Rosario, na comunidade de Sixilera.

Desde então, todos os anos, justamente no dia 21 de setembro, peregrinos oriundos de todos os povoados da Quebrada de Humahuaca partem dessa comunidade e percorrem cerca de 27 quilômetros até a igreja de Tilcara, iniciando a peregrinação a uma altitude de aproximadamente 5.000 metros e descendo até os 2.465 metros de San Francisco de Tilcara.

A jornada dos devotos da Virgen del Rosario de Sixilera é marcada por esforço, fé e celebração, e culmina em um evento que envolve toda a comunidade.

Presenciar esse desfile, La Peregrinación a La Virgen de Sixilera, formado por pessoas de diversas idades, foi uma experiência inesquecível, nos proporcionando uma conexão ainda mais profunda com a cultura e a espiritualidade da Quebrada de Humahuaca, no norte da República Argentina.

Acima o mapa com o trajeto percorrido no dia, entre San Salvador de Jujuy – Jujuy – Argentina e San Francisco de Tilcara – Jujuy – Argentina.