Nas primeiras horas da cinzenta e gelada manhã de sábado nos despedimos de Erechim, a “Capital da Amizade”.
Partimos pela rodovia RS-135 sentido sul.
Cruzamos Getúlio Vargas, Coxilha e Passo Fundo, onde deixamos para trás a rodovia estadual e passamos a rodar pela BR-153.
Com o céu azul chegamos em Tio Hugo, onde a Rodovia Transbrasiliana, BR-153, se encontra com a BR-386 e dali até Soledade as duas estradas compartilham o mesmo percurso.
A poucos quilômetros de Soledade a Formosa completou seus 110.000 quilômetros rodados, registrados em uma foto com ela em movimento.
Em Soledade as rodovias BR-153 e BR-386 se separam, nós continuamos percorrendo a BR-386.
Passamos ao lado do Parque de Eventos Centenário Rui Ortiz, no qual acontecia a EXPOSOL 2022, maior feira de joias e pedras preciosas da América Latina e maior feira multissetorial do interior do Rio Grande do Sul.
Alguns quilômetros adiante paramos para nos aquecer com um chá quentinho ao lado da praça de pedágios, onde o vento forte assobiava.
De volta à estrada o tempo fechou e o frio aumentou, assim passamos por Fontoura Xavier, conhecida como a “Terra do Pinhão”.
Depois foi a vez de cruzar São José do Herval e Pouso Novo, onde iniciamos a descida da Serra Geral.
A Serra Geral é uma magnífica formação natural localizada na região centro-sul do Brasil, estendendo-se também pelos países vizinhos Paraguai, Uruguai e Argentina.
É parte integrante desta série de cadeias montanhosas as serras gaúcha e catarinense, sua área total é de 17.300 hectares, repletos de formações originadas a partir de intensas atividades vulcânicas que ocorreram há milhões de anos.
Destas atividades vulcânicas teria origem o Planalto Sul-Brasileiro, de vegetação heterogênea e palco de diversas nascentes de rios cristalinos, além dos mais de 60 cânions espalhados ao longo de seu território.
Pois bem, em menos de 10 quilômetros descemos mais de 450 metros.
E como era de se esperar, a uma altitude em torno de 80 metros acima do nível do mar, o céu voltou a limpar e a temperatura subir.
Desta forma passamos por Marques de Souza, Lajeado, Estrela, Fazenda Vila Nova e Tabaí, quando saímos da BR-386 para adentrar na BR-470.
Sim, a mesma BR-470 que no Vale do Itajaí em Santa Catarina é extremamente movimentada, aqui é de uma tranquilidade incrível, rodeada por belas paisagens naturais.
Poucos minutos depois chegamos no distrito de Barreto, já no município de Triunfo.
Acessamos o pequeno povoado e percorremos alguns metros pela irregular rua de paralelepípedos.
Até dar de cara com o Rio Taquari, o qual deságua no Rio Jacuí a poucos quilômetros daqui.
No lado oposto do rio fica o município de General Câmara, o qual tem ligação com Triunfo através de uma barca, que passa o dia navegando de um lado para o outro transportando pessoas, bicicletas, carros e motos.
Ao lado da barca figura uma ponte inaugurada em 1911, a Ponte Ferroviária da Volta do Barreto, mais conhecida como Ponte do Barreto.
A ponte composta por 350 metros de extensão e enquadramento metálico de 5 metros de altura é bela, mas a história por trás de sua construção, nem tanto.
O engenheiro responsável pela obra foi o francês Claudius Mathon, o qual era conhecido por sua rigidez e perfeccionismo.
As obras de construção da ponte tiveram início em ambos os lados do rio simultaneamente e com o avanço das estrutura metálicas o engenheiro percebeu um erro de cálculo de 10 centímetros, o que ocasionaria o desencontro das extremidades no momento da sua união.
Perplexo com a situação, sem conseguir encontrar o erro no projeto e muito provavelmente sofrendo uma pressão enorme durante a execução da importante obra, o francês não suportou o peso da falha e tirou a própria vida na manhã do dia 26 de janeiro de 1909, com um tiro de revólver, no meio da ponte inacabada.
Fato é que desde a sua inauguração, há mais de 100 anos, a ponte permanece sendo utilizada diariamente por trens que transportam até 100 vagões carregados de combustível, grãos e cimento.
Existe, inclusive, um projeto que pretende transformar a ponte férrea em uma ponte rodoferroviária, conectando duas das mais importantes rodovias gaúchas, as BRs 290 e 386, encurtando a distância em quase 60 quilômetros do atual traçado rodoviário.
Conhecida a Ponte do Barreto voltamos a rodar e cerca de 10 quilômetros depois chegamos no centro de Triunfo, um dos municípios mais antigos do Rio Grande do Sul.
As terras do atual município de Triunfo eram inicialmente habitadas pelos nativos denominados patos até o ano de 1752, quando o então governador geral da capitania do Rio Grande do Sul, general Gomes Freire de Andrade, doou duas sesmarias localizadas entre o Rio Taquari, seu afluente Arroio Capote e o antigo Arroio da Ponte a Manoel Gonçalves Meirelles e a Francisco da Silva, ambos casados com filhas de Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos, povoador inicial de Porto Alegre, e que para aí seguiria por volta de 1754, logo após a instalação dos casais açorianos em suas terras desapropriadas no Porto de Viamão.
De colonização majoritariamente açoriana, a influência dos ilhéus no centro histórico da cidade é visível e inconfundível, seja pelas janelas tipo guilhotina, casas junto às calçadas ou pela Pomba do Divino (duas telhas levantadas nas cumeeiras, pedindo proteção ao Divino Espírito Santo).
Aliás, os casarios históricos de Triunfo formam um expressivo corpo de arquitetura vernácula de herança luso-açoriana, sendo um dos conjuntos mais importantes em seu tipo no estado do Rio Grande do Sul, tanto por sua antiguidade, quanto por sua raridade.
Um dos principais exemplos é a charmosa Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Triunfo, popularmente conhecida como Igreja Bom Jesus.
Erguida em 1754, esta é a terceira igreja mais antiga do estado gaúcho.
Construída em estilo barroco colonial, a fachada da igreja se eleva sobre um adro com uma escadaria curta, o templo religioso tem um corpo central e dois campanários laterais.
Suas torres são quadradas e volumosas, com pilastras em destaque. No topo um coruchéu em bulbo com perfil em S e pinhas nos quatro cantos, sobre um friso geométrico e uma cornija saliente, com uma cruz coroando o conjunto.
Uma verdadeira obra de arte, que infelizmente estava fechada.
Em sua frente fica a pequena, mas elegante, Praça da Matriz, onde diversas caturritas tagarelavam loucamente.
Ao lado da praça existe ainda a antiga Capela do Império do Divino Espírito Santo.
A pequena edificação data de meados do século XVIII e, seguindo a tradição açoriana, foi construída como uma espécie de salão paroquial da igreja matriz.
A poucos passos da Praça da Matriz fica o caudaloso Rio Jacuí, para o qual a igreja matriz da cidade está direcionada, haja visto que os rios eram os principais meios de locomoção das pessoas em uma época não tão distante.
Margeando o rio está a Rua General Flores da Cunha, carinhosamente chamada de Rua dos Plátanos, a qual é embelezada por diversos plátanos que foram plantados em 1917.
Além dos plátanos diversos bancos estão espalhados ao longo da via, proporcionando um ótimo local para descanso e apreciação do Rio Jacuí, da Ilha das Pedras e do município vizinho, São Jerônimo, que está localizado na margem oposta do rio.
Atualmente Triunfo conta com cerca de 30.000 habitantes, está localizada a 75 quilômetros da capital Porto Alegre e desde 1976 o município sedia o maior complexo petroquímico da América Latina, o III Polo Petroquímico, que abriga diversas empresas de primeira e segunda geração, produzindo resinas termoplásticas e elastômeros, matéria-prima para produção de plásticos em todas as suas variações.
Consequentemente, o município ostenta o atual maior PIB per capita do Rio Grande do Sul.
De frente para o Rio Jacuí fica a edificação onde funciona a sede da prefeitura municipal, a qual ocupa a antiga residência de Sabino Antônio da Cunha Pacheco.
O imponente casarão, com dois pisos principais e uma pequena mansarda no centro, foi construído em 1821 e chegou a hospedar o imperador Dom Pedro II e a Princesa Isabel.
Sua fachada principal é voltada para o rio e as aberturas no segundo plano possuem delicados gradis de ferro.
Bem próximo da prefeitura fica a atual sede da secretaria de governo.
Tendo sido construída no início do século XVIII, em 1832 nela instalou-se a 1ª câmara municipal de Triunfo.
E bem no coração da cidade, de frente para a Praça Bento Gonçalves, fica a casa que pertenceu ao ilustre triunfense Bento Gonçalves da Silva, o mesmo que dá nome à praça principal.
A pequena casa térrea, tipicamente luso-brasileira, foi construída pelo avô de Bento Gonçalves em meados do século XVIII.
A família de Bento era possuidora de muitas terras em toda a região, haja visto que sua mãe, Perpétua da Costa Meireles, era neta de Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos, inclusive existe uma certa controvérsia entre os moradores locais se de fato ele havia nascido nesta casa ou em uma fazenda na atual localidade de Barreto.
De qualquer forma, é certo afirmar que ele passou parte de sua vida nesta residência, a qual foi transformada em um museu histórico no ano de 1971, o Museu Farroupilha, que infelizmente estava fechado durante nossa passagem pela cidade.
Triunfo tem um passado fortemente vinculado à Revolução Farroupilha, não somente por ser terra natal de Bento Gonçalves, mas também por ter sido palco de diversos combates, dentre eles a Batalha do Fanfa, na qual Bento foi capturado e levado até o Forte do Mar em Salvador, na Bahia.
Ainda nos arredores da Praça Bento Gonçalves fica o Teatro União, o segundo teatro construído no estado, datando de 1848.
A modesta, mas interessante edificação, deixa claro a importância de Triunfo no início do século XIX.
Ainda no centro histórico passamos em frente à Biblioteca Pública Coronel João Maia, que ocupa a antiga moradia do padre José das Neves.
A pequena casa térrea no alinhamento e com dois pisos nos fundos, aproveitando a declividade do terreno, foi construída em 1858.
Praticamente ao seu lado fica a casa que pertenceu a José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido como Qorpo Santo.
Qorpo Santo, que assim como Bento Gonçalves, também nasceu em Triunfo, foi um importante dramaturgo, poeta, jornalista, tipógrafo e gramático brasileiro.
Poucos passos adiante chegamos na secretaria municipal de educação, que está instalada no casarão construído nos primeiros tempos da cidade, ainda no século XVIII, e pertenceu a Francisco Xavier Azambuja, genro de Jerônimo de Ornelas.
Mais tarde a casa foi adquirida por Luiz José Ribeiro Barreto, de quem o casarão deriva seu nome, sendo conhecido como Solar Barreto.
Por fim passamos ao lado da secretaria municipal do trabalho e ação social, que funciona no elegante sobrado que pertenceu a Antônio Ferreira Canabarro.
Com o fim do dia se aproximando voltamos a colocar os capacetes, subimos na Formosa e rodamos até Porto Alegre, onde chegamos no início da noite e fomos direto ao hotel descansar.
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 2 comentários nesta postagem!
Opa… Não conheci essa região… mas é bem interessante, faz parte da história do RS… valeu
Sim, uma região rica em história, não apenas relacionada ao Rio Grande do Sul, mas ao Brasil como um todo, haja visto que a própria Revolução Farroupilha não tinha como ideais a libertação somente do estado gaúcho (tanto é que avançaram para Santa Catarina, proclamando a República Juliana), mas de todo o território nacional, buscando uma formação republicana 50 anos antes da proclamação da república brasileira.
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer!
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