Após alguns meses parados decidimos tirar a Formosa da garagem e colocar a mocinha para rodar.
Partimos de Erechim nas primeiras horas da manhã de sábado envoltos por um céu azul e temperatura amena.
Avançamos pela rodovia BR-480 sentido noroeste, passamos por Barão de Cotegipe, São Valentim e logo nos aproximamos de Erval Grande.
De Erval Grande até a localidade de Goio-Ên, que fica na confluência dos rios Passo Fundo, Lajeado Grande e Uruguai, divisa natural entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a estrada recebeu uma nova camada asfáltica recentemente, tornando a viagem muito mais agradável do que quando passamos pelo mesmo trajeto durante o último dia da Expedição 2021: Guartelá – Iguaçu, em meados de abril.
Antes de se despedir do estado gaúcho fizemos uma breve pausa às margens da rodovia, onde aproveitamos para comprar um saquinho cheio de tangerinas.
Na sequência atravessamos a ponte sobre o magnífico Rio Uruguai, cruzamos o centro de Chapecó e acessamos a SC-157.
Pela sinuosa estrada estadual passamos por Coronel Freitas e alguns quilômetros depois foi a vez de passar pela ponte sobre o Rio Chapecó.
Poucos quilômetros adiante chegamos no município de Quilombo, destino escolhido para o passeio do dia.
O território que atualmente pertence a Quilombo começou a ser colonizado nos anos 1940 com a chegada de descendentes de alemães, italianos e poloneses vindos do Rio Grande do Sul.
O topônimo originou-se da exclamação de um soldado que, antes mesmo da colonização, encontrou na região um grupo de moradores fiéis a um profeta, o qual pregava e anunciava que o fim do mundo estava próximo, e que apenas as pessoas que ali viviam seriam salvas.
Ao se deparar com a situação o soldado teria dito que o local se parecia com o Quilombo dos Palmares.
O nome propagou entre a pequena população e acabou efetivando-se.
Nos dias atuais Quilombo conta com uma população de aproximadamente 10.000 habitantes e tem sua economia baseada na agricultura e na criação de gado, suínos e aves.
Uma vez no centro da cidade tratamos de estacionar a Formosa e caminhar pela área central.
O primeiro local que visitamos foi a Igreja Santa Inês, que infelizmente estava com as portas fechadas.
Aos fundos do templo religioso uma pequena gruta guarda a imagem de Nossa Senhora Aparecida, e ao seu lado figura um equipamento de 1960 que foi utilizado para produzir os tijolos utilizados na construção da igreja matriz e outras edificações da cidade.
Dali avançamos pelo centro da pacata Quilombo e logo chegamos na Praça Municipal Helio Antonio Faresin, que estava lindamente decorada para o Natal.
Ao lado da praça fica o Parque Aquático – Complexo Turístico Termas de Quilombo equipado com quiosques, piscinas, toboáguas, rampa molhada, banheiras de hidromassagem, piscina térmica, bar molhado, cantina, sala de massagem, sauna e parque infantil.
O arborizado, muito bem preservado e estruturado balneário municipal atrai visitantes das mais variadas regiões que buscam se beneficiar da única fonte de águas minerais sulfurosas de Santa Catarina, água esta, que também é potável.
No centro da praça um chafariz de águas dançantes embeleza ainda mais o espaço público.
A valiosa água é responsável também pelo lema da cidade, “Terra boa para se viver, água boa para se beber!”.
De frente para a praça principal fica a prefeitura.
E a poucos passos do paço municipal fica a Casa da Cultura.
O belo casarão de madeira onde a Casa da Cultura está instalada foi construído em 1950 no interior do município, mais precisamente na Linha Barra do Quilombo.
Ela era o lar da família de Ancelmo Guilherme Simon e Aloísia Martha Hannauer Simon.
No ano de 1998 a casa foi doada ao município como patrimônio público e passou a abrigar a Casa da Cultura.
Casa da Cultura que por sua vez exibe um acervo histórico cultural bibliográfico, fotográfico e diversos objetos e móveis que foram de posse dos primeiros colonizadores do município.
Nas proximidades ainda é possível avistar outros antigos casarões, cada um com seu estilo e charme.
Com o calor aumentando na mesma proporção das nuvens negras no céu, decidimos subir na Formosa e rodar até outro atrativo de Quilombo, provavelmente o de maior destaque.
Seguimos pela estreita SC-482 sentido Santiago do Sul e cerca de 2 quilômetros depois deixamos o asfalto para trás e adentramos em uma estrada de terra rumo ao interior do município.
Pela estrada de chão em bom estado de conservação, melhor até que muito asfalto que já percorremos por aí, a Formosa roncava e levantava poeira de maneira elegante.
Isso tudo dentro de um cenário bucólico admirável, digno de nos fazer sonhar.
Até um carro em alta velocidade nos ultrapassar e nos trazer de volta à realidade, além de nos presentear com um verdadeiro nevoeiro de poeira.
Mesmo com o poeirão, acentuado pela falta de chuva na região, o passeio é encantador e nos remete a um passado não muito distante.
Onde pessoas tomando chimarrão nas varandas de suas casas com as portas e janelas abertas são embalados pelo som que ecoa de um pequeno radinho de pilha com uma ampla antena erguida para reduzir o chiado da rádio preferida.
Enquanto as crianças se divertem com brincadeiras reais em meio aos pomares e criação de animais.
Cenas difíceis de se ver, ou até mesmo imaginar nos dias atuais, principalmente quando estamos inseridos em uma realidade de grandes centros urbanos, recheados de congestionamentos, ruídos diversos e uma profunda imersão digital.
Deixando o devaneio, além da estrada estar bem conservada, placas indicativas orientam qual direção seguir na maioria das bifurcações.
Ah sim, seguir para onde? Rumo ao Complexo Turístico Cataratas do Salto Saudades.
Com uma generosa camada de poeira cobrindo a Formosa, e nós também, chegamos no estacionamento do Salto Saudades após vencer os 18 quilômetros de estrada de terra.
Complexo Turístico Cataratas do Salto Saudades
Local: Linha Salto Saudades | Quilombo – SC
Telefone: (49) 3346-3242
Funcionamento: Todos os dias das 8h00 às 18h00
Ingresso: Gratuito
Tempo médio de visitação: 4 horas
O Complexo Turístico Cataratas do Salto Saudades tem como protagonista as cataratas formadas por um conjunto de sete cascatas no Rio Chapecó.
O local está recebendo obras de infraestrutura, inclusive no último fim de semana houve a inauguração do estacionamento, passarela e mirantes.
Em um futuro próximo o complexo irá abrigar um calçadão, tirolesa, restaurante, centro comercial, sanitários, elevador e pavimentação em paver e asfáltica até o centro da cidade.
Com a Formosa repousando no estacionamento caminhamos tranquilamente pelo local paradisíaco e, sozinhos, nos sentamos na grama abrigados pela sombra de uma árvore e ali almoçamos as tangerinas compradas mais cedo acompanhadas por chipas caseiras e aquele tereré caprichado para revigorar as energias.
As energias físicas, claro, pois as energias mentais e espirituais bastaram alguns minutos para se conectarem com o paraíso em nossa frente e ficarem completamente harmonizadas.
Sem dúvidas esta é uma das mais belas cataratas que conhecemos, que nos fazem recordar das Quedas do Rio Chapecó (sim, no mesmo rio) em Abelardo Luz e, guardadas as devidas proporções, das Cataratas do Iguaçu.
As cataratas ficam exatamente na divisa natural entre três municípios do oeste catarinense: Quilombo, Santiago do Sul e Entre Rios.
Passamos algumas horas apreciando tamanha beleza rodeados por um cenário fabuloso, com ar puro, cantar dos pássaros e o som das águas batendo com força nas rochas.
Por fim voltamos a caminhar e fomos explorar as passarelas que ficam sobre as águas do Rio Chapecó, através das quais é possível chegar bem pertinho das cataratas.
Pouco antes das quedas ocorre o encontro do pequeno Rio Feliciano com o meandroso Rio Chapecó, o qual possui suas águas represadas alguns quilômetros acima.
Com o represamento das águas provocado pela Usina Hidrelétrica de Quebra Queixo, no município de Ipuaçu – SC, eventualmente o Salto Saudades se encontra com pouca vazão de água, o que não foi o caso, haja visto que durante nossa visita as quedas estavam caudalosas.
Inclusive pudemos sentir a impressionante violência das águas ao encostar as mãos nas grades de proteção das passarelas, que balançavam para todos os lados.
Da passarela também acompanhamos o tempo fechar e ao lembrar que precisaríamos retornar pelo mesmo trajeto, ou seja, passar pelos 18km de estrada de terra, entendemos que era chegado o momento de partir do Salto Saudades.
Fizemos as últimas fotos do complexo turístico e voltamos ao estacionamento, onde a Formosa nos aguardava, ansiosa para rodar novamente.
Com mais um lindo lugar conhecido nos despedimos das Cataratas do Salto Saudades e voltamos a fazer poeira.
Alguns quilômetros adiante paramos para comprar água em um pequeno mercadinho situado ao lado da via rural.
Nos hidratamos, fizemos algumas fotos e seguimos adiante.
As nuvens negras tomaram conta do céu, mas no fim nenhum pingo nos atingiu, embora a região estivesse precisando de chuva.
Com isso a poeira foi aumentando.
E quando chegamos de volta ao centro de Quilombo e paramos para tomar um café antes de seguir viagem até Erechim notamos o quanto de poeira havia acumulado.
A Formosa estava completamente marrom, ok, ela é marrom, mas ela estava mais marrom que o habitual.
E também estava mais pesada do que o de costume (que ela não leia isso).
E nós? Bem, parecíamos dois forasteiros chegando de uma longa cavalgada cruzando um árido deserto em busca de uma aromática e prazerosa xícara de café.
Após o café voltamos a rodar, desta vez por estradas asfaltadas, e no fim do dia chegamos ao ponto onde o passeio teve início: a garagem de casa em Erechim.
Chegamos esgotados fisicamente, com um belo bronzeado (pura ilusão, após o banho o bronzeado escorreu, era poeira mesmo), mas de alma lavada e com um sorriso enorme debaixo do capacete que apenas quem roda de moto é capaz de compreender.
Assim nos despedimos de 2021, que 2022 seja um ano repleto de luz, vida, amor e, claro, viagens!
Trajeto percorrido no dia:
Oba! Já são 4 comentários nesta postagem!
Lindas imagens! Passeio toop ^_^
Valeu Charles! Um belo lugar para vocês explorarem com a Honda Pop. Abraços…
Passei muitas vezes perto desta região e não sabia desta cachoeira… linda mesma e valeu as fotos como sempre…parabéns pelo bronzeado….kkk
Ela não era muito divulgada mesmo, ao que pudemos entender tanto a estrutura de acesso quanto as placas de indicação do local são bastante recentes. Fato é que o lugar é lindo, com enorme potencial turístico. Caso volte a passar pela região, vale a visita. Valeu, o bronzeado durou apenas a viagem de retorno hahahaha Abraços…
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