Porto Alegre – RS | Dia 01
Aproveitamos o feriado de carnaval para rodar com a Formosa pelas estradas gaúchas.
Partimos de Erechim nas primeiras horas de sábado envoltos por uma densa neblina.
Com a qual acessamos a rodovia RS-135 e seguimos sentido sul, com temperatura amena e baixo fluxo de veículos.
Aos poucos a neblina foi se dissipando e dando espaço para o azul do céu colorir ainda mais a paisagem ao redor da estrada estadual.
Logo chegamos no principal trevo de acesso a Passo Fundo.
Ali pegamos a esquerda e rodamos poucos quilômetros pela BR-285, até acessar o contorno leste da cidade gaúcha.
Cerca de 6km depois acessamos a rodovia RS-324.
Os poucos quilômetros que ligam Passo Fundo a Marau, cerca de 25, são rodeados por lindas fazendas e o trajeto é composto por muitas curvas.
Com um cenário maravilhoso recebemos as boas-vindas da Serra Gaúcha.
Passamos por Marau, Vila Maria, Casca, Paraí, Nova Araçá, Nova Bassano e Nova Prata, onde a estrada estadual vai de encontro à rodovia BR-470, a qual passamos a percorrer.
Pela rodovia federal passamos por Vila Flores e quando vimos já estávamos contornando a “Terra da Longevidade”, Veranópolis.
Poucos quilômetros adiante paramos no Belvedere do Espigão, o qual fica às margens da rodovia, bem no início da descida da serra que percorre o Vale do Rio das Antas.
Ali fizemos um lanche, nos hidratamos e aproveitamos para curtir o magnífico Vale do Rio das Antas.
Já visitamos o mirante diversas vezes, mas sempre que passamos pela região fazemos questão de dar uma pausa na viagem para apreciar o visual sensacional do local.
Minutos depois nos despedimos do belvedere e voltamos a rodar.
Rodovia sinuosa de pista simples, sem acostamento e cercada por muito verde, uma delícia para quem roda de moto!
Aproximadamente 7km após deixar o Belvedere do Espigão e descer cerca de 400 metros de altitude chegamos na ponte em forma de arco que cruza as águas do Rio das Antas, divisa natural entre Veranópolis e Bento Gonçalves.
Já em terras da “Capital Brasileira do Vinho” iniciamos a subida do vale e rapidamente ganhamos 500 metros de altitude.
No alto fomos envolvidos por um agradável cheirinho de uva, fruta que domina as terras locais e é colhida nos três primeiros meses de cada ano.
Com os ponteiros do relógio se aproximando do meio-dia optamos por não acessar o centro de Bento, e avançamos pela rodovia federal sentido sul.
Bastaram algumas curvas para chegarmos na cidade vizinha, Garibaldi, onde adentramos em busca de almoço.
Logo na entrada da cidade vimos um mercado aberto, não titubeamos e aproveitamos a oportunidade para comprar nossos alimentos.
Estacionamos então a Formosa em uma sombra e ali nos deliciamos com um típico churrasco gaúcho de fogo de chão, regado por muita cerveja artesanal bananas e iogurte natural.
Uma vez alimentados voltamos à pista, contornamos Carlos Barbosa e nos despedimos da BR-470 passando a rodar pela RS-446, que nos levou até São Vendelino, onde acessamos a duplicada RS-122.
Pela rodovia duplicada passamos por Bom Princípio e São Sebastião do Caí, até chegar em Portão, onde a estrada deixa de ser a RS-122 e se transforma na RS-240, que conta com uma praça de pedágio, na qual motos são isentas de tarifa.
Do pedágio foi um pulinho até São Leopoldo, onde adentramos na rodovia BR-116.
Passamos por Esteio, Canoas, e no início da tarde chegamos na capital de todos os gaúchos, Porto Alegre.
A região que atualmente compreende a capital gaúcha era habitada antes da chegada dos europeus por minuanos e, principalmente, charruas, que se espalhavam também pelo pampa gaúcho, Uruguai e parte da Argentina.
Os charruas eram conhecidos por serem indomáveis e irredutíveis, uma vez que não se deixavam conquistar por ninguém, nem mesmo pelos jesuítas que criaram as reduções, onde nativos que viviam livres e de forma nômade eram confinados (reduzidos) em um só lugar.
Para maior preocupação dos jesuítas e dos proprietários das enormes estâncias que começavam a surgir na região, principalmente no atual território do Uruguai, os charruas também saqueavam a erva-mate e o gado confinado, haja visto que eram nômades, coletores e caçadores.
Claro que isso desagradava os europeus, que tiveram a ideia de pagar altas recompensas por cada charrua morto, inclusive armando indígenas guaranis para executarem tal serviço.
A iniciativa surtiu efeito e os charruas foram dizimados, sendo que os últimos sobreviventes foram capturados e levados a Paris, onde ficaram em exposição em um zoológico humano até o fim de suas vidas.
Enfim, uma vez em Poa, como é carinhosamente chamada Porto Alegre, estacionamos a Formosa em frente ao símbolo que é um dos mais representativos do Rio Grande do Sul, O Laçador.
O icônico monumento foi inaugurado no dia 20 de setembro de 1958 e é tombado como patrimônio histórico municipal.
O artista Antônio Caringi contou com o folclorista Paixão Côrtes como modelo para a obra que mede 4,45m de altura e pesa 3,8 toneladas.
A representação do homem rio-grandense com seu traje típico, a chamada pilcha gaúcha, transparece a cultura de seu povo que, curiosamente, muito herdou dos bravos e incríveis charruas.
Em 1732 o estancieiro Jerônimo de Ornelas Meneses e Vasconcelos se instalou no Morro Santana, atual Porto Alegre, recebendo em 1744 a posse da sesmaria.
Onde vivia tranquilamente, criando seu rebanho, até que 60 casais portugueses açorianos desembarcaram em seu porto, Porto de Dorneles, no ano de 1752, atraídos pelo Tratado de Madri, visando se instalarem na região das Missões, no noroeste do estado, que estava sendo entregue ao governo português em troca da Colônia de Sacramento, pelo governo espanhol.
Como a demarcação das terras demorou (qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência), os açorianos acabaram ficando por ali mesmo e, em 1772 foi criada a Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, um ano depois alterada para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre, que passou a ser chamada de Porto Alegre apenas em 1810.
Em 1773 Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre já se tornara a capital da capitania, com a instalação oficial do governo de José Marcelino de Figueiredo, que na verdade se chamava Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda e havia sido condenado à pena de morte na Europa, fugindo de alguma forma ao Novo Mundo.
A partir de 1824 Porto Alegre passou a receber imigrantes de todo o mundo, em particular alemães, italianos, espanhóis, africanos, poloneses, judeus e libaneses, até se tornar na metrópole dos dias atuais.
Chegamos no centro histórico da capital com os termômetros marcando incríveis 34 ºC.
Neste momento cheguei a questionar se Fernanda Abreu se referia mesmo ao Rio de Janeiro na canção “Rio 40 graus”, ou se o Rio em questão seria o Rio Grande do Sul.
Mais tarde lembrei que na mesma canção ela cita “sou carioca”, então a canção é de fato direcionada à Cidade Maravilhosa.
Sob um calor escaldante, principalmente para um casal de meros mortais que acabara de percorrer cerca de 370 quilômetros trajando capacetes, jaquetas de couro, calças de cordura e botas impermeáveis, fomos em busca de um hotel.
Hotel localizado, deixamos a Formosa repousando sob a sombra da abrigada garagem, vestimos uma roupa mais leve e, devidamente preparados, partimos caminhar pelas ruas centrais de Poa.
Iniciamos nossa exploração pelo Paço Municipal, construído entre 1898 e 1901 para ser a sede da Intendência de Porto Alegre.
A suntuosa edificação, também conhecida com Paço dos Açorianos, possui estilo eclético derivado de padrões neoclássicos, influenciado por diretrizes positivistas.
Em sua frente fica o marco zero da cidade, onde está localizada a Fonte Talavera de La Reina, doada pela colônia espanhola no ano de 1935 em homenagem ao centenário da Revolução Farroupilha.
Ao lado da Prefeitura Velha fica o Mercado Público Central.
Mercado Público de Porto Alegre
Local: Avenida Borges de Medeiros, 61 | Centro | Porto Alegre – RS
Telefone: (51) 3286-1811
E-mail: web@mercadopublico.com.br
Site: https://www.mercadopublico.com.br/
Funcionamento: Segunda a sexta das 7h30 às 19h30 | Sábado das 7h30 às 18h30
Ingresso: Gratuito
Tempo médio de visitação: 1 hora
Localizado no coração da cidade, o atual Mercado Público de Porto Alegre foi projetado pelo arquiteto alemão Friedrich Heydtmann em 1861 e concluído em 1869, sobre o primeiro aterro da cidade.
Com estilo neoclássico, o tradicional centro de abastecimento municipal conta com 106 estabelecimentos onde são comercializados diversos produtos, como especiarias nacionais e importadas, produtos regionais, religiosos, artesanais, entre outras opções, além de restaurantes, cafés e lanchonetes.
Uma curiosidade que envolve o local é o assentamento do Orixá Bará Agelu Olodiá no centro da edificação, realizado durante a sua construção.
O Bará é, dentro do panteão africano, a entidade que abre os bons caminhos, o guardião das casas e da cidade, e representa o trabalho e a fartura, sendo que a passagem ritual pelo prédio significa receber o axé do Bará.
Em frente ao Mercado Público Central fica a Praça XV de Novembro, rodeada por antigas edificações.
Em seu centro destaca-se um elegante chalé, conhecido como Chalé da Praça XV.
Em 1885 foi erguido o primeiro quiosque na praça destinado à comercialização de sorvetes e bebidas, o qual foi substituído em 1911 pelo atual chalé, composto por estruturas inglesas de aço desmontável e vidros que vieram da Feira Internacional de Buenos Aires.
Da Praça XV de Novembro seguimos pela Rua Sete de Setembro.
Bastaram alguns passos até chegarmos no Farol Santander.
O Farol Santander é um centro de cultura, lazer e empreendedorismo instalado no prédio erguido na década de 1930 para abrigar a sede do Banco Nacional do Comércio.
O exemplar eclético de inspiração neoclássica foi projetado pelo arquiteto Stephan Sobczak e pelo escultor Fernando Corona.
Em frente ao Farol Santander fica o monumento em homenagem ao general uruguaio José Artigas, inaugurado em 1987.
Ali inicia-se a ampla e arborizada Praça da Alfândega.
Praça que abriga vários outros monumentos, com destaque para o Monumento ao Barão do Rio Branco.
O qual fica em frente ao Memorial do Rio Grande do Sul.
A construção do prédio que abrigou a sede dos Correios e Telégrafos foi iniciada em 1910 e concluída em 1913.
A riqueza nos detalhes, a qualidade das esculturas e a beleza da edificação como um todo fazem da construção uma verdadeira obra de arte.
Na quadra atrás do Memorial do RS fica a Secretaria da Fazenda, instalada em uma edificação que teve sua construção iniciada em 1920.
Ao seu lado está a antiga Alfândega de Porto Alegre.
E nas proximidades o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS).
Instalado no prédio da antiga Delegacia Fiscal da Fazenda Nacional, o museu criado em 1954 é referência estadual e atualmente está passando por reformas.
Porto Alegre é uma das 10 cidades mais arborizadas do país, contando com 681 praças e 9 parques urbanos.
Ainda na Praça da Alfândega existe um grande Monumento ao General Osório.
A Pegada Africana, como um dos lugares de existência do Museu de Percurso do Negro.
Um busto de Caldas Júnior.
E uma escultura de Carlos Drummond de Andrade ao lado da estátua do poeta Mário Quintana.
Em frente à praça fica o Clube do Comércio, inaugurado em 1939, sendo um dos clubes mais tradicionais da sociedade porto-alegrense, o qual teve a primeira boate do Brasil com luzes coloridas.
Ao seu lado o ornamentado prédio da antiga Previdência do Sul.
Inaugurado em 1913, a edificação foi projetada por Theodor Wiederspahn.
Na sequência passamos em frente ao Edifício Hudson, sede do Correio do Povo.
Que fica em frente ao Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.
Na sequência passamos pela Catedral da Santíssima Trindade da Igreja Episcopal do Brasil, inaugurada em 1903.
Avançamos pela conhecida Rua dos Andradas.
E logo chegamos ao antigo Hotel Majestic, atual Casa de Cultura Mário Quintana.
Construído entre os anos de 1916 e 1933, o primeiro grande edifício de Porto Alegre em que se utilizou concreto armado viveu seu período áureo nos anos de 1930 e 1940, quando o Hotel Majestic hospedava políticos importantes, como Getúlio Vargas, e artistas famosos, como Virgínia Lane e Francisco Alves.
As duas décadas seguintes não foram tão gloriosas ao Majestic, que passou a sofrer concorrência de novos hotéis que contavam com instalações mais amplas e modernas.
Os antigos hóspedes foram aos poucos sendo substituídos por lutadores de luta livre, além de solteiros, viúvos, boêmios e poetas solitários como Mário Quintana, nascido na cidade gaúcha de Alegrete mas que adotou Porto Alegre como sua cidade de coração.
O escritor viveu no apartamento 217 do hotel entre os anos de 1968 e 1982.
A Casa de Cultura Mário Quintana é uma instituição multicultural e foi inaugurada em 1990.
Dali foram poucos passos até acessarmos um verdadeiro reduto militar.
Composto pelo Museu Militar do Comando Militar do Sul.
8ª Circunscrição de Serviço Militar.
Quartel General Auxiliar do Comando Militar do Sul.
E Quartel do Comando Geral da Brigada Militar.
Em meio a todas essas edificações militares destaca-se a mais antiga igreja da cidade, a Igreja Nossa Senhora das Dores.
Sua pedra fundamental foi lançada em 1807 e no ano de 1813 foi inaugurada a Capela-Mor.
Foi tombada e declarada patrimônio histórico e artístico nacional em 1938.
Seu interior apresenta muito das primitivas feições coloniais, composto por uma única nave, ladeada por uma série de altares ricamente entalhados e dourados.
Conhecido o templo religioso voltamos a caminhar.
Passamos pelo Santuário São Rafael e Memorial Bárbara Maix.
E com o fim do dia se aproximando chegamos na Praça Brigadeiro Sampaio.
No início da colonização da vila o local era conhecido como Largo da Forca, por ser o lugar onde ocorriam as execuções dos condenados à morte.
O centro da praça abriga um monumento em homenagem ao patrono da infantaria brasileira, Brigadeiro Sampaio.
Da praça passamos em frente ao Teatro do Museu e ao Museu do Trabalho.
E com o Sol querendo se despedir atingimos o Centro Cultural Usina do Gasômetro.
A Usina Termelétrica do Gasômetro foi inaugurada em 1928 na então chamada Praia do Arsenal, produzindo energia de carvão vegetal.
O complexo arquitetônico recebeu esta denominação devido à proximidade com a antiga Usina de Gás de Hidrogênio Carbonado que fornecia gás destinado à iluminação pública e abastecimento de fogões, construída em 1874.
Desde 1991 a Usina do Gasômetro funciona como centro cultural, abrigando em seus 18 mil metros quadrados auditórios, salas multiuso, anfiteatros, laboratório fotográfico, estúdio de gravação, videoteca, espaços para exposições, centro de documentação com biblioteca, cinema, teatro e praça de variedades com restaurante e bares.
Em seu entorno existe uma estátua em homenagem à cantora porto-alegrense Elis Regina Carvalho Costa.
A Usina do Gasômetro é um dos atrativos que compõem a extensa Orla do Guaíba, um amplo espaço de lazer que conta com ciclovias, quadras esportivas, áreas verdes, banheiros públicos, atracadouro de onde partem os barcos turísticos que realizam passeios pelo Guaíba, clubes náuticos e arquibancada.
A Orla de Porto Alegre é um dos melhores lugares para apreciar o pôr do Sol, que se despede a cada dia na margem oposta do rio, que como canta Humberto Gessinger na canção “Anoiteceu em Porto Alegre”, na verdade nunca existiu.
Nunca existiu pois o Guaíba não é um rio, e sim um lago, formado pela junção das águas do Rio Jacuí, Rio Caí, Rio dos Sinos e Rio Gravataí, que desembocam no Delta do Jacuí, formando assim o Lago Guaíba.
Guaíba que antigamente se escrevia Guahyba, tem origem tupi e significa “baia de todas as águas”, ou, “encontro das águas”.
Do Lago Guaíba as águas escoam para a Lagoa dos Patos, que também nunca existiu, pois não é uma lagoa, e sim uma laguna.
Aliás, a Laguna dos Patos e o Lago Guaíba eram denominados conjuntamente na cartografia dos séculos XVII, XVIII e até princípios do XIX como Rio Grande, de onde surgiu o nome do estado, Rio Grande do Sul.
Polêmicas à parte, assistir o Sol se despedindo do dia sendo refletido nas águas do Guaíba é algo surreal, indescritível!
Não bastasse o espetáculo proporcionado pelo Astro Rei, ainda fomos acompanhados pela magnífica Lua durante a caminhada noturna até o hotel.
Trajeto percorrido no dia:
Valeu, tinha visto as fotos do segundo dia,.. os prédios históricos com as belas fotos ficaram muito boas…PARABÉNS
Buenas! O centro histórico de Porto Alegre foi uma grata surpresa, muito bonito e bem preservado. Abraços…
Que belo roteiro, as fotos retrataram muito bem história do RS, através do caminho percorrido, bem como da nossa capital Porto Alegre. Parabéns e sucesso! Queremos mais!
Valeu Léia! O trajeto entre Erechim e Porto Alegre via Serra Gaúcha é realmente lindo, sem contar nas maravilhas da capital, desde seu preservado centro histórico até o belíssimo pôr do Sol às margens do Guaíba. Abraços…