Bananal • Brasil • Campos do Jordão • Expedição 2020: Belas Rotas • São Paulo
Dia 28: Bananal – SP a Campos do Jordão – SP
25 de Novembro, 2020Bom dia Bananal – SP!
Após o café da manhã partimos explorar o centro histórico da pequena, pacata e acolhedora cidade localizada no Vale do Paraíba.
A história de Bananal está diretamente atrelada à construção do Caminho Novo da Piedade, estrada que foi aberta entre os anos de 1725 e 1778 ligando as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro.
Com a implantação de tal percurso se fez necessário a política de doação de terras ao longo de toda a sua extensão, visando não somente povoar os sertões, mas também oferecer alguma estrutura básica para os viajantes que utilizariam tais vias.
Assim sendo, em 1783 foi cedida uma sesmaria a João Barbosa Camargo e sua mulher, onde ergueram uma capela de pau-a-pique em louvor ao Senhor Bom Jesus do Livramento, originando o povoado de Bananal.
O nome da cidade derivou do rio que corta a localidade e era chamado pelos índios puris, antigos habitantes da região, de Bananai, que significa “rio sinuoso”.
Grandes propriedades, terras férteis, clima propício e mão de obra escrava logo fizeram de Bananal a maior produtora de café no país durante a década de 1850.
A riqueza era tamanha que Bananal chegou a cunhar moedas próprias e alicerçou a economia de São Paulo e do Brasil avalizando um empréstimo da Inglaterra ao governo imperial.
Passado o Ciclo do Café as lavouras locais foram substituídas por algodão e, principalmente, pela criação de gado leiteiro.
Aos poucos Bananal foi perdendo sua reputação e importância econômica no cenário nacional, o que se acentuou em 1951 com a inauguração da Via Dutra, rodovia que se tornou a principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro deixando o município fora de seu traçado.
Restou a beleza natural que cerca o município, a riqueza expressa em seu povo, seus valores, suas tradições e um belo e conservado conjunto de casario colonial em seu centro histórico.
Com toda riqueza e glamour que a cidade ostentava durante o Ciclo do Café é claro que diversos sobrados eram finamente decorados e ornamentados, principalmente com a presença dos tradicionais abacaxis (símbolo de nobreza e riqueza) em suas fachadas.
Caminhando pela área central logo chegamos na principal praça da cidade, a Praça Pedro Ramos.
A arborizada praça, também chamada de Praça da Matriz, conta com diversos bancos, charmoso coreto e um chafariz europeu de ferro.
O chafariz ornamentado com elementos barrocos foi instalado em 1879 no centro da praça e possui quatro torneiras.
Sua função era abastecer a população local com água, haja visto que a cidade ainda não contava com água encanada.
Nos arredores da praça se encontram outras históricas construções, como o Solar de Luciano José de Almeida.
O sobrado de 1847 possui características das grandes residências urbanas do século XIX e tem sua planta em formato de “U”, contando com um pátio interno para manobra de carruagens.
Em 1928 suas instalações passaram a abrigar o Hotel Brasil, que nos dias atuais encontra-se fechado.
Bem próximo da Praça da Matriz fica outra praça, a Rubião Júnior.
A qual também é chamada de Largo do Rosário e fica de frente para o Solar Aguiar Vallim.
A imponente construção de 1855 fez parte da época áurea de Bananal recebendo em seus salões nobres as principais autoridades imperiais.
O solar com características neoclássicas conta com diversas sacadas de ferro fundido e atualmente é sede da ABATUR (Associação Bananalense de Turismo).
Seu interior abriga um majestoso hall e amplo salão de bailes com direito a coreto para orquestra.
A visitação ao local é aberta ao público, porém, devido à pandemia estava suspensa na ocasião.
Praticamente ao lado do solar fica o antigo fórum.
E a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
O templo religioso construído durante o século XIX era utilizado para a celebração de missas aos escravos.
Na sequência passamos pela Santa Casa da Misericórdia, erguida entre os anos de 1851 e 1871, que atualmente abriga a prefeitura municipal.
Bananal conta com cerca de 11.000 habitantes e, além do turismo, é famosa em função dos trabalhos em crochê de barbante, produção de cachaça e doces artesanais.
Para facilitar o escoamento da produção de café de suas fazendas até os portos do Rio de Janeiro durante o Ciclo do Café, os fazendeiros da cidade empenharam-se na construção do ramal ferroviário ligando Bananal a Barra Mansa em um percurso de 28 quilômetros, sem nenhum auxílio do governo.
Em 1888 chegou à cidade a estação ferroviária importada da Bélgica, que foi montada na entrada da vila, não interferindo em seu traçado urbano.
A estação foi erguida em estrutura metálica (inclusive o telhado, feito de chapas galvanizadas almofadadas), composta por aproximadamente 2 mil placas ajustadas por parafusos, com dois andares, assoalho de pinho de riga, sala de visitas e uma área total construída de 400m².
É considerada por arquitetos e historiadores como uma edificação singular no Brasil, talvez no mundo, executada para esta finalidade.
A edificação é tombada pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo) e chegou a ser solicitada de volta pela Bélgica, para transformá-la em museu.
Em frente à Estação Ferroviária fica a Praça Dona Domiciana, onde uma locomotiva de número 302 encontra-se exposta.
Conhecida a estação iniciamos nossa caminhada de volta ao hotel, passamos novamente pela Praça Pedro Ramos e fomos conhecer a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Livramento.
A discreta igreja, de fachada simples com estilo colonial, foi construída em 1811.
Sua construção foi feita com paredes de taipa com 130 centímetros de largura.
Seu interior é bem decorado e conta com pinturas que utilizam uma técnica de ilusão de ótica, que imitam o mármore, o que era moda na Europa.
Também existem tribunas próximo ao altar, de onde os fazendeiros assistiam as missas.
Assim encerramos nossa caminhada pelo centro histórico de Bananal, carregamos a Formosa e partimos pela rodovia SP-247.
A rodovia estadual, também conhecida como Estrada Sertão da Bocaina, segue em direção ao Parque Nacional da Serra da Bocaina e tem 35km de seu percurso asfaltado.
Estrada de pista simples, sem acostamento e cercada por uma paisagem de tirar o fôlego, maravilha!
O Parque Nacional da Serra da Bocaina abrange uma área de 104.000 hectares, sendo uma das maiores áreas de proteção da Mata Atlântica do país.
Por estar localizada em um trecho da Serra do Mar, na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro, se estende de altitudes superiores a 2.000 metros até o nível do mar.
Por isso apresenta paisagens diversificadas e grande riqueza de fauna e flora, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção.
O parque nacional conta com inúmeras cachoeiras, piscinas naturais, picos e mirantes.
Como nossas férias se aproximam do fim e estamos retornando para casa, nos contentamos em apreciar tamanha beleza natural através desta estrada que merece figurar em todas as listas de rodovias mais bonitas do Brasil.
Em questão de minutos subimos mais de 800 metros por um sinuoso e íngreme trecho da rodovia.
E avançamos por ela até chegar em uma pequena localidade, onde existem restaurantes e pousadas, além de uma antiga igreja no alto de um morro.
Sob um calor escaldante localizamos uma sombra onde a Formosa ficou repousando, enquanto nós caminhamos até a igreja.
A bela capela em formato de chalé aparenta ser bastante antiga, pesquisamos a respeito, mas não localizamos nenhuma informação sobre ela na internet.
Por estar no alto do morro, da igreja é possível apreciar uma linda vista da Serra da Bocaina e seus arredores.
Após a contemplação nos hidratamos e retornamos à Bananal pelo mesmo trajeto da ida.
Parando no Mirante Vale da Bocaina antes do início da descida da serra.
A energia que paira nesta região é algo indescritível, uma sensação profunda de paz acompanhada por um cenário paradisíaco.
Certamente voltaremos com mais tempo para explorar a Serra da Bocaina.
Após um “até logo” voltamos a percorrer a encantadora rodovia, onde a Formosa deitava com elegância nas curvas e enchia o motor nas retomadas, proporcionando um agradável e admirável ronco do Twin Cam.
Neste fascinante bailar seguimos suavemente pela estrada paulista.
Cercados pelo Vale da Bocaina, aliás, Bocaina tem origem tupi-guarani e significa “caminhos para o alto”.
Em nosso retorno paramos também para fotografar a pequena Capela de São José do Retiro, que fica às margens da rodovia.
De volta ao centro histórico de Bananal acessamos a Estrada dos Tropeiros, rodovia SP-068.
Pela qual rodamos poucos quilômetros até chegar na Fazenda dos Coqueiros, antiga produtora de café.
Fazenda dos Coqueiros
Local: Rodovia SP-068, Km 309 | Bananal – SP
Telefone: (12) 3116-1358
E-mail: fazendadoscoqueiros@gmail.com
Site: http://www.fazendadoscoqueiros.com.br/
Funcionamento: Terça a domingo das 9h00 às 16h00
Ingresso: R$ 15,00
Tempo médio de visitação: 2 horas
Construída em 1885 pelo casal Cândido Ribeiro Barbosa e Joaquina Maria de Jesus, a Fazenda dos Coqueiros é outra propriedade tradicional de Bananal.
Assim que chegamos ao local fomos recebidos pela atual proprietária, Maria Elisabeth Brum Gomes, e na sequência iniciamos a visita guiada pela histórica propriedade.
A visita tem início com um ritual que era comum nos tempos áureos da fazenda: lavar as mãos dos visitantes com água refrescante exalando lavanda ou pétalas de rosas.
Na sequência fomos conduzidos por todos os cômodos do enorme casarão, onde o guia nos relatou o histórico e algumas curiosidades de cada local e seus objetos.
Os escravos da fazenda eram divididos em diversos grupos, dentre eles havia um grupo de escravos lambedores, cuja função era lamber as feridas e machucados dos nobres com a finalidade de agilizar a cicatrização.
Existiam também os escravos tigres, que eram encarregados de pegar as fezes e urinas acumuladas ao longo do dia em depósitos de madeira abaixo das janelas e carregar até um rio.
Como o fundo desses recipientes não era bem vedado, os resíduos acabavam vazando, sujando e queimando a pele dos escravos, que ficavam manchados como um tigre.
Quando as baronesas tinham filhos pequenos as escravas de 12 ou 13 anos eram obrigadas a engravidar para amamentar os filhos dos barões.
Em certa ocasião uma escrava doméstica grávida acabou falecendo devido a uma hemorragia.
Como era um dia de festa na fazenda, a baronesa mandou enterrá-la na cozinha de terra batida para ela saber que o lugar dela era na cozinha, e para os outros escravos aprenderem que não podiam morrer em dia de festa.
Devido ao pé direito alto e por contar com peças amplas, o casarão era bastante frio.
A solução foi construir a residência sobre terra batida tendo uma base com aproximadamente 120 centímetros de altura, onde funcionava a senzala dos escravos domésticos, que eram ali amontoados e com o calor de seus corpos geravam aquecimento para o interior da casa.
Outra curiosidade da Fazenda dos Coqueiros é um banheiro construído anexo ao casarão, onde as necessidades caiam diretamente sobre um pequeno canal.
Este canal seguia pelo lado da casa até um grande fosso.
Fosso que era utilizado como castigo aos escravos, que ficavam pendurados de cabeça para baixo dentro do pequeno espaço sendo sufocados com a água vinda do canal onde caiam as necessidades, até confessarem ou falarem algo que o barão gostaria de ouvir.
Para disfarçar tal castigo habitualmente o fosso contava com uma roda d’água, a qual era rapidamente retirada quando necessário.
Após conhecer a histórica fazenda, e nos impressionar com alguns relatos, voltamos a rodar pela Rodovia dos Tropeiros.
Logo chegamos em Arapeí, onde fizemos uma breve pausa para lanchar e na sequência retornamos à rodagem.
A Estrada dos Tropeiros possui 89 quilômetros de extensão e corta o Vale Histórico por onde transitava o ouro vindo das Minas Gerais em direção ao litoral fluminense.
Foi por este percurso que Dom Pedro I passou durante a viagem realizada em 1822, a qual culminou na Independência do Brasil.
A estrada está em bom estado de conservação e na ocasião apresentava baixo fluxo de veículos.
Ao longo de sua extensão passamos por Arapeí, São José do Barreiro, Areias e Silveiras, além de Bananal, claro.
Todas cidades pequenas, bem preservadas e com grande valor histórico e cultural.
Logo a tranquilidade da Estrada dos Tropeiros foi interrompida com o entroncamento da rodovia estadual e a BR-116.
Já na rodovia federal nos vimos cercados por um alto fluxo de veículos, em sua maioria caminhões e carretas.
E desta forma seguimos pela Rodovia Presidente Dutra até passar pela cidade de Taubaté, onde nos despedimos da movimentada rodovia e acessamos a SP-123.
Mal acessamos a SP-123 e carregadas nuvens negras surgiram no horizonte, exatamente na direção para a qual estávamos nos dirigindo.
Quarta-feira, fim do dia, um calor infernal, últimos dias da Expedição 2020: Belas Rotas… ah, que se dane a capa de chuva!
Avançamos sem colocar as capas e logo iniciamos a subida da incrível Serra da Mantiqueira, na qual subimos praticamente 1.000 metros em menos de 20 quilômetros percorridos.
Passamos por um túnel, bailamos em diversas curvas até que, finalmente, a chuva veio nos encontrar.
Confesso que já estava sentido saudades de nossa fiel companheira, que tem nos acompanhado em praticamente todos os dias da viagem.
Desta vez ela foi breve, o suficiente para nos molhar e fazer nossa sensação térmica despencar com a alta altitude e vento gelado.
Mas foi fundamental para nos proporcionar um dos mais belos pôr do Sol que presenciamos até hoje.
Já em Campos do Jordão paramos a Formosa no Mirante Vista Chinesa, também conhecido como Belvedere Vista Chinesa, e ali contemplamos o espetáculo protagonizado pelo Astro Rei ao se despedir em meio a diversas nuvens e uma névoa formada no Vale do Lajeado.
Depois percorremos poucos quilômetros até chegar ao Pórtico de Campos de Jordão, onde os termômetros marcavam agradáveis 18 °C (uma maravilha para quem encarou mais de 35 °C durante praticamente todo o dia).
Uma vez na cidade tida como a Suíça Brasileira fomos em busca de um hotel.
Devidamente hospedados brindamos o dia com um chopp de vinho!
Trajeto percorrido no dia:
Estamos ansiosos para ler tudo aquilo que tu tem para dizer! É chegado o momento de abrir este coração e compartilhar tua opinião, crítica (exceto algo desfavorável à imagem da Formosa), elogio, filosofar a respeito da vida ou apenas sinalizar que chegou até aqui ;)
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